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#tomás arthuzzi
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Infográfico Jorge Oliveira e Felipe Van Deursen 
Foto Tomás Arthuzzi
https://www.estudionono.com.br/mandioca/
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A ciência da sopa
Foi em uma conversa na cozinha, entre os preparativos para a celebração do Ano-Novo judaico, que o professor de medicina Stephen Rennard, da Universidade de Nebraska, nos Estados Unidos, teve a ideia de investigar os efeitos da canja de galinha. Sua esposa, Barbara, seguia os passos da receita da avó e recitava os apregoados benefícios do prato contra resfriados. Na panela, além da ave, borbulhavam cebola, batata-doce, cenoura, aipo, folhas de nabo e temperos. A fama dessa sopa é antiga e transpõe culturas. Curandeiros no século 12 já prescreviam aos doentes caldos de frango — que, muito tempo depois, foram até apelidados de penicilina, em referência ao primeiro dos antibióticos.
No laboratório especializado em doenças pulmonares do doutor Renard, ele e sua equipe botaram a canja à prova. E viram no microscópio, em experimentos com células, que o preparo e seus nutrientes conseguiram inibir os neutrófilos, um grupo celular do nosso sistema imune que fica nas alturas diante de uma infecção. Ao abrandá-los, a tendência é controlar a inflamação e atenuar sintomas como a moleza e a dor no corpo. “Mas não testamos tudo isso em pessoas”, adianta-se o pesquisador, cujos achados foram publicados no reputado periódico Chest. Ainda assim, é como se a sabedoria das avós começasse a ganhar a chancela da ciência.
Já se sabia que uma boa canja oferece uma porção de substâncias bem-vindas à imunidade, caso de proteínas, vitaminas, minerais e antioxidantes. Mas tem um ingrediente extra que pode até ser difícil de mensurar nos estudos: o bem-estar emocional desencadeado ao saborear o conteúdo da tigela fumegante, em geral na companhia da família.
Em artigo publicado na mesma revista científica, intitulado Sopa de Galinha em Tempos de Covid-19, Rennard destaca exatamente esse aspecto: “Feita em um processo demorado e amoroso, a receita pode fornecer verdadeiro apoio psicossocial”. Ele não deixa de sublinhar a necessidade de pesquisas rigorosas para comprovar os efeitos de qualquer solução destinada a melhorar a saúde ou nos defender durante a pandemia. A propósito, o professor argumenta que, sozinha, nenhuma sopa previne ou cura o problema. Mas, continua, “é importante reconhecer que o cuidado com doentes envolve mais do que remédios”. Sim, ele fala de carinho e interação social.
“Um prato de sopa traz conforto emocional, desencadeia sensações de prazer, de satisfação e de segurança”, concorda o nutricionista João Motarelli, da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp). Consumir um caldo que traga lembranças gostosas e alívio em meio à rotina ou a uma indisposição faz bem ao corpo e à mente — e não são poucas as evidências conectando o estado psicológico à imunidade e à propensão a diversas encrencas.
Uma típica canja traz arroz em sua fórmula e tem origem asiática. Há relatos de que surgiu na Índia e se resumia à mistura do cereal com água. Outros apontam para a China. Veio parar aqui com os portugueses e virou sucesso. Contam que dom Pedro II era um grande apreciador e que, por sua influência, a receita passou a figurar em menus finos com o nome de “Sopa do Imperador” ou “Canja à la Brésilienne”. Mas nem só de canja forramos a barriga e a alma.
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<span class="hidden">–</span>Foto: Tomás Arthuzzi/SAÚDE é Vital
Alguns historiadores afirmam que a sopa é o prato mais antigo de que se tem notícia. Teria surgido quando o homem das cavernas começou a misturar a água com vegetais em vasilhas de pedra. Com a descoberta do fogo, os preparos ganharam novos ingredientes e sabores… E avançaram pelo tempo e pelo espaço. A chef Giovana Nacaratto, curadora do Festival Comida de Feira, em Caruaru (PE), conta que a origem da gastronomia tem tudo a ver com sopas. “O nome ‘restaurante’ vem de certos caldos, que eram considerados restauradores”, explica. No século 18, alguns estabelecimentos vendiam tais refeições a fregueses que se sentiam debilitados.
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O apelo saudável de cremes, caldos e sopas não perdeu a atualidade. Para Milza Moreira Lana, da Embrapa Hortaliças, em Brasília, eles representam uma senhora oportunidade de incluir mais verduras e legumes no dia a dia. “Vale experimentar ingredientes e temperos, sem medo de arriscar”, indica a pesquisadora, que faz parte do projeto Hortaliça Não É Só Salada. Caprichar no caldo que serve de base à receita é uma das primeiras lições a quem vai se aventurar. Tradicionalmente, aparecem como opções carcaças de aves, cabeças de peixes, pedaços de carne com osso e legumes. “E entram também os vegetais aromáticos, como cebola, cenoura, salsão, alho-poró e louro”, enumera o chef de Curitiba Ken Francis Kusayanagi, professor do Senac EAD.
Um truque para garantir sabor é mergulhar os ingredientes primeiro em água fria. Dessa maneira, o processo de desnaturação das proteínas ocorre mais vagoroso, o que resulta em líquidos mais ricos e gostosos. Alguns macetes culinários favorecem a biodisponibilidade dos nutrientes, ou seja, a absorção pelo nosso organismo. “Boas fontes de gordura, caso do azeite de oliva, melhoram o aproveitamento do licopeno vindo do tomate”, exemplifica a nutricionista Silvia Ramos, do Conselho Regional de Nutricionistas 3ª Região (CRN-3). Pura química.
É assim que aproveitamos também os efeitos dessas substâncias na redução do risco de doenças crônicas. E o que vale para o tomate vale para a cebola. A senhora dos anéis é estrela de uma sopa consagrada mundo afora. Reza a lenda que foi o sogro do rei francês Luís XV que criou a receita, uma das prediletas no Palácio de Versalhes. Não bastasse encantar o olfato e o paladar, a cebola oferece poderosos antioxidantes como a quercetina e os frutooligossacarídeos (FOS), um grupo de fibras que zela pela microbiota intestinal. Na forma clássica da culinária francesa, a preparação é coberta com queijo e levada ao forno para gratinar. É ou não é para degustar e se sentir feito majestade?!
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<span class="hidden">–</span>Fotos: Tomás Arthuzzi/SAÚDE é Vital
Vanderli Marchiori, nutricionista e fundadora da Associação Paulista de Fitoterapia (Apfit), explica que, durante o preparo da sopa, alguns fitoquímicos da cebola (e de outras hortaliças) migram para o caldo. Na tigela ou no prato fundo, portanto, você não precisa se preocupar com as perdas. O calor do fogo faz com que parte da água do interior das células vegetais se converta em vapor e libere seus sucos e compostos benéficos. Se o cozimento for devagar, em panela tampada, além de manter os nutrientes, o sabor tende a ficar adocicado e suave. Quando a cebola é frita, por sua vez, suas proteínas e carboidratos interagem numa reação conhecida como de Maillard. O resultado é a coloração dourada e o gosto mais intenso. “Uma sugestão, inclusive para enriquecer e enfeitar outras receitas, é refogá-la rapidamente em azeite, junto do alho, e despejar por cima, bem na hora de servir”, dá a dica Vanderli.
Um ensinamento clássico dos chefs de cozinha é respeitar o tempo de cada ingrediente. Feijões e outras leguminosas, secos e duros, têm de ser cozidos primeiro; as verduras, molinhas, são postas por último. O corte dos alimentos também faz a diferença: pedaços grandalhões demoram a cozinhar, enquanto os miudinhos ficam macios rapidamente. Há quem defenda o mínimo de manipulação possível, mas cuidado com ideias radicais, por favor. A nutricionista Renata Guirau, do Oba Hortifruti, em São Paulo, recomenda picar os vegetais imediatamente antes de incluir na receita para inibir o processo de oxidação e minimizar prejuízos nutricionais. Também convém adicionar pouca água para cozinhar, uma vez que as hortaliças já são compostas de líquidos. O chuchu é o melhor exemplo.
“Há preparações que pedem consistência mais firme, especialmente nas receitas com origem na culinária asiática”, observa o professor Kusayanagi. Aliás, os japoneses são notáveis consumidores de sopas. Uma análise publicada no The Journal of Nutrition aponta um elo entre os hábitos alimentares e a longevidade na terra do sol nascente. Entre os destaques da culinária local, está o missoshiro, um caldo de peixe e algas com pasta de soja. Juliana Watanabe, chef e nutricionista da NutriOffice, na capital paulista, comenta que o padrão dietético japonês diminui o risco de doenças cardiovasculares. “Além disso, sua culinária é muito enraizada culturalmente, o que fortalece esse costume alimentar ao longo das gerações”, avalia. A sopa de missô frequenta o cardápio da nutri e traz os ensinamentos da batian, sua avó, que viveu até os 104 anos. “Ela incluía algas desidratadas, cenoura raladinha, tofu e acrescentava um ovo inteiro para cozinhar como pochet”, revela.
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<span class="hidden">–</span>Foto: Tomás Arthuzzi/SAÚDE é Vital
Para ser considerada refeição completa, a receita de sopa precisa ter uma proporção de nutrientes adequada. “Deve haver espaço para proteína, que pode ser tanto vegetal quanto animal”, ensina a nutricionista Lara Natacci, da Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição (Sban). Carboidratos, vindos de grãos, tubérculos e raízes, não devem faltar, pois garantem energia ao corpo e dão consistência ao prato. Já azeite de oliva, castanhas e sementes oferecem uma dose de gordura da boa. E, claro, as hortaliças completam a fórmula com suas cores, fibras, vitaminas e minerais.
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Expert em comportamento alimentar, Lara diz que não é raro seus pacientes comentarem que ficam com fome quando o jantar se resume a uma tigela de caldo de vegetais. “É que é essencial ter uma fonte proteica para atingir a sensação de saciedade”, reforça. Pode ser feijão, peixe, a galinha da canja… Dentro de um cardápio equilibrado, as sopas podem, inclusive, favorecer o controle do peso, como indica um estudo do British Journal of Nutrition. “Mas tudo depende da composição das receitas e dos hábitos como um todo”, pondera Lara.
Presentes em todas as culinárias, sopas podem servir a todos os gostos. Desde as primeiras papinhas do bebê até os jantares dos idosos. E por que se convencionou dizer por aí que elas se prestam mesmo a refeições noturnas? A pesquisadora Milza Lana conta que, certa vez, quando morava na Holanda, uma de suas anfitriãs estranhou esse hábito tão brasileiro. “Lá eles tomavam sopa no almoço e também em dias mais quentes”, lembra. Receitas frias, aliás, são muito populares na Europa. O gaspacho espanhol, que leva tomate, cebola e pão, é dos mais festejados. Há ainda a borscht, feita de beterrabas e originária do Leste Europeu, que também pode ser servida quente. Sem contar as refrescantes misturas de pepino com iogurte, que acalmam o estômago e esfriam a cabeça.
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Independentemente da temperatura, o importante é lançar mão de ingredientes da melhor qualidade para extrair saúde e sabor. E o recado é o mesmo para quem vai usar as sobras de carnes, pescados e vegetais. Uma amostra de sucesso é o minestrone dos italianos, baseado em um mix de legumes. “Falamos de um preparo sustentável, que pode ser elaborado com aquilo de que dispomos na geladeira e na despensa. Basta usar a criatividade”, afirma Lara.
No século 21 de tanto prato pronto, Juliana Watanabe acredita que, com a (re)descoberta da cozinha, as pessoas precisam vencer o medo e a inércia e se arriscar. Inclusive com as especiarias. Já testou o gengibre, que casa tão bem com a abóbora e enriquece a receita com substâncias digestivas e que dão um chega pra lá nos enjoos? A mesma ousadia se aplica aos acompanhamentos. Ainda que o pão pareça o par perfeito ao creme de ervilha, há quem cubra o prato com pipocas, por exemplo. Além de dar um toque lúdico, elas contribuem com fibras, aliadas do funcionamento intestinal. Cogumelos do tipo shimeji também podem dar o ar da graça e, de quebra, nos presentear com lentinans, compostos parceiros do sistema imune.
Escarafunchar a riqueza culinária brasileira é outra boa pedida. “Que tal trocar a couve por taioba, vez ou outra?”, desafia Milza, citando uma folha do grupo das Pancs (plantas alimentícias não convencionais). Ou experimentar o tacacá, iguaria indígena feita de mandioca e jambu, espécie que causa dormência na boca. Sorver um copo de caldo de mocotó, que tem como matéria-prima o colágeno da pata do boi, é revigorante. “Muitos sertanejos têm o costume de tomá-lo após um dia de trabalho”, conta Giovana Nacaratto. “É como um abraço quentinho”, compara. Uma definição sob medida do que oferecem essa e tantas outras sopas.
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 <span class="hidden">–</span>Foto: Tomás Arthuzzi/SAÚDE é Vital
Embora apresente algumas variações de ingredientes, a clássica sopa da vovó é sinônimo de aconchego. Confira a sugestão da nutricionista e chef Juliana Watanabe, de São Paulo:
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Ingredientes
1 xícara de arroz (branco ou integral), lavado e escorrido 1/2 colher (sopa) de óleo vegetal 1 peito de frango 1 unidade de cebola picada 2 litros de caldo de frango ou de legumes 2 unidades de cenoura picadas 1 talo de salsão 2 colheres (sopa) de salsinha, picada 2 unidades de batata picadas Sal e pimenta a gosto 2 unidades de tomate, sem pele e sem sementes (opcional)
Modo de preparo
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Em uma panela, aqueça o óleo e refogue a cebola e o salsão. Acrescente o peito de frango e deixe dourar. Junte os tomates e cozinhe até que comecem a se desmanchar. Bote o caldo de frango ou de legumes, as cenouras e as batatas. Deixe cozinhar por cerca de 15 minutos. Adicione o arroz e deixe no fogo baixo por mais 15 minutos ou até que esteja cozido. Retire o peito de frango, espere esfriar um pouco e desfie-o. Agora coloque novamente o frango já desfiado e tempere com sal e pimenta-do-reino a gosto. Finalize com a salsinha picada. Sirva em seguida.
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<span class="hidden">–</span>Foto: Tomás Arthuzzi/SAÚDE é Vital
A versão clássica vem da França e leva queijo gratinado por cima. Experimente a criação do chef Ken Francis Kusayanagi, de Curitiba:
Ingredientes
500 gramas de cebola (ou 4 unidades), cortadas em tiras pequenas (corte julienne) 50 gramas de queijo gruyère ou parmesão 1,5 litro de caldo de frango ou legumes 6 colheres (sopa) de farinha de trigo 6 fatias de pão (ou em formato de croûton) 100 gramas de manteiga sem sal Sal e pimenta a gosto
Modo de preparo
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Em uma panela de fundo grosso, derreta a manteiga e, depois, acrescente a cebola. Deixe dourar bem, sempre mexendo, até escurecer e começar a grudar na panela. Em seguida, coloque a farinha, misture e, por fim, adicione o caldo. Mexa para não empelotar, deixe levantar fervura branda, sempre cuidando para a farinha não aderir ao fundo. Adicione o sal e a pimenta-do-reino como preferir e sirva com o queijo e o pão para finalizar — também vale cortar o pão em cubinhos, em forma de croûtons. Uma ideia deliciosa é cobrir com o gruyère e levar ao forno para gratinar.
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<span class="hidden">–</span>Foto: Tomás Arthuzzi/SAÚDE é Vital
Não é preciso apreciar a receita oriental só no rodízio japonês. Dá pra fazer em casa, como ensina a nutricionista e chef Juliana Watanabe:
Ingredientes
1/4 de xícara de chá (65 g) de missô (pasta de soja cozida e fermentada) 2 litros de água 200 gramas de tofu cortado em cubinhos 1 colher de sopa de wakame (alga desidratada) 1 envelope (10 gramas) de dashi (tempero japonês à base de peixe) Cebolinha a gosto, cortada em rodelinhas finas
Modo de preparo
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Em uma panela grande, ferva 2 litros de água com o dashi e o wakame. Acrescente o missô e mexa. Apague o fogo e sirva em tigelinhas individuais com tofu (o “queijo de soja”) cortado em cubinhos e cebolinha verde em rodelinhas finas. Quer incrementar? Você pode acrescentar um pouco de cenoura ralada, acelga ou repolho picado.
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<span class="hidden">–</span>Foto: Tomás Arthuzzi/SAÚDE é Vital
A cumbuca que enfeita e aquece bares e restaurantes brasileiros tem muita tradição. E você pode fazer uma versão mais saudável em casa — receita da chef Giovana Nacaratto, de Caruaru (PE):
Ingredientes
2 xícaras de feijão-preto ou de corda 2 unidades de cebola pequenas picadas Ovo de codorna cozido a gosto Óleo para refogar 1/2 unidade de pimenta dedo de moça, sem sementes 5 xícaras de água 5 dentes de alho pequenos picados 1/2 unidade de pimentão 150 gramas de charque dessalgada Coentro a gosto Milho cozido a gosto Sal a gosto Folhas de louro a gosto
Modo de preparo
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Deixe o feijão de molho por 12 horas e descarte a água. Cozinhe o feijão e a charque na pressão por 20 minutos com louro e água. Refogue em outra panela o alho, a cebola, a pimenta e o pimentão. Quando estiver bem caramelizado, acrescente o feijão cozido sem a charque. Deixe cozinhar por mais cinco minutos. Bata no liquidificador, volte tudo para a panela e cozinhe em fogo baixo. Desfie a charque, corte em pedaços pequenos e junte ao caldinho. Ajuste o sal e sirva com o ovo de codorna, o milho e o coentro.
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magraeleveemagrecer · 4 years
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A epidemia oculta: saúde mental na era da Covid-19
Ser jornalista que escreve sobre saúde tem lá seus perigos. O mais óbvio deles é uma espécie de hipocondria intermitente: achar que você tem os sintomas daquela doença sobre a qual está estudando para a próxima reportagem a ser publicada. Nesses dez anos de experiência na área, eu me sentia particularmente imune a esse fenômeno. Afinal, sempre tive uma vida relativamente saudável e não sofro de nenhuma condição crônica ou incapacitante. Mas tudo mudou em abril de 2020: durante o processo de apuração para esta reportagem, de algum modo senti e vivenciei muitos dos incômodos e frustrações que serão descritos nas próximas páginas. O sono não é reparador como antes. O cansaço me agarra cada vez mais. A incerteza sobre o dia de amanhã é apavorante. Enfim, a cabeça opera em outra frequência na era da Covid-19.
Convenhamos: vivemos tempos únicos. Até certo ponto, é esperado sentir-se mal, ansioso, com raiva, insatisfeito ou triste diante de tantos desafios que aparecem na nossa frente. Como mostra um levantamento com 4 693 brasileiros feito pela Área de Inteligência de Mercado do Grupo Abril, em parceria com a MindMiners, não estou sozinho nessa: 54% dos cidadãos estão extremamente preocupados com a situação da Covid-19 (você confere outros números da pesquisa ao longo da matéria). 
Para entender melhor esse turbilhão de sensações que invadem a cabeça, resolvi procurar nos livros de história exemplos de crises do passado que poderiam ajudar a entender o que vivemos hoje. Será que existiu algum momento em que nossos tataravós passaram por uma situação similar? O primeiro exemplo que apareceu nas leituras e nas entrevistas foi a gripe espanhola, uma pandemia que, apesar do nome, começou nos Estados Unidos no ano de 1918, durante a Primeira Guerra Mundial. Soldados americanos levaram o vírus influenza para os fronts de batalha na Europa, onde a doença se disseminou para tudo que é canto e matou entre 17 e 50 milhões de seres humanos. 
Mas essa não é uma comparação justa: os modelos de comunicação e locomoção eram absolutamente diferentes há um século, quando todos dependiam de navios a vapor e telegramas. “Hoje conseguimos cruzar o mundo de avião em poucas horas, o que certamente contribuiu para a disseminação do coronavírus, e a tecnologia permite que as informações cheguem a todo mundo quase que instantaneamente pelas redes sociais”, analisa o médico americano Damir Huremovic, editor do livro Psychiatry of Pandemics (A Psiquiatria das Pandemias, sem tradução para o português). 
Do ponto de vista de saúde mental, o episódio de 1918 também não serve como modelo para os tempos atuais: especialidades como a psiquiatria e a psicologia davam seus primeiros passos nas décadas iniciais do século 20 e as emoções humanas ainda não eram consideradas um fator preponderante para a saúde. “Falamos do momento em que Sigmund Freud (1856-1939) publicava seus trabalhos mais importantes, que definiriam a área”, lembra Huremovic. Curiosamente, o próprio Freud vivenciou a perda de uma filha por causa da gripe espanhola. Mesmo assim, o pai da psicanálise não chegou a refletir ou se debruçar sobre os efeitos da pandemia sobre a psique em seus escritos.
Outras tragédias, inclusive brasileiras, marcaram época e repercutem no cérebro e no imaginário até hoje. É o caso do incêndio na boate Kiss, na cidade gaúcha de Santa Maria, em 27 de janeiro de 2013, que vitimou 242 pessoas. Ou do rompimento da barragem de Brumadinho, em Minas Gerais, no dia 25 de janeiro de 2019, que resultou em 259 óbitos. Mas, de novo, sobram diferenças e faltam semelhanças entre passado e presente. Você com certeza ficou chocado com as notícias lá atrás. Mas, se não mora em algum desses municípios brasileiros, sua vida não foi diretamente alterada durante o ocorrido ou depois dele. Seus compromissos não foram cancelados, tampouco havia incerteza sobre o dia de amanhã. Agora é diferente.
 Em um período sem precedentes como este, nada mais justo e sensato do que ouvir o que nos diz a biologia. “Quando estamos diante de uma ameaça à vida, ativamos o mecanismo de luta ou fuga”, resume o psicólogo Felipe Ornell, do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Esse mecanismo, herdado dos nossos mais remotos antepassados, se traduz hoje numa palavra corriqueira: estresse. Há milhares de anos, o homem das cavernas que andava pelas savanas e encontrava uma fera no caminho tinha que se decidir entre partir para cima ou sair correndo. Estresse na veia. 
E é essa reação que deixa o organismo preparado para agir. O cérebro lança um comando para uma glândula que começa a produzir cortisol, o famoso hormônio do estresse. Isso, por sua vez, faz o coração disparar, com o objetivo de levar mais sangue para os músculos trabalharem. A respiração se acelera na tentativa de captar mais oxigênio. Estoques de energia são liberados para servir de combustível. Graças a esse sistema veloz e afinado, nossa espécie sobreviveu às adversidades. 
O problema é que o inimigo de 2020 não tem rosto, nem dá pra fugir dele: como pode estar em qualquer lugar, representa um perigo permanente, o que dispara o gatilho da tensão a todo instante. “Em paralelo ao coronavírus, vemos surgir uma pandemia de medo e estresse”, interpreta Ornell. Eis o começo de uma dura jornada mental, que pode desembocar em ansiedade, depressão… 
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<span class="hidden">–</span>Foto: Tomás Arthuzzi/SAÚDE é Vital
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<span class="hidden">–</span>Ilustrações e gráficos: Letícia Raposo e Bananajazz/SAÚDE é Vital/Getty Images
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<span class="hidden">–</span>Ilustrações e gráficos: Letícia Raposo e Bananajazz/SAÚDE é Vital/Getty Images
Apesar dos constantes avisos de cientistas de que uma pandemia estava por vir, a verdade é que o mundo inteiro foi surpreendido pelo coronavírus: no comecinho de 2020, nenhum presidente, senador ou deputado imaginava que estávamos à beira do caos. E esse despreparo, de certa maneira, contribuiu para bagunçar ainda mais o coreto. Afinal, lidamos com uma doença em que não há perspectiva de vacinas ou remédios com capacidade de cura para os próximos meses. A única medida que resta para conter o avanço e diminuir o impacto nos sistemas de saúde é o isolamento social: com menos gente circulando pelas ruas, a taxa de transmissão do vírus cai, o que permite aos hospitais absorverem a demanda de novos pacientes. 
Que fique claro: permanecer trancado em casa é vital para lidar com a pandemia no atual estágio e todos devemos ter responsabilidade e obedecer às orientações das autoridades em saúde pública. Mas isso não quer dizer que essa estratégia seja isenta de efeitos colaterais: não sair às ruas pesa na cabeça. “Pra começo de conversa, nos tornamos saudosistas das pequenas experiências da vida, como admirar aquela árvore bonita que acaba de florescer”, exemplifica a psicóloga Beatriz Borges Brambilla, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). 
E essa é apenas a ponta do iceberg: um estudo da Universidade Brigham Young, nos Estados Unidos, estima que a falta de contatos sociais traz riscos à saúde comparáveis a fumar 15 cigarros por dia e chega a ser duas vezes mais danosa que a obesidade. Para piorar, nas raras vezes em que nos aventuramos no mundo exterior nas visitas ao mercado ou à farmácia, somos confrontados com rostos cobertos por máscaras, que nos impedem de interpretar as emoções dos interlocutores. Não há dúvida de que, como seres sociais, necessitamos da troca de experiências, do diálogo e da convivência em comunidade para sermos felizes. 
Enquanto isso não é 100% possível, resta então manter a conversa com as devidas adaptações. É hora de usar e abusar dos aplicativos de videochamada, como o Skype, o WhatsApp, o Zoom e o Google Hangouts. Claro que não é a mesma coisa que encontrar os amigos num bar ou bater papo com a família no almoço de domingo, mas essas interações a distância ao menos ajudam a preencher um pouco do vazio e da saudade que sentimos de estar com aqueles que amamos.
Quem lê tanta notícia?
Outro ingrediente que ajuda a compreender esse quadro inédito é a quantidade de informações que recebemos nos dias de hoje. Os números são assustadores: de acordo com o site Internet Live Stats, a cada segundo o mundo produz e compartilha na web 2,9 milhões de e-mails, 8 947 posts no Twitter, 987 fotos no Instagram, 4 602 chamadas no Skype e 82 386 pesquisas no Google. Sim, você leu certo: isso tudo aparece nos computadores e nos smartphones em um mísero segundo! 
Agora, imagine como fica a situação diante de uma ameaça viral, em que novos fatos pintam a todo instante e a ciência está em constante atualização. Não à toa, semanas antes de decretar a pandemia, a Organização Mundial da Saúde já classificava toda a situação como uma infodemia. Em outras palavras, a abundância de vídeos, textos, gráficos, ilustrações e áudios, sejam eles verdadeiros ou mentirosos, dificulta o entendimento das orientações e gera uma crise de confiança entre a população. Das duas, uma: ou você fica totalmente paranoico ou passa a duvidar de tudo que brota na tela do seu celular.
Para lidar com esse dilema, os especialistas sugerem adotar uma espécie de dieta de notícias. “Não fique constantemente com a televisão ligada ou com as redes sociais abertas. Defina períodos específicos de seu dia para se atualizar sobre os fatos”, indica a psicóloga Ana Maria Rossi, presidente da International Stress Management Association (Isma-BR). Priorize os meios de comunicação sérios e os sites oficiais das entidades e tome cuidado com as onipresentes fake news: ao receber qualquer informação por WhatsApp, cheque a fonte e a data do conteúdo. Se tiver dúvida sobre a veracidade daquela mensagem, melhor não compartilhar.
Bolsos mais vazios
Um terceiro aspecto que tira o sono de qualquer um é a perspectiva de uma recessão global. O Fundo Monetário Internacional (FMI) estima que o mundo entrará na maior crise desde 1929, ano em que ocorreu a quebra da bolsa de valores de Nova York, nos Estados Unidos. O enfermeiro Carlos Sequeira, professor da Escola Superior de Enfermagem do Porto, em Portugal, estudou a fundo como o colapso econômico que acometeu a Europa a partir de 2008 afetou a saúde mental da população. “Nesse período, houve um aumento significativo das taxas de suicídio no continente”, relata. O problema é que são raros os governantes que se importam de fato com essa questão. “Por mais que muitos digam que o tema é prioridade, poucos fazem algo concreto para evitar os surtos de ansiedade e depressão que se desenrolam a partir das dificuldades financeiras”, critica o especialista. 
O Brasil, que já vinha aos solavancos nos últimos anos, pode passar por momentos turbulentos, infelizmente. Pacotes de estímulo à economia que foquem no trabalhador e nas empresas já são urgentes. Do ponto de vista individual, será preciso se reinventar e adequar as expectativas para garantir um equilíbrio tanto das contas quanto da mente. “Não crie tensões desnecessárias sobre coisas que estão fora de seu controle”, diz a psiquiatra Mariana Castro, mestre em saúde pública pela Faculdade de Medicina de Botucatu da Universidade Estadual Paulista (Unesp). Temos a oportunidade de aprender com os erros das crises passadas e, dentro do possível, buscar o bom e velho balanço: planejar o futuro sem cair na neurose extrema. 
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<span class="hidden">–</span>Foto: Tomás Arthuzzi/SAÚDE é Vital
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<span class="hidden">–</span>Ilustrações e gráficos: Letícia Raposo e Bananajazz/SAÚDE é Vital/Getty Images
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<span class="hidden">–</span>Ilustrações e gráficos: Letícia Raposo e Bananajazz/SAÚDE é Vital/Getty Images
A edição 2020 do Big Brother Brasil, da TV Globo, foi uma das mais bem-sucedidas dos últimos anos. De acordo com os analistas, grande parte do sucesso alcançado pela atração se deve ao fato de a população também estar trancada em casa, sem acesso ao mundo exterior, numa situação relativamente parecida com a dos participantes do reality show. De certa maneira, isso criou cumplicidade e empatia entre espectadores e protagonistas, o que certamente catapultou a audiência. Por mais que existam muitas críticas ao programa, é inegável que o formato conquistou o público e garantiu um belo lucro aos seus organizadores.
O que mais chama a atenção nesse espetáculo televisivo são os conflitos que surgem a partir do convívio forçado por três ou quatro meses. Do outro lado das telinhas, vemos o mesmo fenômeno ocorrer: no Big Brother da vida real, a quarentena pode ser uma verdadeira prova de resistência. Com as escolas fechadas, crianças e adolescentes ficam o tempo todo em casa. A mesma regra se aplica aos adultos, que rebolam entre as demandas do trabalho a distância, os afazeres domésticos e o raro tempo livre para descanso e lazer. “A tripla jornada é ainda mais preocupante entre as mulheres, que ficam responsáveis por cuidar de vários quesitos do lar e da família”, nota a terapeuta ocupacional Sabrina Ferigato, da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), no interior paulista.
No olho desse furacão, não raro aparecem as brigas entre os casais ou os conflitos entre pais e filhos, avôs e netos. Na China, o primeiro epicentro do coronavírus, alguns cartórios registraram um aumento nos pedidos de divórcio quando a vida começou a voltar ao normal. Nas províncias de Shaanxi e Sichuan, por exemplo, houve um recorde nos índices de separação a partir das últimas semanas de março, de acordo com informações do jornal chinês The Global Times. 
Para a psicóloga Beatriz Brambilla, da PUC-SP, existem dois fatores principais que produzem esse desgaste nas relações. O primeiro deles é a falta de assunto. “Como não saímos, não temos muito o que contar sobre novidades do trabalho ou algo diferente e curioso que vimos no caminho”, observa. O segundo ponto é que, nesse intensivão da convivência, passamos a observar em detalhes os defeitos e as manias que nosso parceiro possui. “É aquele barulho com a boca que eu nunca tinha notado no meu esposo, e outros traços de personalidade como esse que antes passavam desapercebidos”, exemplifica Beatriz. 
Para evitar brigas e rompimentos, a melhor ferramenta é o diálogo. Converse com os companheiros de quarentena e busque sempre tornar o dia a dia mais agradável para todos. Compartilhe seus sentimentos e converse sobre os pontos que estão incomodando. Reservar um tempo para si e fazer atividades individuais que trazem relaxamento e bem-estar também são uma saída necessária para aliviar o clima e, assim, prevenir discussões e tensões desnecessárias.
Um terceiro fator que precisa ser discutido nesse contexto é o da violência doméstica. Dados do Núcleo de Gênero e do Centro de Apoio Operacional Criminal do Ministério Público de São Paulo revelam que casos de agressões aumentaram 30% em março de 2020, quando o isolamento social foi iniciado. Aqui, não há conversa que resolva: as vítimas, majoritariamente mães e esposas, devem procurar assistência nas Delegacias de Defesa da Mulher, na Casa da Mulher Brasileira ou nos Centros de Acolhimento, que continuam funcionando normalmente durante a pandemia.
Pra (não) dizer adeus 
Na sociedade ocidental, o velório e o enterro são etapas muito importantes na hora de se despedir de alguém querido que acaba de morrer. É uma cerimônia em que os mais próximos recebem abraços e palavras carinhosas. Isso traz conforto e suporte para lidar com aquela perda e superar a tristeza. E como fica essa tradição tão essencial em nossa cultura num período em que o número de mortes por Covid-19 está aumentando, as aglomerações permanecem vetadas e o sepultamento geralmente só pode ser acompanhado por quatro ou cinco parentes? 
Sim, o cenário é terrível e exige, mais uma vez, uma reinvenção no jeito como expressamos afeto e solidariedade. “Podemos fazer rituais a distância, por meio de videochamadas, em que todos se reúnem para fazer uma oração, acender uma vela, trocar mensagens, enfim, o que seja significativo para aquele grupo que está de luto”, aponta a psicóloga Daniela Achette, da Academia Nacional de Cuidados Paliativos. Se o ente querido perdido possuía alguma religião, vale conversar com o padre, o pastor ou o líder espiritual daquela crença para que ele reze, abençoe e diga palavras que tragam alento. 
As crianças merecem uma abordagem especial num momento como esse. “É importante explicar para elas o que está acontecendo e deixá-las livres para expressarem as emoções como acharem mais cômodo”, acredita Daniela. Afinal, o luto é um processo que não segue uma receita de bolo: cada um reage e lida com ele da sua maneira pelas semanas, meses ou anos seguintes. “O legado que a pessoa querida deixou funciona como um nutriente para que eu continue tocando a vida e construa novos significados a partir das memórias”, completa a especialista. É tipo aquela lembrança de um prato que sua avó fazia: com o passar do tempo, vem uma saudade gostosa que deixa o coração quentinho. 
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<span class="hidden">–</span>Foto: Tomás Arthuzzi/SAÚDE é Vital
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<span class="hidden">–</span>Ilustrações e gráficos: Letícia Raposo e Bananajazz/SAÚDE é Vital/Getty Images
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<span class="hidden">–</span>Ilustrações e gráficos: Letícia Raposo e Bananajazz/SAÚDE é Vital/Getty Images
“De certa maneira, a pandemia de Covid-19 e todos os seus desdobramentos nos obrigam a entrar em contato com uma realidade que antes não nos atingia”, reflete o médico Felipe Corchs, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo. Repare bem: ficar preso em casa e sentir-se inseguro é algo comum para milhões de pessoas que vivem em regiões de conflitos e guerras civis. E não precisa ir longe para perceber como essa é a rotina de um monte de gente. Em muitas favelas brasileiras dominadas pelo tráfico e pelas milícias, há toques de recolher, áreas onde a circulação está proibida e tiroteios constantes. E isso, claro, ecoa na saúde mental.  
O psiquiatra Paulo Amarante, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro, segue a linha de raciocínio: “Viver nesses locais é uma forma permanente de resistência”. Décadas de precariedade no transporte público, violência e ausência de políticas públicas desenvolvem uma capacidade de improvisação. “Boa parte desses sujeitos cria uma habilidade para lidar com as adversidades e os sofrimentos que aparecem pelo caminho”, analisa. Outros, na contramão, acabam desenvolvendo transtornos psiquiátricos: no Brasil, quadros como ansiedade, depressão e hiperatividade atingem de duas a três vezes mais as crianças pobres do que aquelas que pertencem à classe média. 
Esse drama pode ser ampliado a partir de agora, quando o coronavírus aprofundar o abismo das desigualdades. Para combater isso, lideranças e organizações sociais dos bairros menos favorecidos arregaçaram as mangas e deram o pontapé em projetos de conscientização dos moradores, de arrecadação de alimentos e itens de higiene, entre outros. A comunidade paulistana de Paraisópolis, por exemplo, bolou um esquema de notificação de casos suspeitos de Covid-19 pra lá de criativo: 420 indivíduos foram eleitos presidentes de rua. Cada um deles ficou responsável por acompanhar cerca de 50 casas e passar orientações aos vizinhos que apresentam sintomas sugestivos, como falta de ar, febre e tosse. Esses dirigentes ainda identificam as famílias que estão sem renda para que voluntários entreguem marmitas ao longo das semanas. 
Por mais bonita e inspiradora que a história seja, ela não pode servir de justificativa para os governantes se furtarem de suas responsabilidades. “É justamente a hora de pensarmos sobre a grande quantidade de pessoas vulneráveis em nosso país e lançar mão de políticas protecionistas, que garantam saúde e dignidade a todos”, afirma Amarante. Fortalecer o Sistema Único de Saúde, o SUS, é uma estratégia inteligente para isso: com mais acesso a informações e cuidados básicos, muitas doenças podem ser prevenidas em sua origem. Isso, claro, repercute em cheio no bem-estar mental de todos: uma sociedade mais justa e igualitária é também uma sociedade menos estressada, ansiosa e deprimida.
A humanidade é desumana
Se, por um lado, a pandemia nos regala histórias belas e inspiradoras, por outro, deparamos com episódios absolutamente tristes e negativos. “Nas últimas semanas, acompanhamos notícias de xenofobia, preconceito e protestos que negavam a existência do problema e banalizavam milhares de mortes”, descreve a professora Sabrina Ferigato. Nas redes sociais, circularam diversas publicações mentirosas dizendo que o agente infeccioso foi fabricado em laboratório para derrubar governos mundo afora. Outros insistem em chamar o coronavírus de “vírus chinês”, numa tentativa de estigmatizar um país e um povo. Teve um grupo ruidoso que saiu às ruas em carreatas, exigindo o fim do isolamento social, quando a recomendação científica é justamente fazer o oposto.
É possível compreender essas respostas extremadas do ponto de vista da psicologia e da psiquiatria. “Esse tipo de manifestação virtual ou até mesmo os protestos que ocorreram recentemente são demonstrações de medo, revolta e falta de compreensão de uma nova realidade que se impôs sobre todos nós”, conjectura Ornell. São reações que estão diretamente vinculadas àqueles temores que descrevemos no início da reportagem: incerteza sobre o dia de amanhã, excesso de informação, início de uma crise econômica… 
Todo dia ela diz que é pra eu me cuidar
No campo das vulnerabilidades, é urgente abordar o que vem ocorrendo com os grupos de risco para a Covid-19. Pelo que se sabe até agora, indivíduos com mais de 60 anos, diabéticos, hipertensos, obesos e portadores de doenças crônicas no coração ou nos pulmões (insuficiência cardíaca, arritmia,  DPOC…) apresentam uma mortalidade maior quando são infectados pelo novo coronavírus. Em relação à saúde mental, isso causa um estrago danado: afinal, essa turma vive num constante estado de alerta, como se estivesse o tempo todo com a cabeça a prêmio. 
A questão é particularmente delicada nos mais velhos. “Estamos vivendo o pico da emergência do etarismo, que reflete uma intolerância com os idosos por meio de estereótipos”, discursou a psicóloga Anita Neri num debate online promovido pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva. Olha o absurdo: tem quem pense que eles são culpados pelo problema e nem devessem ocupar os leitos de unidades de terapia intensiva (UTI) por não serem tão produtivos quanto os jovens. “Existem respostas que a sociedade pode dar, como a solidariedade entre gerações e um discurso de união, pois estamos juntos nessa”, acredita Anita. Se você já passou das seis décadas de vida, compreenda que o melhor a ser feito é ficar em casa e se resguardar. Caso você tenha algum familiar nessa faixa etária, é hora de reforçar o diálogo e a paciência. 
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<span class="hidden">–</span>Foto: Tomás Arthuzzi/SAÚDE é Vital
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<span class="hidden">–</span>Ilustrações e gráficos: Letícia Raposo e Bananajazz/SAÚDE é Vital/Getty Images
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<span class="hidden">–</span>Ilustrações e gráficos: Letícia Raposo e Bananajazz/SAÚDE é Vital/Getty Images
Se a Covid-19 seguir a mesma trilha do que aconteceu em 2002 e 2003, durante a pandemia de Sars (síndrome aguda respiratória grave), a tendência é que tenhamos uma avalanche de doenças psiquiátricas nos próximos meses. Há 17 anos, houve um aumento de 30% nos casos de depressão, ansiedade e estresse pós-traumático entre os indivíduos que ficaram de quarentena na China, o país mais atingido pela doença à época. Os dados são de um levantamento realizado por pesquisadores do King’s College London, na Inglaterra, e foram publicados no prestigiado periódico científico The Lancet recentemente.
Para enfrentar esse desafio que virá, o primeiro passo é entender e conscientizar todo mundo de que as emoções são parte fundamental da saúde. Nessa linha, é vital reforçar a mensagem de que as doenças psiquiátricas não são “frescura”, muito menos “coisa de louco” — um preconceito que ainda existe por aí. Elas devem ser diagnosticadas e tratadas com o mesmo respeito e seriedade de qualquer outra enfermidade que atinge o corpo. Sentir-se mal diante do atual cenário é compreensível e até esperado, mas não podemos deixar esses sentimentos ultrapassarem certa fronteira. 
“É necessário buscar auxílio do profissional de saúde quando há um sofrimento que está prejudicando o dia dia”, orienta o psiquiatra Antonio Egidio Nardi, professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Entre os sintomas que ligam o sinal de alerta, fique de olho em cansaço extremo, desânimo recorrente, preocupação exagerada com tudo e pensamentos que não saem da cabeça sobre desastres ou morte. O diagnóstico precoce dessas condições garante um tratamento mais tranquilo e eficaz.
Quem já faz psicoterapia ou toma medicamentos para cuidar de algum problema que abala a mente não deve interromper o tratamento de forma alguma. Converse com seu médico e peça orientações sobre como obter a receita para comprar os fármacos ansiolíticos, antidepressivos ou estabilizadores do humor nos próximos meses. Para essa turma, os bem-vindos aplicativos de videochamada garantem a continuidade das sessões de terapia a distância.
Acabou chorare?
Nessa era de reclusão coletiva, vale ainda ficar atento a outros quesitos fundamentais para manter o corpo e a mente em equilíbrio. O primeiro desses fatores é o descanso noturno. “A falta de controle sobre a situação e o medo aumentam os níveis de estresse, que, por sua vez, perturbam o sono”, explica a psicobióloga Monica Andersen, diretora do Instituto do Sono, em São Paulo. Quando estamos em casa, temos a tendência de atrasar os compromissos diários: acordamos, almoçamos, jantamos e voltamos a dormir cada vez mais tarde. “Precisamos manter uma regularidade nos horários durante todos os dias da semana, especialmente neste período de quarentena”, completa a expert. 
Não dá pra se esquecer também de tomar sol todos os dias. Reserve alguns minutos da manhã, antes das 11 horas, para relaxar na varanda, no quintal ou na laje. Esse banho de luz estimula a liberação de serotonina, substância que, entre os neurônios, produz a sensação de bem-estar. Manter uma rotina de exercícios físicos é outra via para garantir o equilíbrio da química cerebral, bem como caprichar no consumo de frutas, verduras, hortaliças e alimentos naturais e frescos. É aquele pacote básico de recomendações de saúde que não muda nem em tempos de pandemia.
Talvez o grande aprendizado que vamos tirar de toda essa crise seja entender de vez que felicidade e saúde dependem do convívio com o outro. E temos na nossa frente uma oportunidade de fazer a diferença: não faltam projetos e iniciativas de arrecadação de fundos e recursos para quem mais precisa. Tudo pela internet, sem precisar sair do sofá. Mas o amparo vai além de dar dinheiro ou cesta básica: caso você possa, por que não perguntar ao seu vizinho se está precisando de alguma coisa? Ou, quem sabe, deixar um pedaço de bolo que você acabou de fazer para que ele tenha uma tarde mais doce e agradável? É hora de pensar também nos profissionais autônomos que prestam algum tipo de serviço em sua casa: diaristas, manicures e babás dependem daquele dinheiro para passar o mês. Se sua renda permite, continue realizando os pagamentos, mesmo que esses trabalhadores não possam estar presentes durante um período. 
A criação de redes de apoio traz ganhos ao bem-estar mental: estudos endossam que fazer o bem faz bem (e não é força de expressão!). “Um ato de solidariedade e empatia ativa áreas do cérebro ligadas ao prazer e à recompensa e aumenta a quantidade de neurotransmissores como a dopamina, que está relacionada a essas emoções”, revela a neuropsicóloga Luciana Azambuja, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. 
Chegando juntos ao final desta odisseia, posso compartilhar que estou tentando botar em prática todas as recomendações sobre as quais escrevi. Às vezes, elas dão certo. Em outras ocasiões, falho miseravelmente — e tudo bem! Me apego ao fato de que, uma hora ou outra, a humanidade vai superar o coronavírus. E essa conquista não pode simplesmente ignorar as sequelas e lições que ficarem dessa batalha. Se as pessoas se tornarem mais solidárias e conscientes sobre a saúde e os sentimentos, nosso legado às futuras gerações já estará garantido.
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<span class="hidden">–</span>Foto: Tomás Arthuzzi/SAÚDE é Vital
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<span class="hidden">–</span>Ilustrações e gráficos: Letícia Raposo e Bananajazz/SAÚDE é Vital/Getty Images
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A epidemia oculta: saúde mental na era da Covid-19 publicado primeiro em https://saude.abril.com.br/bem-estar
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pansy-penguin · 4 years
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blogdolevanyjunior · 5 years
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lucioborges · 6 years
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concursosdiario · 6 years
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Luan Santana e Fernanda Souza falam sobre novo programa na Globo: ‘As pessoas em casa vão saber cantar todas as músicas’ Luan Santana e Fernanda Souza no Só Toca Top (Foto: Tomás Arthuzzi/Rede globo/Divulgação) Como já informamos no TV Foco, Fernanda Souza e Luan Santana apresentarão um novo programa na Globo, o Só Toca Top.
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gpsdanoticia · 6 years
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Luan Santana e Fernanda Souza falam sobre novo programa na Globo: ‘As pessoas em casa vão saber cantar todas as músicas’
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cetjunior · 6 years
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Água, malte, lúpulo: como ingredientes simples criam cervejas complexas
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São quatro ingredientes básicos e muitas combinações possíveis – dezenas de estilos, com incontáveis receitas produzidas dentro de cada um deles. Mude a origem do lúpulo, o tipo de levedura, a composição da água, a duração de cada etapa do processo de fabricação ou qualquer outro fator e você terá uma cerveja diferente. Acrescente na equação ingredientes…
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cover-jpg · 7 years
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As capas de disco do ano de 2017
Com a quantidade de músicas, discos, singles e vídeos produzidos no mundo, seria muito cretino colocar aqui um título como “as melhores capas de disco de 2017″. Nem se eu não tivesse mais nenhuma outra atividade na vida seria capaz de acompanhar, um a um, os lançamentos de todos os discos que saíram no ano, no mundo inteiro. Os discos que chegam pra nós são um misto de um interesse genuíno, nossa história pessoal, as indicações dos amigos e a força dos algoritmos. No Facebook, Youtube, Last.fm e, mais recentemente, Spotify, as descobertas da semana ou o radar de novidades direcionam as nossas escutas para o que tem grande chance de agradar nossos ouvidos. Facilita ao mesmo tempo que limita.
Não sou da geração que ia às lojas de vinis e comprava o disco pela capa sem nem fazer ideia de como seria o som. Mas continuo partindo da lógica de que uma capa interessante (nem bonita nem feia) tem mais chances comigo. Já descobri bandas incríveis por conta deste blog. Também me decepcionei com discos péssimos escondidos atrás de capas incríveis.
Dito isso, a seleção de capas que destaco em 2017 já vem com esse filtro. É um registro, portanto, incompleto. Foi o que apareceu pra mim ao longo do ano em qualquer lugar: internet, sites de música, listas dos amigos, instagram, redes sociais. Muitos destes artistas fizeram os discos que eu de fato ouvi durante o ano. Fiz um recorte para uma técnica específica que considero que brilhou muito em 2017: a fotografia. Foram tantos retratos incríveis, expressivos, reveladores, que ficou difícil não fazer essa correlação. Grandes nomes da música internacional como Kendrick Lamar e SZA, por exemplo, optaram por fotos. Por aqui não foi diferente. As sensacionais capas de Rincon Sapiência e Linn da Quebrada não me deixam mentir. Gosto de pensar na fotografia no que se refere (sdds Dilma) às capas de disco como o diálogo o mais franco possível com o interlocutor, sem muitas viagens ou curvas. 
As 15 que aparecem aqui são a seleção do meu coração. Capas que, aposto, daqui a 5 anos ainda serão icônicas. Até o fim do ano vou postar uma lista bem maior de menções honrosas, ainda seguindo o tema da fotografia.
Vamos às minhas escolhas, ordenadas por data de lançamento, não sem antes fazer um apelo: músicos, estamos em 2017. Convidem mulheres para assinar as capas de vocês, PORRA! [Das 15 capas registradas aqui, 5 têm mina assinando foto ou projeto gráfico e a diferença vai aumentar nas menções honrosas]
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Capas do Brasil
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Djonga - Heresia [13/03]
A capa do primeiro disco do rapper mineiro Djonga é uma homenagem ao Clube da Esquina. A capa traz o rapper duplicado, na mesma pose dos garotos Cacau e Tonho, fotografados por Cafi há mais de 40 anos numa estrada em Friburgo, região serrana do Rio. Atenção aos detalhes: o primeiro Djonga sorri e está descalço, com o pãozinho na mão. O segundo está sério, de tênis, com as mãos por cima dos joelhos. O trabalho é assinado por Daniel Assis (foto) e Bruna Serralha (tratamento/fusão/arte), sócios do 176 Studio. 
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Hamilton de Holanda Quinteto - Casa de Bituca [28/04]
Outro disco de 2017 que faz referência ao Clube da Esquina. Para a capa de Casa de Bituca, do Hamilton de Holanda Quinteto, o carioca Rafaê Silva fotografou algumas casas de inteiro e outras casas soltas pelas florestas. A escolhida para o disco foi feita em Lumiar, distrito de Nova Friburgo. Essa é a mesma região em que Cafi fez alguns dos icônicos registros que foram parar nos discos do Clube da Esquina. 
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Rincon Sapiência - Galanga Livre [25/05]
Não dá pra ficar imune a essa capa. A identidade visual foi feita pela dupla de Lucas (Bacic e Falcão), sócios da Savia Design&Branding. As fotos da capa e do encarte são do Renato Stockler. 
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As Bahias e a Cozinha Mineira - Bixa [01/09]
Fazer música no Brasil de 2017 parece ser complicado até para quem tem o mundo a seu favor. No caso dessa histórica geração que temos visto de perto, não basta um som extremamente poderoso, com letras ácidas e necessárias. Cada passo é uma afirmação. Sendo assim, estampar a capa de Bixa, segundo disco d’As Bahias e a Cozinha Mineira, com este belo retrato de Assucena Assucena e Raquel Virgínia é, para elas, devolver o tapa que recebem da sociedade todo santo dia. "Um antídoto contra reacionário”. O título Bixa é uma homenagem aos 40 anos do álbum Bicho, de Caetano Veloso. A capa é assinada pelo fotógrafo Gui Paganini.
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Baco Exú do Blues - Esú [04/09]
Em Esú, o rapper soteropolitano Diogo Moncorvo trava uma batalha entre o divino e o humano. Com letras ao mesmo tempo rasgadas e curiosamente românticas, apresenta uma provocação mais que necessária nos dias atuais - e que se completa com a imagem da capa. Nela, o homem ergue os braços aos céus em frente à Igreja da Ordem Terceira de São Francisco, em Salvador. A foto é assinada por David Campbell. Tipografia é de Gabriel Sicuro e a edição de Eric Mello.
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Xênia França - Xenia [29/09]
O ano também foi dela. Tomando emprestadas as referências que compõem o Aláfia, grupo da qual Xênia França é vocalista, passando pela profundidade e estética de Solange com um toque de dendê, a cantora entrega 13 faixas em que afirma que “do lado de dentro rainha sou eu”. Disco bem brasileiro, mas que a grafia sem acento circunflexo no nome Xenia na capa já indica um olhar ao público internacional. Os responsáveis por nos apresentarem esta deusa são Oga Mendonça, assinando direção artística e design gráfico, e o fotógrafo Tomás Arthuzzi.
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Macaco Bong - Deixa Quieto [04/10]
Aos 45 do segundo tempo, essa foto pipoca no meu celular. A banda mato grossense Macaco Bong acerta na homenagem ao clássico Nevermind do Nirvana equilibrando releitura sem pesar na reverência - o fato de ser todo instrumental ajuda. Smells like teen spirit, por exemplo, vira Smiles Nike Tim Sprite! O pulo do gato é a capa. A foto do bebê catando a nota de um dólar, ícone da cultura pop e reproduzida à exaustão, foi substituída por um velho pronto para o ataque. A imagem é creditada a Chris Sparshott. Sem essa capa, seria apenas mais um disco de covers do Nirvana.
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Linn da Quebrada - Pajubá [06/10]
Já que é para lançar disco, que seja com 16 faixas e com vídeo para cada uma delas. Se visual album é uma moda retomada por Beyoncé, a rainha Linn da Quebrada segue logo o exemplo de quem interessa. As páginas do encarte de Pajubá, seu disco de estreia, se dividem em letras explícitas e uma série de imagens feitas na Casa Nem, lar de acolhimento de pessoas trans, na Lapa (Rio de Janeiro). A capa é um retrato da combinação de afirmação e bom humor que são uma marca de Linn: uma mulher que adota a clássica técnica de alisar o cabelo com ferro quente. As fotos são de Nu Abe e o design gráfico de Kako Arancibia.
Gringas
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Lula Pena - Archivo Pittoresco (Portugal) [27/01]
Não aparecer para ser ouvida. Como em [phados] e troubadour, os dois lançamentos anteriores da portuguesa Lula Pena, Archivo Pittoresco soa como um convite. Parece ser um disco que não se encerra ali: ela canta em grego, francês, Elomar, Violeta Parra. Tão experimental quanto a música, a capa é, de certa maneira, assinada por três pessoas, como explica Lula Pena em uma entrevista feita por inbox: 
“A imagem da capa é uma 'selfie', digamos. Recorri ao vídeo, seleccionando um frame. Não era minha intenção 'aparecer', só queria mesmo a sombra do Ganso, mas a editora insistiu. A Silvia Baldan é a designer da editora que fez a arte final a partir desses elementos e a Catarina Limão filmou esse clip a partir de ideias que visualizei, mas também onde não queria 'aparecer'. Foi um trabalho a várias mãos e braços, semeado por mim, mas que tive que deixar ganhar forma sem mim".
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Thundercat - Drunk (U.S.A.) [24/02]
"Tem um ar totalmente natural... Me senti bem, como se estivesse buscando por alguém", contou em entrevista ao Independent o músico e produtor Thundercat sobre a capa de Drunk, seu terceiro disco. A brilhante foto da capa foi feita por seu amigo, o ilustrador e comediante Zack Fox, na piscina do músico Flying Lotus.
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Kendrick Lamar - Damn (U.S.A.) [14/04]
Diferentemente do tom político da capa de To Pimp a Butterfliy, o retrato de Damn alcança, nas palavras do designer Vlad Sepetov, um tom “escandaloso e abrasivo”. Toda a expressividade da voz e interpretação de Kendrick também sai por cada poro na foto. O adesivo de conteúdo explícito também foi posicionado num local não convencional para que ele pudesse fazer parte do design.
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Feist - Pleasure (Canadá) [28/04]
Feist parece não caber dentro de uma foto digital. Toda a sensibilidade de sua música só floresce em papeis, microfones e máquinas fotográficas analógicas. “Obrigada por me deixar seguir você por aí depois de anoitecer”, disse a fotógrafa Cass Bird sobre a produção da foto da capa de Pleasure.
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SZA - Ctrl (U.S.A.) [09/06]
A capa de Ctrl, disco de estreia de SZA, mostra a cantora sentada em frente a uma coleção de computadores, teclados e impressoras antigos. A foto foi feita por sua amiga e parceira criativa Sage Adams (Sage Art Stuff).
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Brand New - Science Fiction (U.S.A.) [17/08]
Vale a pena passear uns minutinhos no portfólio do sueco Thobias Fäldt. O seu trabalho é cheio de fotos que te fazem olhar, e depois olhar de novo só pra tentar entender o que tá acontecendo. Ele assina a foto da capa de Science Fiction, primeiro álbum de inéditas do Brand New após 8 anos sem discos.
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Benjamin Clementine - I Tell A Fly (Inglaterra) [29/09]
Um dos retratos mais expressivos da temporada. A ideia de Benjamin Clementine é que este disco seja ouvido como uma peça. O tom teatral das músicas de I Tell A Fly se transporta magicamente para a capa com o cabelo meio de lado, a forma como Clementine segura a mala, os ombros duros e a expressão séria e atenta. A foto é de Craig McDean e o design do estúdio Akatre.
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dietasdicas1 · 4 years
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A ciência da sopa
Foi em uma conversa na cozinha, entre os preparativos para a celebração do Ano-Novo judaico, que o professor de medicina Stephen Rennard, da Universidade de Nebraska, nos Estados Unidos, teve a ideia de investigar os efeitos da canja de galinha. Sua esposa, Barbara, seguia os passos da receita da avó e recitava os apregoados benefícios do prato contra resfriados. Na panela, além da ave, borbulhavam cebola, batata-doce, cenoura, aipo, folhas de nabo e temperos. A fama dessa sopa é antiga e transpõe culturas. Curandeiros no século 12 já prescreviam aos doentes caldos de frango — que, muito tempo depois, foram até apelidados de penicilina, em referência ao primeiro dos antibióticos.
No laboratório especializado em doenças pulmonares do doutor Renard, ele e sua equipe botaram a canja à prova. E viram no microscópio, em experimentos com células, que o preparo e seus nutrientes conseguiram inibir os neutrófilos, um grupo celular do nosso sistema imune que fica nas alturas diante de uma infecção. Ao abrandá-los, a tendência é controlar a inflamação e atenuar sintomas como a moleza e a dor no corpo. “Mas não testamos tudo isso em pessoas”, adianta-se o pesquisador, cujos achados foram publicados no reputado periódico Chest. Ainda assim, é como se a sabedoria das avós começasse a ganhar a chancela da ciência.
Já se sabia que uma boa canja oferece uma porção de substâncias bem-vindas à imunidade, caso de proteínas, vitaminas, minerais e antioxidantes. Mas tem um ingrediente extra que pode até ser difícil de mensurar nos estudos: o bem-estar emocional desencadeado ao saborear o conteúdo da tigela fumegante, em geral na companhia da família.
Em artigo publicado na mesma revista científica, intitulado Sopa de Galinha em Tempos de Covid-19, Rennard destaca exatamente esse aspecto: “Feita em um processo demorado e amoroso, a receita pode fornecer verdadeiro apoio psicossocial”. Ele não deixa de sublinhar a necessidade de pesquisas rigorosas para comprovar os efeitos de qualquer solução destinada a melhorar a saúde ou nos defender durante a pandemia. A propósito, o professor argumenta que, sozinha, nenhuma sopa previne ou cura o problema. Mas, continua, “é importante reconhecer que o cuidado com doentes envolve mais do que remédios”. Sim, ele fala de carinho e interação social.
“Um prato de sopa traz conforto emocional, desencadeia sensações de prazer, de satisfação e de segurança”, concorda o nutricionista João Motarelli, da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp). Consumir um caldo que traga lembranças gostosas e alívio em meio à rotina ou a uma indisposição faz bem ao corpo e à mente — e não são poucas as evidências conectando o estado psicológico à imunidade e à propensão a diversas encrencas.
Uma típica canja traz arroz em sua fórmula e tem origem asiática. Há relatos de que surgiu na Índia e se resumia à mistura do cereal com água. Outros apontam para a China. Veio parar aqui com os portugueses e virou sucesso. Contam que dom Pedro II era um grande apreciador e que, por sua influência, a receita passou a figurar em menus finos com o nome de “Sopa do Imperador” ou “Canja à la Brésilienne”. Mas nem só de canja forramos a barriga e a alma.
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<span class=”hidden”>–</span>Foto: Tomás Arthuzzi/SAÚDE é Vital
Alguns historiadores afirmam que a sopa é o prato mais antigo de que se tem notícia. Teria surgido quando o homem das cavernas começou a misturar a água com vegetais em vasilhas de pedra. Com a descoberta do fogo, os preparos ganharam novos ingredientes e sabores… E avançaram pelo tempo e pelo espaço. A chef Giovana Nacaratto, curadora do Festival Comida de Feira, em Caruaru (PE), conta que a origem da gastronomia tem tudo a ver com sopas. “O nome ‘restaurante’ vem de certos caldos, que eram considerados restauradores”, explica. No século 18, alguns estabelecimentos vendiam tais refeições a fregueses que se sentiam debilitados.
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O apelo saudável de cremes, caldos e sopas não perdeu a atualidade. Para Milza Moreira Lana, da Embrapa Hortaliças, em Brasília, eles representam uma senhora oportunidade de incluir mais verduras e legumes no dia a dia. “Vale experimentar ingredientes e temperos, sem medo de arriscar”, indica a pesquisadora, que faz parte do projeto Hortaliça Não É Só Salada. Caprichar no caldo que serve de base à receita é uma das primeiras lições a quem vai se aventurar. Tradicionalmente, aparecem como opções carcaças de aves, cabeças de peixes, pedaços de carne com osso e legumes. “E entram também os vegetais aromáticos, como cebola, cenoura, salsão, alho-poró e louro”, enumera o chef de Curitiba Ken Francis Kusayanagi, professor do Senac EAD.
Um truque para garantir sabor é mergulhar os ingredientes primeiro em água fria. Dessa maneira, o processo de desnaturação das proteínas ocorre mais vagoroso, o que resulta em líquidos mais ricos e gostosos. Alguns macetes culinários favorecem a biodisponibilidade dos nutrientes, ou seja, a absorção pelo nosso organismo. “Boas fontes de gordura, caso do azeite de oliva, melhoram o aproveitamento do licopeno vindo do tomate”, exemplifica a nutricionista Silvia Ramos, do Conselho Regional de Nutricionistas 3ª Região (CRN-3). Pura química.
É assim que aproveitamos também os efeitos dessas substâncias na redução do risco de doenças crônicas. E o que vale para o tomate vale para a cebola. A senhora dos anéis é estrela de uma sopa consagrada mundo afora. Reza a lenda que foi o sogro do rei francês Luís XV que criou a receita, uma das prediletas no Palácio de Versalhes. Não bastasse encantar o olfato e o paladar, a cebola oferece poderosos antioxidantes como a quercetina e os frutooligossacarídeos (FOS), um grupo de fibras que zela pela microbiota intestinal. Na forma clássica da culinária francesa, a preparação é coberta com queijo e levada ao forno para gratinar. É ou não é para degustar e se sentir feito majestade?!
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<span class=”hidden”>–</span>Fotos: Tomás Arthuzzi/SAÚDE é Vital
Vanderli Marchiori, nutricionista e fundadora da Associação Paulista de Fitoterapia (Apfit), explica que, durante o preparo da sopa, alguns fitoquímicos da cebola (e de outras hortaliças) migram para o caldo. Na tigela ou no prato fundo, portanto, você não precisa se preocupar com as perdas. O calor do fogo faz com que parte da água do interior das células vegetais se converta em vapor e libere seus sucos e compostos benéficos. Se o cozimento for devagar, em panela tampada, além de manter os nutrientes, o sabor tende a ficar adocicado e suave. Quando a cebola é frita, por sua vez, suas proteínas e carboidratos interagem numa reação conhecida como de Maillard. O resultado é a coloração dourada e o gosto mais intenso. “Uma sugestão, inclusive para enriquecer e enfeitar outras receitas, é refogá-la rapidamente em azeite, junto do alho, e despejar por cima, bem na hora de servir”, dá a dica Vanderli.
Um ensinamento clássico dos chefs de cozinha é respeitar o tempo de cada ingrediente. Feijões e outras leguminosas, secos e duros, têm de ser cozidos primeiro; as verduras, molinhas, são postas por último. O corte dos alimentos também faz a diferença: pedaços grandalhões demoram a cozinhar, enquanto os miudinhos ficam macios rapidamente. Há quem defenda o mínimo de manipulação possível, mas cuidado com ideias radicais, por favor. A nutricionista Renata Guirau, do Oba Hortifruti, em São Paulo, recomenda picar os vegetais imediatamente antes de incluir na receita para inibir o processo de oxidação e minimizar prejuízos nutricionais. Também convém adicionar pouca água para cozinhar, uma vez que as hortaliças já são compostas de líquidos. O chuchu é o melhor exemplo.
“Há preparações que pedem consistência mais firme, especialmente nas receitas com origem na culinária asiática”, observa o professor Kusayanagi. Aliás, os japoneses são notáveis consumidores de sopas. Uma análise publicada no The Journal of Nutrition aponta um elo entre os hábitos alimentares e a longevidade na terra do sol nascente. Entre os destaques da culinária local, está o missoshiro, um caldo de peixe e algas com pasta de soja. Juliana Watanabe, chef e nutricionista da NutriOffice, na capital paulista, comenta que o padrão dietético japonês diminui o risco de doenças cardiovasculares. “Além disso, sua culinária é muito enraizada culturalmente, o que fortalece esse costume alimentar ao longo das gerações”, avalia. A sopa de missô frequenta o cardápio da nutri e traz os ensinamentos da batian, sua avó, que viveu até os 104 anos. “Ela incluía algas desidratadas, cenoura raladinha, tofu e acrescentava um ovo inteiro para cozinhar como pochet”, revela.
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<span class=”hidden”>–</span>Foto: Tomás Arthuzzi/SAÚDE é Vital
Para ser considerada refeição completa, a receita de sopa precisa ter uma proporção de nutrientes adequada. “Deve haver espaço para proteína, que pode ser tanto vegetal quanto animal”, ensina a nutricionista Lara Natacci, da Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição (Sban). Carboidratos, vindos de grãos, tubérculos e raízes, não devem faltar, pois garantem energia ao corpo e dão consistência ao prato. Já azeite de oliva, castanhas e sementes oferecem uma dose de gordura da boa. E, claro, as hortaliças completam a fórmula com suas cores, fibras, vitaminas e minerais.
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Expert em comportamento alimentar, Lara diz que não é raro seus pacientes comentarem que ficam com fome quando o jantar se resume a uma tigela de caldo de vegetais. “É que é essencial ter uma fonte proteica para atingir a sensação de saciedade”, reforça. Pode ser feijão, peixe, a galinha da canja… Dentro de um cardápio equilibrado, as sopas podem, inclusive, favorecer o controle do peso, como indica um estudo do British Journal of Nutrition. “Mas tudo depende da composição das receitas e dos hábitos como um todo”, pondera Lara.
Presentes em todas as culinárias, sopas podem servir a todos os gostos. Desde as primeiras papinhas do bebê até os jantares dos idosos. E por que se convencionou dizer por aí que elas se prestam mesmo a refeições noturnas? A pesquisadora Milza Lana conta que, certa vez, quando morava na Holanda, uma de suas anfitriãs estranhou esse hábito tão brasileiro. “Lá eles tomavam sopa no almoço e também em dias mais quentes”, lembra. Receitas frias, aliás, são muito populares na Europa. O gaspacho espanhol, que leva tomate, cebola e pão, é dos mais festejados. Há ainda a borscht, feita de beterrabas e originária do Leste Europeu, que também pode ser servida quente. Sem contar as refrescantes misturas de pepino com iogurte, que acalmam o estômago e esfriam a cabeça.
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Independentemente da temperatura, o importante é lançar mão de ingredientes da melhor qualidade para extrair saúde e sabor. E o recado é o mesmo para quem vai usar as sobras de carnes, pescados e vegetais. Uma amostra de sucesso é o minestrone dos italianos, baseado em um mix de legumes. “Falamos de um preparo sustentável, que pode ser elaborado com aquilo de que dispomos na geladeira e na despensa. Basta usar a criatividade”, afirma Lara.
No século 21 de tanto prato pronto, Juliana Watanabe acredita que, com a (re)descoberta da cozinha, as pessoas precisam vencer o medo e a inércia e se arriscar. Inclusive com as especiarias. Já testou o gengibre, que casa tão bem com a abóbora e enriquece a receita com substâncias digestivas e que dão um chega pra lá nos enjoos? A mesma ousadia se aplica aos acompanhamentos. Ainda que o pão pareça o par perfeito ao creme de ervilha, há quem cubra o prato com pipocas, por exemplo. Além de dar um toque lúdico, elas contribuem com fibras, aliadas do funcionamento intestinal. Cogumelos do tipo shimeji também podem dar o ar da graça e, de quebra, nos presentear com lentinans, compostos parceiros do sistema imune.
Escarafunchar a riqueza culinária brasileira é outra boa pedida. “Que tal trocar a couve por taioba, vez ou outra?”, desafia Milza, citando uma folha do grupo das Pancs (plantas alimentícias não convencionais). Ou experimentar o tacacá, iguaria indígena feita de mandioca e jambu, espécie que causa dormência na boca. Sorver um copo de caldo de mocotó, que tem como matéria-prima o colágeno da pata do boi, é revigorante. “Muitos sertanejos têm o costume de tomá-lo após um dia de trabalho”, conta Giovana Nacaratto. “É como um abraço quentinho”, compara. Uma definição sob medida do que oferecem essa e tantas outras sopas.
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  <span class=”hidden”>–</span>Foto: Tomás Arthuzzi/SAÚDE é Vital
Embora apresente algumas variações de ingredientes, a clássica sopa da vovó é sinônimo de aconchego. Confira a sugestão da nutricionista e chef Juliana Watanabe, de São Paulo:
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Ingredientes
1 xícara de arroz (branco ou integral), lavado e escorrido 1/2 colher (sopa) de óleo vegetal 1 peito de frango 1 unidade de cebola picada 2 litros de caldo de frango ou de legumes 2 unidades de cenoura picadas 1 talo de salsão 2 colheres (sopa) de salsinha, picada 2 unidades de batata picadas Sal e pimenta a gosto 2 unidades de tomate, sem pele e sem sementes (opcional)
Modo de preparo
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Em uma panela, aqueça o óleo e refogue a cebola e o salsão. Acrescente o peito de frango e deixe dourar. Junte os tomates e cozinhe até que comecem a se desmanchar. Bote o caldo de frango ou de legumes, as cenouras e as batatas. Deixe cozinhar por cerca de 15 minutos. Adicione o arroz e deixe no fogo baixo por mais 15 minutos ou até que esteja cozido. Retire o peito de frango, espere esfriar um pouco e desfie-o. Agora coloque novamente o frango já desfiado e tempere com sal e pimenta-do-reino a gosto. Finalize com a salsinha picada. Sirva em seguida.
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<span class=”hidden”>–</span>Foto: Tomás Arthuzzi/SAÚDE é Vital
A versão clássica vem da França e leva queijo gratinado por cima. Experimente a criação do chef Ken Francis Kusayanagi, de Curitiba:
Ingredientes
500 gramas de cebola (ou 4 unidades), cortadas em tiras pequenas (corte julienne) 50 gramas de queijo gruyère ou parmesão 1,5 litro de caldo de frango ou legumes 6 colheres (sopa) de farinha de trigo 6 fatias de pão (ou em formato de croûton) 100 gramas de manteiga sem sal Sal e pimenta a gosto
Modo de preparo
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Em uma panela de fundo grosso, derreta a manteiga e, depois, acrescente a cebola. Deixe dourar bem, sempre mexendo, até escurecer e começar a grudar na panela. Em seguida, coloque a farinha, misture e, por fim, adicione o caldo. Mexa para não empelotar, deixe levantar fervura branda, sempre cuidando para a farinha não aderir ao fundo. Adicione o sal e a pimenta-do-reino como preferir e sirva com o queijo e o pão para finalizar — também vale cortar o pão em cubinhos, em forma de croûtons. Uma ideia deliciosa é cobrir com o gruyère e levar ao forno para gratinar.
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Não é preciso apreciar a receita oriental só no rodízio japonês. Dá pra fazer em casa, como ensina a nutricionista e chef Juliana Watanabe:
Ingredientes
1/4 de xícara de chá (65 g) de missô (pasta de soja cozida e fermentada) 2 litros de água 200 gramas de tofu cortado em cubinhos 1 colher de sopa de wakame (alga desidratada) 1 envelope (10 gramas) de dashi (tempero japonês à base de peixe) Cebolinha a gosto, cortada em rodelinhas finas
Modo de preparo
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Em uma panela grande, ferva 2 litros de água com o dashi e o wakame. Acrescente o missô e mexa. Apague o fogo e sirva em tigelinhas individuais com tofu (o “queijo de soja”) cortado em cubinhos e cebolinha verde em rodelinhas finas. Quer incrementar? Você pode acrescentar um pouco de cenoura ralada, acelga ou repolho picado.
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<span class=”hidden”>–</span>Foto: Tomás Arthuzzi/SAÚDE é Vital
A cumbuca que enfeita e aquece bares e restaurantes brasileiros tem muita tradição. E você pode fazer uma versão mais saudável em casa — receita da chef Giovana Nacaratto, de Caruaru (PE):
Ingredientes
2 xícaras de feijão-preto ou de corda 2 unidades de cebola pequenas picadas Ovo de codorna cozido a gosto Óleo para refogar 1/2 unidade de pimenta dedo de moça, sem sementes 5 xícaras de água 5 dentes de alho pequenos picados 1/2 unidade de pimentão 150 gramas de charque dessalgada Coentro a gosto Milho cozido a gosto Sal a gosto Folhas de louro a gosto
Modo de preparo
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Deixe o feijão de molho por 12 horas e descarte a água. Cozinhe o feijão e a charque na pressão por 20 minutos com louro e água. Refogue em outra panela o alho, a cebola, a pimenta e o pimentão. Quando estiver bem caramelizado, acrescente o feijão cozido sem a charque. Deixe cozinhar por mais cinco minutos. Bata no liquidificador, volte tudo para a panela e cozinhe em fogo baixo. Desfie a charque, corte em pedaços pequenos e junte ao caldinho. Ajuste o sal e sirva com o ovo de codorna, o milho e o coentro.
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publicado · 7 years
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Galileu, junho 2017.
Foto feita em parceria com Tomás Arthuzzi.
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magraeleveemagrecer · 4 years
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VEJA SAÚDE: juntos, nos novos tempos
Se há um ponto em que cientistas, médicos, economistas, sociólogos, filósofos e companhia ilimitada concordam diante da pandemia do coronavírus, é que o mundo sairá diferente dela. E tudo leva a crer que, mais preocupados ou conscientes, passemos a dar ainda mais valor a esse patrimônio incalculável chamado saúde — a nossa, a da família e a do planeta.
É atentos a essas transformações que apresentamos a você VEJA SAÚDE, uma nova marca para um novo mundo. Ela nasce do casamento entre a expertise de SAÚDE É VITAL — que há 36 anos explica e inspira caminhos para a qualidade de vida — e a força e o alcance de VEJA, uma das maiores potências do jornalismo brasileiro faz mais de cinco décadas.
Com essa conexão, desenhamos uma nova revista mensal e um novo ecossistema digital que, antenados aos novos tempos, vão renovar um compromisso que está em nosso DNA: informar, contextualizar, desmistificar e engajar assinantes, leitores e seguidores na busca por uma vida saudável, equilibrada e feliz.
E é claro que, para dar conta dessa missão, nos apoiamos em um pressuposto básico, a confiança na palavra da ciência e dos profissionais de saúde. Prevenção, diagnóstico e tratamento de doenças, alimentação, atividade física, bem-estar mental, cuidados com a família (do recém-nascido ao centenário, passando pelo animal de estimação) e com o ambiente (que tanto reflete no corpo e na alma)… Tudo isso estará contemplado em VEJA SAÚDE.
Na nossa nova proposta editorial e gráfica para a revista — cujo visual ficou a cargo da editora de arte Letícia Raposo —, convidamos você a passear por esses pilares em seções mais dinâmicas e reportagens mais aprofundadas, buscando aliar o melhor da discussão a prestação de serviço e orientação prática.
Estreando na era da Covid-19, a primeira edição (na tela e no papel) estampa um dos principais efeitos colaterais da pandemia: o boom de problemas emocionais e psicológicos que irrompem na esteira da crise. Como se resguardar desde já dessa epidemia oculta e preservar a saúde mental?
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A designer Laura Luduvig enfrentou ansiedade com a pandemia e é modelo da primeira capa de VEJA SAÚDEFoto: Tomás Arthuzzi/SAÚDE é Vital
Vitamina D combate o coronavírus? Por que pessoas com doenças do coração são mais suscetíveis a complicações? Que lições nos trazem os brasileiros que se curaram da Covid-19? Como anda a corrida pelo tratamento e a vacina?
As respostas a esses dilemas estão na primeira edição, assim como verdadeiros manuais para você se exercitar e cultivar uma horta em casa.
Mudanças positivas também acontecem em nosso site e em nossas redes sociais. A partir do dia 21/05, nosso portal fica mais bonito, ágil, responsivo e completo, trazendo conteúdos exclusivos, além de uma cobertura contextualizada da Covid-19. No dia a dia traremos reportagens, entrevistas, artigos de especialistas, vídeos e nosso podcast Detetives da Saúde.
Conte conosco. Conte com VEJA SAÚDE!
VEJA SAÚDE: juntos, nos novos tempos publicado primeiro em https://saude.abril.com.br/bem-estar
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dietasdicas1 · 4 years
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A epidemia oculta: saúde mental na era da Covid-19
Ser jornalista que escreve sobre saúde tem lá seus perigos. O mais óbvio deles é uma espécie de hipocondria intermitente: achar que você tem os sintomas daquela doença sobre a qual está estudando para a próxima reportagem a ser publicada. Nesses dez anos de experiência na área, eu me sentia particularmente imune a esse fenômeno. Afinal, sempre tive uma vida relativamente saudável e não sofro de nenhuma condição crônica ou incapacitante. Mas tudo mudou em abril de 2020: durante o processo de apuração para esta reportagem, de algum modo senti e vivenciei muitos dos incômodos e frustrações que serão descritos nas próximas páginas. O sono não é reparador como antes. O cansaço me agarra cada vez mais. A incerteza sobre o dia de amanhã é apavorante. Enfim, a cabeça opera em outra frequência na era da Covid-19.
Convenhamos: vivemos tempos únicos. Até certo ponto, é esperado sentir-se mal, ansioso, com raiva, insatisfeito ou triste diante de tantos desafios que aparecem na nossa frente. Como mostra um levantamento com 4 693 brasileiros feito pela Área de Inteligência de Mercado do Grupo Abril, em parceria com a MindMiners, não estou sozinho nessa: 54% dos cidadãos estão extremamente preocupados com a situação da Covid-19 (você confere outros números da pesquisa ao longo da matéria). 
Para entender melhor esse turbilhão de sensações que invadem a cabeça, resolvi procurar nos livros de história exemplos de crises do passado que poderiam ajudar a entender o que vivemos hoje. Será que existiu algum momento em que nossos tataravós passaram por uma situação similar? O primeiro exemplo que apareceu nas leituras e nas entrevistas foi a gripe espanhola, uma pandemia que, apesar do nome, começou nos Estados Unidos no ano de 1918, durante a Primeira Guerra Mundial. Soldados americanos levaram o vírus influenza para os fronts de batalha na Europa, onde a doença se disseminou para tudo que é canto e matou entre 17 e 50 milhões de seres humanos. 
Mas essa não é uma comparação justa: os modelos de comunicação e locomoção eram absolutamente diferentes há um século, quando todos dependiam de navios a vapor e telegramas. “Hoje conseguimos cruzar o mundo de avião em poucas horas, o que certamente contribuiu para a disseminação do coronavírus, e a tecnologia permite que as informações cheguem a todo mundo quase que instantaneamente pelas redes sociais”, analisa o médico americano Damir Huremovic, editor do livro Psychiatry of Pandemics (A Psiquiatria das Pandemias, sem tradução para o português). 
Do ponto de vista de saúde mental, o episódio de 1918 também não serve como modelo para os tempos atuais: especialidades como a psiquiatria e a psicologia davam seus primeiros passos nas décadas iniciais do século 20 e as emoções humanas ainda não eram consideradas um fator preponderante para a saúde. “Falamos do momento em que Sigmund Freud (1856-1939) publicava seus trabalhos mais importantes, que definiriam a área”, lembra Huremovic. Curiosamente, o próprio Freud vivenciou a perda de uma filha por causa da gripe espanhola. Mesmo assim, o pai da psicanálise não chegou a refletir ou se debruçar sobre os efeitos da pandemia sobre a psique em seus escritos.
Outras tragédias, inclusive brasileiras, marcaram época e repercutem no cérebro e no imaginário até hoje. É o caso do incêndio na boate Kiss, na cidade gaúcha de Santa Maria, em 27 de janeiro de 2013, que vitimou 242 pessoas. Ou do rompimento da barragem de Brumadinho, em Minas Gerais, no dia 25 de janeiro de 2019, que resultou em 259 óbitos. Mas, de novo, sobram diferenças e faltam semelhanças entre passado e presente. Você com certeza ficou chocado com as notícias lá atrás. Mas, se não mora em algum desses municípios brasileiros, sua vida não foi diretamente alterada durante o ocorrido ou depois dele. Seus compromissos não foram cancelados, tampouco havia incerteza sobre o dia de amanhã. Agora é diferente.
 Em um período sem precedentes como este, nada mais justo e sensato do que ouvir o que nos diz a biologia. “Quando estamos diante de uma ameaça à vida, ativamos o mecanismo de luta ou fuga”, resume o psicólogo Felipe Ornell, do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Esse mecanismo, herdado dos nossos mais remotos antepassados, se traduz hoje numa palavra corriqueira: estresse. Há milhares de anos, o homem das cavernas que andava pelas savanas e encontrava uma fera no caminho tinha que se decidir entre partir para cima ou sair correndo. Estresse na veia. 
E é essa reação que deixa o organismo preparado para agir. O cérebro lança um comando para uma glândula que começa a produzir cortisol, o famoso hormônio do estresse. Isso, por sua vez, faz o coração disparar, com o objetivo de levar mais sangue para os músculos trabalharem. A respiração se acelera na tentativa de captar mais oxigênio. Estoques de energia são liberados para servir de combustível. Graças a esse sistema veloz e afinado, nossa espécie sobreviveu às adversidades. 
O problema é que o inimigo de 2020 não tem rosto, nem dá pra fugir dele: como pode estar em qualquer lugar, representa um perigo permanente, o que dispara o gatilho da tensão a todo instante. “Em paralelo ao coronavírus, vemos surgir uma pandemia de medo e estresse”, interpreta Ornell. Eis o começo de uma dura jornada mental, que pode desembocar em ansiedade, depressão… 
<span class=”hidden”>–</span>Foto: Tomás Arthuzzi/SAÚDE é Vital
<span class=”hidden”>–</span>Ilustrações e gráficos: Letícia Raposo e Bananajazz/SAÚDE é Vital/Getty Images
<span class=”hidden”>–</span>Ilustrações e gráficos: Letícia Raposo e Bananajazz/SAÚDE é Vital/Getty Images
Apesar dos constantes avisos de cientistas de que uma pandemia estava por vir, a verdade é que o mundo inteiro foi surpreendido pelo coronavírus: no comecinho de 2020, nenhum presidente, senador ou deputado imaginava que estávamos à beira do caos. E esse despreparo, de certa maneira, contribuiu para bagunçar ainda mais o coreto. Afinal, lidamos com uma doença em que não há perspectiva de vacinas ou remédios com capacidade de cura para os próximos meses. A única medida que resta para conter o avanço e diminuir o impacto nos sistemas de saúde é o isolamento social: com menos gente circulando pelas ruas, a taxa de transmissão do vírus cai, o que permite aos hospitais absorverem a demanda de novos pacientes. 
Que fique claro: permanecer trancado em casa é vital para lidar com a pandemia no atual estágio e todos devemos ter responsabilidade e obedecer às orientações das autoridades em saúde pública. Mas isso não quer dizer que essa estratégia seja isenta de efeitos colaterais: não sair às ruas pesa na cabeça. “Pra começo de conversa, nos tornamos saudosistas das pequenas experiências da vida, como admirar aquela árvore bonita que acaba de florescer”, exemplifica a psicóloga Beatriz Borges Brambilla, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). 
E essa é apenas a ponta do iceberg: um estudo da Universidade Brigham Young, nos Estados Unidos, estima que a falta de contatos sociais traz riscos à saúde comparáveis a fumar 15 cigarros por dia e chega a ser duas vezes mais danosa que a obesidade. Para piorar, nas raras vezes em que nos aventuramos no mundo exterior nas visitas ao mercado ou à farmácia, somos confrontados com rostos cobertos por máscaras, que nos impedem de interpretar as emoções dos interlocutores. Não há dúvida de que, como seres sociais, necessitamos da troca de experiências, do diálogo e da convivência em comunidade para sermos felizes. 
Enquanto isso não é 100% possível, resta então manter a conversa com as devidas adaptações. É hora de usar e abusar dos aplicativos de videochamada, como o Skype, o WhatsApp, o Zoom e o Google Hangouts. Claro que não é a mesma coisa que encontrar os amigos num bar ou bater papo com a família no almoço de domingo, mas essas interações a distância ao menos ajudam a preencher um pouco do vazio e da saudade que sentimos de estar com aqueles que amamos.
Quem lê tanta notícia?
Outro ingrediente que ajuda a compreender esse quadro inédito é a quantidade de informações que recebemos nos dias de hoje. Os números são assustadores: de acordo com o site Internet Live Stats, a cada segundo o mundo produz e compartilha na web 2,9 milhões de e-mails, 8 947 posts no Twitter, 987 fotos no Instagram, 4 602 chamadas no Skype e 82 386 pesquisas no Google. Sim, você leu certo: isso tudo aparece nos computadores e nos smartphones em um mísero segundo! 
Agora, imagine como fica a situação diante de uma ameaça viral, em que novos fatos pintam a todo instante e a ciência está em constante atualização. Não à toa, semanas antes de decretar a pandemia, a Organização Mundial da Saúde já classificava toda a situação como uma infodemia. Em outras palavras, a abundância de vídeos, textos, gráficos, ilustrações e áudios, sejam eles verdadeiros ou mentirosos, dificulta o entendimento das orientações e gera uma crise de confiança entre a população. Das duas, uma: ou você fica totalmente paranoico ou passa a duvidar de tudo que brota na tela do seu celular.
Para lidar com esse dilema, os especialistas sugerem adotar uma espécie de dieta de notícias. “Não fique constantemente com a televisão ligada ou com as redes sociais abertas. Defina períodos específicos de seu dia para se atualizar sobre os fatos”, indica a psicóloga Ana Maria Rossi, presidente da International Stress Management Association (Isma-BR). Priorize os meios de comunicação sérios e os sites oficiais das entidades e tome cuidado com as onipresentes fake news: ao receber qualquer informação por WhatsApp, cheque a fonte e a data do conteúdo. Se tiver dúvida sobre a veracidade daquela mensagem, melhor não compartilhar.
Bolsos mais vazios
Um terceiro aspecto que tira o sono de qualquer um é a perspectiva de uma recessão global. O Fundo Monetário Internacional (FMI) estima que o mundo entrará na maior crise desde 1929, ano em que ocorreu a quebra da bolsa de valores de Nova York, nos Estados Unidos. O enfermeiro Carlos Sequeira, professor da Escola Superior de Enfermagem do Porto, em Portugal, estudou a fundo como o colapso econômico que acometeu a Europa a partir de 2008 afetou a saúde mental da população. “Nesse período, houve um aumento significativo das taxas de suicídio no continente”, relata. O problema é que são raros os governantes que se importam de fato com essa questão. “Por mais que muitos digam que o tema é prioridade, poucos fazem algo concreto para evitar os surtos de ansiedade e depressão que se desenrolam a partir das dificuldades financeiras”, critica o especialista. 
O Brasil, que já vinha aos solavancos nos últimos anos, pode passar por momentos turbulentos, infelizmente. Pacotes de estímulo à economia que foquem no trabalhador e nas empresas já são urgentes. Do ponto de vista individual, será preciso se reinventar e adequar as expectativas para garantir um equilíbrio tanto das contas quanto da mente. “Não crie tensões desnecessárias sobre coisas que estão fora de seu controle”, diz a psiquiatra Mariana Castro, mestre em saúde pública pela Faculdade de Medicina de Botucatu da Universidade Estadual Paulista (Unesp). Temos a oportunidade de aprender com os erros das crises passadas e, dentro do possível, buscar o bom e velho balanço: planejar o futuro sem cair na neurose extrema. 
<span class=”hidden”>–</span>Foto: Tomás Arthuzzi/SAÚDE é Vital
<span class=”hidden”>–</span>Ilustrações e gráficos: Letícia Raposo e Bananajazz/SAÚDE é Vital/Getty Images
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A edição 2020 do Big Brother Brasil, da TV Globo, foi uma das mais bem-sucedidas dos últimos anos. De acordo com os analistas, grande parte do sucesso alcançado pela atração se deve ao fato de a população também estar trancada em casa, sem acesso ao mundo exterior, numa situação relativamente parecida com a dos participantes do reality show. De certa maneira, isso criou cumplicidade e empatia entre espectadores e protagonistas, o que certamente catapultou a audiência. Por mais que existam muitas críticas ao programa, é inegável que o formato conquistou o público e garantiu um belo lucro aos seus organizadores.
O que mais chama a atenção nesse espetáculo televisivo são os conflitos que surgem a partir do convívio forçado por três ou quatro meses. Do outro lado das telinhas, vemos o mesmo fenômeno ocorrer: no Big Brother da vida real, a quarentena pode ser uma verdadeira prova de resistência. Com as escolas fechadas, crianças e adolescentes ficam o tempo todo em casa. A mesma regra se aplica aos adultos, que rebolam entre as demandas do trabalho a distância, os afazeres domésticos e o raro tempo livre para descanso e lazer. “A tripla jornada é ainda mais preocupante entre as mulheres, que ficam responsáveis por cuidar de vários quesitos do lar e da família”, nota a terapeuta ocupacional Sabrina Ferigato, da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), no interior paulista.
No olho desse furacão, não raro aparecem as brigas entre os casais ou os conflitos entre pais e filhos, avôs e netos. Na China, o primeiro epicentro do coronavírus, alguns cartórios registraram um aumento nos pedidos de divórcio quando a vida começou a voltar ao normal. Nas províncias de Shaanxi e Sichuan, por exemplo, houve um recorde nos índices de separação a partir das últimas semanas de março, de acordo com informações do jornal chinês The Global Times. 
Para a psicóloga Beatriz Brambilla, da PUC-SP, existem dois fatores principais que produzem esse desgaste nas relações. O primeiro deles é a falta de assunto. “Como não saímos, não temos muito o que contar sobre novidades do trabalho ou algo diferente e curioso que vimos no caminho”, observa. O segundo ponto é que, nesse intensivão da convivência, passamos a observar em detalhes os defeitos e as manias que nosso parceiro possui. “É aquele barulho com a boca que eu nunca tinha notado no meu esposo, e outros traços de personalidade como esse que antes passavam desapercebidos”, exemplifica Beatriz. 
Para evitar brigas e rompimentos, a melhor ferramenta é o diálogo. Converse com os companheiros de quarentena e busque sempre tornar o dia a dia mais agradável para todos. Compartilhe seus sentimentos e converse sobre os pontos que estão incomodando. Reservar um tempo para si e fazer atividades individuais que trazem relaxamento e bem-estar também são uma saída necessária para aliviar o clima e, assim, prevenir discussões e tensões desnecessárias.
Um terceiro fator que precisa ser discutido nesse contexto é o da violência doméstica. Dados do Núcleo de Gênero e do Centro de Apoio Operacional Criminal do Ministério Público de São Paulo revelam que casos de agressões aumentaram 30% em março de 2020, quando o isolamento social foi iniciado. Aqui, não há conversa que resolva: as vítimas, majoritariamente mães e esposas, devem procurar assistência nas Delegacias de Defesa da Mulher, na Casa da Mulher Brasileira ou nos Centros de Acolhimento, que continuam funcionando normalmente durante a pandemia.
Pra (não) dizer adeus 
Na sociedade ocidental, o velório e o enterro são etapas muito importantes na hora de se despedir de alguém querido que acaba de morrer. É uma cerimônia em que os mais próximos recebem abraços e palavras carinhosas. Isso traz conforto e suporte para lidar com aquela perda e superar a tristeza. E como fica essa tradição tão essencial em nossa cultura num período em que o número de mortes por Covid-19 está aumentando, as aglomerações permanecem vetadas e o sepultamento geralmente só pode ser acompanhado por quatro ou cinco parentes? 
Sim, o cenário é terrível e exige, mais uma vez, uma reinvenção no jeito como expressamos afeto e solidariedade. “Podemos fazer rituais a distância, por meio de videochamadas, em que todos se reúnem para fazer uma oração, acender uma vela, trocar mensagens, enfim, o que seja significativo para aquele grupo que está de luto”, aponta a psicóloga Daniela Achette, da Academia Nacional de Cuidados Paliativos. Se o ente querido perdido possuía alguma religião, vale conversar com o padre, o pastor ou o líder espiritual daquela crença para que ele reze, abençoe e diga palavras que tragam alento. 
As crianças merecem uma abordagem especial num momento como esse. “É importante explicar para elas o que está acontecendo e deixá-las livres para expressarem as emoções como acharem mais cômodo”, acredita Daniela. Afinal, o luto é um processo que não segue uma receita de bolo: cada um reage e lida com ele da sua maneira pelas semanas, meses ou anos seguintes. “O legado que a pessoa querida deixou funciona como um nutriente para que eu continue tocando a vida e construa novos significados a partir das memórias”, completa a especialista. É tipo aquela lembrança de um prato que sua avó fazia: com o passar do tempo, vem uma saudade gostosa que deixa o coração quentinho. 
<span class=”hidden”>–</span>Foto: Tomás Arthuzzi/SAÚDE é Vital
<span class=”hidden”>–</span>Ilustrações e gráficos: Letícia Raposo e Bananajazz/SAÚDE é Vital/Getty Images
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“De certa maneira, a pandemia de Covid-19 e todos os seus desdobramentos nos obrigam a entrar em contato com uma realidade que antes não nos atingia”, reflete o médico Felipe Corchs, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo. Repare bem: ficar preso em casa e sentir-se inseguro é algo comum para milhões de pessoas que vivem em regiões de conflitos e guerras civis. E não precisa ir longe para perceber como essa é a rotina de um monte de gente. Em muitas favelas brasileiras dominadas pelo tráfico e pelas milícias, há toques de recolher, áreas onde a circulação está proibida e tiroteios constantes. E isso, claro, ecoa na saúde mental.  
O psiquiatra Paulo Amarante, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro, segue a linha de raciocínio: “Viver nesses locais é uma forma permanente de resistência”. Décadas de precariedade no transporte público, violência e ausência de políticas públicas desenvolvem uma capacidade de improvisação. “Boa parte desses sujeitos cria uma habilidade para lidar com as adversidades e os sofrimentos que aparecem pelo caminho”, analisa. Outros, na contramão, acabam desenvolvendo transtornos psiquiátricos: no Brasil, quadros como ansiedade, depressão e hiperatividade atingem de duas a três vezes mais as crianças pobres do que aquelas que pertencem à classe média. 
Esse drama pode ser ampliado a partir de agora, quando o coronavírus aprofundar o abismo das desigualdades. Para combater isso, lideranças e organizações sociais dos bairros menos favorecidos arregaçaram as mangas e deram o pontapé em projetos de conscientização dos moradores, de arrecadação de alimentos e itens de higiene, entre outros. A comunidade paulistana de Paraisópolis, por exemplo, bolou um esquema de notificação de casos suspeitos de Covid-19 pra lá de criativo: 420 indivíduos foram eleitos presidentes de rua. Cada um deles ficou responsável por acompanhar cerca de 50 casas e passar orientações aos vizinhos que apresentam sintomas sugestivos, como falta de ar, febre e tosse. Esses dirigentes ainda identificam as famílias que estão sem renda para que voluntários entreguem marmitas ao longo das semanas. 
Por mais bonita e inspiradora que a história seja, ela não pode servir de justificativa para os governantes se furtarem de suas responsabilidades. “É justamente a hora de pensarmos sobre a grande quantidade de pessoas vulneráveis em nosso país e lançar mão de políticas protecionistas, que garantam saúde e dignidade a todos”, afirma Amarante. Fortalecer o Sistema Único de Saúde, o SUS, é uma estratégia inteligente para isso: com mais acesso a informações e cuidados básicos, muitas doenças podem ser prevenidas em sua origem. Isso, claro, repercute em cheio no bem-estar mental de todos: uma sociedade mais justa e igualitária é também uma sociedade menos estressada, ansiosa e deprimida.
A humanidade é desumana
Se, por um lado, a pandemia nos regala histórias belas e inspiradoras, por outro, deparamos com episódios absolutamente tristes e negativos. “Nas últimas semanas, acompanhamos notícias de xenofobia, preconceito e protestos que negavam a existência do problema e banalizavam milhares de mortes”, descreve a professora Sabrina Ferigato. Nas redes sociais, circularam diversas publicações mentirosas dizendo que o agente infeccioso foi fabricado em laboratório para derrubar governos mundo afora. Outros insistem em chamar o coronavírus de “vírus chinês”, numa tentativa de estigmatizar um país e um povo. Teve um grupo ruidoso que saiu às ruas em carreatas, exigindo o fim do isolamento social, quando a recomendação científica é justamente fazer o oposto.
É possível compreender essas respostas extremadas do ponto de vista da psicologia e da psiquiatria. “Esse tipo de manifestação virtual ou até mesmo os protestos que ocorreram recentemente são demonstrações de medo, revolta e falta de compreensão de uma nova realidade que se impôs sobre todos nós”, conjectura Ornell. São reações que estão diretamente vinculadas àqueles temores que descrevemos no início da reportagem: incerteza sobre o dia de amanhã, excesso de informação, início de uma crise econômica… 
Todo dia ela diz que é pra eu me cuidar
No campo das vulnerabilidades, é urgente abordar o que vem ocorrendo com os grupos de risco para a Covid-19. Pelo que se sabe até agora, indivíduos com mais de 60 anos, diabéticos, hipertensos, obesos e portadores de doenças crônicas no coração ou nos pulmões (insuficiência cardíaca, arritmia,  DPOC…) apresentam uma mortalidade maior quando são infectados pelo novo coronavírus. Em relação à saúde mental, isso causa um estrago danado: afinal, essa turma vive num constante estado de alerta, como se estivesse o tempo todo com a cabeça a prêmio. 
A questão é particularmente delicada nos mais velhos. “Estamos vivendo o pico da emergência do etarismo, que reflete uma intolerância com os idosos por meio de estereótipos”, discursou a psicóloga Anita Neri num debate online promovido pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva. Olha o absurdo: tem quem pense que eles são culpados pelo problema e nem devessem ocupar os leitos de unidades de terapia intensiva (UTI) por não serem tão produtivos quanto os jovens. “Existem respostas que a sociedade pode dar, como a solidariedade entre gerações e um discurso de união, pois estamos juntos nessa”, acredita Anita. Se você já passou das seis décadas de vida, compreenda que o melhor a ser feito é ficar em casa e se resguardar. Caso você tenha algum familiar nessa faixa etária, é hora de reforçar o diálogo e a paciência. 
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<span class=”hidden”>–</span>Ilustrações e gráficos: Letícia Raposo e Bananajazz/SAÚDE é Vital/Getty Images
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Se a Covid-19 seguir a mesma trilha do que aconteceu em 2002 e 2003, durante a pandemia de Sars (síndrome aguda respiratória grave), a tendência é que tenhamos uma avalanche de doenças psiquiátricas nos próximos meses. Há 17 anos, houve um aumento de 30% nos casos de depressão, ansiedade e estresse pós-traumático entre os indivíduos que ficaram de quarentena na China, o país mais atingido pela doença à época. Os dados são de um levantamento realizado por pesquisadores do King’s College London, na Inglaterra, e foram publicados no prestigiado periódico científico The Lancet recentemente.
Para enfrentar esse desafio que virá, o primeiro passo é entender e conscientizar todo mundo de que as emoções são parte fundamental da saúde. Nessa linha, é vital reforçar a mensagem de que as doenças psiquiátricas não são “frescura”, muito menos “coisa de louco” — um preconceito que ainda existe por aí. Elas devem ser diagnosticadas e tratadas com o mesmo respeito e seriedade de qualquer outra enfermidade que atinge o corpo. Sentir-se mal diante do atual cenário é compreensível e até esperado, mas não podemos deixar esses sentimentos ultrapassarem certa fronteira. 
“É necessário buscar auxílio do profissional de saúde quando há um sofrimento que está prejudicando o dia dia”, orienta o psiquiatra Antonio Egidio Nardi, professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Entre os sintomas que ligam o sinal de alerta, fique de olho em cansaço extremo, desânimo recorrente, preocupação exagerada com tudo e pensamentos que não saem da cabeça sobre desastres ou morte. O diagnóstico precoce dessas condições garante um tratamento mais tranquilo e eficaz.
Quem já faz psicoterapia ou toma medicamentos para cuidar de algum problema que abala a mente não deve interromper o tratamento de forma alguma. Converse com seu médico e peça orientações sobre como obter a receita para comprar os fármacos ansiolíticos, antidepressivos ou estabilizadores do humor nos próximos meses. Para essa turma, os bem-vindos aplicativos de videochamada garantem a continuidade das sessões de terapia a distância.
Acabou chorare?
Nessa era de reclusão coletiva, vale ainda ficar atento a outros quesitos fundamentais para manter o corpo e a mente em equilíbrio. O primeiro desses fatores é o descanso noturno. “A falta de controle sobre a situação e o medo aumentam os níveis de estresse, que, por sua vez, perturbam o sono”, explica a psicobióloga Monica Andersen, diretora do Instituto do Sono, em São Paulo. Quando estamos em casa, temos a tendência de atrasar os compromissos diários: acordamos, almoçamos, jantamos e voltamos a dormir cada vez mais tarde. “Precisamos manter uma regularidade nos horários durante todos os dias da semana, especialmente neste período de quarentena”, completa a expert. 
Não dá pra se esquecer também de tomar sol todos os dias. Reserve alguns minutos da manhã, antes das 11 horas, para relaxar na varanda, no quintal ou na laje. Esse banho de luz estimula a liberação de serotonina, substância que, entre os neurônios, produz a sensação de bem-estar. Manter uma rotina de exercícios físicos é outra via para garantir o equilíbrio da química cerebral, bem como caprichar no consumo de frutas, verduras, hortaliças e alimentos naturais e frescos. É aquele pacote básico de recomendações de saúde que não muda nem em tempos de pandemia.
Talvez o grande aprendizado que vamos tirar de toda essa crise seja entender de vez que felicidade e saúde dependem do convívio com o outro. E temos na nossa frente uma oportunidade de fazer a diferença: não faltam projetos e iniciativas de arrecadação de fundos e recursos para quem mais precisa. Tudo pela internet, sem precisar sair do sofá. Mas o amparo vai além de dar dinheiro ou cesta básica: caso você possa, por que não perguntar ao seu vizinho se está precisando de alguma coisa? Ou, quem sabe, deixar um pedaço de bolo que você acabou de fazer para que ele tenha uma tarde mais doce e agradável? É hora de pensar também nos profissionais autônomos que prestam algum tipo de serviço em sua casa: diaristas, manicures e babás dependem daquele dinheiro para passar o mês. Se sua renda permite, continue realizando os pagamentos, mesmo que esses trabalhadores não possam estar presentes durante um período. 
A criação de redes de apoio traz ganhos ao bem-estar mental: estudos endossam que fazer o bem faz bem (e não é força de expressão!). “Um ato de solidariedade e empatia ativa áreas do cérebro ligadas ao prazer e à recompensa e aumenta a quantidade de neurotransmissores como a dopamina, que está relacionada a essas emoções”, revela a neuropsicóloga Luciana Azambuja, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. 
Chegando juntos ao final desta odisseia, posso compartilhar que estou tentando botar em prática todas as recomendações sobre as quais escrevi. Às vezes, elas dão certo. Em outras ocasiões, falho miseravelmente — e tudo bem! Me apego ao fato de que, uma hora ou outra, a humanidade vai superar o coronavírus. E essa conquista não pode simplesmente ignorar as sequelas e lições que ficarem dessa batalha. Se as pessoas se tornarem mais solidárias e conscientes sobre a saúde e os sentimentos, nosso legado às futuras gerações já estará garantido.
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dietasdicas1 · 4 years
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VEJA SAÚDE: juntos nos novos tempos
Se há um ponto em que cientistas, médicos, economistas, sociólogos, filósofos e companhia ilimitada concordam diante da pandemia do coronavírus, é que o mundo sairá diferente dela. E tudo leva a crer que, mais preocupados ou conscientes, passemos a dar ainda mais valor a esse patrimônio incalculável chamado saúde — a nossa, a da família e a do planeta.
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pansy-penguin · 4 years
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