Câmera da Central de Controle do Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre. Foto: Central de Controle do Aeroporto Salgado Filho/YouTube
OVNIs voltam a ser avistados por pilotos no Rio Grande do Sul: Uma nova onda ufológica ou apenas confusão com o Starlink de Elon Musk?
Por Cláudio Tsuyoshi Suenaga
Eleições, Copa do Mundo, Cúpula do Clima da ONU e outros eventos globais de monta compuseram o caldo em que se fermentou este surto de OVNIs que pode vir ou não a explodir como uma nova onda de grandes proporções, como as que tivemos em anos como os de 1982 e 1986, aliás igualmente de Eleições e Copa do Mundo. É como se os ufonautas estivessem a acompanhar tais atividades de perto. Seja como for, as manchetes dos veículos oficiais de imprensa e dos ufólogos blogueiros e youtubers soam como uma repetição do que já tivemos tantas vezes no passado, a começar pelo final de outubro de 1954, quando avistamentos massivos de OVNIs foram reportados no Rio Grande do Sul, principalmente sobre a Base Militar de Gravataí (hoje Canoas) por parte de militares, pilotos, controladores de voo e da população civil, fato amplamente noticiado pela revista O Cruzeiro. Eis então que eles voltaram: são os tais OVNIs.
SÁBADO, 22 DE OUTUBRO
Tudo teria começado já no final de outubro, no sábado, dia 22, quando pilotos da Azul Linhas Aéreas que conduziam um voo comercial de São Paulo para Porto Alegre, relataram a presença de luzes não identificadas durante conversa com técnicos do Aeroporto Internacional Salgado Filho, em Porto Alegre. Porém, segundo o controle de tráfego aéreo, não havia nenhuma outra aeronave nos radares naquele momento.
Em um vídeo no YouTube que mostra o movimento do Aeroporto Internacional Salgado Filho, na capital gaúcha, ouve-se a conversa do comandante do avião Airbus A320-251N, voo 4517, da companhia aérea Azul, com a torre de controle de tráfego aéreo.
"Você poderia informar quando as luzes sumirem?", pergunta a operadora da torre de comando. "Agora apareceu novamente", responde o piloto. "O que eu posso informar é que é como se fosse o farol de uma aeronave, fazendo um 360 (uma curva completa). Por isso, perguntei sobre informações de defesa aérea". O piloto do voo 4517 comenta que "não existia um padrão de circuito de tráfego" no movimento da luz, tratando-se de "um movimento aleatório", e reporta que a luz "aparece e some, aparece e some, várias vezes". Confira:
Ato contínuo, ao ser questionado novamente pela torre de comando do aeroporto, o piloto explica que a luz passou a fazer um "movimento aleatório". Minutos depois, os pilotos relatam que a luz acompanha por um tempo a aeronave lateralmente quando, em dado momento, se afasta em direção à Lagoa da Conceição.
SEXTA-FEIRA, 4 DE NOVEMBRO
Na sexta-feira, 4 de novembro, passageiros de um voo 4248 da companhia Azul Linhas Aéreas que saiu do Rio de Janeiro às 21h30 e pousou às 23h30 em Porto Alegre disseram que o piloto e o comissário de bordo da aeronave em que estavam avisou que viu objetos luminosos no céu da capital gaúcha.
Dois passageiros ouvidos pelo jornal Zero Hora explicaram que apesar do voo ter sido tranquilo e sem turbulências, causou estranheza pelo fato do piloto não ter se comunicado com os passageiros antes da aterrissagem.
"Demorou um pouco para o avião pousar, e normalmente o piloto dá aquelas boas-vindas, mas desta vez não falou nada. No momento em que pousou, o piloto pediu desculpas porque haviam visto objetos não identificados. Ele falou que eram vários, no sentido da Lagoa dos Patos", disse o empresário Eduardo Corrêa da Silva, de 48 anos.
"Foi comentado pelo piloto que vários outros voos haviam visto a mesma coisa. Quando eu saí do avião perguntei para o comissário de bordo se ele tinha visto. Ele disse que sim e que eram vários objetos", acrescentou o passageiro, segundo o qual a tripulação afastou a hipótese de serem drones, devido à altura onde os objetos foram vistos.
Outra passageira do mesmo voo, Bruna da Silva Porto, de 30 anos, confirmou o relato: "Depois que nós pousamos, antes de a tripulação liberar os passageiros para pegarem as malas, o piloto pediu desculpas por não ter falado conosco antes do pouso, já que eles teriam reportado objetos voadores não identificados e estariam relatando para a torre de controle naquele momento", explicou em entrevista à Zero Hora.
"Ele (piloto) mencionou que perceberam os objetos quando passamos pela Lagoa dos Patos. E ainda falou que se a gente ver alguma notícia poderá relatar que estava nesse voo", explicou Bruna. Nenhum dos entrevistados pela Zero Hora, no entanto, disse ter visto os OVNIs pela janela do avião.
SÁBADO, 5 DE NOVEMBRO
O primeiro reporte oficial foi feito por volta das 23 horas de sábado, 5 de novembro, por dois pilotos de companhias aéreas diferentes que sobrevoavam Porto Alegre. O voo Latam 3406 deixou o Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, às 21h55, e pousou em Porto Alegre às 23h31, e o voo 4657 da Azul, saiu de Belo Horizonte por volta das 21h25, com chegada em Porto Alegre às 23h42. Ambos relataram à torre de controle terem visto luzes não identificadas se "cruzando" ao sul da cidade.
O diálogo entre os dois comandantes com a controladoria de tráfego aéreo foram gravadas por um canal do YouTube que registra a comunicação da Central de Controle do Aeroporto Salgado Filho, e logo começou a circular nas redes sociais. Confira no vídeo abaixo:
"Por gentileza, só por curiosidade, tem algum 'reporte' de algum objeto na posição de 10 para 11 horas, praticamente sobre Porto Alegre, um pouquinho ao sul?", questiona o piloto do voo 3406 da Latam. Ao receber resposta negativa da atendente, ele continua: "Umas luzes, às vezes apagam, acendem. Tem umas luzes. Por vezes, elas apagam, acendem. Às vezes são uma, às vezes são duas ou três."
Alguns minutos depois, o piloto volta a falar com a central: "A gente continua avistando as luzes. Agora, de uma outra perspectiva ela está bem ao sul de Porto Alegre, sentido Argentina. As luzes continuam aparecendo e se cruzando no céu."
Questionado pela controladora, um outro piloto, este do voo 4657 da Azul, responde ter avistado as mesmas luzes desde o aeroporto de Confins, em Belo Horizonte, mas que não queria falar nada para não ser rotulado como doido: "Ah, ia informar vocês, mas iam falar que estou louco. Na verdade, estamos vendo essas luzes desde lá de Confins. São três luzes girando em espiral entre elas, bem forte", afirmou. "Estavam bem mais alto que a gente."
Pode-se ouvir na íntegra a conversa entre o comandante do avião Airbus A320-251N, voo 4517, com a torre de comando: "Você poderia informar quando as luzes sumirem", pergunta a operadora. "Agora apareceu novamente", emendava o piloto.
A equipe da torre de controle do Aeroporto Internacional Salgado Filho não detectou outro avião no radar, de maneira que as tais luzes acabaram sendo classificadas como OVNIs. As companhias aéreas, porém, quando questionadas, e como é de praxe, saíram com esquivas.
Questionada pelo jornal Zero Hora, a Azul respondeu que "seus tripulantes seguem os mais rigorosos protocolos de segurança e que qualquer eventualidade é comunicada imediatamente ao controle de tráfego aéreo e segue para investigação das autoridades competentes".
Ao jornal O Estado de S. Paulo, a Latam apenas informou que "seus tripulantes são treinados e orientados a reportarem qualquer eventualidade de forma imediata ao controle de tráfego aéreo para as devidas orientações". E complementou: "A companhia reitera que segue os mais elevados padrões de segurança, atendendo aos regulamentos das autoridades nacionais e internacionais".
Confira o diálogo completo entre os pilotos e a torre:
Piloto da Latam: "Só para informação, a gente ainda continua avistando as luzes. Agora, de uma outra perspectiva, ela está bem ao sul de Porto Alegre, da cidade. Bem ao sul, sentido Argentina, sentido sul do estado. E elas são azuis e continuam aparecendo e se cruzando no céu".
Torre: "Estou ciente. O pessoal da torre informou que também avistou, porém, dizem que elas estão paradas. E a princípio, não interferem na aproximação".
Torre: "O Azul 4657 tem condições de informar se avistou alguma luz no setor sul de Porto Alegre?".
Piloto da Azul: "Ah, eu ia informar vocês, mas ia falar pelo... Na verdade, a gente tá vendo essas luzes desde lá de Confins. São três luzes girando em espiral entre elas aqui, bem forte".
Torre: "Ciente. Teve um reporte de aeronave que se aproximou anteriormente. Obrigada pela informação. O senhor tem condições de informar a altitude mais ou menos?".
Piloto da Azul: "Olha, a gente estava no nível 380 e elas estavam bem mais altas que a gente e na nossa proa, durante o voo todo".
TERÇA-FEIRA, 8 DE NOVEMBRO
Cinco pilotos de voos comerciais avistaram na noite de terça-feira, 8 de novembro, novas luzes não identificadas próximas ao Aeroporto Internacional Salgado Filho, em Porto Alegre. O primeiro voo que reportou as luzes à Torre de Controle foi o de um Gol que ia de São Paulo até a capital gaúcha. Em uma conversa registrada por uma transmissão ao vivo do canal do YouTube Câmera Pôr do Sol Guaíba, é possível ouvir a conversa entre o piloto do avião e um funcionário do aeroporto.
"O senhor reportou luzes no terminal de Porto Alegre?", pergunta o funcionário. "Afirmo", responde o piloto. Na sequência, o funcionário da Torre de Controle pede para que o piloto entre em contato com a Defesa Área, "o quanto antes".
Minutos depois, por volta das 23h40, outros quatro pilotos de diferentes companhias aéreas também relatam para a Torre de Controle o avistamento de luzes não identificadas em menos de um minuto.
Acompanhe a conversa:
Piloto 1: Tem uma luz avistada aqui na proa 240, distante aqui. A gente já está avistando faz tempo.
Torre: Efetuar filmagens, a fim de permitir a análise do padrão de movimento do objeto avistado.
Piloto 1: Eu tentei, mas não sai no celular, não.
Piloto 2: O voo 1928 também está observando a mesma luz na posição de uma hora, aproximadamente, um pouco acima da linha do horizonte.
Torre: Ciente. Gol 1928 também, se possível, dentro da segurança, efetuar filmagens a fim de permitir a análise do padrão de movimento do objeto avistado.
Piloto 3: O Azul 9117 faz o mesmo reporte dos colegas aí.
Torre: Ciente. O Azul 9117.
Piloto 4: O TAM também acompanha.
Torre: Ciente. TAM 3408.
Confira o vídeo:
Ao UOL, a Força Área Brasileira (FAB) garantiu que não houve registro de OVNIs no espaço aéreo do estado: "Nos últimos dias, o controle do espaço aéreo ocorreu dentro da normalidade, não havendo registro de ocorrência aeronáutica no Estado do Rio Grande do Sul. Nenhum objeto desconhecido foi identificado pelos radares de defesa aérea".
Nas redes sociais, moradores de Porto Alegre também estão relatando luzes desconhecidas no céu da cidade durante à noite.
Em Torres, litoral do Grande do Sul, uma cinegrafista registrou o fenômeno no mesmo intervalo de horário do relatado pelos pilotos em Porto Alegre.
O culpado seria Elon Musk? Mick West explica a onda de OVNIs no Brasil como resultante da confusão com o Starlink-Racetrack Phenomenom
O pesquisador cético britânico Mick West, programador aposentado de videogames, investigador e desmascarador de fenômenos paranormais e ufológicos e teorias da conspiração, autor do livro Escaping the Rabbit Hole: How to Debunk Conspiracy Theories Using Facts, Logic, and Respect e criador dos sites Contrail Science e Metabunk, não demorou a dar seu parecer sobre as luzes avistadas em Porto Alegre com base em um vídeo gravado nos Estados Unidos por um garoto chamado Jimmy Church, que registrou luzes no céu com padrões semelhantes aos dos pilotos brasileiros.
Mick West
A conclusão de West é que essas luzes não passam da luz do sol incidida na parte inferior do satélite Starlink, em um fenômeno conhecido como "Starlink-Racetrack Phenomenom" ou “Starlink Flare”.
West, que tem sido chamado erroneamente pela imprensa de "ufólogo", quando na verdade é um debunker, faz um apelo para que todas as companhias aéreas sejam avisadas sobre isso, pois um engano ou confusão pode atrasar a comunicação entre a torre de comando e o avião e causar graves acidentes.
O culpado, em última instância, seria então Elon Musk, o bilionário dono, entre muitas empresas, da SpaceX, responsável pela divisão de internet via satélite, a Starlink, que possui nada menos do que três mil satélites orbitando o planeta a uma altitude de "apenas" 550 quilômetros, o que faz com que sejam visíveis a olho nu, ocasionando o fenômeno, aludido por West, do "Starlink-Racetrack Phenomenon" ou “Starlink Flare”, que ocorre quando a luz do sol reflete na parte debaixo dos satélites.
Segundo West, exatamente nesta época do ano esse fenômeno é mais facilmente observado a partir de grandes altitudes por pilotos por conta da angulação na qual a luz do sol reflete no satélite.
Confira os vídeos explicativos de West postados em seu canal no YouTube e em seu site Metabunk:
Até agora, passadas três semanas do início dos avistamentos em Porto Alegre, a Força Aérea Brasileira (FAB), responsável por monitorar o espaço aéreo do país, não confirmou oficialmente qualquer aparição.
A onda se disseminou em vários estados brasileiros e relatos de luzes estranhas no céu têm pipocado nas redes sociais, em especial no Twitter. Ufólogos, entusiastas e diletantes não perdem a oportunidade e já saem pregando enfaticamente que esse OVNIs são na verdade aeronaves alienígenas, enquanto que cristãos conservadores os interpretam como enganações diabólicas ou sinais iminentes do Apocalipse e da vinda do Anticristo. Fiquemos atentos aos desdobramentos.
Fontes consultadas:
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