Tumgik
#saquê
pris0512 · 1 year
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amor-barato · 3 days
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Te conto em caráter reservado. Não que eu preze alguma teoria obscura do segredo. Na verdade sou menos dado ao cochicho do que possa parecer. É simplesmente obediência a uma regra que a sabedoria popular reaproveitou: Quem cala consente? Então foi dado o meu consentimento sem eu saber? Dê o seu palpite. Aconteceu num ônibus interestadual. Tudo pode acontecer dentro de um ônibus interestadual, ainda mais numa tarde de 2ª-feira, voltando para o Rio de Janeiro, com um desânimo que só certos cariocas verdadeiros conhecem. Voltar para o Rio pode ser uma bela experiência de desconsolo. Nessa minha cidade a imaginação fica indócil e os fatos — e os casos — escasseiam surpreendentemente. Fui parar dentro de um Cometa perfumado de Bom Ar. Poltrona 35, janela, tarde de sol de inverno, colinas paulistas, suspensão a ar e parada às 18:15 em Aparecida não, Cruzeiro... Da 36 só via as pernas vestidas de veludo verde-garrafa, e não cheguei a virar o rosto ao oferecimento de cigarro.
Abri o vidro imediatamente, fingi dormir, relaxei para digerir os peixinhos crus com almíscar do almoço japonês. Coisas de Alice, que não passa sem um japonês às 2ªs-feiras. Para começar a semana a cru, diz ela com olhar de boa entendedora e meia.
Alice é a maior contadeira de casos que conheço. É a paulista que trocou São Paulo pelo Rio, mas acabou exímia nos macetes da capital fluminense e atualmente não consegue mais deixar São Paulo, onde reinventa hábitos seculares, entre os quais lareira na rua Inglaterra, ginástica rítmica dia sim dia não, e o japonês às segundas. Fez vir peixinhos para mim também, e ainda falou nas qualidades afrodisíacas do molho de almíscar, coisa em que aliás não acredito; mas acabei adepta dos peixinhos, servidos e temperados ainda pelos casos dessa caseira de marca maior. E meio litro de saquê fumegante em vez do chá de sempre.
Quando vi, estava meio caidinha na poltrona 35, torcendo o nariz para o Bom Ar, batendo os olhos nas pernas verdes de veludo, recusando cigarro, disputando silenciosamente o espaço no braço da cadeira: um cotovelo aqui, outro ali, e fato inédito, adormeci direto com gosto de almíscar na boca, dor de cabeça reclamando fundo do Bom Ar, jogo de molejo, jogo da memória: tudo, tudo pode acontecer. Cochilo daqueles em que as pálpebras pesam ainda mais para não se abrirem. Cochilo branco, metade atento à luz pastel de fora, metade sabendo que é cochilo. Mentiras atravessando a estrada. Velhas fantasias, enjoo suave, feliz. Peixinhos deslizando na garganta verde-garrafa.
Flashes macios pela noite paulista. Como o encontro mais improvável do mundo na porta do teatro com aquele tipo célebre — lembra dele? — que eu não via há 7 anos. Sete anos de pensar bobagem nas horas de distração, e quando vi estava indócil de calor, e olhe que era a noite mais fria que sp já conheceu. Acho que ninguém, — nem eu, acreditou até agora, e até que disfarçamos com garbo, levamos uma conversa de praxe no intervalo, e não demos bandeira nenhuma na praça, o constrangimento fora do palco, empurrado sabe lá Deus por quem, à força. Na saída despedidas a jato, e cada um pro seu lado, escoltados pelos colegas de trabalho. E que trabalho! Não sosseguei mais de calor a noite inteira. Mas agora vem um vento frio sobre a minha pele quente, e mais quente ainda neste braço de poltrona onde se encontra outro braço, outra pele batida pelo vento, sem rosto, encontro cutâneo sem rosto
Ana Cristina Cesar
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house-of-tales · 9 months
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@virtuallghosts
"Itto, vem cá que eu tenho novidades..." e tem bebida também, tá com uma garrafa de saquê na mão.
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"A primeira é que eu fui presa, saí recentemente de lá."
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virtuallghosts · 11 months
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@house-of-tales enviou uma ask:
(Aya pro Itto) "Finalmente te achei! Tenho um presente pra ti!" ela estava segurando duas sacolas de provisões que davam para ver o conteúdo, uma com duas garrafas de saquê e outra com alguns ichigo daifuku.
— E aí fumiga? — Deu logo uns tapinhas no ombro dela. — OOOOO, nossa que delícia.
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— Vai harmozinar bem? Esses daifukus você que fez ou comprou?
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intotheroaringverse · 4 months
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Taylor Kim: It's an emergency!
Quando desembarcou no Japão, ele sentia um leve mal estar, mas achou que não era nada. Tomou um Buscopan e desceu para o lobby, para encontrar com Daniel, Thomas e Sev, partindo os quatro para a primeira balada que eles encontrassem aberta. Ficaram ali até o amanhecer, curtindo a vida adoidado como se eles não estivessem completamente na merda no GP da Austrália e como se não tivessem muito o que recuperar no fim de semana.
— Ah porque isso, e aquilo, eu tô falando que se eu ganhar mais uma pulseirinha escrito Forza Ferrari, eu vou na casa do Fred soltar um "pai, por que nós abandonastes?" — Taylor comentava com os amigos, antes de virar uma fileirinha de saquê com eles.
Evidentemente o álcool amorteceu qualquer sensação ruim que estivesse sentindo até o dia seguinte, quando acordou na cama do hotel ainda pior que estava no dia anterior.
— Puta merda, não bebo mais — falou para si mesmo, antes de seguir para um banho e começar os compromissos do dia, incluindo fazer uma sessão de fotos para um dos patrocinadores.
Precisou tomar uma nova dose de Buscopan e pediu para arranjarem um remédio para estômago porque alguma coisa que ele tinha comido não tinha caído bem, porque agora Kim sentia uma azia enorme. E dá-lhe compromissos e sessões de autógrafo e fazer reels para o departamento de marketing da Ferrari se dar por satisfeito.
— Taylor, você está se sentindo bem?
— Por que não estaria?
— Porque tá filmando num sol de meio-dia e você tá tremendo.
— Que nada, deve ser a empolgação para amanhã, pro practice.
Ao amanhecer do terceiro dia, porém, a coisa estava feia. Mal conseguiu sair da cama e se vestir. Dirigiu até o autódromo em um esforço tremendo porque tudo nele parecia prestes a explodir. A calça nem mesmo abotoava, estava de sandálias porque não conseguiu se dobrar para amarrar o tênis. Nem todo óculos de sol e boné conseguiam disfarçar quando ele encostou no espaço da Ferrari que algo muito ruim estava acontecendo.
— TAYLOR, VOCÊ ESTÁ MORRENDO?
— Que nada...
— Você não consegue nem ficar em pé direito.
— Tô ótimo.
— Kim, você tá queimando de febre.
— É psicológico.
Não deixaram ele sequer encostar em seu carro, o despachando direto para a emergência do hospital mais próximo. Até aquele momento, ainda estava relutando, dizendo que precisava voltar para pilotar seu carro, que no dia seguinte teria a qualificação e ele precisava de um bom desempenho. Mas aí...
— O senhor está em plena crise de apendicite e precisa operar com urgência.
— Vish... Vou ter que pedir atestado, então.
E lá foi ele para a faca, nas pressas, tendo que avisar a sua equipe por mensagem que, olha só, eles tinham razão e ele estava mesmo morrendo quando chegou lá. Tinha tudo sob controle, mas ele não podia deixar um detalhe de fora, então, antes de ir para a sala de cirurgia, mandou a seguinte mensagem:
"Então, Nami, se eu sobreviver à cirurgia, você vem me fazer uma visita?"
Porque quem perdia tempo era relógio quebrado.
A cirurgia foi um sucesso e deixaram ele de repouso por um dia, o que era o necessário para ele. Ficou se fazendo de sofrido assim que avisaram que havia uma italiana ruiva querendo vê-lo, caprichando na expressão de quem acabou de sair da Coitadolândia.
— Você veio mesmo? — perguntou, em tom de voz comovido.
O quanto esse homem atuou para convencer a ir com ele assistir a corrida no domingo foi brincadeira, até mesmo comentou sobre sua futura alta e como ele ficaria realmente feliz se ela fosse sua companhia. Foi um grande trabalho de lábia, piedade e cara de pau, mas no domingo? Lá no lounge da Ferrari? Estavam os dois, Taylor andando lentamente tal qual uma mulher recém parida e Nami sendo uma grande gostosa do lado dele.
— Ah, o garoto novo é bom, não é mesmo? Mas sabe quem é melhor?
Podia falar que era ele, mas atualmente era uma mentira. Levou a mulher numa conversa, num "vamos ali rapidinho, pegar uma bebida. Antibiótico? Tô tomando, mas você não precisa se privar também". Não viu quem ganhou a corrida. Não viu a situação de barril em que se encontrava Thomas e muito menos a parte em que Ollie estava com resultados impressionantes para quem tinha feito sua estréia na Fórmula 1, ameaçando seu posto de segundo piloto. Não assistiu nem mesmo a batida generalizada que aconteceu no comecinho da corrida.
Mas assistiu Nami sentando na pia do banheiro e abrindo as pernas para ele. E daí que não viu nem a bandeirada? Ele estava ocupado demais comendo a mulher que estava de olho havia meses!
Depois ele preocupava com a situação da scuderia. Ele literalmente precisou perder um órgão para ter aquela chance.
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morimasami · 1 year
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festas nunca era algo que masami recusava, quer dizer só pra assistir doramas, e como naquele caso incluía seus amigos era claro que ela iria aparecer no terraço, só demorou um pouquinho porque resolveu fazer negitoromaki e tsunamayomaki além de ter passado no supermercado pra comprar saquê já que ela mesma tinha acabado as reservadas do próprio apartamento.
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sixthgunbr · 2 years
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R.I.P Yune (ex the GazettE)
Aoi comentou no twitter:
"Eu acho que seria não seria natural não fazer nada, então eu vou beber um pouco de Sake hoje! Aquele que aquele cara gostava. O membro da banda que acabou de iniciar suas atividades e que não tem muito dinheiro, então é um saquê bem barato, mas isso não pode ser evitado, por isso vou sair com ele de qualquer maneira."
A banda Sakashimana hagurumao kamengawarau anunciou por meio do seu twitter oficial, que o baterista Yune, veio a falecer de uma doença repentina em 28/12/2022. O funeral foi restrito a amigos e familiares.
Yune foi o primeiro baterista do Gazette durante 2002/2003, e nos anos seguintes passou por várias bandas juntamente com Loki, vocalista da banda em que atualmente participava.
Até o momento nenhum outro membro do GazettE se pronunciou sobre o ocorrido.
09-01-23
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opoetacicatriz · 2 years
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14.
"No sangue ascendente, recordo com furacões – Cheiro de saquê."
Coleção de Haicais -Do Poeta Cicatriz
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atheartbreakhotels · 1 year
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Black Swan: Austin Butler X Leitora
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Capítulo 3: Sanidade
Aviso: Só um vampiro atormentado.
A cabeça de Austin ainda dava voltas pela intensidade do aroma levemente frutado e quente impregnado no interior do Maverick. Ele havia sido nocauteado no milésimo de segundo em que adentrou o veiculo, o sabor de S/N havia invadido o seu paladar como se ele houvesse começado a beber dela naquele instante. Era quaseo como se pudesse sentir o liquido denso na medida certa estivesse escorregando caprichosamente por sua garganta.
- Puta que pariu. – o sombrio rosnado animalesco escapou do fundo do seu peito.
Ele estava perdido, e sabia bem, mesmo que seu orgulho não o permitisse admitir. E o seu orgulho, segundo Datin, ainda seria a sua ruina. Mas ele jamais admitiria o alarmante estado de precariedade do seu autocontrole ao deixar o prédio da humana. Havia sido um feito e tanto, sair daquele lugar sem denunciar sua estranha natureza para as duas pessoas com quem ele cruzou enquanto descia os três malditos lances de escadas.
“Na noite anterior pareciam somente mais um mero obstáculo a ser ultrapassada-“ a voz cínica do seu eu mais jovem soou, como um lembrete incomodo de que ele estaria ali, sempre que uma verdade inconveniente precisasse ser jogada na sua cara.
O barulho provocado pelo estalo metálico foi um aviso para o imortal que ele estava exigindo demais do seu velho veiculo. Austin amava aquele carro, mas naquele momento, quando pegava a saída oposta a TriBeCa, estava começando a acha-lo uma velharia inútil, mesmo com o motor modificado.
“Não adianta fugir” -o vampiro do inicio da sua existência zombou.
- Quem disse? – ele falou entredentes, suas mãos apertando perigosamente a direção, fazendo a cor dos nós dos dedos sumir.
“Nós dois sabemos que não adianta, Não quando o problema é você e a sua mente doente de Malkavian... E o seu “maravilhoso” dom”. – os dentes poderosos do vampiro estalaram quando ele travou a mandíbula em irritação. – “Você e eu sabemos o que vem depois da visão”.
- Não se...                    
Puta que pariu. Você é um idiota covarde mesmo, não é? - a voz em sua mente era tão alta, que ele podia ver claramente a sua versão de cabelos longos e um olhar homicida no rosto sentado no banco do carona. – Essa história de autocontrole é uma puta mentira que você conta para esconder o bunda mole que é. Uma excelente foda e um sangue raro, um bilhete premiado caiu no nosso colo.
- No meu colo. Você está fora disso. – ele falou quando entrou na estrada familiar ladeada por árvores cada vez mais amareladas, os primeiros sinais do outono.
Ah, você sabe que em um momento ou outro sou eu quem assume o comando das coisas... Entre nós dois sou eu o mais divertido. Eu prometo que vou cuidar direitinho da nossa ‘bolsa de sangue – riu divertido.
- Não se não houver um segundo encontro. – sentenciou recebendo um olhar carrancudo de volta.
A mente turbulenta da criatura silenciou presenteando-lhe com um restante de viagem tranquila. Ou, uma imitação tosca de paz e sossego constantemente abalada pelo cheiro de S/N, que não só estava impregnado em cada centímetro do interior carro, mas nele também. Ele podia senti-la em cada célula do seu corpo, o aroma leve e quente, mas ainda sim, presente. Ele precisava livrar o seu carro daquilo e, consequentemente, se livrar também.
Aquela visão não teria motivo para se concretizar, se ele conseguisse se livrar do cheiro da garota, e se não voltasse a vê-la.
 Já havia visto Isao se livrar de aromas que muitos consideravam impossíveis – aquele carniçal estripado na casa de Andaluzia, em 1876, já havia se tornado um clássico. Austin havia descoberto da pior maneira que carniçais podem feder ainda mais depois de mortos. Um cheiro humano, por mais delicioso que fosse não seria nem um grande problema para as habilidades quase magicas do velhote bebedor de saquê.
Esse era um dos motivos para sua mudança de rota.
Voltar para casa estava fora de cogitação naquele momento. Não com Callum e Maxine por perto, e a mania fazerem visitas indesejadas e perguntas ainda menos bem-vindas. No solar* pelo menos o deixariam em paz, com o custo de alguns olhares questionadores, mas os Ventrue eram cheios de decoro e comportamentos rígidos, que pelo menos Isao costumava seguir. Paz era algo que ele conseguiria por lá.
Mesmo que Austin em suas primeiras décadas conseguisse sentir o olhar desconfiado do vampiro mais velho em suas costas. Como se ele estivesse sempre esperando pela primeira merda que o mais novo protegido de Datin faria. Bem, errado o vampiro, que havia encontrado seu destino sobrenatural em meados do século XV, na corte do Imperador Go-Hanazono, não estava exatamente enganado. Austin fez merda. E uma merda da magnitude da Grécia, de onde os três tiveram que fugir no meio de uma madrugada como os monstros que eram. Isao se sentiu humilhado e Datin, finalmente, depois de um longo estado de negação, havia visto o quão problemático o jovem imortal era. Ainda que para aquilo ela houvesse precisado de um andar inteiro, de um velho hotel abandonado cheio de corpos humanos retalhados, para entender que Austin era um Malkavian com todos os acessórios de fábrica: uma mente perturbada e uma disposição assassina.
O veiculo tomou o desvio para a antiga estrada de aberta por entre as árvores altas, o chão de terra batida se estendia mata adentro por uma boa meia-hora. O solar havia sido construído há quase três séculos, deliberadamente longe dos olhos humanos, e somente poucos deles colocavam os pés dentro de seus muros. Era o lar de Datin, o lugar para onde ela sempre voltava depois de peregrinar uma vez ou outra entre continentes.
Um cuzão covarde, é isso o que você é - o seu eu mais jovem bufou, enquanto era sumariamente ignorado.
O caminho ladeado por uma densa vegetação era estreito o suficiente para só permitir um carro por vez. A entrada da proprpiedade era quase invisível para os humanos, e também exigia uma atenção redobrada dos vampiros. Era preciso mais que olhos e instintos afiados, era preciso saber exatamente onde desejava chegar e conseguir reconhecê-lo dentro daquele cenário praticamente inalterado.
 A casa de Datin nunca foi um lugar que qualquer um frequentava. A casa de um Ventrue nunca foi um lugar para todo mundo.
O Maverick preto lustroso avançava cautelosamente pela estrava acidentada, as copas frondosas das árvores formavam um teto espesso metros e metros acima. Raios de sol ocasionalmente conseguiam atravessar a camada de folhas, galhos e gravetos. Aqui e ali uma lufada de ar fresco dentro do confinamento úmido do corredor natural. A rota seguia assim por longos minutos a fio, sem ao menos dar algum sinal que o destino estava próximo.
Era um trajeto que Austin sempre achou solitário, sombrio até, como se tivesse saído das páginas de um livro de fantasia. O lugar ideal para se perder e nunca mais ser encontrado. Era surpreendente que um lugar como aquele existisse bem no meio de Nova York.
O caminho começou a ficar mais largo aos poucos, como se abrindo para dar acesso a algo maior. As arvores com suas copas se tornando suavemente mais esparsas, permitindo que a luz dourada da manhã alcançasse o interior do corredor verde amarelado e marrom, libertando-o da umidade fria que parecia dominar a maior parte do percurso silencioso. Aquela altura ocasionalmente era possível escutar muito ao longe o canto de um pássaro enquanto o carro avançava.
Indo se esconder na casa da mamãezinha ao invés de me deixar assumir o controle – zombou quando abruptamente o caminho se abriu em algo que lembrava uma clareira, mas continuava subindo em um terreno levemente íngreme.
O alto muro de pedras disformes e tamanhos variados, recoberto por musgo e plantas que nasciam entre as pedras, começou lentamente a assomar adiante.  Os portões pesados de ferro negro surgiram em seguida imponentes, escondendo o interior dos guaxinins e dos coiotes. O Maverick se aproximava ao som esmagamento de folhas e gravetos secos e pedregulhos pelos pneus, parando a  mais ou menos um metro do monstrengo de metal retorcido marcado pela ferrugem.
Comigo no comando todos nós nos divertiríamos, você sabe disso - Austin escutou enquanto destrancava a porta do lado do motorista, ignorando saltou para ir abrir o grande portão.
Os portões se abriram com um único empurrão dado pelo vampiro usando sua força sobrenatural, um rangido agourento soando das antigas dobradiças. Um caminho de paralelepípedos foi revelado por entre uma cerca viva muito bem cuidada e aparada.
Não é autocontrole, é covardia o jovem vampiro vestido com trajes vitorianos puídos disse quando carro adentrou a propriedade.
- Sou eu quem fica no controle dessa vez – Austin resmungou parando o carro mais uma vez para cerrar os portões novamente.
A cerca viva emoldurando o caminho seguia até ser substituída pelo jardim flores multicolorida e de diversas espécies, pontuando abundantemente o gramado verdejante.  O palacete no estilo art nouveau se erguia ao fundo imponente e belo em suas cores suaves. Era como estar de volta ao século XIX, quase uma viagem no tempo.
Quando o carro foi estacionado em frente aos degraus que levavam a porta principal da casa Austin conseguia ouvir a movimentação em velocidade sobre-humana. Não restava duvida de quem seria o primeiro a recepciona-lo com uma cara como quem diz “finalmente resolveu aparecer, não é mesmo” ou “lembrou-se que tem uma família”. Família. Era daquela forma que Datin costumava ver aquele arranjo entre três criaturas perdidas.
S/N ainda não havia conseguido entender exatamente o que havia acontecido. Como sua manhã perfeita tinha caminhado de encontro ao desastre. Caminhado a passos tão rápidos, na realidade. Austin era bonito demais, cavalheiro demais e bom de cama demais. Tudo estava indo bem demais. Contudo, ela deveria saber que havia algo de errado com ele, pensou enquanto apanhava o cesto de roupas sujas no banheiro.  
Depois do choque inicial, e como não poderia deixar de ser, da ligeira decepção com o que parecia ser uma evolução de uma noite de sexo casual, ela decidiu não deixar que aquilo a dominasse. Mesmo que ela conseguisse sentir os dedos e os lábios do homem em sua pele. A dor agradável tê-lo tão dentro dela. A garota tinha certeza que nunca sentido alguém daquela forma. Ou, que nenhum outro homem tenha a feito sentir tudo o que sentiu na noite anterior, com tanta intensidade...  
Ao ponto do delírio.
Ela precisava esquecer aquela noite, mesmo que não fosse fácil. Seria o mais sensato a se fazer naquele momento. Começando por se livrar dos resquícios de Austin em sua roupa de cama. Mesmo que a sensação da barba dele arranhando sua pele ainda fosse nítida, fazendo cada pelo do corpo de S/N se eriçar, como se aquilo estivesse acontecendo novamente naquele segundo.
- Para com isso – ela resmungou, enquanto colocava as roupas na máquina de lavar.
Com um suspiro resignado a garota tratou de começar o pequeno apartamento em ordem Mais uma tentativa de se livrar das possíveis lembranças de horas atrás. A tentativa de fazer seu emocional entender que depois daquela manhã, realmente, aquilo não havia passado de uma noite. Não importando nada do que havia sido dito antes, quando os dois ainda estavam envolvidos no calor dos últimos acontecimentos.
Ela e Austin certamente não se veriam novamente, o tom dele ao se despedir deixava bem claro.
Foi com aquele pensamento conformista que ela começou a colocar as roupas na máquina de lavar. A primeira da lista de tentativas de manter a mente ocupada. Desviando sua mente dos flashes dos momentos da noite passada, especialmente, do sexo que eles tiveram. Aquilo havia tomado conta dos pensamentos de S/N durante o café da manhã, que ela mal havia tocado.
Era inacreditável que um cara com quem ela só havia passado algumas horas – por melhores que elas tivessem sido – a fizesse se sentir daquele jeito. Talvez fosse a forma como as coisas tinham se desenrolado. Talvez ela só precisasse de um tempo para esquecer.
Isao o olhava interrogativo, quase avaliativo, ponderando cada palavra da curta frase que Austin havia dito. E o vampiro loiro sabia exatamente há quanto tempo fazia que ele não pedia algo nem ao menos parecido com aquilo. Sabia que a frase “Preciso da sua ajuda” não era tão curta como parecia, que por trás dela se escondia outra frase “Tenho problema tão grande que não consigo me livrar dele sozinho”.
- Só não me diga que são corpos na mala do seu carro. – Isao falou enquanto pacientemente fechava sua cópia puída de The Inferno Of Dante para pousa-la tranquilamente em seu colo.
- Não. – ele respondeu em seu mais seco e monótono. – É só um cheiro que está impregnado nele.
- Você andou dando carona algum carniçal, Butler? – havia um tom de divertimento na voz da velha criatura, mas o desprezo por trás de suas palavras era mais obvio que o sol brilhando lá fora.
Austin não gostava de caniçais, mas nada se comparava ao que Isao sentia por aquela subespécie.
- É um cheiro humano. O mesmo que está em mim. – ele viu o espaço entre os olhos do oriental franzir, a curiosidade espreitando por trás dos olhos escuros.
O som baixo de uma inspiração profunda foi ouvido, o cheiro de S/N estava sendo capturado dele. Algo que com um pouco de treino qualquer vampiro conseguia fazer, mas poucos conseguiam distinguir as nuances aromas raros ou singulares. Perceber que existiam alguns que estavam muito acima dos outros, ou até mesmo, únicos era para poucos imortais.
- Você é definitivamente um vampiro de sorte, meu amigo. Encontrar uma singularidade nos dias de hoj...
- Eu só preciso me livrar dele.  – Austin falou cortando Isao antes que ele começasse um tratado sobre sua sorte ao encontrar um sangue como aquele.
- Por que não mantê-lo? Fazer dessa mulher uma fonte de alimentação fixa. Um sangue como esse não se deixa escapar. – argumentou.
Olha, eu nunca pensei que  um dia fosse concordar com esse filho da puta, a voz cínica do Austin do século XIX soou num recanto sombrio da mente dele.
- Eu não posso – a fúria que ele sentia ao constatar o quão desequilibrada sua voz pareceu naquele instante.
- Você está bem, Austin?  
Melhor do que nunca, o outro, que nunca havia sumido, zombou.
- E-eu quase perdi o controle com ela. – em menos de vinte quatro horas aquela era a segunda vez que ele se ouvia gaguejar.
- Você matou a garota? – era uma pergunta, mas quase soava como constatação óbvia.
- Não, eu não matei ninguém. – ele disse entediado.
Quem diria, ele ainda não confia na gente, cantarolou cinicamente.
Austin se sentiu perscrutado pelo olhar analítico de Isao, que parecia decidir se acreditava nas suas palavras ou não. Não existia surpresa nenhum naquele comportamento, ele sempre soube que nunca ganharia a confiança de outros vampiros tão facilmente. Datin tinha sido uma exceção à regra. Para os outros de sua espécie, mesmo que o chamassem de amigo, ele sempre seria visto como o traidor, o Malkavian estripador.
- Tudo bem. Vou ver o que consigo fazer. – não era exatamente o que ele gostaria de ouvir, mas aquilo era o melhor que ele conseguiria.
- Obrigado. – ele se limitou a dizer. – O carro está destravado.
O imortal asiático só assentiu.
- Mas eu preciso te lembrar que é uma raridade...
- Eu só preciso me livrar dele. – ele disse tentando encerrar, esboçando a intensão de em direção imponente escadaria de madeira ricamente trabalhada.
- Aconteceu mais alguma coisa? – a desconfiança espreitando por trás da mascara calma que ele sustentava.
- Não. O que poderia ter acontecido? – ele perguntou dando de ombros, enquanto Isao o olhava como quem diz “Me diga você” – Eu só não quero ficar com um souvenir no Maverick. E se outros vampiros entrarem em contato podem complicar a vida da S/...da garota.
- Essa garota perturbou você? – perguntou sem rodeios.
- Uma humana?! – falou num tom de zombaria que poderia ter sido bem melhor. Isao deu de ombros – Eu só não quero ser o responsável mesmo que indiretamente pela morte de ninguém.
Isao o olhou como quem diz “Aí, está o Austin que eu conheço e boa parte da nossa raça despreza” – Tudo bem, eu vou fazer o possível para tirar o cheiro da tal garota do seu carro. Mas não você não vai poder usar o seu carro por dois ou três dias.
O vampiro loiro assentiu em concordância – Sem problemas.
Austin sabia que o seu pedido não era algo tão simples de ser feito. Livrar objetos e ambientes de aromas, mesmo que os humanos, nunca havia sido uma tarefa simples. Requeria pericia e minucia por parte de quem sabia como fazer aquilo, ele não podia pedir pressa. Aromas humanos simples desapareciam em um ou dois dias de forma natural. Mas aromas humanos raros eram tão complexos, contavam outra história. Alguns escritos, que Austin havia estudado décadas e décadas atrás, falavam da impossibilidade de existirem estudos conclusivos sobre eles.
- Você não vai vê-la? – Isao perguntou ao vê-lo dirigir em direção as escadas.
- Eu preciso trocar essa roupa antes. Me livrar desse aroma de uma vez. – a persistência do cheiro de S/N em sua pele começava fazer com que ele se sentisse encurralado. Aquilo o irritava, a inversão de papéis era algo que lhe desagradava profundamente. Ele não era a presa, e sim, o predador.
Ela decidiu que ignoraria mais aquela mensagem, que acabaria se juntando as outras seis em seu aplicativo de mensagens, ela tinha coisas mais importantes para se preocupar. Ou melhor, duas coisas mais importantes com que ela devia se preocupar, e ambas que não passavam muito longe da curiosidade sórdida de Anna e Melissa. Os olhos dela se voltaram para a mesa cabeceira- do lado do espaço da cama que Austin havia ocupado somente há algumas horas. Não para o móvel em si, mas para o par de joias que descansavam inocentemente sobre sua superfície dele. A primeira das joias uma corrente de elos com um medalhão de aparência antiga. A segunda, que parecia encara-la com certa ferocidade, que de alguma forma lembrava-lhe o seu dono, um colar de elos mais finos com uma cabeça de felino como pendente.
Encontrar aqueles colares displicentemente esquecidos sobre o móvel despertou em S/N uma sensação de familiaridade que ela nunca havia experimentado antes. Como se fosse comum encontrar coisas dele em sua casa. Como se ela ao abrir o armário e encontrasse camisetas dele ao lado das suas blusas na prateleira. Até mesmo, uma ou duas calças de moletom dividindo espaço. Aquilo deveria soar ridículo, afinal, se tratava de um homem que ela havia conhecido a menos de vinte quatro horas. E que ainda aquela manhã havia demonstrado um comportamento no mínimo errático.
Eo fato é que parte de Austin ainda estava lá.
Ela lembrava-se das joias era óbvio, mas ele as ofuscava com sua conversa bem humorada e interessante. Ele era muito mais do que suas obvias roupas de grife, ou, seus adornos caros. Nele tudo aquilo não passava de mero detalhe. Entretanto, aqueles “meros detalhes” precisavam ser devolvidos, evitar que aquilo se estendesse por muito mais tempo.
Com o celular nas mãos S/N ponderou se pelo estado que Austin havia deixado seu apartamento não seria cedo demais para entrar em contato com ele. Se ele sentiria bem com ela entrando em contato tão cedo. Mesmo sendo por um motivo legitimo não seria pressiona-lo demais naquele momento. Ela não estava tentando vê-lo de novo de forma gratuita, nem nada parecido com um novo encontro.
Eu só preciso devolver as coisas dele pensou dando um suspiro cansado, as coisas que pareciam ter começado de um jeito simples havia se tornado confuso num piscar de olhos. Depois daquela crise, ou, o que quer que fosse, e ter ido embora obviamente transtornado não ajudava em nada. Ela estava indecisa entre dar a ele mais algumas horas e devolver aquelas coisas de aparência cara o quanto antes. Tentar não prolongar aquilo muito mais que o necessário.
--“Oi, Austin. Eu espero realmente que você esteja se sentindo melhor. Realmente fiquei preocupada com você. Talvez, você não queira falar com ninguém agora, mas eu preciso de te dizer que esqueceu dois dos seus colares na minha casa. Caso você queira mandar alguém para busca-los pode ficar a vontade. Só me avise antes, ok?!
S/N”--
Sem pensar muito ela clicou em enviar para que a mensagem cumprisse seu destino. Se for para se afastar dele, melhor que fosse o logo.
Da varanda de pedra do seu quarto no solar ele conseguia ver o mar roxo azulado, no final do tapete verdejante, que se estendia diante dos seus olhos. Um cavalete havia sido colocado alguns metros antes do limiar, onde acabava o gramado e começava o campo de lavandas. Na estrutura de madeira estava apoiada uma tela de linho cru. Ao lado seu uma mesa de aparência elegante. E sobre ela uma paleta para tintas, bisnagas em tons variados de roxo, azul, verde, amarelo, rosa e branco, mais um suporte com pinceis e uma bacia pequena com água, naquele momento, tão turva quanto o cérebro dele.  
A vista bucólica contrastava imensamente com as imagens em sua mente, a noite anterior se repetia em sua mente se misturando com flashes de sua visão. Ele tinha tentando não pensar, mas o desgaste mental que vinha após uma manifestação do seu dom, finalmente, o havia alcançado. Então ele se viu arrastado pelo caos formado dentro da sua cabeça, fazendo com que ele lutasse para observar a mulher loira que concentrava pinceladas curtas no canto esquerdo inferior da tela. Ela podia parecer completamente absorvida por sua arte, mas ele a conhecia bem para se deixar enganar, a atenção de Datin estava toda nele.
A vampira de quase quatro séculos era o que Austin tinha mais próximo de uma mãe. Ou, a coisa mais próxima do que devia representar aquela palavra. Os sentimentos maternos e paternos não eram exatamente algo comum entre os imortais. Sentimentos humanos como afeto, altruísmo e apego havia se tornado estranho, controverso e confuso com o passar do tempo para maior parte daqueles da espécie de Austin. Todavia, com Datin aquelas características pareciam ter sido estranhamente preservadas. Ela costumava dizer que um vampiro nunca perde cem por cento de sua humanidade, o que é claro, ele achava uma bobagem. Vampiros eram monstros desprovidos de sentimos bons ou puros. Tudo o que havia restado de humano neles havia se tornado retorcido e desfigurado, pelo menos era assim que ele observava na grande maioria.
- Sabe, Austin, às vezes eu fico me perguntando o quão profundamente quieto você consegue ser quando está sendo atormentado por seus próprios medos. – ela falou tão suave quanto as suas pinceladas no linho cru, a voz soava como se ela estivesse ali ao lado dele.
Os olhos se estreitarem levemente – Então, faz suposições enquanto pinta?
- Se tratando de você eu não diria suposições. Você gosta de se ver como uma esfinge, e eu vejo mais como um livro aberto...Complexo, mas com algum esforço e tempo, perfeitamente desvendável. – ela dizia enquanto o som das cerdas contra o tecido começava a diminuir.
- Em menos de dois minutos você já me chamou de complexo e atormentado. – ele disse num tom de constatação.
- E nós dois sabemos que você não é dos que se ofende tão facilmente. – ela disse abafando o som de água sendo chacoalhada.
- Realmente, já fui chamado de coisas piores. – reconheceu.
“E de formas melhores, o jeito que a humana gemeu o nosso nome a noite passada”
Austin precisava admitir nunca havia ouvido seu nome ser chamado com tanta necessidade, como se ele fosse tudo que ela precisava. Ele nunca ia conseguir esquecer aquilo, não importava quantos séculos passasse, aquilo estava gravado a fogo num recanto profundo da sua memória.
- Há muito tempo eu não te via voltar tão perturbado de uma caçada. – a voz de Datin ganhado um tom ligeiramente apreensivo.
- Eu quase perdi o controle com a S/N. – ele disse sabendo que certamente ela havia escutado sua conversa com Isao. Na casa de Datin só se conseguia manter um segredo só era mantido se não fosse dividido com ninguém. – Foi como nos primeiros meses depois do Abraço, quando eu sabia que podia perder o controle a qualquer instante. Eu podia ter matado ela. – uma sensação ruim floresceu na boca do seu estomago, refletindo na sua voz.
- Isso parece com culpa. – o vampiro a escutou falar escutando som úmido das tintas sendo misturadas.
Culpa?
Então é esse o sentimento?
O imortal não saberia dizer se em algum momento da sua existência havia experimentado algo parecido. Ele já havia sentido raiva – muita raiva – especialmente, depois de colocar o segredo sobre sua real natureza em risco. Chame-o de egoísta, mas os sentimentos de Austin sempre estavam relacionados a ele mesmo. Ele se preocupava noventa por cento das vezes somente consigo mesmo, com raros momentos exceção, onde ele conseguia redirecionar sua preocupação para Callum e a própria Datin. Especialmente, se eles em risco o fizesse um alvo em potencial. Sentir culpado pela possibilidade ter feito mal a alguém era algo inédito para ele.
Era uma sensação incomoda que lhe lembrava de vulnerabilidade.
O som que anunciava que uma nova mensagem havia chegado ao celular foi momentaneamente ignorado. Aquele novo sentimento mesmo desconfortável também lhe despertava curiosidade. Era intrínseco de criaturas como ele serem egoístas, culpa e outras sensações equivalentes haviam se perdido com a humanidade.
- Isso é ridículo. Ela foi só uma humana, mais uma caçada. – voz dele saiu quase como um rosnado.
- Não, não foi mais uma caçada. Se fosse mais outra das vezes que você saiu para se alimentar você não estaria tão torturado do que jeito está. O sangue singular não é algo que te seja desconhecido. Pelo que me lembro você se saiu muito melhor que a maioria de nós. - ela estava tão tranquila que o enervava.
- Era uma criança, Datin. – ele devolveu enojado com a ideia.
- Me diga quantos de nós já se importou com esse tipo de coisa. Especialmente quando um aroma daqueles consegue ser ainda mais esmagador na infância.
Não era como se ele ainda tivesse algum senso humanidade, mas era  perfeitamente normal entre alguns vampiros o estabelecimento de limites. E Austin tinha delineado os seus, e não se alimentar de crianças era um deles. Não deixava de ser uma forma de se manter sob controle também, uma forma de se manter na linha e sua natureza protegida.
- Crianças são quase impossíveis de serem compelidas, isso não é novidade para ninguém.
- Quantos vampiros você viu se controlarem diante de um sangue incomum? Eu já vi massacres serem começados por causa de um mero resquício de um aroma assim.   
- A minha cota de massacres foi preenchida na primeira década do século XX. – falou Austin no seu típico humor acido.
- E quantos dele você começou por causa de sangue ? – Datin sabia exatamente a resposta, mas ainda sim esperava ouvi-la.
O imortal fechou o espaço que o separava do guarda-corpo da sacada do seu quarto no solar. Apoiando uma mão na pedra, com um salto gracioso, ele passou as pernas vestidas pelo moletom cinza para o outro lado como se o chão estivesse a um, e não a quase sete metros abaixo dele. A queda foi de pé, leve e elegante como a de um felino. Os pés descalços sentindo o tapete verde aveludado sob eles.
- Você sabe a resposta. – ele disse tentando não deixar que seu ego não alcançasse sua voz.
- Mas é sempre bom escuta-la diretamente do você. – cessando mais uma vez suas pinceladas.
Uma sombra nublou rosto dele, quando imagens sinistras tomaram conta de sua mente.
- Eu não quero falar disso. – falou num tom de quem encerra o assunto.
- O passado em um momento ou outro acaba nos alcançando, rapaz. – a voz de Datin soava quase como uma premonição.
Naquele momento, enquanto imagens e mais imagens de corpos e paredes ensanguentadas rodopiavam em sua mente, Austin tinha certeza que não era só o passado que desejava evitar, o futuro também lhe causava receio. Em contraste com sua inquietação seus passos em direção a vampira que parecia ser feita de marfim era calmos, quase displicentes. Ela analisava sua mais nova criação com a minucia dos grandes artistas. Mais uma obra-prima que seria disputada vorazmente pelos colecionadores dos quadros da incógnita que era Blanchett.
- O que você acha? – ela pergunta com um tom um tanto duvidoso.
- Singelo. – ele responde mesmo sem realmente observado a pintura, mas não era uma mentira.
- Como se você tivesse prestado atenção – Datin desdenhou numa voz suave, sem resquícios de ofensas.
Austin nem ao menos tentou parecer culpado por sua falta de atenção.  Ele observou as árvores se agitarem além do campo de lavandas, quando a pintora voltou sua atenção para as tintas. Os olhos vazios de Antoine ainda estavam em sua mente, assim como o rosto amedrontado da irmã. Os corpos mais uma vez, outra chacina. Tudo aquilo por causa de uma humana, aquele pensamento deveria soar desprezível.
Mas ele só parece frustrado mesmo.
- Eu não sei se você notou, mas disse o nome da garota. – ela disse distraída enquanto dissolvia a tinta das cerdas do pincel na água.
O cenho do vampiro franziu com a surpresa, ele não havia percebido aquilo. Só podia ser o sangue dela ainda em seu sistema, mais alguns dias, e ele mal se lembraria do rosto dela. A humana só seria mais outra de suas presas. Um rosto que seria apagado pelo tempo, o nome que ele mal se recordaria.
Quem é que você está querendo enganar? - ele ignorou sumariamente o se eu vitoriano.
- Bem, ela deve realmente ter te proporcionado uma grande noite. – Datin disse casualmente dando pancadinhas leves na borda da bacia para tirar o excesso de água do pincel.
Aquela mentira ele não poderia contar para si mesmo, nem para qualquer outra pessoa. A manhã também caminhava bem, pelo menos até o seu dom resolver fazer uma aparição, e arruinar tudo. Arruinar aquela sensação arrebata que ele havia sentido quando se desfez entre as coxas da humana ainda aquela manhã.
- Não foi das piores – ele não podia mentir, mas omitir a verdade era completamente aceitável. Ele se sentiu um pouco canalha depois que aquelas palavras saíram da sua boca. – É uma humana. Ela provavelmente vai passar o resto da vida comparando a noite passada com todas as outras que vir.  
Mentiroso, filho da puta, o outro disse num tom de escarnio
- Eu nunca te ouvi falar assim, por mais arrogante que você parece em vários momentos. Mesmo sabendo que muitas vezes você os veja como criaturas fracas e prontas para nossa satisfação. Você subestima os humanos demais, Austin. – ela disse depois de pousar o pincel sobre superfície da mesa para enfim olha-lo com atenção.
- O sexo e o sangue são tudo que eles têm para nos oferecer. – até para seus próprios ouvidos ele soou teimoso. – Eu sei que você gosta de pensar em si mesmo como espécie de vampira humanizada, mas você os supervaloriza demais. – por um momento aquelas palavras pareceram pertenceram ser para ela, mas para ele - Eles são comida, quase animaizinhos de estimação, e não para criar algum tipo de laço.
- O seu melhor amigo era um humano, por mais que muitos o tivessem como uma espécie de ser humano invencível. E pelo que saiba você não tinha sexo e nem sangue com ele. – ela o lembrou.
- Então a porra da fragilidade humana resolveu sair para brincar – ele riu amargo.
- E você construiu essa armadura em torno de si mesmo. – era uma constatação, que podia soar como uma acusação. – Se colocou nessa posição de estar acima de qualquer outra espécie.
- Eu só me preservo do que é desnecessário.
- Do sofrimento?
- Talvez. De enlouquecer principalmente, ser humano nenhum vale a minha sanidade. - a raiva em sua voz fazia lembrar todos os dias que a vida resolveu esfregar na cara dele quem podia mais.  
Se parecia surpresa com a inesperada explosão do protegido Datin não demonstrou, seu rosto continuou tão plácido como as águas cristalina de um rio.
- S/N mexeu muito mais com você do que você está disposto admitir. – imortal disse simplesmente.
Ele só deu de ombros como se não importasse – Eu achei que teria um pouco de paz vindo para cá. E foi só a coisa de uma noite, não exagere.
- Analisando friamente a situação não sou eu quem está exagerando.
Talvez ela tivesse razão, ele podia estar exagerando, mas foi ele que havia acabado de ter uma visão onde ele era responsável por uma tragédia. Austin pensava que tinha todo direito de estar exagerando. Afinal, era ele quem poderia se apaixonar por uma humana, e por causa dela, ele acabaria se voltando a ser o louco descontrolado, que matava pelo prazer de ver a agonia e o medo nos olhos de suas vítimas em seus últimos momentos.
Ele desejava estar no seu período de sono, mergulhar profundamente na inconsciência era uma forma ideal de escapar da realidade. Presentear seu cérebro uma parada forçada para que ele tivesse pelo menos quinze horas de paz. Contudo, o seu período de hibernação havia sido há quase duas semanas, o que significava que só a dali a mais quatro ele conseguiria algum momento de paz. Enquanto aquilo não acontecia o que lhe restava era torcer para não enlouquecer.
- Eu vou dar uma volta. – ele disse quebrando o silencio enquanto Datin começava arrumar suas tintas no estojo de madeira.
- Talvez isso te faça bem. – a voz dela era quase desinteressada, enquanto ele se afastava.
A propriedade de Datin provavelmente a mais extensa que Austin conhecia, e a mais bonita também. Bem, classificar o solar como bonito parecia não fazer o juiz ao quão fantástico o lugar era. O lugar basicamente personificação dos lugares fantásticos dos livros de fantasia, o equilíbrio perfeito entre O Condado* e a Terra do Nunca. Ele lembrava perfeitamente da sua primeira vez no solar, de quão extasiado ficou com tanta beleza. Era como se um portal houvesse se aberto no mundo real para que eles o atravessassem, indo parar naquele lugar inacreditável.  
Austin se lembrava de como gostava de vagar por horas por entre as árvores, seguindo o barulho alegre do riacho que cortava o terreno. Observando os esquilos correrem por entre os galhos das árvores. Os pássaros de cores únicas em seus ninhos. Algumas raposas de pelagem flamejante costumavam fazer aparições em alguns momentos. O imortal também se lembrava da grata surpresa que foi encontrar um confortável chalé suspenso, em um dos recantos mais profundos do jardim de Datin.
O jardim estava entre os lugares mais pacíficos que ele conhecia. Uma espécie de refugio para sua mente sobrecarregada. Onde podia perambular por aquele lugar por horas sem se cansar e entediar. Aquela atmosfera etérea e singular já havia o ajudado muito quando ele precisou voltar a ter controle sobre si mesmo. Sobre sua mente e seus impulsos, especialmente, os mais destrutivos. O vampiro só esperava que o que quer que fosse que houvesse naquele ambiente continuasse agindo, o ajudando a manter a sua sanidade preservada.
Austin vagou por um tempo pelo campo de tulipas coloridas que parecia ter sido inspirado em um dos quadros de Van Gogh.
O vampiro gostaria de dizer que perambular pela propriedade, sentindo a terra e a grama sob seus, ou o calor morno esquentar debilmente sua pele, estava ajudando. Ele realmente gostaria de dizer, mas aquele seria só mais uma mentira que ele estaria contando. Porque sua mente continuava voltando a noite anterior, quando ele estava profundamente dentro da humana, quando ele foi tudo o que ela mais queria. E ele ainda conseguia sentir o sabor do sangue dela dominando deliciosamente a sua língua e descendo lentamente por sua garganta dolorida. Austin ainda podia sentir o cheiro dela em sua pele. A voz dela em seus ouvidos.
Todavia, não eram somente as lembranças da noite anterior resquícios de sua visão iam se entrelaçando formando uma trama aterrorizante, onde os corpos e os sangues de suas vítimas atuavam como coadjuvantes.
Se as coisas continuassem naquele ritmo logo S/N estaria borrando os limites que ele havia estabelecido sobre sua relação com os humanos. Austin vinha fazendo aquilo a quarenta e cinco anos, e em menos de vinte quatro horas ela havia colocado tudo abaixo, mostrando que os alicerces que ele achava serem inabaláveis eram ridiculamente frágeis.
Você está pensando demais. Adota de vez a humana como animalzinho de estimação e me deixa tomar conta do resto, o seu eu descontrolado nada ajudava com sua tagarelice e sua ânsia para entrar em ação.
- Fora de questão. – ele murmurou para si mesmo, como se aquelas palavras fossem o suficiente para ajustar as engrenagens em sua mente pouco saudável.
Austin verificou o Cartier em seu pulso, ele marcava quase duas e meia da tarde, quando ele saiu do campo de tulipas em direção ao pomar e a horta indo em direção ao quintal, em consequência indo para as portas do fundo. Por mais de três horas ele havia andado inutilmente, sua mente estava decidido em não lhe dar paz. Ele estava quase se sentido resignado quando voltou a entrar na casa.
A cozinha de Datin era uma mistura elegante de moderno e antigo, onde ela gostava de colocar em pratica os talentos adquiridos durante séculos de existência. Os burritos dentro do pote térmico sobre a ilha no centro da cozinha era uma prova que ela havia andado praticando. Mesmo que não houvesse nada que denunciasse ele sabia que aquela comida esperava por ele. Ela sempre fazia algo do tipo quando ele estava no solar. Talvez uma forma de exercer um lado maternal reprimido, Austin suspeitava.  
Mesmo sem fome – ou a sensação que equivalia aquilo – ele comeu os burritos, acompanhado por um suco de limão persa, sentado em um dos quatro bancos altos da ilha. O silencio durante a refeição por um momento pareceu perturbador, especialmente, quando ele se pegou se perguntando como S/N teria ficado após sua saída repentina. O quão perturbado ela devia tê-lo achado depois daquela cena e de sua saída tempestuosa.
Por que porra isso importa mesmo, ele se recriminou, eles não se veriam mais mesmo. Contudo, até mesmo pensar daquele jeito o incomodou. Com um suspiro pesado ele terminou seu almoço para instantes depois colocar o copo e recipiente na lava-louças.
Frustrado? No mínimo era como ele se  parecia  consigo mesmo. Se vir sucumbindo daquela forma era um duro golpe em seu ego. Ela era humana e ele o vampiro, seus respectivos papéis estavam definidos há séculos, mesmo antes dos dois existirem. Vampiros subjugavam os seres humanos, e não o contrário.
Então por que eu sinto que os papéis estão lentamente mudando agora, ele se perguntou enquanto fazia o seu caminho para biblioteca.
Ler sempre o ajudou, sempre  que ela precisava juntar as coisas nem suas mente caótica. Mas, ainda sim , com um sentimento amargo repousando na boca de seu estomago que Austin escolheu dois livros dentre a vasta coleção literária privada. Sem hesitação ele apanhou dois exemplares da autoria de Tennessee Williams, One Arm e Hard Candy a Book of Story respectivamente. Todavia, se ele se pegou indeciso entre Ulisses, de James Joyce, e Bruddenbrooks, de Thomas Mann. Entretanto, levado pelas boas lembranças de uma solitária viagem pelas grandes e pequenas cidades irlandesas ele nos idos de 1930 ele optou pelo livro de Joyce.
E de lembranças agradáveis de sua existência como vampiro era do que ele precisava.
Ansiando por encontrar alguma paz nas páginas daqueles livros rumou para as escadas que o levariam para seu quarto no andar superior. Ainda quando avançava pelos degraus de madeira maciça a sua audição apurada foi capaz de captar, através das paredes grossas, o toque do celular avisando sobre uma nova mensagem. Callum aquela altura já devia ter tentado contata-lo algumas vezes, provavelmente, para confirmar a agenda da semana, já que eles estavam no processo de encerramento de pelo menos duas grandes vendas.
O  seu quarto continuava sendo o mesmo, no que se dizia a respeito a localização, desde a primeira vez que ele colocou os pés na cada de Datin a primeira vez. Só uma coisa havia mudado a decoração durante a passagem das, porque até mesmo a paisagem que ele via pelas grandes janelas parecia inalterada. A ilusão de que nada havia mudado, quando na verdade, ele muitas vezes, mal conseguisse reconhecer o mundo que o cercava.
Sem saber exatamente por qual das escolhas começaria o imortal colocou os livros sobre a cama com dossel, antes de apanhar celular. Com toques ligeiros ele foi direto para suas mensagens. Havia pelo menos cinco notificações de mensagens recebidas, as quatro últimas de Callum. Sendo três ameaças físicas para que Austin responda a primeira de suas mensagens, coisa ele resolve ignorar por mais algumas horas. Contudo, é a primeira de todas elas que o faz ter certeza que se ele ainda pudesse respirar teria perdido tal capacidade naquele momento, o nome de S/N com duas taças brindando ao lado aparecia no seu visor. E seus dedos, como se tivessem ganhado uma vontade independente do seu cérebro, abriram a mensagem antes mesmo que ele pudesse pensar no assunto.
Ele leu e releu a curta mensagem como se o seu teor estivesse além à compreensão até mesmo para uma criatura sobrenatural
--“Oi, Austin. Eu espero realmente que você esteja se sentindo melhor. Realmente fiquei preocupada com você. Talvez, você não queira falar com ninguém agora, mas eu preciso de te dizer que esqueceu dois dos seus colares na minha casa. Caso você queira mandar alguém para busca-los pode ficar a vontade. Só me avise antes, ok?!
S/N”--
E quando seu cérebro parecia, enfim ter entendido sobre o que se tratava a mensagem, a sensação era que quem quer que fosse que regesse o universo estava dando uma gargalhada em alto e bom som bem na cara dele.
*O Condado (Shire no original) é uma região da Terra Média, um universo fictício criado pelo filólogo e professor britânico J. R. R. Tolkien, descrito em O Hobbit, O Senhor dos Anéis e diversas outras obras do autor. O Condado se refere a uma área povoada exclusivamente por Hobbits e à parte dos acontecimentos do resto da Terra Média.
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resonantwave · 2 years
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     ❝  sinceramente...  ❞  segurou o copinho de saquê, suspirou e virou de uma vez.  ❝  eu beberia a garrafa inteira no gargalo agora.  ❞
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fitei · 1 year
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abril
com o sua
explosão de cor delirante
caixa de jóias com músicas do canto dos pássaros
xícara de chá de dias chuvosos
se derramando nos sonhos de prata das noites
ainda estou apaixonado como um poeta antigo
ressaca de saquê e uma cama não compartilhada
escrevendo estas linhas para a tristeza
da sua glória nua insustentável
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fotgem · 5 days
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Cachaceira de ofício? Kkkkk
Quais são tuas bebidas preferidas?
Tem alguma que você não goste?
Não gosto muito de velho barreiro kk
Mas amo vodka, tequila, whisky, conhaque, saquê e cerveja (artesanal, corona, bud, stella)
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guiltymnd · 1 month
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🍺 - How does your muse feel about the consumption of alcohol? Do they drink? Are they a heavy drinker, or are they on the lighter side? What's your muse's favorite alcoholic drink?
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Houve um tempo em que ele era conhecido por beber excessivamente, mas isso ficou no passado. Embora ainda consuma bebidas alcoólicas, faz isso raramente e apenas em ocasiões comemorativas, na companhia de amigos e sempre com moderação, evitando qualquer coisa que possa alterar sua percepção. No passado, ele bebia com frequência exagerada, independentemente do dia ou da hora, consumindo álcool sempre que sentia vontade. Seu comportamento chegou a flertar com o vício, mas ele se controlava antes de ultrapassar os limites. Hoje em dia, a vontade diminuiu, e ele frequentemente evita ou recusa o álcool, consciente de que precisa manter a sobriedade para não cometer erros. Antes, preferia cerveja, da qual agora se mantém distante, e tequila pura. No entanto, para se manter alerta, ele opta por drinques de baixo teor alcoólico, como Tepache, ou recorre ocasionalmente ao saquê.
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gastronominho · 1 month
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Crystal Ice entra para o portfólio do Grupo Petrópolis
Composta por bebidas alcóolicas prontas para o consumo chega para oferecer uma experiência diferenciada e com preço atrativo
Composta por bebidas alcóolicas prontas para o consumo chega para oferecer uma experiência diferenciada e com preço atrativo A Crystal Ice conta com um teor alcóolico equilibrado de 5%, característica que agrada mais o paladar do público. A bebida tem como base o saquê e a vodka, uma combinação já conhecida e aprovada pelos consumidores. Além disso, Crystal Ice possui menos açucares adicionados…
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virtuallghosts · 10 months
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Bebeu um gole de saquê. — Depois do primeiro gole não tem mais tanta graça....
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Caipirinha de Saquê
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