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#Meu Tio e o Joelho de Porco
edsonjnovaes · 4 years
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Joelho de Porco
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Formado em São Paulo, em 1972, o conjunto foi um dos precursores do chamado Rock Satírico, junto com seus conterrâneos do Premeditando o Breque e do Língua de Trapo (duas bandas que também merecem um texto, diga-se). O Premê fazia um som baseado no samba e no chorinho. O Língua transitava por todo tipo de vertente musical, da bossa nova ao punk. O Joelho era mais roqueiro, com influências…
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ricofog23 · 3 years
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Aline termina o atendimento de mais uma cliente, Carla na cozinha nova da casa da irmã prepara mais uma leva de bombons e ovos de páscoa, já que a data pascal será dali 3 dias.
- Obrigado.
- Quando precisar é só vir.
A cliente sai satisfeita quando Judite entra com as crianças que trazem sacolas.
- Trouxe tudo?
- Sim, Carla, o Nilo me lembrou o que havia esquecido.
Aline ajuda a colocar as sacolas na mesa, quando as meninas olham para os doces ali com brilho nos olhos.
- Vocês querem?
- Sim.
- Bobos, eu deixei meia panela para vocês ali na bancada.
- Obrigado tia.
As crianças vão até a panela e a diversão é total, logo o celular de Carla toca.
- Oi.
- Carla.
- Quem fala?
- Eu a Jocyane.
- Linda, o que foi garota?
- Preciso de abrigo, urgente.
- Sei, vá para o bar.
- Já estou aqui, bem perto.
- Pegue as chaves no salão de beleza ao lado do bar, a moça vai te entregar, diga a ela que eu deixei.
- Tá, obrigado.
- Depois eu vou ai para a gente conversar. Carla desliga e olha para a mãe e a irmã ali.
- O que foi filha?
- A Jocyane, pelo jeito o ovo virou.
- Eu disse, aquela garota, tão sonhadora, feita em ilusões.
- Vou terminar aqui e ir para o bar.
- Vai deixa-la lá?
- Sim.
- Eu cuido dos doces.
Aline assume a cozinha e coloca o avental, Carla beija a irmã no rosto e sai junto de Judite.
Daniel chega na casa, abre a porta e não sente a presença de Jocyane.
- Amor, querida.
Ele vai pelos cômodos até parar no quarto, se abaixa e nada debaixo dos móveis, abre o armário e nenhuma roupa de Jocyane.
- Vagabunda, pilantra.
Ele sai da casa aos berros.
Carla e Judite descem do táxi e logo entram no bar, já no salão, vê Jocyane sentada no mezanino em um sofá de couro rosa.
As duas sobem até a mulher.
- Você esta bem?
- Ele me agrediu.
- Eu disse que isso ia acontecer, minha querida. Judite diz para Jocyane que fica cabisbaixa ali.
Daniel vai até o ponto de mototáxi e entrega uma quantia para um dos motoqueiros alugando ali a moto deste, ele mesmo sobe na direção e sai para um bairro afastado.
Em uma casa de madeira velha, já quase caindo ele pára a moto em cima de algumas mudas de roseiras e entra ali, de supetão chuta a porta ja praticamente podre pelo tempo e cupins.
- Cadê ela?
- O que faz aqui, seu ladrão barato?
- Velha tranqueira, cadê sua sobrinha?
- Oras, finalmente ela criou coragem e fujiu do porco imundo, te deu um belo pé na bunda, cachorro dos infernos.
- Olha aqui sua cretina. Daniel levanta a mão contra a mulher que aponta o rifle de uma espingarda para ele.
- Nem ouse, canalha, lixo de homem, se é que em alguma vez foste homem.
200421.....
TEXTO DEDICADO A MAIORES DE DEZESSEIS ANOS.
CONTATOS: YOUTUBE - canal/ paulo fogaçaz
twitter - @pauloricardoaf2
7
Ali sob a mira de uma mulher que ele não consegue disfarçar seu ódio, Daniel sai de perto dela.
Ele sobe na moto aciona o motor da mesma acelerando e jogando terras com mudas para o alto, ela não consegue segurar o nervoso e atira ao céu.
Daniel ao longe segue sem saber onde Jocyane esta.
Aline entrega a última encomenda que Carla deixara para uma família que pedira bombons avulsos e 8 ovos.
Nilo guarda o dinheiro que recebera da mulher no cofre de elefante, Judite e Carla chegam ali.
- E ai family?
- Tia.
As meninas vão logo abraçando Carla, Judite aproveita e passa por elas indo para a cozinha onde Aline guarda os utensílios usados nos doces.
- Que bom que vieram, já foi entregue tudo.
- Tudo?
Carla fica admirada com aquilo, Nilo vem a Carla e entrega o cofre.
- Esta tudo aqui dentro, tio.
- De novo a me chamar de .............
- Tio. Olhando para o garoto, ela entende a posição do sobrinho e pega o cofre, abre este com auxílio de uma chave própria e conta os ganhos, separa o de novos materiais, Nilo sai com as irmãs para o mercado.
- Acho que vou com eles. Judite se prepara para ir com os netos, Aline diz que vai em seu lugar.
No sofá da sala, Carla conta o dinheiro, Judite ali leva as pernas para a mesinha de forma a descansar os pés.
- Mãe, ainda estou de olho naquilo.
- Sei, penso igual, sabe filha, acho que temos de dar o total apoio aquela garota, eu a conheço de pequena, acima de tudo, ela é iludida demais e nisso sofre com suas escolhas.
- Mãe, a senhora nunca aprovou isso, não gostava de Daniel.
- Ao contrário, filha, eu sempre gostei daquele menino que fazia questão de urinar em minhas plantas e sujar o meu muro com lamas. Risos.
Daniel continua a caça por Jocyane.
Aline sai do mercado, seus filhos ali bem perto dela, até que um carro pára ali.
- Olá crianças.
- Tio Gustavo. Aline olha para o rapaz ali e abre um singelo sorriso, a porta do auto é aberta, as crianças entram e Aline meio que sem jeito entra no veiculo.
- Para onde crianças?
- Para a casa nova tio.
- Agora mesmo.
Num bar de fim de rua, Daniel leva para a goela mais uma dose de wisky barato, nisso uma moto vem até o local, o carona desce e assume a moto que fora alugada.
- Ainda vou precisar dela.
- Nem pensar, você esta bêbado.
- O que diz?
- Obrigado, tchau.
O homem sai com a moto.
210421......
Aline ali na varanda da casa, Nilo serve limonada e bolo branco para eles.
- Hum, delicioso.
- Minha.....quer dizer, meu tio que fez.
- Você tem um tio?
- A Carla. Diz Aline um tanto desconcertada.
- A sim, entendo, esta delicioso Nilo.
- Obrigado.
O menino sai deixando os dois ali.
- Ele nunca aceitou o tio ser...........
- Trans?
- Sim, isso ai mesmo.
- E você Aline, o aceita como ele é?
- De inicio não, agora já o vejo como tipo, uma irmã para mim.
- Sabia, você é muito transparente, brilhante.
- Eu?
- Em tudo que diz e faz, é admirável isso.
- Eu?
- Sim.
- Oras, seu Gustavo, somente sou uma mulher que a vida deu certos tapas e banhos gelados em momentos diversos.
- Nossa, uma filosófa também?
- Céus, que vergonha estou agora.
- Vergonha de quê?
- Eu aqui toda suja, simples, o senhor um homem de negócios, fino, por favor sr Gustavo não é certo a gente assim.
- Assim como?
O homem lhe sorri fazendo Aline sentir o ar gélido e ao mesmo tempo caliente da paixão lhe percorrer todo o corpo.
- Meu Deus, eu acho que......... Aos poucos o casal se aproxima e o beijo surge ali, Aline se solta nos braços de Gustavo que a envolve num abraço e num beijo até que.
- Mãe, tio.
Nilo ali a olhar os dois, logo as meninas chegam, ambos ficam sem graça, ela se recompõe e Gustavo entende que a situação e o momento é de sair, se despede e vai.
Dentro do carro, Gustavo segue para sua casa, seu pensamento é só o beijo e ele sente aquele aperto no peito, olha pelo retrovisor e sorri para si.
Jocyane dorme num colchão de ar, ouve miados e acorda, desce do mezanino e abre o freezer vertical, tira um prato de congelado que Carla lhe deixara, esquenta este no micro e ali na mesa saboreia da lasanha de legumes.
Enquanto se alimenta ela relembra os momentos de paúra diante a selvageria de Daniel.
Longe dali, Daniel verifica os pontos de vendas de drogas e outros de seus negócios tipo desmanches nos quais tem significativa participação.
Saindo dali ele segue para a casa de Laodicéia.
- O que foi dessa vez?
- Ela me deixou, tia.
- Filho. Daniel cai de joelhos ali no quintal da mulher, Lao pede ao menino que traga a poção de ervas, o menino sai correndo e logo retorna com o vidro em mãos, Lao profere uma reza e joga respingos do liquido em Daniel que logo adormece, ela com ajuda de outras duas mulheres levam o rapaz para dentro da casa.
Gustavo chega em casa ja colocando a chave do carro na mesinha de apoio ao lado do sofá, segue para a cozinha onde lhe é servido um suco de laranja e torradas, sai dali ouvindo sons de risos oriundos do escritório da casa, ao passar no corredor é chamado por Magali.
- Filho.
- Oi mãe, esta em casa?
- Querido que bom que veio, estávamos a sua espera.
- Por quê?
- Quero que conheça Camila, lembra-se dela, filha de um empresário bem conhecido de seu pai e sua mãe fora........
- Não mãe, de qualquer modo, prazer, Gustavo.
- Olá Gustavo, sua mãe me disse maravilhas de você. Magali acelera o processo pedindo para que eles sigam para a sala e assim fiquem mais a vontade e conversem.
210421.....
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brasilsa · 5 years
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ribacaima · 6 years
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O Tição de Natal: - Seu poder e magia.
Conto Serrano(1).
(in, Voz de Cambra nº 1051 de Janeiro de 2019)
1. A Manhã, do Dia de Consoada.
Naquela manhã, do Dia de Consoada, de finais da década de cinquenta do século XX, a tia Madalena acordou cedo em Viadal, lá para as faldas da Serra da Freita.
Então, já as "vacas paiveiras" esperavam por um braçado de pasto verde, enquanto a dona as ordenhava; a fim de dar o almoço(2) à família. Como, na véspera, tinha cozido broa deliciaram-se todos com o leite acabado de mungir, colocado numas malgas grandes a que acrescentaram pedaços do pão fresco.
Já o seu homem, conhecido pelo tio Fernandes, madrugador que era, tinha ido à ribeira, ao Chão do Moinho, na Corga do Barroco, merujar uns lameiros e certificar-se que o engenho(3), da presa, funcionava em pleno.
2. O Nevão, na Freita.
Apesar da brisa fresca que a camponesa sentiu na cara, ao sair de casa, nem se lembrou de espreitar lá para cima, para a serrania;  de tão atarefada que estava com a preparação da ceia de natal.
Deixado o curral dos animais,  é então que olha para a Freita e, espantada, vê o solo todo coberto de neve. Apesar de não ser novidade, o nevão surpreendeu-a. Na aldeia, se nevou, foi pouco e durante a noite;  daí o não ter dado por nada.
Talvez por alguma neve já então derreter, o caudal de água, da Frecha da Mizarela(4),  tinha aumentado imenso; sendo perfeitamente visível, a olho nu, cá de baixo. Audível era também o seu zumbido, bem como o do rio Caima, que, devido à invernia recente, galgava as margens. 
3. O Cheirinho a Rojões.
Como o tempo arrefecera, o tio Fernandes já tinha providenciado, com a ajuda dos vizinhos, a matança do porco. Esquartejado o bácoro, grande parte tinha ido para a salgadeira e a carne melhor, a do lombo, destinada a rojões.
Eram para aí umas onze horas quando a rua, então chamada de caminho, ficou impregnada de um cheirinho intenso, a carne frita. Eram os pedaços da febra, com alguma gordura, que derretiam ao lume, num grande tacho de cobre. Alguns até já boiavam no meio da banha liquefeita.
Diga-se,  em abono da verdade, que noutros lares, ali à volta, a cena se repetia, ou não estivéssemos no Natal. Era tão ativo o aroma que até a tia  Emília, a sua vizinha, assomou ao cancelo(5) e saudou:
- "Benza cá Deus, tudo"!.(6)
- "Venha com Deus", tia Emília,  falou a dona da casa.
Depois, pensando também no marido, o tio Armindo, inquiriu:
-  "Ò Madalena, há lugar, à masseira(7), para mais dois?";
-  "Há, sim, tia Emília!. Conto com vocês para a janta!", respondeu;
E assim foi. Comeu-se “rojoada” da boa, regada a americano(8), da lavra do anfitrião. A carne que sobrou foi guardada num púcaro de barro, coberta com o pingue, para os dias vindouros; nomeadamente para a visita inesperada de algum parente, das redondezas. Era então só aquecer alguns dos nacos ou desfiá-los e cozinhar  um arroz delicioso; que até um aspirante a escriba, conhecido lá na terra, gostaria, ainda hoje, de voltar a saborear.
4. O Carvalho Cerquinho.
Existe nas matas da Freita, para além do carvalho comum, uma variedade chamada de cerquinho. Seria abundante noutros tempos, mas agora é rara. São-lhe atribuídos poderes extraordinários, diríamos mágicos, nomeadamente os de amainar as trovoadas. Para tanto, as suas pernadas - os tições - devem ser cortadas, nas vésperas de Natal e sempre depois do pôr do sol.
Era, ao tempo, tarefa dos rapazes(9); já que estes, mediante encomendas ou por chegarem primeiro às casas dos habitantes que não podiam ir decepar o madeiro, davam uma guloseima aos garotos. Não admira, por isso, que não faltassem candidatos à recolha e fornecimento dos ditos paus. Um deles, era o Manel, aí com uns oito anos,  filho dos lavradores Madalena e Fernandes, já nossos conhecidos. 
5. O Manel trepa ao Cerquinho.
Todo entusiasmado, naquele fim de  tarde, o Manel, preparou o podão e fez-se ao bosque, em busca da tão desejada árvore. Não lhe foi nada custoso encontrá-la. Para tanto, tinha tido a ajuda do pai, bom conhecedor da floresta e dos caminhos e carreiros que levavam ao cerquinho, previamente selecionado.
Foi, também, sem grande esforço, apesar da altura, que trepou o carvalho e decepou algumas das suas trancas.
Difícil foi, sabia-o por experiência anterior, bater a concorrência.
Com efeito, constava que havia,  por lá,  alguns maraus que não esperavam pelo ocaso do sol. Ainda este ia alto e eles já vinham, às escondidas, com as arrancas do carvalho.
Seguro é que o  Manel não era desses. Tradição era tradição e, para ele, isso era sagrado, sabemos-lo de boa fonte. Também, pouco valia, aos outros, irem bater a determinadas portas, a perguntar:
-  "Tia.... já tem tição de Natal"?
-  "Já sim, meu menino. Deus te dê saúde!", respondiam.
Dali, não levavam nada. Uma era a da tia Emília, a dos rojões, que já tinha sempre guardada uma “regueifita”, comprada na feira dos 23, na Gandra, para o "seu" Manolito. Meu Deus, que paladar, disse-nos ele!
6. O Bacalhau da Ceia de Natal.
Quando o miúdo regressou à povoação já era escuro. Porém, o odor intenso a bacalhau cozido, juntamente com as batatas e couves tronchas, não deixava errar as portas dos vizinhos e familiares;  sobretudo daqueles em que sabia que havia presente garantido.
Alguns, também, davam uns trocos, então ditos de tostões; que escudos era raro vê-los, apesar do lenho ter grande valimento, como veremos.
7. O Tição de Natal e o seu Poder e Magia.
Vá-se lá saber as origens de tão misteriosa e extraordinária crença.
Verdadeiro é que, enquanto se ceava o bacalhau, seguido de aletria, mexida com um pau de figueira seco, e se beberricava um pouco de vinho fino(10), a tranca do carvalho cerquinho era posta a queimar, na lareira, nomeadamente a sua parte mais fina. Finda a refeição era apagada, molhando-se-lhe a ponta.
Nas noites seguintes, e à mesma hora, preferencialmente,  aquando da reza do terço, a prática repetia-se até ao Dia de Reis.
Terminado o prazo, apagava-se de vez e guardava-se a bom recato. Sempre que se avizinhava trovoada, acendia-se e, quando a ponta estava em brasa, era colocada atrás da porta de entrada da habitação.
8. A Grande Trovoada.
Está bom de ver, foi mera coincidência. Mas o certo é que, lá para as 8  horas dessa noite de Natal, começou a ouvir-se trovejar: - primeiro sobre o mar, lá para os lados da Torreira; depois na Freita e outros montes à volta do vale de Cambra.
Nisto, a ordem veio célere do chefe da família:
-  "Manel, vai depressa, à loja(11), buscar o Tição de Natal, que vamos ter tempestade."
- "Mas, meu pai, está ali ao lume", retorquiu o gaiato.
- "Não rapaz, o do ano passado. Este só agora foi posto a queimar".
Num instante, antes que chovesse, já o anterior tição estava a ser chamuscado. Feito isto, foram os dois paus, com as pontas em brasa e a deitar fumo, colocados atrás da porta, já devidamente fechada; que trovoada, chuva e ventania na Freita são para respeitar.
É então que, por cima do Santuário da Senhora da Ouvida e da aldeia, se ouve o ribombar de um grande trovão, que parecia adivinhar o fim do mundo.
Nisto,  a tia Madalena, a mãe do Manel, já com o terço na mão, diz em voz alta, ao que foi acompanhada por todos os presentes: - "S. Jerónimo e Santa Bárbara é Virgem"; seguindo-se  a seguinte prece, alguns de joelhos, a estes dois santos(12):
- "S. Gregório se  levantou, numa bengalinha pegou e Nossa Senhora lhe perguntou:  - Para onde vais Gregório?
- Vou arrumar a trovoada, arrumá-la bem arrumada, para onde não haja pão, vinho, nem eira, nem beira, nem folhinha de figueira, nem pedrinha de sal ou coisa que faça mal".
Terminada esta oração, foi ainda  rezado mais um Pai Nosso e uma Avé Maria a Nossa Senhora da Ouvida, a padroeira da aldeia; que, por ter o seu santuário, lá ao cimo, era sempre invocada e bem, nestas ocasiões.
9. A Bonança Total.
Findas as prédicas religiosas, o chefe da casa, arredou os tições, abriu a porta e, encostado ao cancelo, mirou o céu. Ao faze-lo,  ficou estupefacto! Já se viam as estrelas, não chovia  e o vento tinha amainado, na totalidade. Não se conteve e exclamou: - "Venham ver isto! Até parece milagre! Está tudo calmo!".
Num repente, todos vieram para o caminho, donde se vislumbrava o horizonte, da Freita ao Atlântico. Aí, o Manel, admirado,  disse:
- "Realmente parece um milagre, meu pai!".
Todos concordaram, sobretudo a sua mãe que, por ser crente, propôs que se rezasse mais um Pai Nosso, em louvor de todos os Santos. E, assim, orando, regressaram à roda da lareira.
10. A Missa do Galo.
Por ser então tanta a calmaria, houve, na aldeia, quem se aventurasse, apesar de ser longe, a ir a pé, à igreja matriz, assistir à Missa do Galo. Um deles era o tio Zé do Grilo(13) que não falhava "à missinha", a não ser por doença. Não admira a sua devoção e boa forma física; pois se já tinha sobrevivido, em 1918, às trincheiras da Flandres, fácil era-lhe ir, nessa noite, a Cepelos.
O celebrante foi o Padre Correia, acolitado por dois seminaristas da freguesia e que tinham vindo passar as férias de Natal, com os seus familiares. Foi emocionante o sermão, já que, no dia seguinte, aquando da eucaristia em Viadal, o ex-Combatente não se cansou de fazer-lhe elogios.
11.Epílogo:
Com toda esta emoção, posta na narrativa, quase nos íamos esquecendo dos "Tições de Natal" e do nosso Manel.
Ora, os tições, confirmado o seu contributo para o fenómeno acabado de vivenciar, foram apagados e guardados, com todo o respeito, em sítio apropriado.
Continuaram a ser muito úteis, sobretudo no mês de Maio; tempo de grandes trovoadas, por aquelas bandas.
Quanto ao Manel, foi-se deitar; logo que liberto das preces religiosas, pela mãe, que o dia tinha sido longo.
Passou, no entanto,  a noite a sonhar com o presépio(14) na Nossa Senhora da Ouvida,  cujo azevinho(15), muito direito e cheio de contas encarnadas, tinha ido cortar com o pai uns dias antes. Até  via o arbusto, meio torto,  a  Sagrada Família desalinhada e  o burro longe da manjedoura. Isto não era propriamente mentira, dado o pouco jeito do seu progenitor, para aqueles afazeres.
Preocupado, estava mesmo, com o latim que tinha de debitar, logo às 8 horas,  do dia seguinte,  enquanto ia ajudar o padre Correia na celebração da missa de Natal, em Viadal; mas essa já é outra "estória".
Queluz,  Novembro de 2018.
Manuel
 Anotações:
(1) - Este conto é baseado em personagens, locais e factos verdadeiros.  
Como decorreram umas seis décadas, após os acontecimentos relatados, referimos, aos leitores,  que alguma da terminologia pode não ser imediatamente percetível, nomeadamente no que respeita aos horários das refeições. Pedimos assim, em caso de dúvida, que sejam tidas em atenção as outras "notas" de rodapé.
(2) - Equivale ao pequeno almoço, nos dias de hoje.
A refeição do meio dia era o jantar. A ceia ao cair da noite. Mata-Bicho, cerca das 10 horas da manhã e merenda a meio da tarde.
(3) - Pedra com cerca de um metro de altura, com dois buracos paralelos, na vertical, usada nas presas para as esvaziar, quando cheias. Funcionava por si. Ainda lá está o dito engenho, sem uso, há muitos anos, sabemos-lo.
(4) - Queda de água, com cerca de 80 m de altura, próximo da nascente do rio Caima, junto a Albergaria das Cabras.
(5) - Meia porta, com aldraba; que deixava penetrar  a luz e impedia a entrada de animais, sobretudo galinhas, então abundantes pelos caminhos.
(6) - Outras formas de saudação: - "Deus vos salve ou Vos dê saúde", ao que se respondia com o habitual: - "Venha ou vá com Deus".
(7) - O mesmo que mesa. A masseira, colocada na cozinha, por ter pernas e tampa em madeira, era usada como mesa, aquando das refeições.
(8) - O mesmo que vinho morangueiro. Era então abundante nas aldeias da Freita. Crescia em latadas.
(9) - A prática ainda se mantém, na atualidade, embora com menor entusiasmo.
(10) - O mesmo que vinho do Porto.
A rojoada era normalmente acompanhada de papas de milho, cuja confeção se encontra descrita na Monografia de Viadal. (in, jornal Paroquial de Cepelos Ecos do Povo).
(11) - Adega e local de guarda de pertences agrícolas.
(12) - Existem e são veneradas, na ermida de Viadal, as imagens de S. Jerónimo e de Santa Bárbara. Foram ofertas de Estêvão Tavares Coutinho de Viadal. (in, Monografia de Viadal e Letrados da Serra, textos a disponibilizar, pelo autor, logo que viável).
(13) - Nasceu em Viadal em 1895. O pai, Francisco de Almeida era de Paço de Mato e a mãe, Maria Tavares, de Viadal.
Para a sua participação na I Guerra Mundial, ver a VC da Segunda Quinzena de Setembro de 2015. O artigo é do seu neto Manuel Álvaro de Almeida Santos.
(14) - Veja-se, pela foto, a beleza do  atual presépio; agora sob  a orientação do Alberto, o outro filho do tio Fernandes e tia Madalena.
(15) - Aqui chamado de gibarbeiro.
 NOTA GERAL:
Mais contos,  deste autor,  podem ser encontrados no quinzenário A Voz de Cambra,  no site ADCRA.Viadal ou no blog RIBACAIMA.COM, nomeadamente:
. O Enigma da Pedra do Cestes.
. A Brincadeira das Bruxas (VC de 25 Set. de 2010).
. O Tesouro da Fonte de Gatão;
. No Moinho de Tabaçó e/ou As Tias Rosa e Joaquina e a Pomba Mensageira;
. O Tardo em Tabaçó;
. A Estrada dos Caramuleiros;
. A Pastorinha Encantada;
. As Bruxas da Mina da Defaifa, entre outros.
 Fotos:
Tia Emília e tio Armindo. Ano de 1970.
Presépio de Viadal, anos de 2015. Fotos da autoria da prof. Lealdina Brandão Almeida.
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Tia Emília e tio Armindo, ano de 1970. Presépio na  Senhora da Ouvida, ano de 2015.        
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isramatos · 6 years
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#246 #MeuTioeoJoelhodePorco ★★★½ Lembro de ter ouvido falar da banda Joelho Porco em algum programa na rádio 89fm de São Paulo, a Rádio Rock, e em algum programa do saudoso Kid Vinil da extinta e também saudosa rádio Brasil 2000, isso lá pelos fins dos anos 90 e início da minha adolescência. Era uma banda com uma sonoridade pesada mas de batida agradável, com músicas engraçadas e de refrões grudentos. Não me interessei, naquela época meus gostos musicais eram outros, mas isso é apenas divagação. O que importa é que pude assistir a esse documentário, que relembra a banda e homenageia a trupe precursora dos Mamonas Assassinas. E o filme é uma delícia. Contada pelo cineasta Rafael Terpins, filho e sobrinho de dois integrantes da banda, “Meu Tio e o Joelho de Porco” é um refresco para o gênero, e traz à tona histórias divertidas dos integrantes e da cena musical da época. Recomendo até para os que não conhecem ou não gostam da banda. #brasil🇧🇷 #filmes2018 (em Cinemark Shopping Eldorado) https://www.instagram.com/p/BnMk1htFolV/?utm_source=ig_tumblr_share&igshid=1xrminwzi0ykx
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terrapotiguar · 6 years
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'Deus não está morto', 'O Candidato Honesto 2' e 'Ferrugem' estreiam nos cinemas do RN
‘Deus não está morto’, ‘O Candidato Honesto 2’ e ‘Ferrugem’ estreiam nos cinemas do RN
Também entram em cartaz a animação ‘Jovens Titãs em Ação! Nos Cinemas’ e o documentário ‘Meu Tio e o Joelho de Porco’.
Três produções nacionais estreiam nesta quinta-feira (30) nos cinemas do Rio Grande do Norte. A comédia “O Candidato Honesto 2”, com Leandro Hassum; o drama adolescente “Ferrugem”, e o documentário “Meu Tio e o Joelho de Porco”. Também entram em cartaz o filme cristão…
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hectorlima · 6 years
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In-Edit Brasil 2018: os filmes que quero ver
Piscamos e já está na hora de novo de assistir ao In-edit Brasil, festival de documentário sobre o universo da Música, cuja 10ª edição acontece dos dias 7 a 17 de Junho na cidade de São Paulo – e depois em Belém e Salvador. Um grande esforço de Aliche, Léo, Mau e Cia.
Por transparência, vale dizer que a Flávia [minha esposa] faz parte da equipe divulgação do evento, inclusive por gostar tanto dele e acabar se envolvendo. Se eu fosse professor organizaria excursões pro In-Edit pros alunos assistirem aos filmes. Vários são uma aula de História Contemporânea, contextualizando o nascimento de um artista musical, uma banda ou uma tendência musical na situação em que estão inseridos. fora isso é divertido pra caramba.
resolvi escolher aqui alguns dos filmes que quero ver em 2018. “quero” porque é diferente de “posso”. além de meus compromissos profissionais que têm se empilhado ultimamente [ainda bem – e socorro], o In-Edit sempre oferece muita coisa boa. se você acha que não tem material suficiente sendo produzido, é só olhar a programação completa e pirar. escolhi mais da metade… espero conseguir pelo menos metade desses.
ADONIRAN – MEU NOME É JOÃO RUBINATO
AS MINA NA BATALHA
CHAVELA
DONA ONETE – FLOR DE LUA
ETHIOPIQUES – REVOLT OF THE SOUL
EU SOU O RIO
GEORGE MICHAEL – FREEDOM – DIRECTOR’S CUT
GRACE JONES: BLOODLIGHT AND BAMI
HEADBANGER VOICE: A HISTÓRIA DA ROCK BRIGADE
JERRY, EU TE AMO
MEU TIO E O JOELHO DE PORCO
OLANCHO
PESADO – QUE SOM É ESSE QUE VEM DE PERNAMBUCO
QUEERCORE – HOW TO PUNK A REVOLUTION
SHUT UP AND PLAY THE PIANO
SOM, SOL & SURF – SAQUAREMA
STOP MAKING SENSE
TETÊ
THE ALLINS
THE MAN BEHIND THE MICROPHONE
TRAVESSIA
VOCÊ NÃO SABE QUEM EU SOU
XTC- THIS IS POP
YZALÚ – RAP, FEMINISMO E NEGRITUDE
Segue o In-Edit nas redes:
Fanpage Evento Twitter Instagram
Originally published on Hector Lima
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melodramasbr · 7 years
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A cor amarela - capítulo um
A paranoia vista de longe parece uma coisa engraçada. Veja bem, meu falecido tio Joaquim passou trinta anos de sua vida como despachante do Tribunal de Contas acreditando na possibilidade de ser assassinado. No duro. Ele não dava as costas a ninguém – poderia ser um mendigo, um menino de colo ou um padre. Não aceitava comida de estranhos – e até conhecidos. E muito menos deixava sua garrafinha de café um minuto longe de si. Quando sobrava café de um dia para o outro, despejava toda a bebida no ralo, depois lavava com água morna e sabão. Só então preenchia a garrafa.
Certo dia, tio Joaquim se engasgou com um jorro vermelho. Tossiu grossas postas de sangue fresco e todo o oxigênio do pulmão sumiu de uma hora para outra. Não tinha derramado o café dormido. Passou suas últimas semanas jurando aos médicos o envenenamento causado por um colega de trabalho. Denunciou para a Corregedoria, a polícia, foi até aos jornais.
Ele não considerava o fato de que fumava três carteiras de cigarro por dia. Morreu com o pulmão preto, mas se agarrando fielmente à paranoia. Ela foi sua manta protetora até o dia da morte.
Eu fui a seu enterro, e relembrava essa história em meio a gargalhadas. Hoje, tio Joaquim parece rir de mim no inferno.
Tudo aconteceu muito rápido. Eu topei com as fuças do Homem umas cinco vezes. Cinco dias seguidos em que o Homem apareceu por trás dos trailers, xeretando as reuniões com a equipe no meio do descampado. Mais do que observar, sua técnica foi chamar a minha atenção a qualquer custo. Acendia o cigarro e ficava em sua posição de segurança me assistindo. Eu era um entretenimento barato para aquele curioso. Não, não era nenhum jornalista ou, quem sabe, fã de trupes mambembes. O modo como meu pelo se arrepiava era o maior sinal de aquele Homem queria me puxar pelo anzol. O gancho estava sangrando na minha bochecha há dias, e na tarde de hoje eu decidi encarar o meu pescador.
Antes, eu tive de dispensar o Barão. Porco imundo. Ele gosta de fazer as reuniões sempre com o sol a pino para testar a nossa resistência. Nos juntava em um grande círculo naquilo que será em poucos dias a noite de estreia do Grand Circo Giallo. Ele mudou de nome assim que assinei o contrato de locação. Eu tinha quase certeza que era uma forma de provocação. De passar por cima de tudo o que minha família construiu. Ele não ia sossegar enquanto não arrancasse meus últimos bens, até minhas calças e a carne dos meus ossos. Porco!
“Preste atenção em mim, Corleone!”, disse Barão estalando os dedos na minha direção.
“O que eu queria mesmo era não voltar a vê-lo”, respondi. Eu não consegui tirar meu campo de visão aonde o Homem estava se encolhendo para não ser visto pelos outros. Seu show era só a mim. Só eu teria a honra neurótica de assistir.
Encostada na armação de ferro carcomido, Agnes fumava um cigarro de cheiro particularmente desagradável. Seu rosto tinha restos de glitter que arrancava aos beliscões. Comentou:
“Por favor, não comecem...”.
“Fale para o Bruno Mezenga aí!”, interpôs Barão. Suas papadas banhadas de suor brilhavam na luz do sol.
De repente, o Homem se virou e saiu de cena. Meu pescador começou a puxar o anzol, não poderia deixá-lo esperando a tarde inteira.
“Eu tenho de resolver um problema. Tomem qualquer decisão sem mim”, me limitei.
“Isso, Casanova! Vai embora e abandone a sua equipe de novo!”.
Aquele porco sabia onde atingir o meu nervo mais exposto. Nesse instante, olhei para Agnes. O impacto daquela provocação me fez perceber o quanto ela parecia se esconder dentro do próprio corpo. Tinha mais brilho naquele glitter do que na mulher que um dia dormiu comigo.
Mas fui atrás do que era mais importante no momento.
O Homem atravessou a avenida principal ignorando os carros. Parecia querer morrer ali na minha frente. Prestei muita atenção em cada esquina que ele dobrava. Tem coisas que você só percebe estando há um semáforo de distância, como o seu capote cor-de-poeira e o chapéu puído, os mocassins e os cabelos grisalhos saindo aos tufos na aba.
“Pare!”, gritei quando começamos a acelerar as passadas. Começamos a correr assim que entrei em um canteiro de obras na esquina seguinte, um grande espaço aberto que abrigaria um conjunto de apartamentos.
“O que quer comigo! Fale!”.
O Homem não disse nada. Gritei mais um protesto, e nenhuma reação. Assim que fui tomar satisfações com os punhos já fechados, o Homem retirou um canivete do bolso. Eu estava com as mãos limpas, em um local desprotegido. Meu tio Joaquim interior começou a gritar.
Comecei a afastar as pernas e manejar uma forma de desarmar o cara. Estava até disposto a manter uma conversa dura, mas civilizada, tudo o que queria era manter aquela lâmina longe de nós dois. Fui pedindo calma, como quem anuncia para um pivete cheio de solvente na cabeça. De calma em calma, meus pés chegaram a uma distância segura para dar o bote.
Eu não tive reação quando o Homem estocou o canivete direto no seu coração.
A ponta do canivete varou sua carne igual em uma folha de isopor. O som da lâmina rompendo o tórax também era semelhante. Crec! Creeec! Ele caiu no chão com uma expressão de pavor no rosto, os joelhos arqueados e a mão segurando o cabo. Ignorei por completo meu próprio pânico e me juntei ao Homem. O canivete se fincou com tanta força naquele emaranhado de ossos e músculos que não consegui retirar sem uma certa dose de força. Um jorro de líquido viscoso e quente saiu da trajetória da lâmina. É impossível fazer uma operação sem se sujar.
Não lembro ao certo quando começou o barulho. Um ruído baixinho de turbina lá do alto. Mais um ruído. Uma sequência deles. Diabo de barulhinho irritante. Um ruído de ventilador. O lugar parecia vazio, sem guardas ou operários, sequer uma máquina ligada. Com o canivete nas mãos e um cadáver junto aos pés, me dei conta de que o barulho já estava no ambiente. Como abelhas. Logo os ruídos se tornaram muitos. Um enxame de ventiladores. Desde que cheguei, o barulho fazia parte do ambiente, tanto quanto as vigas e caibros, ou aquele Homem com um buraco nojento no peito.
O barulhinho foi crescendo e ganhando forma perto de mim, e chegou tão perto que pude ver o enxame. Um enxame de hélices. Mas não era um ventilador.
Era um drone.
Com uma bruta de uma lente de câmera.
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alfamatreetalker · 8 years
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Poema sujo
turvo turvo a turva mão do sopro contra o muro escuro menos menos menos que escuro menos que mole e duro menos que fosso e muro: menos que furo escuro mais que escuro: claro como água? como pluma? claro mais que claro claro: coisa alguma e tudo (ou quase) um bicho que o universo fabrica e vem sonhando desde as entranhas azul era o gato azul era o galo azul o cavalo azul teu cu tua gengiva igual a tua bocetinha que parecia sorrir entre as folhas de banana entre os cheiros de flor e bosta de porco aberta como uma boca do corpo (não como a tua boca de palavras) como uma entrada para eu não sabia tu não sabias fazer girar a vida com seu montão de estrelas e oceano entrando-nos em ti
bela bela mais que bela mas como era o nome dela? Não era Helena nem Vera nem Nara nem Gabriela nem Tereza nem Maria Seu nome seu nome era... Perdeu-se na carne fria perdeu na confusão de tanta noite e tanto dia perdeu-se na profusão das coisas acontecidas constelações de alfabeto noites escritas a giz pastilhas de aniversário domingos de futebol enterros corsos comícios roleta bilhar baralho mudou de cara e cabelos mudou de olhos e risos mudou de casa e de tempo: mas está comigo está perdido comigo teu nome em alguma gaveta
Que importa um nome a esta hora do anoitecer em São Luís do Maranhão à mesa do jantar sob uma luz de febre entre irmãos e pais dentro de um enigma? mas que importa um nome debaixo deste teto de telhas encardidas vigas à mostra entre cadeiras e mesa entre uma cristaleira e um armário diante de garfos e facas e pratos de louças que se quebraram já
um prato de louça ordinária não dura tanto e as facas se perdem e os garfos se perdem pela vida caem pelas falhas do assoalho e vão conviver com ratos e baratas ou enferrujam no quintal esquecidos entre os pés de erva-cidreira
e as grossas orelhas de hortelã quanta coisa se perde nesta vida Como se perdeu o que eles falavam ali mastigando misturando feijão com farinha e nacos de carne assada e diziam coisas tão reais como a toalha bordada ou a tosse da tia no quarto e o clarão do sol morrendo na platibanda em frente à nossa janela tão reais que se apagaram para sempre Ou não?
Não sei de que tecido é feita minha carne e essa vertigem que me arrasta por avenidas e vaginas entre cheiros de gás e mijo a me consumir como um facho-corpo sem chama, ou dentro de um ônibus ou no bojo de um Boeing 707 acima do Atlântico acima do arco-íris perfeitamente fora do rigor cronológico sonhando Garfos enferrujados facas cegas cadeiras furadas mesas gastas balcões de quitanda pedras da Rua da Alegria beirais de casas cobertos de limo muros de musgos palavras ditas à mesa do jantar, voais comigo sobre continentes e mares
E também rastejais comigo pelos túneis das noites clandestinas sob o céu constelado do país entre fulgor e lepra debaixo de lençóis de lama e de terror vos esgueirais comigo, mesas velhas, armários obsoletos gavetas perfumadas de passado, dobrais comigo as esquinas do susto e esperais esperais que o dia venha
E depois de tanto que importa um nome? Te cubro de flor, menina, e te dou todos os nomes do mundo: te chamo aurora te chamo água te descubro nas pedras coloridas nas artistas de cinema nas aparições do sonho
- E esta mulher a tossir dentro de casa! Como se não bastasse o pouco dinheiro, a lâmpada fraca, O perfume ordinário, o amor escasso, as goteiras no inverno. E as formigas brotando aos milhões negras como golfadas de dentro da parede (como se aquilo fosse a essência da casa) E todos buscavam
num sorriso num gesto nas conversas da esquina no coito em pé na calçada escura do Quartel no adultério no roubo a decifração do enigma
- Que faço entre coisas? - De que me defendo?
Num cofo de quintal na terra preta cresciam plantas e rosas (como pode o perfume nascer assim?) Da lama à beira das calçadas, da água dos esgotos cresciam pés de tomate Nos beirais das casas sobre as telhas cresciam capins mais verdes que a esperança (ou o fogo de teus olhos)
Era a vida a explodir por todas as fendas da cidade sob as sombras da guerra: a gestapo a wehrmacht a raf a feb a blitzkrieg catalinas torpedeamentos a quinta-coulna os fascistas os nazistas os comunistas o repórter Esso a discussão na quitanda a querosene o sabão de andiroba o mercado negro o racionamento oblackout as montanhas de metais velhos o italiano assassinado na Praça João Lisboa o cheiro de pólvora os canhões alemães troando nas noites de tempestade por cima da nossa casa. Stalingrado resiste. Por meu pai que contrabandeava cigarros, por meu primo que passava rifa, pelo tio que roubava estanho à Estrada de Ferro, por seu Neco que fazia charutos ordinários, pelo sargento Gonzaga que tomava tiquira com mel de abelha e trepava com a janela aberta, pelo meu carneiro manso por minha cidade azul pelo Brasil salve salve, Stalingrado resiste. A cada nova manhã nas janelas nas esquinas nas manchetes dos jornais
Mas a poesia não existia ainda. Plantas. Bichos, Cheiros. Roupas. Olhos. Braços. Seios. Bocas. Vidraça verde, jasmim. Bicicleta no domingo. Papagaios de papel. Retreta na praça. Luto. Homem morto no mercado sangue humano nos legumes. Mundo sem voz, coisa opaca. Nem Bilac nem Raimundo. Tuba de alto clangor, lira singela? Nem tuba nem lira grega. Soube depois: fala humana, voz de gente, barulho escuro do corpo, intercortado de relâmpagos
Do corpo. Mas que é o corpo? Meu corpo feito de carne e de osso. Esse osso que não vejo, maxilares, costelas flexível armação que me sustenta no espaço que não me deixa desabar como um saco vazio que guarda as vísceras todas funcionando como retortas e tubos fazendo o sangue que faz a carne e o pensamento e as palavras e as mentiras e os carinhos mais doces mais sacanas mais sentidos para explodir uma galáxia de leite no centro de tuas coxas no fundo de tua noite ávida cheiros de umbigo e de vagina graves cheiros indecifráveis como símbolos do corpo do teu corpo do meu corpo corpo que pode um sabre rasgar um caco de vidro uma navalha meu corpo cheio de sangue que o irriga como a um continente ou um jardim circulando por meus braços por meus dedos enquanto discuto caminho lembro relembro meu sangue feito de gases que aspiro dos céus da cidade estrangeira com a ajuda dos plátanos e que pode - por um descuido - esvair-se por meu pulso aberto
Meu corpo que deitado na cama vejo como um objeto no espaço que mede 1,70m e que sou eu: essa coisa deitada barriga pernas e pés com cinco dedos cada um (por que não seis?) joelhos e tornozelos para mover-se sentar-se levantar-se
meu corpo de 1,70m que é meu tamanho no mundo meu corpo feito de água e cinza que me faz olhar Andrômeda, Sírius, Mercúrio e me sentir misturado a toda essa massa de hidrogênio e hélio que se desintegra e reintegra sem se saber pra quê
Corpo meu corpo corpo que tem um nariz assim uma boca dois olhos e um certo jeito de sorrir de falar que minha mãe identifica como sendo de seu filho que meu filho identifica como sendo de seu pai
corpo que se pára de funcionar provoca um grave acontecimento na família: sem ele não há José Ribamar Ferreira não há Ferreira Gullar e muitas pequenas coisas acontecidas no planeta estarão esquecidas para sempre
corpo-facho corpo-fátuocorpo-fato
atravessados de cheiros de galinheiros e rato na quitanda ninho de rato cocô de gato sal azinhavre sapato brilhantina anel barato língua no cu na boceta cavalo-de-crista chato nos pentelhos com meu corpo-falo insondável incompreendido meu cão doméstico meu dono cheio de flor e de sono meu corpo-galáxia aberto a tudo cheio de tudo como um monturo de trapos sujos latas velhas colchões usados sinfonias sambas e frevos azuis de Fra Angelico verdes de Cézanne matéria-sonho de Volpi Mas sobretudo meu corpo nordestino Mais que isso maranhense mais que isso sanluisense mais que isso ferreirense newtoniense alzirense meu corpo nascido numa porta-e-janela da Rua dos Prazeres ao lado de uma padaria sob o signo de Virgo sob as balas do 24º BC na revolução de 30
e que desde então segue pulsando como um relógio num tic tac que não se ouve (senão quando se cola o ouvido à altura do meu coração) tic tac tic tac enquanto vou entre automóveis e ônibus entre vitrinas de roupas nas livrarias nos bares tic tac tic tac pulsando há 45 anos esse coração oculto pulsando no meio da noite, da neve, da chuva debaixo da capa, do paletó, da camisa debaixo da pele, da carne,
combatente clandestino aliado da classe operária meu coração de menino
Ferreira Gullar
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