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DJ bieL onLine: funk, ambient e as novas influências na cena de São Paulo
Isa: Conta pra gente um pouco sobre você? De onde você é e tal.
DJ bieL onLine: Eu sou o Biel Online. Moro em São Paulo, na extrema Zona Sul, no bairro do Monte Azul. E tô aqui hoje fazendo essa entrevista pro Terapia. Acho que é isso, o resto a gente vai descobrir ao longo da conversa.
Vic: Então, a primeira pergunta que a gente quer te fazer é quais foram suas primeiras referências musicais?
DJ bieL onLine: Mano, então… Eu comecei a produzir por conta do Skrillex, ouvia muito as músicas dele. Aí eu comecei a brisar. Em 2017 baixei o FL Studio. Não sabia fazer nada. Só que aquilo foi andando ali na minha vida, num background, sabe? Eu parava e voltava, parava e voltava. E eu não sabia muito bem o que eu queria fazer da vida. Não era, tipo “ah, tenho algum músico na família”. Não tem ninguém. Eu comecei a desbravar esse caminho. Sempre gostei de ouvir música, era algo que me despertava muitas coisas e senti essa ligação. Mas comecei a experimentar, criar mesmo, em 2017.
Isa: E você lembra quando foi esse estalo? Tipo, escutar uma música específica do Skrillex e pensar, “ah, eu quero produzir também”?
DJ bieL onLine: Eu comecei a ouvir ele em 2014. Pra mim era muito diferente de tudo que eu já conhecia. Eu nem cogitava entender como eram feitos os timbres, sabe? Isso me despertava uma curiosidade. Era viciado em Summit, acho que é a música que eu mais ouvi dele. E essas músicas mais melódicas tipo Fire Away com o Kid Harpoon, e Scary Bolly Dub.
Vic: Eu vim pra cá escutando Summit, no Uber. É mó bom!
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Isa: E dentro do funk, quais são suas referências?
DJ bieL onLine: Então, é engraçado porque hoje em dia o que eu mais ouço é música ambient que é uma música extremamente calma. Eu acho que eu consigo enxergar isso no universo que eu crio dentro do funk. Porque apesar de ter uma agressividade ali, que é do funk, de ter aquele bagulho estourando, tem também os momentos de calma. Eu cresci no meu bairro consumindo funk. Quando era menor ficava na rua com meus amigos ouvindo funk e soltando pipa o dia inteiro. Então é algo que já tava meio que ali, sabe?
Vic: E tem artistas específicos de ambient que você curte?
DJ bieL onLine: Eu gosto muito do Harold Budd, acho que é meu compositor favorito de ambient. O Susumo Yokota também, tem um álbum que chama Blue Sky And Yellow Sunflower.
Vic: Ah, legal! Conta pra gente um pouco sobre o seu primeiro EP, o Ritmo das Sombras.
DJ bieL onLine: Eu tinha esse EP meio guardado e decidi lançar depois que eu fiz DESCE LICOR LIBIDINOSO, junto com o Vini the Kid, que foi a música que mais pegou uma fama. E era algo que eu não tava esperando — acho que ninguém nunca tá esperando essas coisas — mas ver um som que eu tinha feito, mano, tocando no Boiler Room, tocando em vários lugares. Precisava fazer alguma coisa em relação a isso. As músicas do Ritmo das Sombras, já tavam meio que em andamento ali, só dei um gás pra finalizar. Iam ser cinco faixas e acabou com seis. Uma delas eu fiz em um dia porque senti que tava faltando algo. E é a música que eu mais gosto, inclusive, Ataque Soviético.
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Vic: E a capa é do Femzor, né?
DJ bieL onLine: Sim, eu já trocava a ideia com ele antes então foi bem fácil chegar e falar mano, você desenrolaria uma capa pra mim? Foi isso, ele me mandou umas referências, eu mandei umas coisas pra ele. Eu já curtia muito aquela estética do universo dele, aquelas máscaras redondas. Aí só pedi pra ele fazer um palhacinho naquele estilo. Ficou muito foda.
Isa: Falando um pouco agora sobre as plataformas. Seja TikTok ou mesmo no Soundcloud, parece que os ciclos das músicas tão cada vez mais rápidos. Como você enxerga isso e como esse ritmo influencia suas produções?
DJ bieL onLine: Na questão do EP, foi a primeira vez que eu adotei um modelo mais voltado pra produtividade. Acho que quando você tá postando nas plataformas, você já tá com uma visão de mercado. Tem que pensar o antes e o depois de postar e eu nunca tinha feito algo assim. Senti que influenciou no processo porque eu comecei a me colocar prazos. E aí, mano, tava me travando demais, mas eu ficava mano, tem que terminar, tem que terminar, tem que terminar. E aí eu só não queria mais lidar com nenhuma das músicas. Tanto é que se você for ouvir, tem umas mixagens que estão meio largadas até, porque eu só falei “ah, mano, é isso, não vou mais fazer nada aqui”. Já foi, tá ligado?
Vic: Lembro que quando a gente tava no Rio, no Bar da Cachaça, a gente voltou pra casa em Ubers diferentes e, por coincidência, nos dois carros começou a tocar a mesma música do Enigma. Eu cheguei em casa e você já tinha mandado várias mensagens que tava escutando o álbum inteiro e isso me fez pensar: você tem esse hábito de escutar álbuns do começo ao fim? Hoje em dia, tudo parece tão rápido, as pessoas só vão pulando de música em música, scrollando o feed sem parar. Então, quando alguém me diz que realmente parou para ouvir um álbum inteiro, eu sempre me surpreendo. Talvez porque isso tenha se tornado algo raro.
DJ bieL onLine: Mano, eu faço isso de vez em quando. Não é algo que eu tenho o hábito de fazer, mas às vezes eu esbarro em uma música, como essa vez aí. Recentemente eu tava ouvindo o Protection, do Massive Attack, porque eu caí numa música e falei, velho, isso aqui é absurdo! Aí eu parei e reservei uma hora pra ouvir o álbum todo. Os artistas dessa época tinham esse lance de pensar o álbum inteiro como uma narrativa. Não que isso não exista hoje em dia, mas por conta das coisas ficarem cada vez mais voltadas pra produtividade, eu acho que acabou se perdendo um pouco.
Isa: E como você pesquisa música?
DJ bieL onLine: Mano, é meio maluco. Às vezes eu fico fissurado em trechos específicos de uma música e fico voltando nos mesmos três segundos. Eu realmente fico voltando e ouvindo os mesmos três segundos por, mano, muito tempo! Ou sei lá, vidrar na mesma música e ouvir ela durante uma hora inteira.
Vic: Eu faço bastante isso também. E qual que foi o último álbum que você ouviu? O que você achou dele?
DJ bieL onLine: Eu tava ouvindo ontem um do Cocteau Twins. Não era o Treasure, deixa eu ver qual que era. É Milk & Kisses.
Vic: É o da capa preta?
DJ bieL onLine: Não, é uma capa branca. Mano, é engraçado que eu nem olhei a capa do álbum, tá ligado? É bizarro isso. Eu só dei play nas músicas e fui ouvindo. Eu gosto bastante de Cocteau Twins, justamente porque eles têm uma ligação com o Harold Budd, ele já colaborou bastante com eles.
Isa: Quais artistas você tem curtido muito no momento? Indica pra gente os três nomes, assim.
DJ bieL onLine: Vou indicar uma artista brasileira que saiu do Brasil porque a carreira dela não tava dando certo aqui. Isso foi, tipo, nos anos 60, assim, saca? Que é a Sonia Rosa. Ela tem uma voz muito linda. Ela foi pro Japão, conheceu o Yuji Ono e eles fizeram um álbum que chama Samba Amor. É muito lindo o álbum porque o Yuji Ono compõe jazz muito bem, e é uma parada meio etérea. Tem o lance da bossa nova, tipo, ele mistura muitas coisas.
DJ bieL onLine: Trazendo agora um pouco mais pra atualidade e falar de pessoas que são da minha realidade - artistas que eu me identifico justamente porque a gente vive uma realidade parecida dentro da música - eu gosto bastante da Dudda. Recentemente ela tava em São Paulo, ela produz umas músicas da Ghast Chloe e mano, é uma produtora muito avançada. Você para pra ouvir as músicas dela e percebe que tem algo acontecendo ali. É difícil de entender até, de tão foda! Encontrei ela duas vezes: a primeira na Ghast Party, que a gente dividiu o line e a segunda num bar aleatório um dia antes dela ir embora (ela mora na Bahia). Foi quando a gente conseguiu trocar mais ideia.
Isa: E como que você enxerga a cena musical de São Paulo hoje? O que te anima e o que te preocupa? Você tá num universo muito do Soundcloud, né?
DJ bieL onLine: Ah, então, é meio que uma geração de artistas da internet. Uma comunidade que surgiu no Soundcloud mesmo, e aí a gente acaba saindo do Soundcloud pra ocupar espaços. É bacana porque tem vários grupos que a galera conversa e marca coisa, marca rolê, justamente pra criar esses espaços físicos, sabe? Porque tem bastante espaço pra baile, pra rolê de baile e tal, mas essa cena carecia muito de ter algo acontecendo na vida real mesmo. Acho que foi assim que começou a surgir esses rolês de DJ set, e essas cenas começarem a dialogar também. A cultura de baile, eu via que era mais composta por produtores, não tanto DJs que pensam o set inteiro como uma narrativa, que focam no lance das viradas, técnicas de set e tal. O Caio Prince, por exemplo, não surgiu necessariamente de baile. Ele tá bastante presente nessa cena da internet, na pesquisa dele e tal. É um cara que tem essa leitura do DJ mesmo, sabe? Não sei se vocês conseguiram entender o que eu quis dizer.
Isa: Total! Pela minha experiência, sinto que a cena de São Paulo, às vezes, acaba ficando um pouco fechada em si mesma. Você acha que isso tá mudando?
DJ bieL onLine: Ah, eu vejo que tá mudando sim. A gente tá vendo bastante artista de fora colar pra cá, pra fazer rolê, e, ao mesmo tempo, eu vejo que São Paulo também é uma cidade muito aberta pra coisas novas, eu acho bacana isso.
Isa: E a estética do funk, como que você tem visto a mudança dessa cena?
DJ bieL onLine: Eu acho que o funk sempre vai mudar. Sempre vai ter coisa nova acontecendo. Agora a gente viu a bruxaria estourando o máximo, começou a ir pra fora. Sempre esteve lá fora, né? Mas agora teve esse novo boom da bruxaria e eu acho que vai dar uma passada e vai vir uma nova estética - e que é muito difícil de prever também, sabe? Mas a gente já vê movimentos novos que são bem interessantes. Tem um maninho que eu gosto bastante, o Ttoten, que faz um funk meio pós- bruxaria. Já chega no nível de dubstep. Ele fez um set na Submundo esses tempos e é da hora ver porque é meio que dubstep e você vê a galera na Submundo reagindo a esse estilo de música. Rola uns moshs nos sets dele e é um universo que tá dentro do funk também, é bem foda.
Vic: Tem algum artista com quem você gostaria muito de colaborar?
DJ bieL onLine: Mano, eu sou complicado de fazer collab, na real. Mas tem pessoas que eu queria e vou eventualmente jogando aí pro universo. Queria muito colaborar com o RHR que é um produtor que eu acho muito foda. É que, mano, se eu for falar, é a galera que eu já faço música, sabe? São as pessoas que estão mais próximas de mim, tipo o Rxfx, que é uma linha de campo grande, que ele produz, assim, e a gente já troca ideia e tal. A gente já tem umas músicas, inclusive. Mas eu falei que eu sou complicado de colaborar porque eu começo muitos projetos paralelos. É foda, mas eu espero clicar, sabe?
Isa: E quais seus planos para o futuro? Você tem alguma novidade guardada pra esse ano?
DJ bieL onLine: Eu tenho novidades que vão continuar guardadas. E tô produzindo um novo EP. Eu lembro que quando eu tava no Rio você me fez essa mesma pergunta. Eu só falei mano, não sei. E eu realmente não sabia. Até pouco tempo atrás, acho que uma semana atrás, eu ainda não sabia, saca? Mas é esse o lance, eu começo vários projetos simultaneamente e, às vezes eu vejo que tá surgindo uma estética relacionada entre as músicas. Isso aconteceu recentemente, então já bolei toda uma estética pra um novo EP. Mas vai ser um EPzinho de funk bem ambiente, bem ambiente.
Vic: É, eu lembro que uma das suas primeiras músicas que eu escutei era um funk meio ambiente. É uma capa verde, parece uma florestinha.
DJ bieL onLine: É MTG… Alguma coisa. Eu não lembro o nome agora mas sei qual a música é. É inclusive uma que eu sampleei Susumo Yokota.
Vic: Pra finalizar: o que é terapia pra você? O que te faz se sentir bem? O que você faz como terapia? A gente curte ficar pesquisando e agora o Terapia tá sendo um escoamento pra isso. Porque a gente não é DJ, não produz música, então não tinha como botar pra fora, sabe? Então agora nossa terapia tá sendo dividir a nossa pesquisa.
DJ bieL onLine: Ah, eu sou um rapaz muito simples. Sento na frente do meu PC, faço meus beats e tal. Meio que isso. Também toco piano. Tenho uma relação de amor e ódio com piano, às vezes. Porque tem momentos que é muito dolorido e tem momentos que é muito relaxante. Mas eu gosto desse lance de ficar em looping. Pegar um trecho de alguma música e ficar ensaiando, ensaiando, ensaiando e repetindo. Chega um momento que você se desconecta de tudo. Parece que só existe aquelas oito notinhas dentro do compasso e você precisa tocar elas. É isso que meio que me desliga, assim.
Isa: É, terapia é isso, não é sempre bom.
Vic: É o que a gente falou, é uma relação de amor e ódio mesmo.
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