Capítulo 06 – Algo forte o suficiente.
Avisos da Fic: esta é uma fic que se passa após -surto, então lembre-se de que haverá temas sombrios/desencadeadores, mas lembre-se também de que esse não é o enredo principal da história. Por favor, leia com cautela. Descrições de dor, sangue, gatilhos, descrições de crises de ansiedade, alcool, leitor sem descrição, temas perturbadores/angustiantes, Joel protetor, Joel fofo. Clima de romance.
Capítulos anteriores: Capítulo 05 - O verdadeiro eu.
Joseph chegou ao celeiro. Maria estava ao seu lado o tempo todo. Josefh avaliou os ferimentos, passou remédios para dor, e fez algumas suturas, colocou seu nariz no lugar, o que foi péssimo porque a dor que você sentiu te fez ver estrelas.
E ele insistiu para que você passasse a noite no hospital, você havia perdido muito sangue. Precisava de repouso, e ficar em observação.
Maria deu apoio a ideia, e você foi com eles para o hospital. Joseph instalou você no mesmo quarto que você ficou quando chegou em Jackson.
Maria teve a atenção de sugerir um banho. O que você fez. O sangue tingindo o chão branco do banheiro. A água pinicava os ferimentos. Você queria poder lavar lembranças também.
Quando saiu do banho, se secou com a toalha, e pela primeira vez em muito tempo, você foi flagrada pela sua imagem no reflexo do espelho.
Suas mãos paradas enquanto secava o cabelo, seus olhos olhando para seus próprios olhos. Você deu dois passos pra frente com os olhos agora semicerrados, para encarar melhor a sua imagem.
Começou a movimentar a toalha no cabelo lentamente para secar um pouco, sem quebrar o contato visual consigo mesma. Até que você perdeu, segurou com as duas mãos na lateral da pia, a cabeça baixa.
Realmente, era impossível se reconhecer, a sensação que você tinha era de encarar a eu do presente, mas com os olhos da eu do passado. Nenhuma das duas se reconheciam, você nem sabia quem era.
Você soltou um ar pelo nariz como se estivesse rindo. Levantou a cabeça, olhou novamente para a imagem, e passou a ponta dos dedos por onde Joel tinha segurado seu rosto mais cedo, tentando ver o que ele via naquele momento.
Você balançou a cabeça olhando para cima, o que eu to pensando? você pensou.
Se recordou de quando David batia em você, e fazia você ficar se olhando no espelho para ver como seu rosto ficava, quando você não o obedecia.
Lembrou das vezes que ele falou que seu rosto bonito era a última coisa que as pessoas que você matou veriam. E que seriam a lembrança daquelas almas. Eles poderiam te procurar para e atormentar até o seu último suspiro.
Você balançou a cabeça querendo dissipar esses pensamentos.
Maria trouxe novas roupa para você. E então Joseph ministrou as medicações em você. Depois do atendimento, Joseph saiu do quarto, deixando apenas você e Maria, a sós.
Você estava piscando mais do que o normal, a luz estava dando tontura, você sentia muita dor na cabeça, tudo em você latejava, a sensação que seu cérebro iria explodir a qualquer momento.
Mas nada disso comoveu Maria.
"Como os homens atacaram vocês?" Maria parou ao seu lado na cama com uma mão apoiando o cotovelo que segurava a cabeça dela.
Você se sentou, passando a mão pelo rosto, por seus olhos e depois massageando as têmporas com os dedos, tentando clarear as ideias, depois e algum tempo, você respondeu.
"Foi como Joel contou, eu não estava junto, nós nos separamos para fazer a ronda, e foi quando eu encontrei o cavalo dele, sem ele. Refiz o caminho dele, e encontrei ele sendo feito refém, estavam interrogando-o, querendo saber onde eu estava."
Você cruzou um braço na frente do corpo para apoiar o braço que agora estava segurando a sua cabeça enquanto você passava os dedos na testa, assim como Maria.
"E Joel respondeu?"
Só então você realmente olhou para Maria, e arqueou a sobrancelha em surpresa.
"Claro que não. Ele deveria ter contado?" você percebeu a falta de desconfiança dela com ele, e decidiu alfinetar.
"Não..." ela desencostou da sua cama. "Foi uma pergunta estúpida." Ela disse enquanto balançava a cabeça. "Por que você não estava com ele?" Ela franziu o cenho.
Você fechou os olhos. Sua mandíbula estava travada. Você suspirou, e balançou a cabeça.
"Sinceramente Maria, se você está insinuando que..."
Vocês foram interrompidas quando Ellie entrou no quarto como uma bala.
"Jesus!" Ela arfou, passando por Maria.
"Calma, vai me causar mais estragos assim..." você falou para ela encostada na cama ao seu lado.
Ellie examinava seu rosto, preocupação nos olhos.
"Os caras estão pior que eu, acredite" você sorriu tentando reconforta-la.
"Porra, sim! Eu espero que sim, aqueles desgraçados..."
Ellie olhou para trás só agora dando atenção à Maria.
"Acho que ela precisa descansar..." Ellie falou por cima dos ombros.
Maria assentiu. Os braços cruzados, mas ainda com a cara fechada. Olhando entre você e Ellie.
"Melhoras." Ela disse antes de sair.
Você não a respondeu.
Passou um tempo, vocês duas fitando a porta fechada atrás de vocês.
Você respirou fundo. Tentando descobrir um jeito de perguntar o que queria saber. Sua boca se separou e você puxou o ar.
"Joel está bem" Ellie respondeu antes mesmo de você conseguir, "Ele é durão, está tudo bem com ele."
Você balançou a cabeça olhando para suas mãos.
"Estou feliz que você não esteja morta." Ellie revirou os olhos "seria uma tragédia ter arrumar alguém novo pra encher o saco."
Você riu.
"Você é uma pedra no sapato" você respondeu.
Ela sorriu.
"E você gosta." Ela mordeu os lábios. "Vou deixar você descansar, Miss Estress." Ela foi dando passos para trás e aponto os dedos pra você.
"Obrigada" voce revirou os olhos.
Ellie saiu.
Você desmaiou. Não teve tempo de pensar em muita coisa. Estava exausta.
Uma semana depois.
Você estava enrolada em um cobertor, deitada em baixo da escada, onde você tinha montado seu esconderijo.
Fazia uma semana desde o dia que tudo havia acontecido. E você foi inundada por um pânico irracional, depois de ter recebido alta na manhã seguinte.
Você simplesmente correu para a sua casa. Trancou tudo. E não saiu desde então. Você não conseguia dormir nem no chão, onde você costumava dormir. Você precisava literalmente estar escondida, para conseguir se confortar.
Hoje Ellie bateu em sua porta de manhã. Mas você não abriu. Pensou que ela poderia entender que você estava dormindo.
Maria também não tinha ido atrás de você. Mas pediu para Joseph avisar que você poderia tirar uns dias de folga da patrulha, então você aproveitou a deixa.
Agora era o final da tarde, e você saltou com o barulho da porta.
"Se você não abrir essa porta, eu juro por Deus que vou quebrar essas janelas e entrar aí dentro." Ellie foi bem agressiva.
"Vamos lá, abra a porta."
Você podia imaginar Ellie encostada da porta aguardando ou tentando ouvir você atrás da porta.
Você suspirou. E se levantou. Tudo bem. Não custava nada falar com a garota.
Ellie escutou voce arrastando o móvel.
"Finalmente!" Ela falou antes de você abrir a porta.
"Oi." Você falou sem abrir toda a porta.
Ela revirou os olhos.
"Poxa! Estamos todos preocupados sabe? Faz uma semana que você desapareceu..."
Ellie parecia realmente chateada.
"Ellie..."
"Não, é sério! Estou te falando... você pode achar que nada disso importa. Mas eu me importo com você, você é minha amiga. Amigos se preocupam uns com os outros. Você não pode simplesmente se esconder aí dentro pra sempre..."
Ellie andava na varanda de um lado para o outro.
Você suspirou. E revirou os olhos. Porque essa adolescente irritante estava certa.
"Desculpa... Eu só..." voce balançou a cabeça. E mordeu a bochecha.
"Tudo bem, ok? Eu entendo. Você tem o direito de estar se sentindo apavorada. Mas você nem se preocupou em saber como Joel está..."
Você franziu o cenho.
"O que você quer dizer?" Você abriu um pouco mais a porta.
"Ele está bem, mas estou dizendo que você nem se importou em saber..."
Você refletiu. Ellie estava certa, você tinha sido egoísta. Você se encostou no rodapé da porta, e cruzou os braços.
"Ok, criança. Você conseguiu, estou em sentindo péssima, por ter agido como uma idiota medrosa, me desculpe. Deveria ter dado sinal de vida. Eu só não estou acostumada com pessoas se importando comigo. Me desculpe."
Ellie sorriu.
"Viu... não é tão difícil."
Você revirou os olhos.
"Preciso ir para casa, Dina e eu vamos ao cinema. Você deveria tenta um dia." Ellie foi descendo as escadas.
"Sim senhora, mais alguma ordem?"
"ha ha ha"
Você sorriu. E balançou a cabeça. Fechou a porta atrás de você. Arrastou o móvel, e pensou em tomar um banho, talvez você tenha ficado dois dias sem tomar banho, apenas encolhida no seu depósito.
Talvez fosse o momento de retomar. Você passou a semana inteira pensando que em algum lugar la fora, David está te caçando. Talvez fosse o momento de viver essa realidade. Deixar que ele te procure. E que te encontre. E que você possa agora matá-lo.
Você subiu as escadas, e entrou no chuveiro. Lavou os cabelos. Tomou cuidado com os ferimentos na cabeça. Passou o sabonete de erva doce pelo corpo.
Você se olhou hoje no espelho pela segunda vez em anos, enquanto penteava os cabelos.
Você era bonita. Uma beleza comum. Mas bonita. Pena que, nada disso importava.
Você ouviu alguém batendo na porta da frente.
Maria avisou Tommy, que por sua vez avisou Joel, que você passaria a noite no hospital.
Joel por sua vez, pediu para que Ellie fosse verificar como você estava.
Na manhã seguinte Joel, foi até o hospital.
"Bom dia Ceci, como está?
"Oi, Joel. Bom te ver. Aparentemente estou melhor que você." Ela sorriu enquanto apontava para o rosto dele.
Ele sorriu. "Fico feliz em saber." Ele se encostou no balcão, da recepção.
"Posso ajudar em algo?"
"Na verdade, acredito que sim." Ele se debruçou no balcão, enquanto cruzava os dedos. "Precisava de algum remédio que me ajude a lidar com isso." Ele circulou com o indicador a frente de seu rosto.
Ceci sorriu.
"Claro, temos alguns analgésicos aqui. E uma pomada natural para os hematomas. Vou verificar na farmácia, volto em um instante."
Ceci, deu a volta ao balcão, enquanto ainda falava, e se direcionou para uma sala aos fundos.
"Obrigado." Joel falou enquanto ela caminhava.
Ele fez questão de segui-la, pois ela iria passar na frente dos quartos de eventuais pacientes. E assim quem sabe poderia te ver.
Mas para a surpresa dele, você não estava lá.
Ceci voltou enquanto Joel estava parado na frente da porta de um dos quartos.
"Ela já foi. Saiu assim que acordou."
Joel ergueu as sobrancelhas.
Ceci estendeu as mãos com os remédios para Joel.
"A garota é uma selvagem. Ninguém sairia andando perfeitamente, com o nariz quebrado, e 10 pontos na cabeça"
Joel pegou os remédios, e sorriu depois que Ceci terminou de falar.
Ele ergueu os remédios para ela, batendo na palma da mão.
"Obrigado, Ceci."
"Disponha Joel, melhoras."
Joel saiu do hospital um pouco desapontado, ele esperava poder te ver. Mas sabendo como você era, você se esconderia em sua casa até a próxima década se ninguém fosse estourar sua bolha.
Ele foi paciente. Queria saber notícias de você. Se você estava bem. Se estava se recuperando. Se não tinha pego alguma infecção, e estava ardendo em febre sozinha trancada em sua casa. Se estava se alimentando. Se estava viva.
Ele queria estar perto. Te ter no campo de visão dele. Ele queria cuidar de você. Cuidar de você. Te dar segurança.
Dia após dia, ele avistava sua casa da varanda dele. Nada novo. Nenhum sinal.
Ele também sabia que se fosse ele, ele gostaria de um tempo sozinho. Um tempo pra organizar os demônios.
E foi isso que ele fez. Ele esperou. Paciente. Por uma semana.
E então perguntou a Ellie se ela tinha te visto. Ellie disse que não, que pensava que ele tinha te visto por esses dias. Joel ficou preocupado. Ellie ficou preocupada.
Ninguém te via há uma semana.
Hoje Joel estava sozinho. Ellie saiu. Não voltaria. Ele não tinha como distrair a mente. Foi por isso que nesse final de tarde, ele foi tomado por um impulso urgente. Uma inquietação, que sacudiu as pernas dee até sua casa.
Fez as mãos bater em sua porta.
Você vestiu sua roupa rápido. E desceu a escada de vagar.
O toque na porta era diferente. Não era Maria. Não era Ellie.
Você ficou parada na frente da porta. Esperando. Até ouvir o barulho do degrau da varanda.
Você arrastou o móvel.
Joel parou na metade do seu jardim, ouvindo o som do móvel.
Esperta. Ele pensou. E sorriu.
Quando você abriu a porta, Joel não estava mais na varanda, então você saiu, e viu que ele estava quase chegando na rua, falou um pouco alto.
"Ei."
Joel deu meia volta, viu você segurando no pilar da escada, ele olhou para o chão, se virou, olhou para os dois lados da rua, respirou fundo, deu pra ver os ombros dele levantando com a movimentação da respiração em seu peito, deu três passos em sua direção.
"Eu... só queria saber se você estava bem" ele falou olhando para as mãos dele, onde os dedos cutucavam um ao outro.
Você desceu as escadas, suas mãos cruzadas em torno do seu corpo, andou um pouco, encurtando a distância de vocês, mas não chegou tão perto.
"Mas aí você desistiu..." seus lábios se contorceram tentando evitar um sorriso.
Joel olhou para você com os olhos um pouco preocupados, e tentou achar alguma tristeza no seu rosto, mas quando viu que você estava sendo irônica, mesmo que fosse meio verdade, ele relaxou.
"Não... não é isso, eu..."
Você andou na direção dele. Joel ficou te olhando enquanto caminhava, e quando você chegou perto o suficiente para tocá-lo, sem pensar, automaticamente, você ficou nas pontas dos pés, e tirou a mão direita da cintura, erguendo em direção ao rosto dele, mas ele te impediu de tocá-lo segurando no seu punho.
Os lábios semicerrados em uma linha dura, como se ele estivesse fazendo muito esforço, as sobrancelhas quase se encontravam.
Você colocou os pés no chão novamente, tombou a cabeça para o lado, examinando os olhos dele, o rosto dele, olhando para os pontos na sobrancelha que você pretendia analisar com as mãos, e então falou.
"Eu não vou machucar você"
Joel ainda estava segurando seu punho, a mão dele grande, calejada e áspera em torno do seu pulso, não fazia esforço nenhum para fechar completamente em torno de você. O toque dele era contrastante com sua pequenez e pele gelada.
Ele arfou, um suspiro e um sorriso de leve nos lábios
"Eu não tenho medo de você" Joel levantou as sobrancelhas enquanto falava.
Você olhou pro lado, e sorriu com malicia, ergueu uma sobrancelha, seus lábios arquearam, mas deveria, você pensou.
"Desculpa, eu não queria invadir o seu espaço."
Você disse olhando para as mãos dele segurando seu braço. E só então ele te soltou.
"Então, você está bem?" Ele perguntou, agora colocando as mãos no bolso da calça.
Você voltou a cruzar os braços em torno de si mesma, suspirou e ergueu os ombros
""Bem", é uma palavra forte"
"Você precisa de algo mais forte, pra melhorar"
Joel falou apontando um círculo pro seu rosto.
Você abaixou a cabeça para olhar para ele por entre os olhos, e cerrou o olhar.
"Está tão ruim assim?" você sorriu, "e o que você sugere então?" você jogou a cabeça para trás inclinando o queixo para fora, erguendo apenas uma sobrancelha, esperando a resposta dele.
Ele deu de ombros, os lábios arquearam, enquanto os braços estavam na frente do corpo do corpo agora, os dedos cutucando a pele do dedo da outra mão.
"Talvez uma bebida."
"Sério? Uma bebida?!" você foi sínica, mas então falou sério e baixinho, "Somente algo forte o suficiente seria capaz de fazer minha cabeça parar de latejar e eu conseguir finalmente dormir." Você suspirou.
"Bom, então, vamos atrás desse "algo forte o suficiente"" Ele disse dando dois passos para trás e abrindo os braços em volta do corpo.
Você torceu o pescoço, mordeu os lábios, olhando para ele com a cabeça de lado enquanto ele sorria de canto de boca, meu Deus esse homem é um perigo, você pensou, e balançou a cabeça.
"Preciso me trocar..." você falou enquanto olhava pra si mesma. Estava de meias, shorts de pijama e uma regata.
Joel olhou para você. Nunca tinha visto tanto do seu corpo. Seus braços, suas pernas, a carne dos seus seios. Ele precisou desviar o olhar. Mas assentiu, concordando com você.
Ele não conseguiria ficar tão perto de você, com tão pouco tecido.
Você correu pra dentro da casa. Vestiu um jeans, mas manteve a regata. Colocou seu tênis. Seu cabelo secando naturalmente, caído sobre seus ombros. E saiu.
Você caminhou até ele.
"Ok" você fez uma pausa na frente dele, "talvez eu não tenho pensado direito".
Você começou a raciocinar, você não tinha condições de ir a lugar algum. Não poderia ir ao Tipsy. Não iria ao refeitório. Talvez não tenha sido uma boa ideia.
Joel franziu o cenho.
"Eu não sei se é uma boa ideia ir..."
Ele te interrompeu.
"Não vamos ao Tipsy. Fique tranquila."
Você assentiu.
Joel começou a caminhar, atravessando a rua. Você abriu a boca para falar, passou a língua nos dentes, olhou para trás, mas Joel leu seus pensamentos.
"Seth não tem nada que seja bom o suficiente, Tommy guarda todos os bons whiskys com ele, ou comigo." E seguiu andando.
Você deduziu estar indo para a casa do Tommy, mas quando ele finalizou a linha de raciocínio, você ficou tensa, o estomago começou a queimar, ele estava te levando pra casa dele? Esse pensamento fez suas mãos começarem a transpirar.
E bom, era exatamente pra lá que vocês estavam indo. Fizeram o caminho em silêncio, era bem próximo da sua casa. E nesse caminho sua cabeça não parava de falar, bom, mas pra quem não deixou nem que eu tocasse no rosto dele, evidente que ele não está pensando em nada, então tá tudo bem, é apenas uma bebida, está tudo certo, não tem o que ficar neurótica. Seus pensamentos foram interrompidos, quando ele colocou a mão nas suas costas, e a sensação fez você enrijecer.
"É aqui" ele apontou, "por favor, você primeiro" Joel te direcionou te empurrando de leve para a porta. Agora ele é um cavaleiro também? Assim fica difícil pra mim, você pensou.
Mas ao mesmo tempo, estava insegura. Você sabia que Ellie não estava lá. Você estaria sozinha com ele. Apesar de saber que era Joel, um arrepio se instalou na sua coluna.
Você já estava dentro da casa dele. A casa tinha uma iluminação amarela, bem fraca, deixava as coisas confortáveis.
Joel entrou atrás de você e foi para a cozinha, enquanto você ficou imóvel em pé ainda próximo da porta, correndo os olhos pelo lugar. A casa era diferente da sua, porque ao contrário de você ele morava sozinho com Ellie até onde você sabia, mas ela não estava ali hoje, isso ficava repetindo em sua mente como uma bandeira vermelha.
"Ellie foi pra casa de uma amiga... Pode se sentar, é de graça"
Joel lia seus pensamentos, e isso era um fato, ele respondeu seus pensamentos enquanto preparava dois copos em cima da pia, e ele falou sem nem olhar pra você. O que fez você levantar as sobrancelhas, enquanto seguia em direção ao sofá.
Joel veio segurando os dois copos, entregou um para você, e se sentou ao seu lado, mas na outra extremidade. Os braços gigantes e musculosos jogados no encosto do sofá, a perna longa cruzada em cima do joelho. Ele ergueu o copo em sua direção.
"Saúde"
"Saúde" você trouxe o copo para perto do rosto, cheirou, o álcool queimando as suas narinas, olhou para o líquido, e deu um gole, segurou na boca, e engoliu. Não fez careta, o whisky era bom, difícil analisar com certeza quando só se toma merda nos dias de hoje.
Ele estava te olhando, depois de observar você bebendo, ele balançou a cabeça e sorriu.
E la. La dentro de você surgiu uma onda de calor, parecia que você tinha engolido a porra do sol.
Vocês ficaram em silêncio por um tempo, as vezes você ficava olhando para ele, as vezes você o percebia olhando para você, e as vezes seus olhos se encontravam.
"Como você conseguiu essa cicatriz" Você perguntou, apontando com seu dedo, em sua própria têmpora, mas indicando a dele.
Joel olhou para você, franziu a testa, abaixou a cabeça, olhou para o copo de whiskey, quase vazio na sua mão que descansava em cima do seu joelho. Ergueu as sobrancelhas enquanto balançava a cabeça.
"Pra essa pergunta vou precisar de mais uma dose" Ele se levantou, e estendeu a mão para você, reivindicando seu copo, que você entregou a ele.
O whiskey já estava fazendo efeito, porque você sentia seus reflexos lentos. Fazia algum tempo que vc não bebia. E foi aí que você lembrou que tinha tomado três comprimidos antes do banho.
"Foi um dia após o surto. Eu atirei em mim mesmo, mas quando puxei o gatilho eu vacilei."
Ele contou falando lá da cozinha, enquanto colocava mais uma dose nos copos, enquanto estava fazendo o caminho de volta para o sofá ele continuou.
"Eu tinha uma filha, Sarah" Ele fez uma pausa para entregar o copo com uma nova dose para você, e quando você segurou, ele brindou com você agora de perto, e se sentou.
"Mas ela morreu no dia do surto. E eu não vi mais motivo para estar aqui, então..." ele bebeu um bom gole do whiskey.
Joel jamais saberia explicar o porque te ter te contado isso com tanta facilidade.
E você se perdeu em pensamentos, pensando nos meninos que você deixou morrer, no menino que você não conseguiu salvar, seus olhos estavam paralisados olhando para o nada, você sabia qual era aquele sentimento, se tivesse a coragem que Joel teve também poderia ter puxado o gatilho. Você poderia ter puxado o gatilho muitas vezes.
Seus pensamentos foram interrompidos quando você sentiu o toque das mãos dele seu ombro, ele se inclinou na sua direção para chegar mais perto de você para alcançá-la e perguntou
"Você está bem?" olhando pra você com olhos diferentes agora, aquele olhar era íntimo, era preocupado, olhos como oceanos negros, imensos.
Você coçou seu nariz, voltou a olhar para ele
"Sim, tudo bem." Você colocou a mão nas mãos dele, que estavam no seu ombro, "isso é uma merda."
Você respondeu pra ele. Sabia que não adiantava dizer que sentia muito, ou qualquer coisa do tipo, porque você também não queria ouvir lamentações sobre as perdas que você teve. Ele abaixou a cabeça e sorriu. E você pensou ter sido muito grossa.
"Desculpa, eu não sou boa com as palavras."
Você segurou mais forte a mão dele, passando o polegar sobre os dedos dele. Fazendo com que ele olhasse para aquele movimento, quando você percebeu, seu corpo começou a formigar, e você teve uma fraqueza súbita.
Seus lábios se separaram, e você percebeu que vocês estavam bem próximos um do outro, você teve a sensação de estar sendo puxada como um imã na direção dele, parecia que a distância entre seus rostos estava encurtando.
Joel olhou para você. Os olhos desceram para sua boca, você fez o mesmo com ele. Seus lábios se separaram. O ar ficou um pouco pesado. Vocês só ouviam suas respirações.
Mas num súbito de desespero, você se levantou, virou seu copo, e disse já de pé
"Acho que está na hora de ir embora."
Quando você abaixou para colocar o copo na mesa de centro, seu corpo pesou, a bebida talvez estivesse fazendo 100% de efeito, e você se desequilibrou, quase caindo por cima da mesa, só não caiu porque Joel te segurou.
"Te peguei, tudo bem, eu te seguro." Joel te levantou, fazendo com que vocês dois estivessem colados um no outro, suas mãos estavam sobre os peitos dele, e você sentia o subir e o descer do peito dele, os braços dele em volta da sua cintura, que seguravam com firmeza fazendo com que seus braços ficassem presos dentro do abraço dele.
Joel era imenso. O corpo quente e firme. O cheiro dele parecia te deixar enfeitiçada, sentir o corpo dele no seu, o álcool, os remédios, fizeram você ficar tonta, sua cabeça caiu no peito dele.
"Desculpa, eu acho que..." você fechou os olhos, mas não conseguia pensar muito bem, estava mordendo os lábios.
Você ouviu Joel sorrir. Ele segurou seu queixo e ergueu sua cabeça para olhar pro seu rosto. Você fez um esforço para abrir os olhos, estavam muito pesados.
"Não tem porque se desculpar, agora sabemos que este whiskey é forte o suficiente"
Enquanto ele falava você podia sentir a respiração quente dele em você. Joel pegou você no colo, passou os braços pelas suas costas, e o outro por baixo dos seus joelhos.
"O que você está fazendo?" Você perguntou enquanto ele andava com você pela casa, segurando você igual no dia em que ele te encontrou. Igual quando você quase caiu do cavalo.
"Vou colocar você para dormir."
Ele falou com os lábios na sua testa. E você começou a respirar mais fundo, o seu peito queimava, seus pulmões cheios do cheiro de Joel. Tudo rodava tão depressa, você pensou que poderia vomitar.
Joel deitou você na cama dele, tirou seu tênis, você se virou e abraçou um travesseiro e trouxe os joelhos para perto do peito. Ele sorriu vendo a cena, cobriu você.
Você o escutou saindo do quarto.
"Aonde você vai?" Você levantou a cabeça, mas com os olhos fechados, ainda, apenas esperando a resposta.
"Fica tranquila meu bem, estou aqui na sala." Ele apagou a luz do quarto.
"Não" voce murmurou com a voz mole.
"O que você precisa?" Joel voltou, você sentiu a cama se mover com ele sentando ao seu lado.
"Fique comigo." Você sussurrou.
Joel, sorriu.
"Qualquer coisa que você me pedir."
Ele deitou atrás de você. Ajeitou seu cabelo, e ergueu sua cabeça passando o braço por baixo para você deitar nos braços dele.
Você tateou atrás de você, pelo corpo dele, buscando o outro braço dele. Você segurou puxando ao redor da sua cintura.
"Meu bem..." você escutou Joel murmurar no sou ouvido.
"Eu gosto quando você me abraça" você disse.
E então Joel te envolveu nos braços dele, puxando você para perto do peito dele. Você sentia a respiração dele no seu cabelo. Sentia ele por você inteira.
"Você é tão quente..." murmurou, mole e sem sentido.
Joel poderia jurar que você estava dormindo já. Ele poderia ficar assim pelo resto do fim do mundo. Sentindo seu cheiro fresco. Sentindo seu corpo no dele. Sentindo você relaxar e suavizar ao toque dele.
Ele escutou sua respiração ficar mais pesada, imaginando que você teria dormido. Ele também adormeceu logo em seguida, abraçado com você.
Capítulo 07 - Café da manhã (+18).
4 notes
·
View notes