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Unilateral - Lado A
Em um apartamento no bairro em Curicica. Um jovem torce para que as horas passem devagar. Nos braços do amor verdadeiro, desta semana, ele descansa e mesmo que só um pouco, se sente aliviado por estar acompanhado e ainda ser desejável pra alguém. Mesmo com as cicatrizes, mesmo com as orelhas estranhas e aquele jeito desanimado de ver a vida.
Ele mergulha mais fundo em sua mente enquanto observa o rosto tranquilo de quem está em sua humilde cama de solteiro. Alguém com quem ele conversou entusiasmado nos últimos três dias e hoje durante o encontro no cinema. Mal se recordava dos detalhes do filme que tinha perdido a importância a medida que eles riam um do outro, aproveitavam o aconchego de seus corpos e ocasionalmente ficavam aturdidos com o gosto dos lábios.
Pensamentos sobre conhecer melhor o seu amante voam por sua cabeça e o levam até possibilidades que foram esmagadas varias vezes no passado. Mas, desta vez seria diferente, acreditava. Ele teria paciência e guardaria seus sentimentos para o momento certo. Demostraria ser menos dependente e amoroso para não assustar o pretendente.
Só queria que aquela não fosse a última vez, queria que os dias permitissem florescer o amor. Mesmo debaixo das pesadas chuvas que inundam o mundo com o preconceito ou do calor ininterrupto que resseca toda a motivação de crer em um futuro. Queria acreditar no amor e na força que ele podia dar a sua vida. Talvez até voltasse a sorrir e crescer.
O vento entrou pela janela e causou um arrepio. Ele estava suando devido ao esforço realizado a poucos minutos atrás. A experiência ficaria em sua mente por mais alguns dias, vindo a lembrança em momentos inoportunos, despertando desejos por mais deles e sorrisos complicados de explicar.
O jovem riu de seus pensamentos, enquanto saia do quarto para tomar um banho. Era cedo demais para estar acordado e a noite se estendia sobre a sua cabeça, tão grande, assustadora e excitante quanto o próprio futuro. Ele voltaria para tentar dormir mais um pouco com seu príncipe, não podia ficar acordado e se perder na ilusão que o preenchia. Mas aproveitaria cada segundo que restava daquele conto de fadas moderno.
Ele nunca saberia o que se passava na mente de seu convidado, mas eu sim.
- do que quer que me chame, esse não é meu nome.
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O meu medo
meu medo não é como o seu. Você tem medo que eu nunca consiga viver a minha vida; escolher por meu caminho sozinho; ter capacidade de me sustentar; um trabalho aonde eu não precise ser consumido por ele para obter algum beneficio; consiga andar pelas ruas sem ser atacado por ser quem eu sou; consiga fugir da depressão totalmente e que eu volte a me entregar a ela. Teus medos não são os meus, mas fazem parte de quem sou. Porque eles estiveram na minha vida desde o principio e no momento em que você me deu a luz, seus medos pariram os meus junto. Não existe luz sem sombra. O meu medo é uma pessoa. Ele sempre sorri, apesar de estar podre por dentro. Uma criatura constantemente ansiosa e faminta pelo controle. Ele é a coisa que espalha teias por meu ser, cobrindo sonhos, vontades e essência. Teias que ele espera que cubram o mundo, para que possa se deleitar com o desespero de todos aqueles que cairam em sua armadilha, pouco antes de estraçalhar seus ossos. Ele devora aqueles que o ajudam e cresce feliz por ter chego ate aonde esta com os esforços de outros. O meu medo só pode ser impedido por outro medo. O meu saudável medo de não ser amável, respeitoso e compreensivo com os outros. O medo de se tornar o Senhor no Medo.
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Um dia de trabalho
Mais uma pá de terra, duas gotas de água benta e uns dez segundos para respirar. É sempre uma pena quando essas coisas acontecem, ainda mais com crianças. Elas mal tiveram acesso as complicações deliciosas de uma vida simples. Nenhuma delas teve culpa quando foi escolhida e levada. Nenhuma delas conhecia o nome do homem que as levou, nem ao menos o nome de seu mestre. Elas se foram e por isso eu fui chamado. Mais uma pá de terra, duas gotas de água benta e uns 20 segundos para respirar. As famílias ficaram arrasadas, elas sempre ficam e mesmo depois de oito anos de serviço ainda me recuso a me acostumar. Numa situação como essa não tem como saber o que é misericórdia, os que recebem os corpos sem vida de seus filhos ficam anos pensando nas atrocidades que eles sofreram e os que encontraram seus filhos vivos vão precisar redobrar a atenção com eles. O mal pode deixar sequelas até mesmo nas almas mais puras. Mais uma pá de terra, um pulso deslocado, um vidro vazio de água benta, algumas lágrimas, um gole de vinho e meu coração que ignora o cansaço. O descanso deve vir quando o abraço divino chegar. Eu realmente odeio essa parte do trabalho, mas tem uma coisa que eu odeio ainda mais. A visão das famílias que ficaram para trás, se desmantelando enquanto tentar lutar com o processo do luto. Sei que essa é a parte mais importante do trabalho, mas ver eles passando por toda aquela dor me faz querer tornar ela minha. Eu já me acostumei a perder pessoas. Eu lidaria melhor que eles com sua dor. Uma pá de problemas, uma tatuagem para lembrar a vergonha, um rosto liso e vestes que combinem com o trabalho. Vestes que eu manchei com o vinho, para parecer que eu tenho bebido como uma pessoa normal faria. Isso me vai me render pelo menos mais uma semana longe da bebida de verdade. Eu fico pouco religioso quando estou bebendo e algumas das pessoas que eu tenho que ajudar bebem quando estão deprimidas, não quero que eles se sintam culpados por isso. Uma pá na mochila, três crianças enterradas, um padre embebido de vinho, uma prece pela vida dos que se foram e dos que sobreviveram, um cão fiel que fica me escutando reclamar do trabalho e o sentimento de que cheguei tarde para impedir a morte deles, mas ainda tenho tempo de descobrir porque essa atitude diabólica aconteceu. Vou guardar na memoria os nomes dos mortos para que sejam apresentados no tribunal dos ossos, no dia em que eu guiar o culpado por isso até o destino final. Liam Edér Murphy, Padre da Igreja de Kelemvor. - do que quer que me chame, esse não é meu nome.
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Presença Apocalíptica
Sentado de frente para mim ele pegou as minhas mãos. seu toque era quente como o de um filhotinho e seu olhar demonstrava a preocupação que sentia. Eu tentei dizer que não era nada, mas ele me interrompeu com um sinal; Sua respiração fazia seu peito inflar por baixo do quimono e eu podia ouvi-la como se fosse a minha. A presença dele me levava a lugares que eu tentava evitar. A serenidade e o conforto que emanavam dele eram como o apocalipse parra todo o meu mundo. Mesmo com os olhos fechados consegui sentir o mundo rachando ao meu redor, como a casca de um ovo que se abre. Aquilo me deixou aterrorizado, o tamanho daquela revelação, o som que fazia o silencio e todos os príncipes e povos que descontrolados corriam a esmo para se sufocar na mortalha. Suas mãos deixaram as minhas e foi a pior dor que senti. Era como desfalecer ainda consciente, como se uma parte de cada coisa em mim morresse enquanto o frio invadia a minha alma; Senti gritar, clamar, gemer e se rasgar para que pudesse ter de volta, mas era como estar em coma. Ser uma força minúscula lutando contra o peso do universo para fazer uma mudança efêmera como uma flor. Não havia futuro, no passado estava tudo o que se perdeu e o presente era o constante desejo de um ponto final. Não estava mais eu, não era eu ou qualquer outro, não existia nada e vazio; Por 13 eternidades foi assim, até que senti os lábios ocarem meus corpo, a fonte de vida reencontrada. O Big Bang, Genesis capitulo um e Brahma abria seus olhos comigo.
“ Tudo esta destinado ao nada. A mudança ocorre sem que se atente a ela. O todo eventualmente deixará de ser e outro irá se tornar.”
- do que quer que me chame, este não é o meu nome.
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Esse dia ou aquele dia
Está aqui, está acontecendo e infelizmente não tenho como explicar ou parar de sentir. Um desanimo insistente, um ódio sorrateiro e a tristeza que não tem nome; Todas essas merdas fundidas em uma espécie de tumor na minha mente. Tento fazer o melhor que posso para lidar com ee, mas existem dias que ele parece que vai me matar. Esse é um desses dias ou um dia daqueles. - do que quer que me chame, esse não é meu nome.
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Nos podemos mudar tudo
Costumo ler por ai, relatos que dizem que nos apaixonamos por pessoas inventadas. Geralmente eu os ignoro. Porém para você é diferente. Eu criei você, como um artista que separou os materiais e observou a escultura antes de ela deixar o mármore. Pintei cada célula da pele com um fino pincel. Semelhante a Deus, te fiz a minha imagem e semelhança, te protegi e te ensinei. Te amei mais que a mim, amei mais que tudo. Participar de teus passos, colher os teus frutos, rever as tuas falhas; essa era a minha rotina. Obsessão que me causou tanta mudança, tanta dor e tanta liberdade. Tornei me parte da tua fantasia e você da minha; Já não sei mais quem estava transformando quem. Mas hoje sou outra pessoa por nossa causa. - do que quer que me chame, esse não é meu nome.
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Sinais da aproximação
A medida que a morte vai se aproximando podemos sentir os sinais dela. Se torna algo visível no ambiente, na forma como as pessoas olham umas para as outras e no som que as almas fazem ecoar de dentro dos corpos. A morte dialoga com a vida, fiquem atentos as palavras e talvez suas preces possam ser ouvidas por ela. Dortan Azuret Dotujeng, Guia das Almas. - do que quer que me chame, este não é o meu nome.
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Domingo
Um momento de paz. Preciso escrever sobre ele, para lembrar que a vida não é feita somente de batalhas e demônios. Alguns dias são sobre um bom almoço, a chegada de alguém que se ama, um pouco de afeto, gente jogando conversa fora ou até mesmo sobre cochilar depois de terminar alguma tarefa. Tudo depende da importância que se dá. - do que quer que me chame, esse não é meu nome.
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Floresta do Silêncio
Era como naquela vez, mas era agora. Tudo se repetindo e me machucando. Em um segundo era minha casa, minha cama, meu computador, meu gato ? No outro era o ar frio da mata fechada, o chão úmido entre meus dedos, o céu sem lua, o tronco desgastado de uma árvore em minhas costas e o silêncio. Uma ausência de som que parecia crescer de dentro da minha alma, se espalhar por todos os tecidos do meu corpo e se mesclar ao ambiente. Me levantei e andei por uma trilha estreita que se formou a frente dos meus pés, as plantas ao meu redor murchavam e se quebravam, as árvores se contorciam e eu podia sentir a dor delas, porque era a minha. Finalmente alcancei a clareira e antes de ficar confortável com o local, as palavras cortaram o silêncio e meu sangue cortou as membranas, molhando a pele e tornando a terra mais úmida com chuva que jorrava dos céus e dos meus olhos. Então estava de volta, na rua, na escola, no trabalho, com meus amigos, com minha família, com as pessoas que amo; O silêncio saia de mim como na floresta, mas tinha grafia, som e função. Toda vez que era sim e queria ser não, em todo esforço para compreender coisas que me soam absurdas, a cada bom dia forçado e em todas as vezes que respondo que esta tudo bem no lugar de dizer que esta doendo pra caralho. Pior que na maioria das vezes sou eu que faço isso comigo porque é o que acredito que é preciso fazer. Alguém deve carregar esse peso alguém precisa fazer o que ninguém parece disposto a fazer e tentar ser gentil. E apesar de não haver drogas ou cortes, estou sangrando e esta chovendo, talvez eu só queira que tudo pare. E mais uma vez a floresta ... - do que quer que me chame, esse não é meu nome.
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Carta aos Afastados
Eu afastei eles. Sei que já tinha previsto isso, porém ao medir a distancia entre eu e as pessoas por quem já quis morrer e estar vivo, percebi que não foram eles os culpados. As profecias não me informaram que seria eu a me retirar do meio deles. Eu quebrei o voto que fiz diante do cadáver de uma das relíquias. Muitas mortes vieram depois daquelas, algumas por causas naturais e outras pelas mãos de demônios de carne e sangue. Muitos caminharam pelas vias da mortes e escaparam por sorte, esforço e misericórdia; Alguns ainda voltam as tentadoras margens do rio Aqueronte, seja por desejo ou desespero, mas não tenho mais urgência em impedir sua viagem e as vezes até caminho entre eles as margens de Cocito. Eu não sei manter contato com seus corpos distantes. E já faz tempo que nossos caminhos são confusos; Nos levando a realidades dispares e assimétricas. A desordem que me deu tudo que me é precioso também é o sabotador que invade minha fortaleza, incendeia alas inteiras e destrói alicerces com explosivos disfarçados de oportunidades. Os anciões tentaram me alertar e eu fechei meu coração para eles; Agora vejo que não se pode ter todos. Eu, talvez esteja perdido para todo sempre. Talvez seja forçado a aceitar e viver no vazio pelo resto dos meus dias vagando por lá ou por aqui. Talvez eu não permita que me salvem por meu orgulho, por minha insegurança ou por coisas banais e crepitantes.. Talvez eu não confie em ninguém. E talvez a incerteza seja a única coisa certa. - Do que quer que me chame, esse não é o meu nome.
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