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#editora vestígio
leiathejules · 1 year
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Eu Terei Sumido na Escuridão, de Michelle McNamara [Resenha]
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Faz muito tempo que não escrevo nada sobre o que leio, mas o impacto que este livro, “Eu Terei Sumido na Escuridão” teve sobre mim me fez pensar que seria bom escrever sobre.
Quando decidi parar com meu blog e abandonar as parcerias com editoras e aquela obrigação inerente de ler o que eles propunham e falar sobre, senti um alívio, uma satisfação incrível em poder ler o que queria, no ritmo que queria e, o que era melhor a época: sem contar nada pra ninguém.
Algumas vezes tive diante de mim leituras que me preencheram de diversas formas, mas que, por um motivou ou outro, sentia certo entrave na hora da falar sobre - talvez um stress ou descontentamento residual dos meus quase dez anos de blog - e acabava deixando de lado.
Mas desta vez é diferente.
Comecei a ler “Eu Terei Sumido na Escuridão”, da autora Michelle McNamara, publicado no Brasil pela Vestígio, sem ter nenhum background sobre o que se tratava, sem ter lido a sinopse, ou seja, estava livre de expectativas de toda e qualquer forma.
E como isso foi bom.
Em seu livro, a autora relata sua busca a um assassino em série que, apesar de ter passado mais de dez anos ativo, e ter cometido, segundo as investigações policiais, cerca de cinquenta estupros e dez homicídios, acabara ficando um pouco a margem da atenção da mídia, sendo pouco discutido.
No livro a autora detalha o modus operandi do criminoso, que invadia as casas durante a madrugadas para cometer seus crimes, após passar certo tempo analisando o local e estudando suas vítimas (após os ataques, e olhando em retrospectiva, as vítimas e alguns vizinhos conseguiam detectar objetos faltando ou fora do lugar, pegadas no quintal, cerca “amassada” parecendo ter sido pulada).
O primeiro casal que visou foi acordado com o clarão de uma lanterna de lente quadrada ofuscando seus olhos.
Algumas vítimas, relatavam ainda terem recebido, nas semanas que antecederam ao ataque, ligações em horários esparsos, em que a pessoa do outro lado da linha desligava imediatamente após atenderem ou então ficava em silêncio, com a vítima apenas ouvindo uma respiração, como se o criminoso estivesse monitorando os horários em que haveria alguém na casa.
A autora descreve a escalada da violência, com o criminoso - que a autora chama de Assassino de Golden State, termo que populariza através de um blog na internet que ela mantinha, sobre crimes não solucionados - passando do abuso sexual da vítima, sempre uma mulher sozinha, ao ataque a casais, e, conforme os crimes ganhavam destaque na mídia e após uma tentativa de ataque frustrada, o assassino passando a executar suas vítimas após a agressão sexual. Quase como se aquilo que antes o satisfazia não fosse mais o suficiente: à medida que ele aprimorava suas técnicas e se mantinha impune, suas “necessidades” também mudavam.
Os detalhes de como o criminoso atuava são de arrepiar os cabelos, a autora teve acesso a milhares de documentos, inclusive depoimentos das vítimas contando a pressão psicológica que o assassino impunha a elas.
A mais cruel, pra mim, consistia em o assassino, após abusar da vítima, vendada, ficar em completo silêncio, de modo que, quando a vítima respirava aliviada, imaginando que ele já teria ido embora, ele se aproximava de repente, fazendo-se sentir presente novamente.
Outra característica de suas ações era dominar os maridos/namorados das vítimas, fazendo com que as mulheres os amarrassem e que eles ficasse deitados, de bruços. O criminoso então colocava louça, como uma xícara e um pires sobre as costas do homem, dizendo que, se ele ouvisse o barulho da louça se mexendo, mataria a mulher.
O livro tem uma prosa cadenciada, informativa, factual, disposta de forma que a cada página somos guiados pela narrativa extremamente competente da autora, e conseguimos imaginar os fatos como aconteceram e temos uma visão de tudo como se estivéssemos acompanhando as investigações de perto, torcendo pelo desfecho positivo do caso, como apenas os melhores livros da literatura policial podem nos proporcionar.
No caso de “Eu Terei Sumido na Escuridão”, a autora, Michelle McNamara, não viu sua conclusão, tendo falecido enquanto dormia, alegadamente de problemas causados pelo stress trazido pela investigação que conduzia para o livro.
O trabalho foi finalizado por um editor, contratado pelo marido da autora, e por companheiros dela, que compartilhavam com ela a missão de trazer a tona a identidade do Assassino de Golden State.
Recomendo fortemente a leitura, as duas primeiras partes do livro são escritas de forma genial, e as demais, apesar de terem ficado inconclusas dado o falecimento da autora, complementam o cenário de forma competente.
Segundo li, o livro deve virar uma docusserie da HBO. O livro foi adaptado para uma docussérie já disponível na HBO Max.
E, para um desfecho ainda melhor, o Assassino de Golden State foi finalmente preso, em 2018, graças a resíduos de DNA deixados nas cenas dos crimes.
★★★★☆
Ficha Técnica: Eu Terei Sumido na Escuridão Michelle McNamara Editora Vestígio 352 páginas Título original: I'll be gone in the dark Tradução de Luis Reyes Gil
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nominzn · 1 year
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The Story Of Us III
— Um amor real, Renjun Huang. Primeiro Ato: You Are in Love.
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notas: caras, o tempo tá passando muito rápido. já é o terceiro cap de the story of us! esse romance vai dar o q falar. espero q gostem! <3
SUGESTIVO
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No último período da faculdade, o peso de mais uma mudança enorme caiu sobre seus ombros. Desfazer-se das memórias que recolheu no dormitório, mergulhar de cabeça no oceano das possibilidades infinitas do universo adulto. Precisa de um trabalho, mas a área que quer é tão complicada. Precisa construir a própria vida, mas dar o primeiro passo é impossível quando não se sabe aonde vai.
Conseguiu uma entrevista completamente inesperada para uma vaga na equipe de edição na editora Scarlet, a maior do país, que abriria uma nova filial no Centro da cidade em alguns meses. Obra da senhora Hayden, sua mentora.
— Você já se decidiu, senhorita? — Ela pergunta ao final da aula, te segurando por uns minutos com ela.
— Ainda não… — O suspiro que deixa sua boca é de pura tensão. — Até quando preciso dar uma resposta?
— Bem, o mais rápido possível. — Ela tem um olhar severo. — Só existe uma resposta certa, você sabe.
Claro que sabe o que está na mesa: o mínimo de certeza sobre um futuro, um começo estável. Além, é óbvio, de não desapontar a professora experiente e respeitada no ramo literário, que te indicou para esse processo.
— Sim, sim… é verdade.
— Filha… eu sei que é difícil tomar uma decisão. Mas é necessário arriscar, sim? — Ela deposita uma das mãos no seu ombro, e você enxerga além do lado profissional agora. — Talvez você se encontre na edição, ou não. Porém, é o que você tem de concreto agora. É tudo que você precisa.
Concreto. A palavra bate bem na sua mente e ecoa. A mulher percebe uma chave virar através dos seus olhos distantes e aproveita para revelar o tanto que os entrevistadores gostaram de você, além de mencionar o seu talento para a escrita. É bem verdade que você quase não escuta, mas dentro de si, a decisão está tomada. É prudente que faça o necessário e derrube o castelo de cartas no seu interior.
— Eu vou! — Você declara, sorrindo nervosa, mas ao mesmo tempo animada pela felicidade que nasce no rosto maternal da professora.
Os meses seguintes foram preenchidos pelas despedidas e promessas de amizade para sempre, pelo fim de um mundo e pelo início de outro, o mundo real. Mudou-se para perto do trabalho, bem no coração da cidade que se tornou seu lar. O ponto de vista outrora com vestígios de conto de fadas é iluminado pela luz ofuscante da vida extraordinariamente comum.
Escarlate
Dizer que você mudou muito seria te subestimar. No entanto, primeiros dias ainda te deixam agoniada. Chegando no prédio alto e moderno, você já era aguardada por um estagiário que te ajudou no cadastro obrigatório e também te entregou o crachá individual para liberar a entrada cotidiana.
A editora se instalou em três dos andares do edifício comercial, mas você só ganharia um tour pelas áreas depois de conhecer o editor chefe do gênero literário, o foco da nova filial. Seus olhos percorrem todo canto que conseguem, a curiosidade e o senso de observação conduzem todos os seus movimentos. Chegando no escritório, dá de cara com um homem jovem, bonito, com os fios propositalmente desgrenhados moldando o rosto amigável e sorridente.
— Bem-vinda ao time, é um prazer te receber. Eu sou o Kun. — Estende a mão para te cumprimentar num aperto firme. Ele não é nada do que esperava de um chefe, o que é positivo. O olhar terno e descontraído desfaz um pouco do seu nervosismo.
— Obrigada pela paciência, Kun. — Pensou até em chamá-lo de senhor, porém, achou que não seria natural. Ele não protestou, tudo certo.
O líder então libera o garoto mais jovem para voltar ao trabalho e esfrega as mãos com animação.
— Pronta pra conhecer tudo por aqui? — Ele oferece mais um sorriso na sua direção, provavelmente percebendo que está um pouco desorientada. Você assente, tentando corresponder a mesma energia. — A gente gostou muito de você, a professora Hayden falou tanto do seu talento. — Ele abre a porta de vidro, movimentando a cabeça para que entrasse. — A sua função vai ser ler muito, é claro, mas também… — Ele interrompe o caminhar e se volta para você. — ser o meu braço direito.
A expressão na face dele é engraçada, te faz soltar ar pelo nariz numa risada contida. Kun te acompanha, aliviado por ver uma expressão que não a de susto nos seus traços.
— Tudo bem, vou dar o meu melhor. — Você garante, sem mentir. Daria mesmo. Apesar de ser naturalmente desconfiada, algo em Kun te faz acreditar que ele é uma pessoa pura, boa, transparente.
Passeiam pelos dois andares rapidamente, ele explica qual departamento faz o que e te apresenta para alguns colegas de trabalho. No terceiro e último, ele te orienta sobre a dinâmica da divisão da área. O andar era compartilhado com edição e marketing, o que não é comum, mas devido ao ambiente espaçoso, não causaria problemas.
— É basicamente isso. Logo vai ter a festa de…
— CHEFE! — Uma outra voz masculina é ouvida de longe. Girando o corpo à procura do som, veem o garoto correndo de encontro ao par.
Ele chega um pouco ofegante e com as bochechas quentes, quase de cor escarlate. O cabelo curtinho deixa o rosto harmonioso em evidência, e o estilo impecável forma o combo perfeito. Adorável, você repara. Ele mostra um painel para Kun, que sorri em aprovação. Era o que o outro procurava e precisava.
— Ficou ótimo, pode enviar. — Kun bate no ombro do menor e olha para você. — Esse é o Renjun, coordenador de marketing. Meio maluco, mas gente boa. — Eles riem, mas Renjun abaixa a cabeça, tímido.
— Liga pro que ele diz não, só quando for ordem de chefe. — Ele finalmente te fita, disfarçando a piada do outro. — Bem-vinda, viu? Precisar de ajuda, só chamar.
Você murmura um pode deixar bem baixo, ainda meio confusa com a dinâmica dos dois, e também intimidada pela beleza de Renjun. Ele definitivamente notou algo diferente, o sorriso pretensioso denuncia. Quem interrompe a troca de olhares é Kun, dizendo que precisam seguir com a programação do dia.
Não foi muito difícil. Começou a corrigir uma trilogia de fantasia bem gostosinha de ler, então o tempo passou bem rápido. No horário do almoço bateu perna pelas lojas próximas que já conhecia e não foi tão perrengue para ir embora, a maior vantagem de morar perto. A jornada à frente parece mais excitante do que ontem.
Vinho
A festa de inauguração da nova filial é muito maior do que você pensava, mas pelo menos a roupa que escolheu é adequada ainda. Enquanto entra no saguão lotado, repara nas luzes que pareciam gotas de chuva saindo do teto, e é claro que há dúzias e dúzias de propagandas da editora e seus parceiros por todo lugar. Ouve uns amigos conversando ao aproximar-se do bar, eles dizem que todas as equipes de todas as filiais foram convidadas, por isso a quantidade de gente.
Pede um drink leve só para começar a noite, passando os olhos pelo lugar novamente, à procura de um canto menos caótico para aproveitar a festa por uns momentos e ir embora logo — planeja só marcar presença.
Vê Kun apoiado no balcão, seus olhares se cruzam e ele te cumprimenta com um sorriso. Senta-se no banco vazio ao seu lado depois de encurtar a distância entre os dois.
— Em minha defesa eu não sabia que seria enorme assim. — Ele diz, pensando o mesmo que você. Sua cara te denunciou?
— É uma senhora duma festa. Pelo menos tá regada, né? — Encosta seu drink no dele, pegando-o de surpresa com o brinde. — A gente tem que fazer a linha profissional ou…?
— Você pode se divertir já. — O rapaz toma um gole controlado do drink mais fraquinho do menu. — Eu tenho que esperar até a apresentação dos líderes.
Você ri ao vê-lo revirar os olhos, claramente odiando a ideia de estar em evidência esta noite.
— Bom, então eu vou começar por você. — Levanta do banco porque encontrou o lugar perfeito. — Te vejo depois?
Ele assente e também segue outro rumo. Precisa fazer sala para os outros chefes até que a tal apresentação aconteça.
Caminha concentrada em direção ao oásis que te espera, mas então sente algo empurrar seu braço e seu cardigan branco molhar. Mal teve tempo de processar, só viu a mancha vinho na peça.
— Desculpadesculpadesculpa. Mil perdões. — O desconhecido que é, na verdade, Renjun, pede em arrependimento.
— Tá tudo bem, sério. — Já está com calor mesmo, portanto tira o casaco fino enquanto equilibra o copo numa das mãos. Ele parece reconhecê-la, por fim.
— Ah, a gente se conheceu outro dia, né? — Você balança a cabeça positivamente, apoiando o pano no antebraço e voltando a aproveitar a bebida. A mesa do garoto é a vista da sua, desse modo, o vê todos os dias. Ele, porém, está de costas e sempre precisa correr de um lado para o outro. Compreende que você seja só uma memória distante. — Finalmente um rosto conhecido, só tem gente de outro lugar aqui.
— É verdade! — Exclama após constatar que só consegue ver estranhos em volta de vocês.
— Como reparação pela besteira que eu fiz… — Ele entrelaça seus braços e retoma o caminho que você antes fazia. — Vou te dar o presente da minha companhia. — A verdade é que ele procurava alguém para tirá-lo do tédio.
O banco chique de madeira é muito mais confortável do que a meiuca que somente observam agora. Ele é tão bonito que você mal sabe o que fazer, mas tenta puxar algum assunto.
— Você não é daqui, é? — Você indaga, finalizando a bebida e deixando o copo sobre a mesinha. Ele nega com um hm hm.
— Sou do interior, eu acabei de me mudar. — Ele assiste sua reação surpresa. — Meu processo foi todo online. Eu queria outra cidade, mas vim parar aqui. — Ele bebe mais um pouco do vinho que o garçom o ofereceu há pouco. — E sendo sincero nunca fiz nada de muito interessante.
O jeito que ele confessa isso soa engraçado aos seus ouvidos, então você ri. O olhar dele é um pouco confuso, ainda assim se permite contagiar pelo som. Sem querer repousa a mão no joelho do garoto por um instante, o que só contribui para que fiquem mais leves.
— Mas e você, hein? — Se ele sorrir assim sempre, vai ser difícil focar na conversa.
— Eu já morava por aqui, mas tava na faculdade. — Cruza as pernas e ajeita o cabelo discretamente. Por Deus, é só a segunda vez que se falam. Por que está gostando tanto da atenção dele? — Comecei o processo e vim parar aqui. — Copia a fala anterior de Renjun, que acha graça.
Conversam sobre mais coisas aleatórias, engatando um tópico no outro. O espaço entre os dois já é praticamente inexistente, foram se aproximando quase naturalmente.
São interrompidos pela voz alta no microfone, chamando os líderes para o palco. Renjun e você não movem um dedo, apenas assistem as outras pessoas se amontoando perto dos holofotes.
Então, Kun sobe cambaleante e anda até a posição que lhe era marcada. Ele está alegrinho, se divertiu demais, ao que parece. Os olhos do chefe estão brilhando um pouco mais sob a luz forte, e vocês não seguram a risada chocada.
Quem ri por último, ri melhor. Depois que finalmente foram apresentados, Kun perdeu a linha de vez. Ao passo que o saguão esvazia, vocês dois precisam convencê-lo de que já é hora de ir para casa. No táxi, ele não para de rir. Não consegue nem explicar do que está rindo.
A sorte é que Renjun sabe o endereço dele. O caminho é familiar, e você começa a suspeitar, após uma curva específica, de que sejam vizinhos. Assim que entram na sua rua, checa o GPS no celular do motorista. São mesmo.
Nada é tão ruim que não possa piorar, disse Edward Murphy.
Não são apenas vizinhos de prédio, o apartamento dele é colado no seu. Amaldiçoou-se por não conhecer nenhum dos moradores, foi pega desprevenida.
Kun não parava quieto dentro do elevador, até que ficou zonzo por causa do movimento para cima. Tirou as chaves do bolso com muito custo e te entregou para que abrisse a porta, o outro o ajuda a se equilibrar.
Você espera na sala enquanto eles vão para o quarto. Rapidamente Renjun volta, rindo por causa da situação constrangedora. Não é todo dia que você precisa levar seu chefe alterado para casa. Kun é maravilhoso e tudo, mas ainda é um superior.
Ao chegarem na sua porta, a nuvem embaraçosa ainda persegue o desenrolar da noite.
— Você… — Você começa, sem jeito. Será que ele entenderia errado o convite? — Você quer entrar?
Ele te encara, abre a boca algumas vezes, sem saber o que responder. Ele quer, é claro, mas…
— O cara tá me esperando lá embaixo… — Ele coça a testa, desapontado consigo mesmo, e também meio desconcertado. — E tá meio tarde… — Não queria que você achasse que ele tinha interpretado outra coisa.
— Não, claro. Eu entendo. — Você sorri, abrindo a própria fechadura.
— Mas outro dia? — Ele pergunta antes que você entre, esperançoso.
— Isso… outro dia. Boa noite, Renjun. — Só dá tempo de vê-lo acenar.
Você vai direto para o sofá, soltando o ar que prendeu sem perceber. Algo nele tinha mexido contigo, não consegue parar de repassar as piadinhas e de pensar no sorriso solto do menino. Não queria confundir as coisas, mas garotos engraçados te desmontam fácil.
Ele, por sua vez, mal podia acreditar que realmente tinha recusado a oportunidade de passar mais um tempo na sua companhia. Tudo bem. O que tiver de ser, será.
Depois desse dia, Renjun nunca mais te deixou. Os meses se apressaram enquanto ele vagarosamente se tornou essencial. Fez questão de ser o seu confidente no trabalho, quando o calo aperta é para você que ele corre e vice versa. Ele começou a passar um pouco mais de tempo com a cadeira virada para sua mesa, só para te olhar. Por vezes, tomava o celular para enviar uma mensagem boba e te ver segurar uma risada alta. Ficava ainda mais orgulhoso quando você encontrava os olhos dele e sussurrava “você é um idiota, Renjun Huang”. Seria idiota por um longo tempo se fosse para ter sua atenção.
Borgonha
Renjun ficou preso num projeto e perdeu a noção do tempo, leva um susto ao notar que o computador indica 23:45. Não, não, não. Não mesmo. Logo trata de se espreguiçar, aproveitando para alongar as costas. Inevitavelmente espia sua mesa, interrompendo os movimentos ao ver que você ainda está ali também. Parece tão compenetrada, mas não deixaria que você passasse mais um segundo sequer trabalhando.
— Tá doida, mocinha? Pode desligando isso. — Ele ralha, se apoiando no vidro que rodeia sua mesa.
A voz te alarma, porém você relaxa e sorri preguiçosa ao ver Renjun. A verdade é que o livro que está editando é simplesmente a melhor fantasia que já havia lido, te prendeu tanto que nem viu a hora passar.
— Fiquei imersa na estória… Meu Deus, quase meia-noite! — Você boceja, notando que o menino está com dificuldade para abotoar os botões do próprio casaco.
— Ah, para. Todo mundo sabe que você tá querendo se mostrar pro chefinho. — Ele ironiza, rindo provocante, ainda tentando resolver o problema.
— Melhor querer impressionar chefe do que não saber abotoar a própria roupa. — Você se levanta para ajudá-lo. Resolvido em segundos.
— Touché. — Ele passa a mão pela sua e a segura. — Escuta… bora comer? Não queria ir sozinho.
— Hmmm não. — Fala séria, e Renjun revira os olhos. Murmura um pelo amor de Deus em reprovação. — Mentira, bora sim.
É um hobby muito divertido pilhar o garoto porque ele tem pavio curto, apesar de nunca admitir. Ele tagarela durante o caminho curto até o restaurante 24 horas que disse que era ótimo, o que você duvidou de propósito somente para vê-lo retrucar com as opiniões fortes dele sobre o lugar. Para pior a situação, está vazio. Óbvio que é pelo horário, mas sussurra um “xiiiii” que arranca um grunhido indignado de Renjun. Como é bom vê-lo assim, enfezadinho por nada.
— O que você recomenda que eu coma aqui? — Faz uma expressão duvidosa, contudo Renjun ignora porque fica animado com a ideia de te fazer pagar com a língua.
— O quiche de queijo daqui é bom pra cara… Desculpa. — Ele diz, e você o questiona com uma sobrancelha arqueada. — Ah, foda-se. É tu, né. É bom pra caralho o quiche.
— Hmmm, tá. — Usa um tom desconfiado, recebendo um aperto leve na sua cintura. Infelizmente sorri, o que dá confiança para ele. — Vou querer o quiche, então.
Ele pede o quiche do maior tamanho para a atendente, que bate o pedido no computador. Algo mais?
— Cê gosta de chocolate, né? — Ele pergunta quase brigando, você balança a cabeça. — Me vê um brownie com calda quente também. Vai beber alguma coisa?
— Vou querer um tranquilidade de pêssego, por favor. — Você responde direto para a moça paciente.
— Um americano gelado pra mim. — Renjun finge não ver seu olhar de julgamento. Sem nem pensar ele paga o pedido e te leva pela mão para a mesa mais próxima. — “Trinquilidide di pissigo pir fivir” treco ruim. — A sua cara é de puro assombro, a imitação terrível quase te ofende.
— Tá falando isso só porque sabe que eu ia reclamar de você tomando café essa hora. — Desafia o garoto, colocando as duas mãos sobre a mesa. Ele se rende, fingindo estar intimidado.
— Já falei que isso não funciona pra mim, eu durmo que nem anjo.
O pedido chega logo e vocês dividem o garfo para amassar o quiche. Pela fome, terminam mais rápido do que o normal. Teve de dar o braço a torcer, é realmente delicioso. O brownie não fica atrás, a calda quente é a coisa mais maravilhosa que já experimentou. Renjun não joga na sua cara, todavia. Fica bobo te vendo fazer uma dancinha feliz ao comer.
Apesar de cansado, insistiu em te levar em casa e fazer o trajeto a pé. É menos de vinte minutos, além de que nada paga saber que você chegou bem.
O vento é gostoso, revigorante. Espalha seus cabelos para trás, permitindo que Renjun sentisse o cheiro do seu shampoo tão familiar a essa altura.
Há algo que deixa Renjun mais bonito esta noite. Talvez o rosto tocado pela luz do luar, ou só o sentimento crescendo no seu coração. É tão estranho que até evita olhar para o garoto no trajeto, e é claro que ele repara, não é nenhum bobo. Sabe o que vem acontecendo, também sente a mesma coisa. O problema é que ele ainda está inseguro, não sabe se tomar uma atitude agora seria invadir sua privacidade.
Diminuem os passos em frente ao edifício, ele acena para o porteiro que já o conhece. O silêncio que paira não é ruim, mas o garoto o abomina. Esquenta as mãos no bolso do moletom, te encarando na esperança de que o olhe logo. Não o faz. Ele segura um riso, olhando para o céu.
Faz tempo que não vê as estrelas assim, parecem perto demais para ser verdade. Ele admira, boquiaberto. Você ainda olha para todo canto, menos para quem está na sua frente. Morde o interior das bochechas, como sempre faz.
— Olha pra cima. — Ele segreda, cortando seus pensamentos. Hm? Renjun se aproxima, apoiando seu queixo com os dedos e levanta seu rosto delicadamente.
— Nossa, o céu tá perfeito! — Você deixa escapar através do sorriso encantado. Ele não fita mais as estrelas porque quer capturar cada expressão sua.
— Eu ia fazer uma piadinha agora…
Abaixando o olhar, nota a proximidade maior. As íris do garoto te prendem, e o seu peito fica pequeno demais para o ritmo das batidas do seu coração.
— Injun… — Sai mais como um pedido do que como um de seus típicos protestos contra o engraçadinho.
— Esse céu só não tá mais bonito do que você. — Não é uma piada. Era para ser, mas foi tão honesto que não teve nem coragem de trazer o sorriso arteiro aos lábios.
Você costuma ter uma resposta na ponta da língua, então por que está calada agora? Apenas o mira, os olhinhos brilhantes passeando pelos traços de Renjun. Prende a respiração quando ele se aproxima do seu ouvido. É verdade, ele sopra.
Ele quer tanto te beijar, mas se limita a te dar um beijinho demorado na bochecha. Primeiro porque ele adora provocar, segundo porque só te beijaria quando tivesse certeza do seu querer também. Um arrepio percorre seus braços escondidos pela jaqueta, e é quando você percebe que é real: está apaixonada.
— Amanhã a gente se vê. — Despede-se quase encostando as pontas dos narizes, torturando a si próprio. E então ele vai embora, te deixando confusa e pensativa.
Dormir não é fácil quando tudo que se faz é pensar em Renjun Huang.
Tantas coisas aconteceram ou deixaram de acontecer por causa de insegurança sua, não ouviria o próprio instinto desta vez. Faria diferente com ele porque ele é diferente.
Vermelho
No dia seguinte você aparece no escritório absolutamente decidida a confessar seus sentimentos. O frio que sente na barriga aumenta à medida que os andares passam, entrar pela porta de vidro nunca foi tão complicado. Enrola antes de abrir, anda de um lado para o outro, calcula as palavras, ajeita os cabelos. Respira fundo e entra de uma vez.
O quê?
A mesa de Renjun está vazia, nada fora do lugar também. Tudo exatamente como deixou ontem. Isso é extremamente esquisito, ele nunca se atrasa. Não tem outra alternativa a não ser esperar.
Uma hora depois, ainda nada. Será que tinha acontecido alguma coisa? E se ele estivesse precisando de ajuda? Ele chegou bem em casa ontem? Meu Deus.
Sua mente começa a girar com as possibilidades negativas. Pensa em perguntar a Kun se ele sabe de alguma coisa, porém o vê atolado de papéis enquanto fala ao telefone. Você encara as janelas do prédio da frente sem ser capaz de se concentrar na edição do livro que te espera. Talvez você só esteja pensando demais, com certeza ele está bem.
Começa a corrigir os erros automaticamente, a estória não te interessa mais. Escreve sugestões como observações, mas seu olhar está focado na porta, esperando que ele entrasse.
Três horas depois, não consegue mais se conter. A preocupação te faz tremer de nervoso. Pega o celular escondido e manda algumas mensagens para Renjun, notando que não estão sendo entregues. Ligaria para ele agora mesmo, mas não tem como fugir da mesa agora.
Não pode perdê-lo, não estando tão perto. Não gostando tanto dele. Sussurra para si mesma palavras positivas, ainda checando a entrada de cinco em cinco minutos. Toda vez que sente o celular vibrar é uma tortura. A notificação que aguarda nunca chega.
Novamente no elevador, descendo para ir almoçar, pondera duas coisas: se está sendo louca, ou se deveria procurá-lo. A calçada lotada de pessoas andando apressadas te causa tontura por um instante, sente até vontade de chorar.
Nem percebe a direção que toma, apenas segue o fluxo, se viraria depois.
Renjun vira a esquina da editora quando finalmente se lembra de ligar o celular. O escritor mais filho da puta de todos os tempos fez questão de marcar uma reunião desnecessariamente longa para discutir o conceito da próxima capa de seu próximo livro. Ele odeia autores de fantasia criminal por causa disso, os caras são malucos.
Você interrompe os movimentos abruptamente quando vê que ele está ali, sorrindo para a tela do aparelho que tem nas mãos. Como se sentisse alguém o observando, ele levanta o olhar e aumenta o sorriso quando te reconhece. Aperta os passos para se aproximar mais rápido, sem nem notar a sua cara séria.
— Eu vi suas mensagens agora, tava até te respondendo, olha. — Renjun vira o telefone para você e logo o coloca no bolso novamente. — Cara, pior manhã da minha vi…
— Eu tava preocupada, Renjun. — A familiar ardência no canto dos olhos ameaça, e você inspira devagar. Não sabe dizer se é alívio ou nervosismo.
O garoto finalmente percebe seu estado. O cenho franzido, os olhos quase transbordando, a postura assustada.
— O que houve?
Renjun mal teve tempo de completar a frase porque você o agarrou pelo pescoço e uniu os lábios com toda ternura que percebeu ter guardado todo esse tempo. Ele não demora a retribuir o beijo, suspirando na tua boca ao te envolver pela cintura. O quanto ele queria isso não está escrito.
Nem pensaram nas pessoas em volta, elas só se desviam do casal para seguir o caminho. Algumas até sorriem pelo gesto romântico. Sinceramente, não ligam para mais nada. Só consegue se concentrar no lábio macio do Renjun se moldando ao seu como se fosse feito para isso. Aprofunda o contato ao conduzir o garoto pela nuca com as duas mãos, que se perdem nos fios agora desalinhados.
O dia de trabalho ainda não tinha terminado, e quase se arrepende de tê-lo beijado nas horas seguintes. Ele não te deixa em paz nenhum segundo.
Começou com os quinze emojis de beijinho que ele te enviou assim que voltaram ao escritório. Você fingiu ignorar as mensagens, ele odiou.
Insatisfeito, manda um e-mail. A notificação te faz revirar os olhos. Óbvio que ele sabia que você não abriria, por isso, escreveu no assunto: vai me beijar aqui também? Estalando os lábios, esconde o rosto nas mãos, tentando conter a vontade de gritar.
Olhando na direção de Renjun, repreende-o com a expressão mais dura que consegue fazer. Ele ri, mandando um beijo no ar. Não suficiente, cantarola várias músicas sobre beijo baixo o bastante para não ser repreendido.
Ele resolve, então, ir até sua mesa. O sorriso convencido te causa estresse, e ele não tá nem aí. Apoia-se na divisória, te olhando em silêncio.
— Uma foto dura mais. — Você murmura entredentes. Ele segura uma gargalhada, é tão bom não ser o pilhado para variar.
— Bom, já que você me beijou antes que eu pudesse te chamar pra sair…
— Você planeja me deixar em paz algum dia? — Finalmente gira a cadeira, ficando de frente para o garoto.
Ele inclina o corpo, o rosto bem na altura do seu. Só não rouba um selinho porque ainda não ficou maluco.
— Só se você aceitar jantar comigo. — O tom é desafiador, borbulha seu sangue.
— Só se você cozinhar. — Impõe a condição porque não quer ficar para trás. Ele perde um pouco a compostura quando percebe que encurtou um pouco mais a distância entre as faces.
— Combinado então.
Às cinco horas em ponto Renjun já está com tudo guardado e pronto para ir embora. Enquanto você se ajeita, ele limpa sua mesa e organiza tudo como você faz para poderem partir logo.
O apartamento é bem a cara dele. A essência doce se espalha por toda a decoração simplista e sofisticada, nas plantas bem cuidadas, na cheirinho de lar que invade as narinas assim que chegam.
Renjun te apresenta toda a casa, te guiando pelos cômodos de mãos dadas. É linda e aconchegante. Logo partem partem para a cozinha, pois ele não para quieto. Inventou um risoto meio maluco que jura ser a especialidade dele. Você oferece ajuda, dizendo que pelo menos deveria cortar os vegetais, só que ele é teimoso e não aceita.
O clima é gostoso, leve. Enquanto ele prepara o prato com muito carinho, conversam sobre milhões de coisas como de costume. Ao mesmo tempo, tudo parece ter mudado. A forma como se olham, como se dirigem um ao outro, os toques…
Ele dá o braço a torcer e te deixa colocar a mesa para a janta, o que você faz com maestria porque é a única coisa que teria de fazer. Ao finalmente provar a comida cheirosa e bem apresentada, se surpreende. Além de bonito, inteligente, engraçado e independente, Renjun também é bom cozinheiro. Ele sorri genuinamente feliz pela sua reação surpresa ao gosto impecável do que havia preparado. Comem num silêncio confortável, as mãos entrelaçadas e os olhares tímidos falam mais alto do que as palavras.
— Quer mais vinho? — Renjun pergunta enquanto você caminha até o sofá, se acomodando logo em seguida.
— Só um pouquinho, nem metade. — Acompanha-o despejar a bebida na taça. Ele te mostra a quantidade, você confirma com a cabeça que está perfeito.
Ele segura as taças, levando as duas com cuidado para a sala. Ele se senta bem perto, trazendo suas coxas para cima das dele.
— Brinde? — O menino sugere, o sorriso disfarçado te dá calafrios. Lá vem. Você encosta as taças meio desconfiada, esperando a besteira que ele falaria. — Um brinde ao beijo da calçada e ao da sala.
— Que sala? — Você procura algo em sua mente que a faça compreender.
Ele ri, deixando a bebida na mesinha de centro após um gole que tinge a boca um tanto mais. Antes que pudesse protestar, ele tira a taça de suas mãos e a coloca ao lado da outra. Acaricia as pernas que cobrem as dele ao mesmo tempo que te puxa pela nuca com delicadeza. Rouba um selinho demorado, molhado, dos teus lábios.
— Essa sala aqui. — Renjun sussurra, finalmente iniciando um beijo mais intenso. A língua molha teu lábio inferior, tirando seus sentidos com a troca que começam. A gola da blusa já está completamente amassada entre os nós dos seus dedos.
Para recuperar o fôlego, ele separa brevemente os lábios, mas beija o canto da sua boca, a bochecha e desde a mandíbula até a orelha num ritmo deliciosamente devagar. No pescoço ele se perde, mordendo os lugares certos, sugando levemente só para te deixar molinha no enlaço dele. Agora que pode, ele quer te dar tudo que tem.
Pouco a pouco sente a mão subir da coxa para o quadril, onde aperta a carne com vontade. Num movimento rápido, você se ajeita no colo dele, colocando uma perna de cada lado da figura. Os olhos escuros esbanjam desejo, as digitais masculinas passeiam por cada canto que consegue.
Ele te beija outra vez, mais acelerado, desesperado, bagunçado. Te incendeia por inteiro. Renjun finalmente levanta a barra do vestido, queimando a pele com os dedos curiosos. Guia os seus movimentos contra o quadril que te precisa mais que nunca, chiando sôfrego entre o beijo.
Ao despir suas peças, lançando-as em qualquer lugar, Renjun também despe os fantasmas do seu passado. Na força do amor, faz marcas de felicidade, de cura, de coragem. Por horas a fio te ama absolutamente, cada parte sua. Quanto a você, mergulha de cabeça no oceano que ele é, que ele será. Explora cada mistério escondido.
Antes de adormecerem, Renjun deposita um selar na sua testa, te encara daquele jeito apaixonado que faz seu peito estremecer.
— Que foi? — Segreda curiosa, risonha. Ele acha graça da sua inocência que retorna.
— Você… — Suspira porque não sabe expressar tudo que o coração fala. — Você é minha. melhor. amiga. — Enfatiza cada palavra, esperançoso de que compreendesse tudo que elas continham.
Fora de contexto, não faria sentido. Mas porque são vocês, tem sentido demais. Um eu te amo não seria bom o suficiente, você entende o que ele quer dizer. Sem medir, sem pensar, só de ouvir, você sabe tudo o que Renjun deseja passar. No silêncio, no escuro, na guerra, onde for, entende Renjun. Porque está incondicional e irrevogavelmente apaixonada por ele.
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blogdojuanesteves · 1 month
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VIAGEM PITORESCA PELO BRASIL > CÁSSIO VASCONCELLOS
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Ainda criança na casa de sua família, o fotógrafo paulistano Cássio Vasconcellos, hoje com 58, anos ouviu falar muito de seu trisavô Ludwig Riedel (1790-1861), renomado botânico berlinense, que acompanhou no Brasil a icônica expedição do também alemão  Barão Georg Heinrich von Langsdorff (1774-1852) colecionador de espécies e estudioso da natureza. Assim, desde que se lembra, o imaginário dos chamados "artistas viajantes" não lhe saiu da cabeça, como as florestas brasileiras sempre impulsionaram sua criatividade e gosto por esta estética.
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Em seu belo livro Viagem Pitoresca pelo Brasil (Fotô Editorial, 2024) Vasconcellos remonta a publicações quase homônimas em seu título, uma certa homenagem a Voyage pittoresque et historique au Brésil, do francês Jean Baptiste Debret (1768-1848) publicado inicialmente em Paris, em 26 fascículos, durante os anos 1834 a 1839, formando um conjunto de 3 volumes e Malerische Reise in Brasilien, de 1835, do artista alemão  Johann Moritz Rugendas, ambos com algumas versões brasileiras. Para este livro o fotógrafo percorreu vestígios da Mata Atlântica em São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Rio de Janeiro. 
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Mais recentemente seguindo o mesma estética do"Pittoresque" (que faz referência às impressões subjetivas desencadeadas pela contemplação de uma cena paisagística em relação à pintura) temos a obra do paulistano Antonio Saggese, com seus livros  Pittoresco (Edusp, 2015) e Hiléia (Editora Madalena,2016) [ leia reviews aqui. no blog em https://blogdojuanesteves.tumblr.com/post/152956262256/hil%C3%A9ia-antonio-saggese e https://blogdojuanesteves.tumblr.com/post/132665968846/pittoresco-antonio-saggese ] que recorrem a esta mesma dinâmica gráfica de Vasconcellos na criação de uma imagem marcadamente tão interessante quanto sublime,  seja em sua concepção formal, estética ou conceitual quando tratamos da sua representação mais extensa.
Cássio Vasconcelos iniciou este livro por volta de 2015 ainda que seu interesse pela  natureza venha da família logo cedo, para ele a estética é muito interessante. Como ele mesmo conta: "Resolvi criar um diálogo com estes trabalhos originais quase 200 anos depois, mas através da fotografia." Sem dúvida a plasticidade formatada pelos europeus encontra eco nas suas imagens, resultado de complexas operações, a começar pela captura das imagens: "diferentemente da pintura, preciso, de início, localizar o lugar certo  e com a luz ideal, para que seja possível executar o posterior tratamento das fotografias e chegar ao resultado final. É diferente do pintor que pode acrescentar ou remover uma árvore do lugar por conveniência, porque a luz não é suficiente." Em meio a riqueza da flora brasileira, a aproximação com as etchings e litografias deixadas por eles reverberam elegantemente nas imagens. 
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Em Viagem Pitoresca pelo Brasil as imagens de Vasconcellos estão em ótima companhia com  textos de Julio Bandeira: "Natureza e Cultura, a mata e a busca pelo sublime." O autor é Doutor em Teoria e História da Arte pela Universidade de Essex (Reino Unido), Mestre em História do Brasil pela Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ; sócio do Instituto Histórico Geográfico do IHGB e faz parte do corpo de pesquisadores da Biblioteca Nacional. Já publicou mais de 30 livros, sua maioria dedicados a pintores viajantes. 
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Para Bandeira, se na obra de Debret, a natureza é um complemento cenográfico para inclusão de indígenas, com imagens pintadas ao natural, na obra de Cássio Vasconcellos muitas dialogam com a contemporaneidade. No seu prazeroso texto para os que cultuam as chamadas "Brasilianas" outros preciosos autores também aparecem como o médico e botânico bávaro Carl Friedrich Philipp von Martius ( 1794-1868) mais conhecido apenas por Martius; o gaúcho Manuel José de Araújo Porto-Alegre ( 1806-1879) e Rugendas entre outros.
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O que é certo que o fotógrafo não faz uma "pintura", muito menos emula outro trabalho e sim fotografia, com anos de seu aprimoramento em diferentes técnicas, cujo resultado é mais próximo de uma Etching ( gravura em metal). No entanto, a proximidade com os viajantes dá-se pelo clima que Vasconcellos imprime em suas imagens que abdica de personagens como os propostos por Debret e Rugendas, a não ser por um grupo de fotografias que fazem contraponto com as folhas estudadas por seu trisavô que estão em museus como o Smithsonian, onde nestas a figura humana, homens e mulheres nus, extraídos de pinturas do final do século XIX, acomodam-se em lâminas e estampas mais românticas, uma profunda pesquisa para que estas amoldem-se nas grandes árvores registradas.
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Na pesquisa pelos lugares, um elemento chave do fotógrafo foi o brasileiro Ricardo Cardim,  botânico e paisagista, mestre em Botânica pela Universidade de São Paulo, que atua com biodiversidade nativa e arqueologia botânica para restauro da paisagem natural, que abriu algumas trilhas ao seu lado. É dele também o ótimo texto "A redescoberta do Brasil". Para ele, poucos lugares na Mata Atlântica, a "Caeté", floresta verdadeira, ainda não foram palmilhados pela atual civilização após dois séculos: "Não se veem mais nas matas as grandes árvores seculares, de troncos com metros de diâmetro  e altura acima de 40 metros." Entendemos então que Viagem Pitoresca pelo Brasil não é apenas mais um livro a provocar estese mas também um libelo do autor. "É nesse drástico cenário herdado nas primeiras décadas do segundo milênio que Cássio Vasconcellos expõe sua obra sensível de uma paisagem esquecida e desconhecida pelos seus proprietários, a população brasileira." diz o botânico.
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Um dos belos conjuntos do livro são as reproduções de  "Exsicatas" montadas por Riedel, trisavô do fotógrafo, uma amostra de planta que é prensada e em seguida seca em uma estufa, com temperatura acima apropriada para o material, que posteriormente são fixadas em uma cartolina. Vasconcellos conta que o design gráfico Fábio Messias descobriu-as em suas pesquisas para o desenho do livro. Elas fazem o contraponto em páginas que desdobram-se com as imagens de elementos humanos encartadas no meio da publicação. Segundo o autor: "Muitas dessas pinturas (nus) são realistas. As que eu usei parecem mais com fotografia, e a fotografia final parece com a pintura. As  pinturas escolhidas foram produzidas após a invenção da fotografia."
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A curadora e crítica Ana Maria Belluzzo, curadora da mostra homônima do livro na galeria paulistana Nara Roesler, ( de 17 de agosto à 12 de outubro deste ano) professora no Curso de Pós-Graduação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo ( FAU-USP) e autora do livro Brasil dos Viajantes (Metalivros,1994) escreve que o arqueólogo francês Conde de Clarac, em seus desenhos, gravados  em metal por Claude François Fortier ( 1775-1835) foram a referência para os "artistas viajantes"do século XIX. Ela destaca a obra de Vasconcellos: "O artista apura valores valores inerentes à fotografia, acentua e transforma registros do real, que são interpretados com aplicação de recursos de edições digitais".
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Em seu texto no livro "No coração da floresta: fluxos e batimentos", a curadora portuguesa Ângela Berlinde acerta em que poucos artistas moldaram o escopo da arte contemporânea e influenciaram a fotografia no Brasil, mais do que Cássio Vasconcellos. Para ela: "no gigante dos trópicos o fotógrafo atreve-se à construção de uma nova cartografia pessoal, fitando as vibrações da travessia com coragem e transgressão. A sua poética  desconcertante está em conduzir o dentro e o fora da sua obra, ao testar os limites e transgredir fronteiras." De fato, é só nós lembrarmos que vem sendo assim há algumas décadas, desde que o fotógrafo construía suas imagens marinhas nos anos 1980 emulsionando papéis artesanalmente; ao usar sua SX70 para Polaroids autorais nos anos 1980 e 1990 com seu livro Noturnos ( Bookmark, 2002); ou quando passou a criar com a fotografia aérea suas perspectivas urbanas inusitadas  que resultaram no seu livro Aeroporto ( Ed. Madalena, 2015) entre tantos outros desafios que marcaram de forma indelével a fotografia brasileira e internacional.
Imagens © Cássio Vasconcellos.   Texto © Juan Esteves
Infos básicas:
Concepção e fotografias: Cássio Vasconcellos
Edição: Eder Chiodetto
Textos: Ângela. Berlinde, Julio Bandeira e Ricardo Cardim
Co-edição: Fabiana Bruno
Design gráfico: Fábio Messias ( Zootz comunicação)
Coordenação Editorial: Elaine Pessoa
Edição bilingue Português-Inglês
Impressão: Gráfica e Editora Ipsis- 1000 exemplares, papel Munken Lynx Rough e Pólen Bold
para aquisição: www.fotoditorial.com
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sleepinbooksdaiz · 10 months
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🍁 Foco roubado: os ladrões de atenção da vida moderna
Redes sociais/ Saúde mental/ vício em internet +16
Em parceria com @editoravestigio
5⭐️
Tentei ler rápido este livro mas são tantas informações de ouro que me deixou surpresa e ao mesmo tempo satisfeita em estar lendo devagar. Mas finalizei e claro que não poderia deixar de esclarecer o quão estou feliz em poder ler cada lançamento da minha editora parceira Vestígio por sempre trazer livros magníficos e de extrema importância para nós quanto ser humano entender melhor o mundo de hoje que nos acerca e como vivemos nele.
Esse livro aqui entra para minha lista das leituras essenciais para vida. Só leiam e me contem se é ou É o que eu tô falando!!!!
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Neste livro, Johann logo de cara nos surpreende ao querer deixar de utilizar de seus aparelhos que, eu e você consideramos de extrema importância para nosso uso diariamente. Johann decidiu pesquisar a fundo sobre o porquê que as pessoas estão perdendo seu foco nas atividades que estão fazendo e para isso, decide se desligar do mundo para que sua pesquisa flua melhor e ele se sinta um pouco como nos tempos que não havia toda a tecnologia atual.
Com ajuda de grandes mestres, Johann nos aponta nesse livro vários pontos, descritos em capítulos como Força n°1, 2 até a força n°12, que ele traz pra gente o que descobre através de sua pesquisa sobre o foco.
Será que o grande vilão da história é a internet? Os emails que recebemos a cada minuto seja do trabalho, propagandas ou namorados? Será que nossa atenção hoje dura mais que meia hora em algo que estamos fazendo? São tantas pesquisas que Johann vem nos apontando possíveis respostas que nos faz entender melhor o que está acontecendo.
E é importante lermos sobre pois nos ajuda a não só entender sobre nosso “problema” de foco mas como é possível melhorar se estivermos dispostos.
Continua nos comentários ig @sleepinbooksdaiz
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abrukstuff · 2 years
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À espreita de... After us
After Us é um jogo muito aguardado na FIJ de Cannes trazido pela Catch Up Games, uma editora que merece toda a nossa atenção a cada novo lançamento. After Us é um jogo de Florian Sirieix e ilustrado por Vincent Dutrait para 1-6 jogadores com mais de 12 anos e uma duração aproximada de 60 minutos. O enredo de After Us: A humanidade morreu deixando para trás meros vestígios da sua passagem pelo…
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caetanorama · 2 years
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Soldados do jazz - Thomas Saintourens, Editora Vestígio. Relata a dupla batalha de soldados negros do Harlem e sua atuação na Primeira Guerra Mundial. Um retrato da hipocrisia e covardia da visão preconceituosa em relação aos soldados. #literatura #grandeguerra #primeiraguerramundial (em Juiz De Fora Bolsonaro) https://www.instagram.com/p/Cj8MqzILhr5/?igshid=NGJjMDIxMWI=
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receitariadapaty1 · 2 years
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Eu Já Estive Em “A Morte é Meu Ofício”, de Robert Merle
Eu Já Estive Em “A Morte é Meu Ofício”, de Robert Merle
Hoje vamos falar sobre “A Morte é Meu Ofício”, escrito por Robert Merle, traduzido pelo jornalista Arnaldo Bloch e publicado pela editora Vestígio. Tenho achado interessantíssimo como 2022 foi o ano que tanto li sobre Alemanha, Auschwitz, Holocausto, mas nada é tão assustador, quanto o sangue frio de Rudolf Lang nesta obra. Logo no prefácio, o autor conta que Rudolf Lang existiu e era comandante…
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projetosnopapel · 5 years
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Suspense e mistério é possível!
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O livro Vertigo dos autores Boileau-Narcejac foi levado às telas do cinema por Alfred Hitchcockem ….. Esta edição em capa dura da Editora Vestígio tem o subtítulo Um corpo que Cai, nome dado ao filme no Brasil. A história se passa durante a guerra: um advogado pobre é contratado por seu amigo rico pra seguir e vigiar sua esposa que anda muito esquisita. Ele começa a segui-la e a salva de um…
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la-kermesse · 4 years
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como atravessar paredes // ara nogueira
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Travessia (ou sobre cartografias líquidas) Ara Nogueira Contornar a cidade é também contornar a si mesmo. É andar em linhas que se atravessam, se cruzam e se costuram. Para onde vamos? Não sabemos, marchamos a esmo pelo chão do asfalto quente em busca de água, qualquer rastro dela. Um vestígio. Uma marca.
Tracei uma estratégia e pus meu corpo a seu serviço. Decidi registrar todo e qualquer sinal dela deixados nas ruas. Caminhar atrás de agua dá sede e também resseca as ideias.
Qual seu custo? Agua é muito cara muito cara muito cara muito cara e não é muito bem distribuída. …
Ara Nogueira é artista plural formada em Produção Cultural na Universidade Federal Fluminense e em Arte Dramática na Escola Técnica Estadual de Teatro Martins Penna, atriz, poeta, performer e artista visual, é autora do fanzines Xereca Satânica, Pornozine & Atamezine. Pesquisa outras narrativas do corpo e sexualidade dentro de uma nova perspectiva literária, visual e sensorial que se propõe pensar a poética das corpas para além da lógica patriarcal que cerceia a existência de corpos dissidentes e/ou femininos, e nos distanciam do lugar de autoras da nossa sexualidade, protagonistas da nossa história. Com uma escrita verborrágica e coloquial, seus textos são carregados  com uma dose de humor e sarcasmo, construindo assim, novos caminhos no cenário contemporâneo da literatura brasileira. Em 2017 foi a poeta homenageada de uma das edições do “Sarau Boto fé - Na varanda dos arcos”, na Fundição Progresso e em 2018 participou da mesa “Publique Sexo” na Primavera Literária e “Papo Minas e Manas”  no WOW - Festival Mulheres do  Mundo, além de se apresentar em espaços como Sarau do escritório, Casa Pulsa Ipanema, Clube Melissa, RatosDiversos, e ter textos publicados em antologias, jornalzines e edições de Ameopoema e revista ACRE, em 2019 teve seu poema publicado na antologia de autores brasileiros contemporâneos “Além da Terra, além do céu” da Chiado Books, com distribuição no Brasil e Europa, apresentou seus textos no coletivo “Teia de Mulheres”, integrou o laboratório de artistas “Verbovoxvisual” no Oi Futuro, teve seus trabalhos apresentados no Centro de Artes Maria Thereza Vieira e Blé Galeria, participou como artista da mesa “Caminhos da Reforma Sanitária – Lançamento da Revista Saúde em Debate, da EPSJV/FIOCRUZ, em 2020 foi selecionada para a residência artística “Marcas D’agua” da artista Marcela Cavallini, galeria de artes “Despina”. Foi selecionada no Concurso Nacional Novos Poetas, da editora Vivara, tendo um poema publicado na Antologia Poética, Poesia Livre 2020. Está publicando seu primeiro livro “Carnívora –  pequenos poemas eróticos para a boca e outros orifícios” pela editora Chiado. É Co-fundadora e membro efetivo do coletivo de mulheres poetas “Nós, as poetas” que tem como objetivo fomentar produções literárias e publicações independentes, valorizando produções artísticas marginalizadas e/ou fora do circuito mercadológico das grandes editoras.
Instagram: @viciadaemsiririca
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ninaemsaopaulo · 4 years
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Houve um tempo em que tudo que Lena Dunham fazia era motivo de polêmica, ela era o grande destaque da série Girls, afinal: criadora, roteirista e protagonista. Às vezes Lena lançava um episódio, tipo aquele em que Mimi-Rose fez aborto e não contou para o Adão Motorista e, quando ele questiona, ela lança um “foda-se, meu corpo, minhas regras” que sim, me deixou chocada. No dia seguinte, Lena precisou gravar um vídeo explicando a reação da personagem. Teve também o melhor episódio da série, já na última temporada, quando Lena critica um escritor que vai cobrar satisfação convidando-a para conhecê-lo em sua casa. Ela vai e é assediada. Teve a polêmica da segunda temporada que, meu Deus, foi UM PORRE, porque Lena se levou a sério demais nessa coisa de ser “a voz da nova geração” deixando um enredo insuportável no caminho.
E mais ou menos por aí, em seu primeiro livro, Não sou uma dessas (editora Intrínseca), Lena fala de uma personagem muito engraçada e típica em seu círculo social: a depressiva bonita. Trata-se de um tipo de mulher privilegiada sobretudo na loteria genética, mas também, em geral, na conta bancária. E mesmo assim, não é feliz. É infeliz pra caramba, aliás. E é assim mesmo que funciona: na visão de alguns, com certeza na de Lena Dunham também, quem é padrão não deveria adoecer mentalmente.
Já que terminei minhas séries (mentira, desisti mesmo de Outlander), decidi começar outra. Eu sabia que iria gostar de Modern Love pelo elenco (Anne Hathaway, Tina Fey...) e pela história - inspirada na coluna de Daniel Jones para o New York Times sobre pessoas lidando com o amor de diferentes formas. Eu sabia que iria gostar, mas não sabia que gostaria TANTO - não é apenas o meu tipo de série, é bem o meu tipo de literatura também (eu sei, parece aqueles filmes de Natal com romances interligados todo ano na Sessão da Tarde, mas dane-se).
Daí que Anne Hathaway aparece no terceiro episódio como Lexi, uma advogada femme fatale para quem a vida parece um musical - ela mesma assume e compara com La La Land: Lexi está escrevendo sua biografia para uma rede social tentando encontrar um fio condutor de sua história, então lembra daquela manhã em que acordou e foi ao mercado vestindo uma blusa de lantejoulas douradas e achou ter encontrado o amor da sua vida, com quem trocou telefones e marcou um jantar na quinta-feira seguinte.
A estética de Lexi é muito boa: com os cabelos de Rita Hayworth, ela se veste como se O Diabo Veste Prada passeasse da década de 40 aos anos 70 - um guarda-roupa vintage cujo preciosismo Miranda Priestly aprovaria, sem dúvida. Lexi está começando em um escritório de advocacia em Nova York, é tratada como um talento, mora em um apartamento bonito no centro da cidade, mas é aí que começa o primeiro vestígio de problema: um apartamento bagunçado e de cores tão neutras que parecem de alguém sem personalidade, não parece que uma pessoa feliz vive ali. Pois é.
Lexi tem transtorno bipolar desde os quinze anos e esconde de todo mundo. Começou no dia em que decidiu não ir à escola e seus pais concordaram, mas vinte e um dias se passaram e ela ainda não conseguia levantar. Fez o mesmo no colegial e na faculdade, compensando a vida de Bela Adormecida com períodos surreais de produtividade nos quais tirava boas notas. Mas a vida adulta chega para todos e cada escritório no qual trabalhou percebeu sua estratégia. Mesmo que ela fosse muito boa no que fazia, faltar ao trabalho não era legal. Passou por todo tipo de terapia, nunca obteve melhora. Não chega a ser exatamente a falta de uma relação amorosa estável o que pesa em sua vida, mas a ausência de vínculos com qualquer pessoa, pois, quem vai entender e aceitar mudanças tão bruscas de humor? Quem quer conviver com alguém assim?
É só o terceiro episódio e não paro de chorar desde o primeiro. Aliás, começaram muito bem a série com um tipo de amor difícil até de descrever: uma jovem redatora torna-se dependente da aprovação do porteiro de seu prédio sobre os relacionamentos nos quais investe. Um dia, engravida de um babaca e é esse amigo improvável, o porteiro, quem mais lhe ajuda.
A série é produzida (e alguns episódios são dirigidos) por John Carney, responsável por filmes como Once e Begin Again: filmes com histórias de amor em que nem tudo que o telespectador quer lhe é entregue no final - e esse também é o meu tipo de cinema.
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blogdojuanesteves · 4 months
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10 ANOS DE GUERRAS SEM FIM > GABRIEL CHAIM
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O paraense Gabriel Chaim em seu livro 10 anos de guerras sem fim (Editora Vento Leste, 2024) mostra o horror que são as tragédias como uma guerra, mas também como as pessoas convivem com ela, em vestígios de vida e morte. No entanto, seus "bastidores" destes conflitos chegam a ser líricos em sua palete. Dificil não lembrar do aragonês Francisco Goya (1746-1828) com sua pintura Três de maio, de 1808, quando este artista nao mostra a morte imediata mas sim o medo de quem vai morrer; o londrino William Turner (1775-1851), com seu The Slave Ship, (originalmente Slavers Throwing overboard the Dead and Dying—Typhon coming on), exibido em 1840 na Royal Academy, ou mais recentemente o alemão Felix Nussbaum (1901-1944) , de origem judaica, em sua tela Fear (autorretrato com sua sobrinha Marianne), de 1941, revelando o terror sofrido pelos judeus no holocausto.
Chaim produz uma imagem de caráter háptico e mostra seu périplo pela nossa triste história contemporânea (em andamento) abordando o Estado Islâmico ( 2015-2020), o califado que impõe o terror no Oriente Médio, Síria ( 2013), Iêmen ( 2018), Líbia ( 2019), Nagorno-Karabakh (2020), Ucrânia ( 2022) e Israel, Cisordânia e Gaza ( 2023). Imagens que foram publicadas, junto com seus filmes em vários países do mundo. Como explica o jornalista paulistano Fernando Costa Netto, outro veterano no registro dos conflitos mundiais ( leia aqui o livro Maybe Airlines Sarajevo, (Garoa Livros, 2021) em https://blogdojuanesteves.tumblr.com/post/648095913040052224/maybe-airlines-sarajevo-fernando-costa-netto) "Um dos traços de seu trabalho é de reconhecer e capturar certos instantes em que a realidade começa a parecer ficção."
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O fotógrafo aqui diferencia-se de outros nomes da fotografia mundial como o americano James Nachtwey, cuja "exposição" dos conflitos muitas vezes beira o grotesco, como em Deeds of War ( Thames & Hudson, 1989) ou em Inferno ( Phaidon Press, 1999). As imagens de Chaim nos comovem por um sentido mais amplo, ainda que não deixem de ser muito contundentes, mas especiais por não serem sensacionalistas. A começar pela pouca amostragem de corpos de vítimas, embora as suas existentes possam recordar ocasiões registradas em fotografias icônicas como a feita pelo soldado americano Ron Haeberle do massacre de Mỹ Lai ocorrido em 1968 e que vitimou cerca de 500 civis sul-vietnamitas, sendo 182 mulheres (17 grávidas) e 173 crianças, executados por soldados do exército americano na Guerra do Vietnã. Ou mais remotamente as cenas produzidas pelo inglês Roger Fenton (1819-1869), impressas em albuminas, da Gerra da Criméia em 1855, pela sua palete semelhante que representam uma das primeiras tentativas sistemáticas de documentar uma guerra por meio da fotografia.
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Gabriel Chaim é mais refinado - e de certa forma mais sutil, quando nos comove de uma outra maneira. Basta ver o "still" da capa para entender: Um rifle apoiado em uma poltrona, ou  como por exemplo um jogador de futebol pulando que podemos confundir à primeira vista como tendo levado um tiro em Taiz, no Iêmen desfazendo a lógica do assombro; A mulher armada que observa dois corpos de extremistas do Estado Islâmico aos seus pés, após um combate com a unidade feminina de proteção as mulheres no deserto de Raqqa na Síria. O médico curdo que trata um extremista debilitado nos meses do cerco a Bhagouz. al -Hassakah na Síria, registrados em tons quentes.
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A dificuldade para fotografar nos conflitos é imensa. Como explica Fernando Costa Netto, são horas para se chegar no momento exato da fotografia. "Às vezes dias de espera, angústia e esforço até chegar nos becos tensos de Aleppo, na Síria ou caminhar pelas perigosas ruas de Kharkiv, na Ucrânia." Quem acompanha o noticiário pode constatar o recorde sinistro de mortes de jornalistas no conflito em Gaza. Não basta apenas fotografar para estar equilibrado psicologicamente entrando  nestes lugares, além de uma intricada logística para movimentar-se da maneira mais rápida que a imprensa contemporânea eletrônica exige. A jornalista e editora paulista Ana Celia Aschenbach que escreve o posfácio relata uma espera de quase dois meses para ter a permissão para documentar as forças israelenses em Gaza. Segundo ela, foi o primeiro estrangeiro a ter essa possibilidade.
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Lembramos de dois filósofos franceses: Paul Virilio (1932-2018) com sua "dromologia"o impacto da velocidade na sociedade e Georges Bataille (1897-1967) e suas teorias da visão, da imagem e da destruição, pensando em um certo ocularcentrismo. A proximidade com os corpos antagonizando à visibilidade, o que anteriormente  encontrava-se fora do nosso campo de visão, até chegarmos aos mísseis de cruzeiro usados pela primeira vez na Guerra do Golfo em 1991, que levou-nos não só a uma descorporificação mas a desmaterialização contínua do observador, mas também um atrofiamento da imaginação e consequente destruição da consolidação da memória natural, como explica o ensaísta lisboeta José A. Bragança de Miranda em sua Teoria da Cultura (Edições Século XXI, 2002).
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Podemos fazer um paralelo à arte do irlandês Francis Bacon (1909-1992) a partir do pensador francês Maurice Merleau-Ponty (1908-1961). É difícil saber onde começa a pintura e onde inicia a massa pictórica. Onde começa o homem naquele homem pintado, como encontramos na fenomenologia da percepção em O olho e o espírito ( Cosac Naify, 2013). O que Gabriel Chaim faz em seu livro, não é apenas uma representação das pessoas que sofrem no conflito mas sim a procura por lhes conceder uma visão mais digna através de seu estilo fotográfico, aproximando-se grosso modo de uma écfrase, quando pensamos na retórica de sua descrição do que são estas guerras.
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Em A History of the World in 10 1⁄2 chapters (Jonathan Cape, 1089) no quinto capítulo "O Naufrágio" o ensaísta inglês Julian Barnes trata da catástrofe real do naufrágio do veleiro Medusa, avaliando-a pela pintura do francês Théodore Géricault (1791-1824). Pelo seu olhar, ele aprofunda-se e a avalia criticamente usando suas habilidades investigativas, procurando preencher as lacunas por meio de várias evidências. Ainda que posteriormente tenha sofrido críticas quanto a ignorar os negros que estavam na balsa, seu enredo é que só enxergamos a intensidade de uma tragédia quando a vemos representada pela arte. É o que encontramos nestes 10 anos de guerra sem fim, de Gabriel Chaim, que nos instiga a pensar o antes e o depois.
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O fotógrafo transcende o modelo canônico da representação do corpo. Em sua epígrafe "Sentidos" ele ecoa: o cheiro da pólvora queimada dos tiros sequenciais da AK 47 enquanto zumbidos de balas cruzam o ar em sua direção. Brincadeiras e risadas confundem-se com gritos pedindo água entre estrondos perturbadores dos ataques aéreos... A preparar o leitor para o que vem pelas 248 páginas, a grande maioria em cores. Em suas narrativas para cada lugar que esteve Chaim escreve: "Apesar de não ter me exposto tanto, a cobertura da guerra entre Israel e Palestina foi a mais difícil da minha carreira..."
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No último capítulo dedicado a Israel/ Cisjordânia/ Gaza, 2023, ele continua: "Uma polarização talvez nunca vista antes e jornalistas demonizados. De um lado,  civis brutalmente assassinados pelo grupo Hamas. De outro, civis dizimados por bombardeios israelenses. A guerra em Gaza, sobretudo, mostra que não existem mais limites para abater o oponente e isso irá levar a um patamar mais trágico ainda guerras futuras caso os senhores de guerra decidam seguir pelo mesmo caminho..." Uma espécie de profecia amparada por suas imagens.
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Fotojornalistas retratam o que é visto por eles. Claro, com algumas ressalvas onde a realidade foi deturpada por fotógrafos e editores, como vimos no fatídico 8 de janeiro no Brasil e em outras diversas ocasiões recentes mundo afora. Nesta década percorrida por Gabriel Chaim, como escrito por Fernando Costa Netto em seu prefácio, este livro "consagra o fotógrafo como um dos mais originais e corajosos profissionais da fotografia brasileira e mundial," Seus relatos controversos e incômodos são o que nós precisamos, assim como seu testemunho, pois é a missão do documental, contínua Costa Netto, e podemos acrescentar, do fotojornalismo que mostra os fatos como eles são. "até para que não sejam deturpados mais tarde."
Imagens © Gabriel Chaim        Texto © Juan Esteves
Infos básicas:
Editora Vento Leste
Publisher: Mônica Schalka
Fotografias e texto: Gabriel Chaim
Tratamento das imagens: Marcelo Lerner/ Giclée Fine Art Print
Curadoria e texto: Fernando Costa Netto
Texto/posfácio Ana Celia Aschenbach
Projeto gráfico: Ciro Girard
Coordenação editorial: Heloisa Vasconcellos
Edição bilíngue: Inglês/ Português
Impressão: Leograf- 1000 exemplares em brochura.
Onde adquirir: https://www.ventoleste.com/produto/10-anos-de-guerras-sem-fim-31
*Lançamento dia 10 de junho, às 19hs, na Livraria da Travessa, 
Rua . Visconde de Pirajá, 572 - Ipanema, no Rio de Janeiro,
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arfran · 4 years
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#Repost @autenticaeditora • • • • • • A Editora Vestígio (@editoravestigio) acaba de anunciar a compra dos direitos de tradução de "A Brief History of Fascist Lies", de Federico Finchelstein. O livro traz uma análise sobre o comportamento de líderes de extrema direita, como Donald Trump e Jair Bolsonaro, e sobre como suas ideias remontam às origens dos movimentos fascistas europeus e latino-americanos do século XX.⁠⠀ ⁠⠀ O historiador argentino defende que, de Hitler a Mussolini, líderes fascistas sempre se apoiaram em mentiras para manter a base de seu poder e popularidade. E que esta história se repete no presente, como se vê com a disseminação das fake news, que, em alguns casos, servem de apoio até mesmo para a criação de políticas governamentais.⁠⠀ ⁠⠀ 📚PARA LER:⁠⠀ Federico Finchelstein, diretor do departamento de estudos sobre América Latina da New School for Social Research, de Nova York, deu entrevistas recentes para alguns dos principais jornais brasileiros, como Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo.⁠⠀ ⁠⠀ A revista Quatro cinco um publicou uma resenha, escrita por Paulo Roberto Pires, sobre a edição em inglês de Uma breve história das mentiras fascistas, que será publicado no Brasil em setembro.⁠⠀ ⁠⠀ 💻PARA ASSISTIR:⁠⠀ Federico Finchelstein participará de uma conversa ao vivo na próxima quarta (08/07), às 17h, no canal do Instituto Moreira Salles no Youtube. Autor de um ensaio na nova edição da revista, o historiador argentino vai discutir como governantes reproduzem estratégias fascistas de propagação de mentiras ao negar a pandemia.⁠⠀ ⁠⠀ Não perca! Acesse o canal pelo link da bio ou stories. ⁠⠀ ⁠⠀ #UmaBreveHistoriadasMentirasFascistas #FedericoFinchelstein #EditoraVestigio https://www.instagram.com/p/CCUjVnlpf5p/?igshid=1ii3gk8fiab82
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utopiargv-blog · 5 years
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Ficha Técnica: 
Título:  Salvando a Mona Lisa
Autor (a): Gerri Chanel
Editora: Vestígio
Gênero: Artes/ História
Edição: 1º
Páginas: 352
Ano: 2019
Sinopse:
No final de agosto de 1939, quando a guerra ameaçava eclodir na Europa, os curadores do Louvre guardaram o quadro mais famoso do mundo em um estojo especial forrado com veludo vermelho e o enviaram ao Vale do Loire, cerca de duzentos quilômetros ao sul de Paris. Assim começou a maior retirada de obras de arte e antiguidades da história. À medida que os alemães se aproximavam da capital em 1940, os franceses se apressavam para despachar as obras-primas cada vez mais ao sul, vez após vez durante a guerra, cruzando todo o sudoeste da França. Durante a ocupação alemã, a equipe do Louvre lutou para manter tesouros inestimáveis longe das mãos de Hitler e de seus capangas e para manter seguro o palácio do Louvre, muitas vezes arriscando seus empregos e suas vidas para proteger a herança artística do país. Salvando a Mona Lisa é a história arrebatadora e cheia de suspense dessa batalha. Encorpado por uma pesquisa profunda e acompanhado por fotografias fascinantes daquele período, Salvando a Mona Lisa é uma envolvente história real de arte e beleza, intriga e sagacidade, e de uma coragem moral notável em face de um dos inimigos mais aterrorizantes da história.
Resenha:
Salvando Mona Lisa é uma história envolvente, baseada em fatos reais, que relata como os curadores do Louvre e seus auxiliares se empenharam em resguardar essa e diversas outras obras de arte, durante os períodos da Primeira e Segunda Guerra Mundial.
O livro se inicia com detalhes sobre a criação do Palácio do Louvre por ordem do rei Francisco, para servir de fortaleza e ponto estratégico de proteção contra a Inglaterra, passando a narrar as reformas que ocorreram no prédio e como se iniciou o acervo, sendo o mesmo ampliado por Napoleão Bonaparte, por meio de saques de obras de arte de outros países, em suas conquistas.
  Mas a Mona Lisa foi adquirida de forma legitima, e é considerada a obra mais importante do museu, sempre tendo alto grau de prioridade em caso de evacuação, por isso é a única obra que é marcada com 3 círculos vermelhos (forma de classificação de importância).
Importante observar que foram nos períodos de guerra que mais se adquiriram obras para o país, seja através da pilhagem ou do suposto confisco, mas também foi o período que as obras mais ficaram expostas a atos de vandalismo e saques, ou até mesmo solicitações diversas de restituição aos países de origem.
Difícil entender quem realmente tinha direito nesse caso, já que pelo que entendi muitas obras que se encontram no Louvre atualmente foram adquiridas de forma ilegítima, inclusive da própria Alemanha, que estava ameaçando o confisco de todas para serem usadas no grande projeto de Hitler de um enorme museu do fuhrer.
Só posso garantir a vocês que esse livro é uma verdadeira aula de história, contendo uma infinidade de dados interessantes sobre a guerra, suas personalidade, planos, golpes, além é claro de muita informação sobre as obras contidas no Louvre.
Bjos!
          Resenha: Salvando a Mona Lisa -Gerri Chanel Ficha Técnica:  Título:  Salvando a Mona Lisa Autor (a): Gerri Chanel Editora: Vestígio Gênero: Artes/ História…
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Coleção Agatha Christie - Box 1 Capa dura
Coleção Agatha Christie – Box 1 Capa dura
Livro 1 – Morte no Nilo Livro 2 – Um corpo na biblioteca Livro 3 – Assassinato no Expresso do Oriente A editora HarperCollins Brasil tem o orgulho de trazer aos leitores as melhores histórias de Agatha Christie, a eterna Dama do Crime. Aqui, corpos são encontrados em situações estranhas, tiros são dados no escuro e pessoas desaparecem sem deixar vestígios, mas definitivamente não há mistério sem…
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negociofit · 2 years
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🌮A COMIDA MUITAS VEZES É UTILIZADA COMO UMA FORMA DE CONFORTO E PRAZER , COMO UM VÍCIO. 🍽Ao restringir o consumo a certas horas do dia, da semana, do mês ou do ano, estreitamos nossa janela de consumo e assim limitamos nosso uso. Por exemplo, podemos dizer para nós mesmos que consumiremos apenas nas férias, nos fins de semana, nunca antes de quinta-feira, nunca antes das cinco da tarde, e assim por diante. 👨🏻‍⚕️Os neurocientistas S. H. Ahmed e George Koob demonstraram que ratos com acesso ilimitado à cocaína durante seis horas por dia gradualmente aumentam a pressão na alavanca ao longo do tempo, chegando à exaustão física e até a morte. Um aumento na autoadministração, sob condições ampliadas de acesso (seis horas), também foi observado com metanfetamina, nicotina, heroína e álcool. No entanto, ratos com acesso a cocaína apenas uma hora por dia usam quantidades regulares da droga por muitos dias consecutivos. Ou seja, eles não pressionam a alavanca para obter mais droga por unidade de tempo, a cada dia consecutivo. ESTE ESTUDO SUGERE QUE, AO RESTRINGIR O CONSUMO DE DROGA A UMA JANELA ESTREITA DE TEMPO, PODEMOS CONSEGUIR MODERAR NOSSO USO E EVITAR O CONSUMO COMPULSIVO E ASCENDENTE QUE ADVÉM COM O ACESSO ILIMITADO. Monitorar quanto tempo passamos consumindo determinada coisa – por exemplo, cronometrar o uso do smartphone OU O TEMPO DE ALIMENTAÇÃO – é uma maneira de ficar atento e, assim, diminuir o consumo. Quando temos conhecimento de fatos objetivos, como a quantidade de tempo que estamos usando, ficamos menos capazes de negá-los, e assim em melhor situação para agir. Lembke, Dra. Anna. Nação dopamina (p. 112). Vestígio Editora. Edição do Kindle. 👉🏽Repost de @jejumintermitente — view on Instagram https://ift.tt/T4NFIxq
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vbsempe · 6 years
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Definição de Criminalística
O termo “Criminalística” foi utilizado pela primeira vez por HANS GROOS, o pai da criminalística. Também já foi chamada de antropologia criminal, psicologia criminal, ciência policial, policiologia, técnica policial, polícia técnica, polícia científica, polícia criminal e polícia judiciária. É uma disciplina para pesquisa, análise e interpretação dos vestígios materiais EXTRÍNSECOS encontrados em locais de crime, com o objetivo de determinar a materialidade e a autoria da infração penal. É autônoma, independente, mas integrada pelos diferentes ramos do conhecimento técnico-científico, auxiliar e informativa à Polícia e à Justiça. A medicina legal, por sua vez, cuida dos vestígios intrínsecos (na pessoa).
A moderna criminalística objetiva demonstrar a dinâmica dos fatos, com análise e interpretação dos vestígios materiais, interligação entre eles, bem como fatos geradores, origem, meios e modos como foram perpetrados os delitos. A conceituação abrangente, considerando aspectos estruturais, funcionais e dinâmicos, envolve:
a) Disciplina autônoma/independente: regida por leis, métodos e princípios próprios;
b) Procedimento multidisciplinar: os subsídios técnico-científicos são fornecidos pelos mais variados ramos do conhecimento;
c) Auxiliar e informativa às atividades policiais e judiciárias: fornecem bases para corretas e mais justas decisões do juízo.
d) Caráter utilitário: sempre que restarem vestígios materiais pelas infrações penais, o concurso da Criminalística se fará necessariamente presente.    
e) Objeto: todos os vestígios materiais, suspeitos ou não, encontrados no local do fato. Alguns vestígios não materiais também serão analisados (p.ex. determinação de velocidade de veículo, variações emocionais de exames escritos, estimativas de distância, lapso de tempo entre sons e ruídos percebidos, capacidade de percepção visual de objetos à distância, etc.);
f) Classificação: peritos criminalísticos, peritos criminalísticos químicos, peritos criminalísticos engenheiros + papiloscopistas e fotógrafos criminalísticos (algumas unidades da federação) ou peritos criminas, peritos médico-legistas e peritos odonto-legistas (Lei 12.030/09).
Referência: Victor Paulo Stumvoll, Criminalística, 6ª edição. 2014. Editora: Millenium.
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