Essa noite não deveríamos retornar a tudo aquilo que nos afundou
Mas essa insistência torta, a prece feita no bater da porta
A dor em constância, dar a importância, que não nos cabe a tolerância
que o prazer liberta...
Nada mais é sussurrado, o que já foi prioridade, agora está por todo lado
E a falta, nada mais que uma culpa vazia que insistimos em guardar
O tempo quando não se sabe aproveitar, e a idade chega, há quem lamente, há quem não aguente mais por esperar...
De alguma maneira, logo estaremos todo juntos, num mesmo lugar
Onde nem os livros libertam, e as palavras saem como ponta de agulha
Que fere, machuca, e há de quem se orgulha, ao olhar nos olhos daquele que insiste em implorar...
Chega o tempo da angústia, da fé que soluça, tristeza abrupta
Abraço frio de quem já se foi...
E não há mais espaço, todo poço é raso, nada é por acaso
Foi por descompasso, o mundo se indispôs.
Quando o brilho desse alvorecer chegar, gostaríamos de não poder ver
Em alguma época, que mesmo quase remota
Os que ali estiverem, carregando marcas que nunca irão sarar
E ai daqueles que resolveram apostar...
A ignorância e o desespero, o pavor e o medo
A insignificância de tudo aquilo que já foi apego
A mudança repentina que nos fez desistir
Reconhecer e permitir...
Que aquele dia seja o dia, em que o dia desapareceu
Seja noite ou meio dia, seja sonho ou fantasia
Após a luz que irradia, e o som que ensurdecia
De repente... toda a vida aconteceu.
O Lar do Alvorecer Marlene Nobre desde 1963 dá suporte assistencial e educacional para populações carentes. Conheça este trabalho inspirador.
Conheça o trabalho inspirador do Lar do Alvorecer Marlene Nobre.
O Lar do Alvorecer Marlene Nobre é uma entidade assistencial que está sediada em Diadema – São Paulo, e desenvolve várias ações junto à comunidade carente da localidade.
Fundada pela médica paulista Dra. Marlene Nobre e seu irmão – Paulo Rossi Severino, ambos presidiram a instituição, até os respectivos falecimentos, em 2015 e…
No alvorecer de um dia, você foi o meu raio de sol. Nas noites mais escuras, você foi a luz da lua. Talvez você não entenda o teor dessa mensagem, ela tem toques de saudade, que você não pode ver. Andarilha da vida, filha do mundo, olhos no além, me sinto tão perdida, aquém. Talvez nessa miragem, eu encontre a sua imagem e possa te ver pela última vez. Eu sei que você não entende o teor dessa mensagem, com toques de saudade, abro agora o coração. Fui andarilha dos sentimentos, indo e vindo com o vento, a brisa suave hoje me mostra a direção. Você foi o sol e a lua, e o teor dessa mensagem talvez te toque à flor da pele, a minha verdade.
Continuando nossa série de posts sobre os protogenoi, volteamos nosso olhar para uma das divindades primordiais mais bem-conhecidas. Hoje, trataremos de falar da Mãe-Noite em pessoa, Nix.
Tendo nascido do Caos na maioria das histórias que narram a cosmogonia, Nix é a primordial da noite, representando o véu obscuro que encobre a terra após o fim do dia. Sua contraparte, Hemera, o Dia, é descrita como sua filha por Hesíodo na sua Teogonia, embora relatos de culto em si refiram-se mais à Éos, a titânide do alvorecer e irmã de Hélio (O Sol) e Selene (A Lua) como fonte inicial do dia, ocupando a função de Hemera nas demais narrativas como contraparte de Nix.
A Deusa é representada, quando em forma física, com uma forma alada e por vezes com uma biga puxada por cavalos. Descrita como consorte de Érebo, as Trevas, Nix governa o ciclo noturno e é a mãe de diversos Deuses e daimones notórios nas narrativas mitológicas.
Descrita como uma Deusa que passa a maior parte do tempo no Submundo quando o mundo está de dia, Nix é uma figura ímpar entre os protogenoi por ter um oráculo na região de Mégara atestado pelo romano Pausânias. Além disso, Homero a representa como uma figura imponente e poderosa, a qual Zeus em pessoa não desejava irritar na Ilíada. Ésquilo, em sua peça Agamemnôn, traz um agradecimento dos personagens por sua vitória em Tróia, honrando Zeus e Nix como trazedores dela, visto que nada ocorre sem a aprovação do Rei dos Deuses e a vitória bélica se deu no período noturno.
Entre a prole notável de Noite, temos diversos autores, como Hesíodo, Hígino e Cícero, que descrevem seus inúmeros filhos: Hipnos (Sono), Tânato (Morte), Moros (Ruína/Sina), as Moiras (Os Destinos), Éris (a Discórdia), Filotes (o Amor Amistoso), Geras (a Velhice), as Eumênides (As Benevolentes, chamadas de Fúrias), Nêmesis (a Vingança), Astra (as Estrelas), os Oneiros (Os Sonhos) e diversos outros Deuses.
Uma das deidades mais curiosas entre os protogenoi, Nix é uma figura envolta em mistério e aparenta ter figurado como uma presença imponente no imaginário dos antigos. Dotada da importante tarefa de trazer a noite, fonte de descanso e perigos igualmente, honremos a Deusa-Noite com o respeito que a ela lhe é devido.
O céu noturno girava sobre ela, pintado com estrelas como um punhado de diamantes soltos. Não era preto, mas de um tom azul-violeta — a cor que antecipava o alvorecer.
Narin não tinha conseguido dormir.
A cama, que em outras noites era um refúgio confortável e acolhedor, nesta tinha parecido sufocante. Estava quente demais, macia demais, e mesmo o farfalhar incessante dos lençois a tinha irritado.
Mas o desconforto em nada tinha a ver com sua cama, a mesma há mais de dez anos, no espaço junto à janela do chalé. Havia uma urgência corroendo-a por dentro, um incômodo que ia além de sua pele e se espalhava em seu peito como raízes sufocantes. O quarto estava mergulhado em silêncio quando Narin se levantou, um tipo de quietude que fazia seu coração bater mais rápido ao invés de acalmá-lo.
Vinham sendo dias silenciosos desde a mensagem de Hermes, que ainda ecoava na mente de Narin. O rei e a rainha do Submundo caíram, ele tinha proclamado, como uma sentença que Narin sentia começar a pesar sobre ela.
Por quase toda sua vida, sua mãe fora apenas uma presença distante, algo etéreo, uma sensação peculiar alojada em seu peito e, por mais que não compreendesse a origem daquele sentimento, ele tinha se tornado parte dela. Agora, porém, tudo o que sentia era um vazio insuportável.
A morte já havia cruzado seu caminho muitas vezes — ela conhecia a sua frieza e estava, de certo modo, acostumada a ela. Mas aquilo era diferente. Era como se, dessa vez, no lugar da tristeza familiar que ela conhecia tão bem, houvesse apenas um buraco vazio.
Sem sono e com a mente tomada por preocupações, Narin se dirigiu à arena de treinamento. Era estranho ver o lugar envolvido em silêncio; deu-se conta de que preferia o som das espadas de madeira se chocando, da vida acontecendo. Pela primeira vez em anos, ela se sentia vulnerável, impotente. Acostumada a agir, a simples ideia de esperar era uma tortura. E agora, nada parecia estar sob seu controle.
Desde que chegou ao acampamento, havia se dedicado a aprender como ser uma boa combatente. Embora seus poderes a ajudassem, havia algo no confronto físico que a fascinava. O tilintar dos metais, os movimentos precisos e graciosos que lembravam um balé letal — para Narin, aquilo era uma forma de arte. Era extasiante, estimulante. Mas, apesar de todo o esforço que depositara ao longo dos anos, a sensação de fraqueza agora se agarrava a ela. Não era apenas uma questão de força física, mas algo mais profundo. Esperava que os treinos intensos e todo seu esforço fossem o bastante para driblar as amarras que a maldição tinha posto sobre ela.
O chicote estranho não parecia se ajustar à palma de sua mão. Suas tiras feitas de fibra teimavam em se enrolar enquanto traçavam seu caminho pelo ar. Tinha um peso diferente de Ankáthi que, àquela altura — ou pelo menos antes de tudo — era como uma extensão de seu próprio corpo. Enquanto adornava o braço de Narin na forma de um bracelete, a arma parecia cintilar.
O boneco sem rosto a encarava na penumbra, esperando uma oportunidade para espalhar o que restava de suas entranhas — palha seca e estopa. Estava meio torto, como se o responsável por organizar a arena no dia anterior tivesse tido pouco interesse em alinhar seus membros.
Narin suspirou, buscando equilíbrio entre o fôlego e a concentração. A frustração acumulada pelas últimas semanas parecia queimar em suas veias, pedindo para sair, e ela fez o que estava treinada a fazer: canalizou essa energia para o movimento. Com um gesto firme, ergueu o braço, deixando o chicote deslizar no ar com um silvo agudo. O couro se curvou antes de se esticar em um arco, cortando o ar.
A ponta do chicote encontrou seu alvo com um estalo. Estava longe de ser seu golpe mais preciso, mas ainda assim, o impacto cavou um talho profundo na estrutura do manequim, exibindo uma parte de seu recheio. Um sorrisinho satisfeito brincou em seus lábios, seu rosto se iluminando com uma nova carga de adrenalina. Pelo menos a sensação ainda era boa.
Repetiu o movimento, vez após vez, aperfeiçoando-o a cada golpe. O chicote dançava no ar e, a cada estalo, Narin tentava ajustar o ritmo, entrando em sintonia com as tiras de couro.
Cada golpe carregava o peso de uma memória, como se a cada curva sinuosa de sua arma improvisada fosse uma libertação de tudo o que ela guardava dentro de si. Pela primeira vez, Narin se sentia grata por ter tantas memórias às quais se apegar. Era nelas que encontrava força — mesmo nas mais dolorosas. Principalmente nelas.
O sol já havia nascido quando, arfando, Narin largou o chicote. O som distante das trombetas do acampamento ecoava no ar da manhã, junto do burburinho que começava a crescer. Para um dia que só começava, ela estava exausta. Seus músculos queimavam, estava dolorida, faminta e o suor fazia seu cabelo se encaracolar ao redor do rosto.
Na boca, a insatisfação com seu desempenho deixava um gosto amargo. "Não se cobre tanto", Aylin teria dito, se estivesse ali. Mas ela não estava. E aí estava a maior de suas insatisfações.
Mas aquilo era, ao menos, um primeiro passo. Talvez não fosse perfeito, talvez não fosse o bastante — mas era um avanço. Um começo. E se havia uma coisa que Narin sabia fazer bem, era recomeçar.