Tumgik
#esterco
cantoghalpon · 1 month
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Poderío
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bertanha · 1 year
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edsonjnovaes · 2 years
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Bem vindo a vida adulta!!!
Bem vindo a vida adulta!!!
Frases – @UmFilosofoCitou Sei que é errado, ri pela quebra de expectativa – @SeiErrado out of context estadunidenses – @oocestaduni Senshi the Based – @zSenshi_Sama memes inteligentes – @memeinteligentx Videze-se: Geração Uber, Relatos Salvajes, GENTE HONESTA E ESFORÇADA, OS DESVIANTES E OS COM SÍNDROME DE MANADA, Protea, Primeiro meme?!?, Tornar-se adulto…
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batknightofshadows · 2 months
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bando de nabos
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delgadomkt · 1 year
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T7 Methane Power, o trator movido a esterco de gado
T7 Methane Power, o trator movido a esterco de gado
Trator movido a esterco de gado é o primeiro do mundo a usar esse tipo de tecnologia e a grande inovação da New Holland para a agricultura de carbono neutro. Prepare-se para a revolução na tecnologia agrícola! Apresentando o trator New Holland T7 Methane Power LNG, ele é o primeiro trator do mundo a ser alimentado com gás natural liquefeito gerado a partir de metano (esterco de gado). O…
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girlblogging9 · 7 months
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Campanha de oração
Recentemente eu presenciei um caso onde um casal cristão (clássico) estava e ainda estão pedindo orações ao rebanho cancerígeno para que a pensão do filho (a) dele seja reduzida judicialmente,não me recordo qual o sexo da criança agora mas o que é mais asqueroso em meio a tudo isso é que esse "homem" ou melhor parasita era amante dessa mulher que engravidou (é clássico os presente de Deus terem amantes no off) e atualmente ele está casado com a primeira esposa e largou a amante e agora faz a caveira da ex amante para a atual (clássico) mas quando estava comendo a bucet@ dela estava bom e o que me deixa perplexa em tudo isso é que a atual realmente aceita com naturalidade tudo isso e compactua com às canalhice dele (clássico) embora ele já tenha traído ela e agredido também.
Se tem algo que afirmo com convicção em relação a mulheres cristãs é o fato delas amarem homens canalhas e abusadores, principalmente em nome da religião e seus dogmas isso é totalmente normal entre eles inclusive pelo fato de que o próprio livro deles e os costumes dentro do rebanho andam de mãos dadas com esses aspectos abusivos, então é completamente normal trair entre eles e tudo continuar normal porque automaticamente associam a culpa ao Diabo e a mulher,basta dizer que é cristão que automaticamente você está absolvido,assim como é completamente normal a igreja ser refúgio para pedófilos, estrupadores e vários outros tipos de abusadores e sim eu já presenciei casos onde mulheres cristãs se casaram com estrupadores,pois segundo elas agora ele é "nova criatura em Cristo" e está tudo bem,é mais ou menos assim:
Foda-se quantas vidas inocentes ele possa ter destruído,foda-se quanto sangue inocente ele derrubou,foda-se quantas injustiças ele cometeu,agora ele é crente ele é santo e não tem culpa de nada e se a vítima está mal e não o perdoou a culpa é dela.
90% deles tem essa margem de raciocínio que citei,então dependendo do caso pense bem antes de defender mulheres que compactuam com esse tipo de parasita,meu feminismo não se estende a esse tipo de esterco,não defendo,não salvo também caso eu presencie ela sofrendo algum abuso,pois são justamente essas que amam defender parasitas abusadores,se você estudar o caso da Daniella Perez com certeza você irá vomitar ele tornou-se cristão e pregador do Evangelho e tinha uma legião de fãs alienados e casou-se com uma mulher cristã que defendia ele de unhas e dentes embora ele fosse um psicopata cruel e manipulador, inclusive culpavam a Daniella.
Então literalmente quase todas essas mulheres são cornas conformadas e todo mundo está errado menos o presente de Deus. É completamente normal você encontrar entre eles ensinamentos extremamente tóxicos,abusivos,sexistas, misógenos,machistas e o rebanho tolo aplaudindo enquanto fazem uma lavagem cerebral neles não é a toa que existe tanto discurso de ódio nos púlpitos e homofóbicos,além daqueles que colocam a mulher abaixo do homem e a filosofia tóxica do perdão cristão onde muitos deles defendem o indefensável,justificam o injustificável e ordenam perdoar o imperdoável em nome de um dogma onde a vítima caso não cumpra torna-se a vilã.
Esse caso que citei não é novidade menos ainda um caso isolado é mais comum do que você imagina,literalmente eles amam rogar orações contrárias sobre às pessoas, principalmente quem não segue o que eles seguem no caso que citei o parasita humilha a ex e diz que a ex é vagabunda,mas ele no caso seria o que? O que me impressiona nessas pessoas é a hipocrisia delas e o fato delas realmente crerem que possuem moral para alguma coisa,sabendo a quantidade de sujeira que elas omitem e escondem debaixo do tapete.
Essa mulher que escolheu permanecer com ele sabendo de tudo consegue ser pior que ele,eu nunca vou entender a lógica de algumas madrastas que automaticamente se relacionam com um homem que tem filho e ficam desesperadas para que o enteado a veja como mãe e a chame de mãe,mas nós sabemos o que de fato é isso nada mais é do que implicância,rixa e ciúmes que elas criam para atormentar a mãe da criança,eu já vi várias fazerem isso porquê eu também já tive "amigas" que era madrastas e no final da história elas fazem a mãe da criança sair como "louca",eu sempre disse a elas que é muito fácil resolver esse problema bastar pedir para que o parceiro delas façam um filho nelas ao invés de criar o caos e principalmente se intitular mãe da criança e colocar o nariz onde não deve,a questão é que a maioria deles negam isso para elas e elas ficam revoltadas e descontam a frustração delas na criança e na mãe da criança.
Uma vez presenciei um caso onde a advogada de defesa do pai instruiu a madrasta da criança a fazer coisas que na percepção deles que iria desencadear um "surto de raiva" na mãe,sendo assim a mãe ficaria nervosa e reagiria de forma agressiva e seria bônus para eles,ela também instruiu o pai e principalmente a madrasta a fazer algo com a criança que poderia deixar a mãe estressada e com muita raiva,eu sempre digo que advogados desse nível que compactuam com parasitas também são culpados,canalhas e verdadeiros abusadores que graças a eles inclusive contribuem com a violência contra mulheres e crianças e até o óbito de algumas,pois o judiciário em si já é abusivo e mulheres e crianças sofrem violência processual todos os dias e os advogados compactuam com isso, literalmente vendem a ética deles e derramam sangue inocente a troco de dinheiro e ego.
A cultura do nosso país é machista,a cultura do nosso país foi alicerçada para que canalhas tenham êxito e tudo isso seja completamente normal e aceito,não é a toa que quando um homem trai isso é completamente aceito e visto como algo normal e ele retoma a vida dele sem apedrejamentos e sem culpa,mas não seria assim caso uma mulher viesse a cometer o mesmo ato,automaticamente apedrejadariam elas,difamariam pelo mundo todo e diriam a ela que ela nunca mais teria o direito de ter uma nova relação.
Pra esse tipo de homem a ex sempre será vagabunda,imprestável e louca ele não irá expor a parte em que ele foi canalha,abusivo e deixou ela louca,no país em que vivemos quando uma mulher foge dos esteriótipos conservadores,cristãos e moralistas ela é vista como uma qualquer,quando ela escolhe lutar por justiça e gritar e brigar custe o que custar para ter sua voz ouvida e direitos ela é vista como puta, vagabunda,não presta,quer chamar atenção,não superou, é assim que a sociedade trata quem decide erguer a sua voz e não aceita o conceito de submissão e omissão diante de tanta sujeira,hipocrisia e misogenia.
E meu conselho final,fuja de religiosos principalmente cristão. É fácil demais postar frases e frequentar um templo,difícil para eles é ter caráter.
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fanopeia · 1 month
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[a ladainha]
não entendo bem em detalhes como é esse ponto de vista, mas talvez quando se depara com certos critérios ou demanda, possa ter o impulso de julgar isso como limitante demais ou até conservador, quando na verdade se trata de respeito básico, consideração e o "mínimo da decência"
é que já passou absurdamente muito do ponto em que alguém age de forma que, com toda a certeza, não gostaria não gostaria de ser tratado
é aquilo: cuida do teu jardim, que as borboletas vem. mas aí me vem com lança-chamas e o caralho a quatro, complica. um pouquinho. e esterco não atrai borboleta nenhuma, não
lembrando que sempre tentei ser legal, e falhei nisso quando falhei em tolerar o negativo que notei (que foi bastante, né?), e de qualquer forma, não se pode tentar tolerar tudo. tem que ter limite. não confie em quem não tem limite, vai te fazer mal real.
quero oferecer um negócio legal, "sem caô" mesmo. talvez tenha que estar mais tranquilo, ou mais bem-resolvido, ou só não quer e pronto. tá bem. daria pra tentar, e poderia não dar, e tá bem. mas vir sendo bagunça, já sabendo que é assim e não quer nada com nada, aí não. é simples. ou deveria ser, ou poderia.
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cristianismosimples · 8 months
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“Mas o que para mim era ganho reputei-o perda por Cristo. E, na verdade, tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas estas coisas, e as considero como esterco, para que possa ganhar a Cristo”. Filipenses 3:7-8
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claudiosuenaga · 1 year
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John Dee e as raízes ocultas do Império Britânico, da ciência moderna e do mundo moderno
O empurrão dimensional inicial para abrir um portal e trazer seres de outras dimensões a este mundo foi dado pelo polímata e ocultista John Dee (1527-1609), um dos maiores e mais influentes gênios de todos os tempos, uma figura magus maior que a vida. Conselheiro, confidente e consultor astrológico da Rainha Elizabeth I (1533-1603), concebeu a geopolítica para a construção de um novo império mundial, o Império Britânico (termo alcunhado por ele) e ajudou a fundar a ciência moderna e o próprio mundo moderno. Seus estudos cartográficos, bem como técnicas e instrumentos desenvolvidos por ele mesmo contribuíram muito para o progresso da navegação. Shakespeare se inspirou no próprio ocultista para elaborar o personagem Próspero, de A Tempestade.
Por Cláudio Tsuyoshi Suenaga
Dee nasceu em 1527, em Tower Ward, Londres. Seu pai era um cortesão menor que o criou como católico e o enviou para o St. John’s College, em Cambridge, aos 15 anos. Ali ele dormia apenas quatro horas por noite, passando o resto do tempo estudando tudo – geografia, astronomia, astrologia, ótica, navegação, engenharia náutica, escrituras, matemática, direito, medicina e criptografia. Fez tanto sucesso que foi nomeado membro fundador do Trinity College, em Cambridge, e convidado a fazer conferências por lá, onde chamou a atenção com seus conhecimentos de magia.
Na vanguarda do movimento que empurrou os limites da ciência e da magia, Dee ganhou uma reputação precoce por meio de sua invenção em 1546 de um besouro voador mecânico (animatrônico) para uma produção da Pax, uma das comédias de Aristófanes (446 a.C.-386 a.C.), apresentada na Grande Dionísia de 421 a.C. No Trinity College, o magnífico espetáculo teatral do Scarabaeus (um besouro de esterco monstruosamente grande) voando até o palácio de Júpiter, causou grande admiração e suspeita de que tivesse sido alcançado por meios sobrenaturais ou pelo próprio diabo, quando não passava de uma “ilusão mágica” para o teatro, conforme revela em Compendious Rehearsal, escrito em 1592 como um registro da petição à Rainha Elizabeth I para conceder-lhe alívio das “injúrias” e “indignidades” que estava sofrendo.
Suas viagens pela Europa começaram já em 1547, aos 20 anos. Em 1548, na Universidade de Leuven (ou Louvain, a cerca de 25 quilômetros a leste de Bruxelas, na Bélgica), conheceu e se tornou aluno e amigo do célebre cartógrafo belga Gerardus Mercator (1512-1594), que em 1569 desenvolveria matematicamente a projeção cilíndrica do globo terrestre. Esta relação duradoura permitiu o surgimento de exploradores britânicos como Walter Raleigh (1552-1618) e Martin Frobisher (1535-1594).
Profundamente influenciado pelas doutrinas herméticas e platônico-pitagóricas e pela crença de que o homem tinha o potencial para o poder divino que poderia ser exercido pelo meio da matemática, aos 24 anos ele lecionou álgebra avançada na Universidade de Paris, mais especificamente os Elementos de Euclides (século III a.C.), apresentando ao público pela primeira vez os sinais +, -, x e ÷, lotando salas e se tornando o conferencista de maior sucesso no continente.
Quando voltou para a Inglaterra, trouxe consigo uma coleção significativa de instrumentos matemáticos e astronômicos. Durante o reinado de Eduardo VI (1537-1553), ele já ocupava um alto cargo na corte como matemático, e em seu retorno, teve a oportunidade de lecionar em Oxford, em 1554, porém recusou a oferta por não concordar com a postura das universidades frente às disciplinas mais relevantes.
Nesta mesma época, mais do que apoio financeiro para dar prosseguimento aos seus estudos, Dee recebeu de Jane Dudley, Duquesa de Northumberland (1508/1509-1555), o antigo manuscrito Voynich, que veio à luz em 1912 depois que Wilfrid Michael Voynich (1865-1930), um revolucionário, antiquário e negociante polonês de livros raros em Londres, comprou na Itália o manuscrito que se encontrava perdido no meio de uma coleção mantida por padres jesuítas italianos. Junto ao manuscrito, uma carta datada de 1666, assinada por um acadêmico da cidade de Praga, República Tcheca, pedia a um jesuíta em Roma que tentasse decifrá-lo. A correspondência sugere que o manuscrito pertenceu a Rodolfo II, o Imperador Romano-Germânico da Casa de Habsburgo, Arquiduque da Áustria e Rei da Hungria, Croácia e Boêmia (1552-1612), conhecido por seu fascínio pelo ocultismo, e que o autor do livro talvez fosse o filósofo e frade franciscano inglês Roger Bacon, conhecido como Doctor Mirabilis (1220-1292). Uma análise físico-química dos papéis e das tintas feita em 2010, contudo, concluiu que o manuscrito deve ter sido produzido entre 1404 e 1438. Desde 1969, o manuscrito conhecido como o livro mais misterioso do mundo, foi mantido na Biblioteca de Manuscritos e Livros Raros Beinecke da Universidade de Yale. [1]
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Uma das páginas criptografadas do misterioso Manuscrito Voynich. Fonte: Beinecke Rare Book & Manuscript Library, Yale University.
Quando Maria I (1516-1558) chegou ao trono em 1553, Elizabeth I lhe pediu que elaborasse um horóscopo para ela e sua irmã. Porém, em um período de plena influência da Igreja e atividade da Inquisição, este serviço prestado à nobreza rendeu-lhe graves acusações, incluindo a de “traição” à Rainha, pois aplicar meios mágicos para prever eventos como a morte de um governante poderia induzir tais eventos magicamente. Ele ficou preso por três meses, mas depois foi exonerado.
Quando a então jovem Elizabeth I subiu ao trono em 1558, Dee já havia se tornado seu astrólogo, mago e conselheiro pessoal. Foi através de seus préstimos ocultistas que obteve apoio financeiro da monarquia. Ele deu conselhos astrológicos a ela quanto a melhor data para sua cerimônia de coroação em 1559.
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John Dee realizando um experimento diante da Rainha Elizabeth I. Pintura de Henry Gillard Glindoni (1852-1913).
Para Dee, um dos homens mais eruditos de sua época, assim como para a maioria da elite intelectual da época, a ciência e a magia eram diferentes facetas da busca para a compreensão total dos segredos do universo. Ele usava a magia como um meio para chegar a “um conhecimento mais profundo de todas as ciências, passadas, presentes ou futuras”. Em sua casa em Mortlake, Dee começou a acumular uma incrível coleção de livros e manuscritos raros (4.000 ao todo, incluindo muitos grimórios medievais como The Sworn Book of Honorius: Liber Iuratus Honorii, quecontém um sistema completo de magia, incluindo como obter a visão divina, comunicar-se com anjos sagrados e controlar espíritos aéreos, terrestres e infernais para ganhos práticos) que ultrapassou em muito as coleções das próprias bibliotecas contemporâneas de Cambridge (451) ou Oxford (379).
Seu interesse pela filosofia hermética cresceu ao longo de sua vida e ele publicou prolificamente, começando em 1564 com Monas Hieroglyphica (Mônada Hieroglífica), uma dissertação ocultista exaustiva sobre a natureza da forma matemática conforme compreendida pela Cabala. Ele propôs que um único hieróglifo (destinado a expressar a unidade mística de toda a criação e que representava todos os planetas em uma forma astralmente significativa) refletia as “monas” (ou unidade) do mundo, e que por meio desse hieróglifo a mente poderia obter alguma visão de um portal para aquela Unidade, que é o Céu.
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Versão de 1591 de Monas hieroglyphica, originalmente publicada em 1564. Escrito por John Dee em um estado místico, revelou segredos esotéricos nos campos da astronomia, alquimia, música, matemática, linguística, mecânica e ótica. Esta página de título inclui o glifo de Dee no centro, rodeado pelos quatro elementos (fogo, ar, terra e água) e lemas latinos. Acima está o título latino, o nome do autor, a localização (Londres) e uma dedicatória ao Sacro Imperador Romano Maximiliano II. Abaixo está uma citação bíblica de Gênesis, além de detalhes de publicação. Dois selos de biblioteca estão à direita. Fonte: Sciencephotogallery.
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Mais duas páginas de Monas hieroglyphica. Fonte: Sciencephotogallery.
Em 1572, uma nova estrela apareceu no céu, que permaneceu visível dia e noite por 17 meses, que hoje sabemos ter sido uma supernova do Tipo Ia, na constelação de Cassiopeia. Para o público, isso só poderia significar a imanência do eschaton (o fim do mundo). Para Dee, sinalizava que uma nova ordem mundial estava por vir, um Império Protestante Inglês, em vez de um Sacro Império Romano. Foi então que Dee propôs um “Império Britânico”, uma expressão que ele cunhou para o que ele concebia como uma restauração do reinado de Artur (lendário líder britânico que, de acordo com as histórias medievais e romances de cavalaria, liderou a defesa da atual Grã-Bretanha contra os invasores saxões no final do século V e no início do século VI), pois ele acreditava que as colônias originais de Artur eram, de fato, no Novo Mundo, mesmo que a América fosse a própria Atlântida. Dee via Elizabeth como a reencarnação de Artur, e a ele mesmo como o mago Merlim, o conselheiro do Rei Artur.
Graças aos seus conhecimentos de astronomia e ótica, chaves para a navegação marítima da época, Dee também desempenhou importante papel como conselheiro para as viagens expansionistas da Inglaterra, tendo treinado muitos daqueles que conduziriam as viagens de descoberta e colonização e estabeleceriam a superioridade naval da nação. Ele formou uma empresa para colonizar, converter e explorar as Américas, até mesmo para abrir uma passagem do nordeste para a Ásia, com o objetivo de buscar a fonte de toda a sabedoria oculta. Há fortes evidências de que Dee foi a força intelectual por trás da circunavegação do globo pelo capitão Francis Drake (1540-1596) entre 1577 e 1580. O próprio Dee recebeu os direitos de todas as terras recém-descobertas ao norte do paralelo 50, o que lhe daria o Canadá, se Drake tivesse ido mais ao norte do que o Oregon.
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General and rare memorials pertayning to the Perfect Arte of Navigation. John Dee, London, 1577. Fonte: Royal College of Physicians.
Assim começou o “Império Onde o Sol Nunca se Põe”. Ou seja, um dos impérios mais bem-sucedidos da história, que manteve grande parte do globo sob seu controle por quatrocentos anos e é responsável pelo mundo moderno, foi arquitetado por um alquimista que mantinha contato com entidades de outras dimensões.
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The Sun Never Set on the British Empire, circa 1937. Source: Origin of Nations.
O plano de Dee era usar a magia para fomentar as políticas expansionistas de Elizabeth I. Nas cartas confidenciais que trocava com a Rainha, assinava usando o código “007”, que denotava serem aquelas informações apenas para os olhos da Rainha. Os zeros representavam os olhos, e o sete era um número da sorte a título de proteção. Os maçons usam um símbolo parecido em forma de pino de gravata que eles chamam de “Duas Bolas com Bengala” (Two Ball Cane), um trocadilho e ao mesmo tempo uma senha secreta para um Mestre Maçom, Tubalcaim, e que também é um óbvio símbolo fálico. 
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007 e Two Ball Cane. Fonte: Civiltà Scomparse - II Punto Zero.
Dee era um dos espiões da Rainha Elizabeth, e suas viagens pela Europa sob o pretexto de “conferências espirituais”, eram feitas para coletar informações. A reputação de mago ocultista o precedia, e ele estava obviamente bem conectado devido a sua posição na corte. Por volta de 1580, criou para a Coroa mapas profundamente influentes de países recém-descobertos.
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Dee também era cartógrafo, tendo estudado com o grande Gerardo Mercator. Ele desenhou uma série de mapas manuscritos, incluindo um da América do Norte em 1580 para a rainha Elizabeth. Por volta de 1582, ele preparou um mapa do hemisfério norte com uma projeção polar para Humphrey Gilbert (mostrado acima). Sua representação do Polo Norte foi baseada no mapa de Mercator daquela região, sobre o qual Mercator havia escrito para Dee em 1577, explicando suas fontes. O restante do mapa parece ter sido desenhado para fins de propaganda, promovendo várias formas possíveis de navegar para “Cathaia”, que é mostrada em frente à Grã-Bretanha. O mapa mostra várias vias navegáveis abertas para o leste, incluindo rotas ao norte da Escandinávia e da Rússia e da América do Norte. Fonte: Antique Prints Blog.
No início da década de 1580, insatisfeito com seu progresso no aprendizado dos segredos da natureza, ele começou a se voltar para o ocultismo como meio de adquirir conhecimento. Tudo começou quando Dee, imerso em orações, teria recebido a visita do Anjo Uriel. A partir daí, procurava especificamente entrar em contato com mundos espirituais, anjos e outras formas de inteligência por meio de uma bola de cristal e de um espelho negro de obsidiana (“obsidian black mirror”) ancorados em uma “Mesa Sagrada” coberta por símbolos herméticos que agiam como uma espécie de portal para interligar outros mundos.
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Os símbolos herméticos da "Mesa Sagrada" de John Dee. Fonte: History of Science Museum.
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Uma reconstrução moderna da Mesa Sagrada com o Selo de Deus no centro e também sob as pernas da mesa. Fonte: Museum of Witchcraft and Magic.
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O espelho negro de obsidiana de origem asteca. Foto: Stuart Campbell.
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Da esquerda para a direita: Bola de Cristal, Estojo de Espelho e espelho negro de obsidiana de John Dee em exposição no British Museum de Londres. Foto: Curious Archive, 2020.
As visões de anjos eram invocadas na superfície reflexiva desse espelho de vidro vulcânico trazido do México para a Europa entre 1527 e 1530 após a conquista da região por Hernán Cortés (1485-1547). Os espelhos eram usados ​​pelos sacerdotes astecas para conjurar visões e fazer profecias. Eles estavam ligados a Tezcatlipoca, deus da obsidiana e da feitiçaria, cujo nome pode ser traduzido da língua náuatle como “Espelho Fumegante”. Para suas conjurações, Dee se valia ainda de dois discos de cera gravados com figuras e nomes mágicos, usados ao consultar seu espelho negro.
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Os espelhos da divindade Tezcatlipoca, que significa "Espelho Fumegante" na língua náuatle. Foto: Stuart Campbell.
Em 1582, ele conheceu um médium de Lancashire, Edward Kelley, então usando o nome de Edward Talbot (1555-1597). Kelley era 28 anos mais novo que Dee e trazia um histórico de vida polêmico e inconstante. Kelley era um hábil calígrafo que usava seus talentos para falsificar documentos, fato que lhe rendeu reclusões e a amputação de suas duas orelhas. Certa vez, quando estava na região de Glastonbury, Kelley recebeu de um amigo um tratado que abordava princípios alquímicos como a transmutação do metal em ouro, além de substâncias em pó que seriam as “tinturas da filosofia hermética”. Tanto o manuscrito quanto as substâncias teriam sido encontradas no momento da violação de um túmulo de um bispo católico da região.
Os dois passaram a dedicar todas as suas energias às atividades de contatação de espíritos, conduzindo suas “conferências espirituais” ou “ações” com ar de intensa piedade cristã, sempre após períodos de purificação, oração e jejum. Juntos, conseguiram progressos significativos através de transe, telepatia e clarividência. Dee considerava Kelley uma pessoa sensivelmente capaz de receber mensagens espirituais ao ver alguns cristais ou pedras refletidas no sol, arte essa chamada de cristalomancia, por meio da qual buscavam obter a famosa Pedra Filosofal, substância alquímica mítica capaz de transformar metais básicos como mercúrio em ouro ou prata e propiciar longa vida.
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John Dee, alquimista, matemático e astrólogo inglês, com seu assistente Edward Kelly, médium, alquimista e feiticeiro. Eles seguiram uma carreira aventureira como feiticeiros na Europa tentando descobrir a "pedra filosofal" que converteria metais comuns em ouro. A amizade deles foi prejudicada quando Kelly decidiu que eles deveriam compartilhar suas esposas. Aqui John Dee consulta sua bola de cristal com Kelly ao fundo. Crédito: Sheila Terry/Science Photo Library.
A magia enoquiana realizada por Dee com Kelley como seu vidente e necromante, era uma forma de Teurgia baseada em uma hierarquia de inteligências espirituais chamadas “Os Vigilantes”, que se identificaram como os mesmos anjos que haviam instruído o patriarca bíblico Enoque ou Enoc (do hebraico Hanokh, “iniciado” ou “dedicado”, pertencente a sétima geração de Adão, sendo filho de Jarede e pai de Metusalém, o avô de Noé) na sabedoria oculta do céu e cuja tarefa era zelar pela humanidade. Durante as sessões psíquicas, Kelly se comunicava com inúmeros anjos que lhes ditaram profecias, instruções invocatórias e ritualísticas e uma linguagem angélica especial que Dee chamou de “enoquiana”, a língua mater da humanidade, falada antes da queda de Adão. Dee sustentou que os anjos lhes ditaram laboriosamente vários livros dessa maneira. Ambos dedicaram-se à elaboração dessa língua angélica, adâmica ou enoquiana, formulando os respetivos alfabeto, sintaxe e gramática no sentido de uma interpretação cabalística que explicasse a unidade mística da criação.
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O diário manuscrito de John Dee de 6 de maio de 1583, mostrando as 21 letras da escrita enoquiana. Fonte: Wikipédia.
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O enoquiano é uma linguagem própria completa, com seu próprio alfabeto, gramática, tabuletas, etc. Fonte: Museum of Witchcraft and Magic.
Esses anjos não eram propriamente caridosos e transmitiam pronunciamentos furiosos sobre a natureza espiritual decaída da humanidade. Eles insistentemente comparavam os humanos a “prostitutas”, não no sentido sexual, mas no de que eles permitem que suas atenções sejam cativadas por literalmente qualquer coisa, exceto Deus. Os anjos descreveram a ordem do cosmos e fizeram previsões apocalípticas de eventos futuros na política europeia.
O uso de meios mágicos não cristãos para chamar anjos, especialmente em uma época em que não havia como distinguir anjos dos demônios, significava que não eram propriamente “anjos” os seres que Dee e Kelley contatavam. Ciente de que havia pelo menos quatro torres ou pilares que funcionavam como portais estelares sobre a terra, Dee pretendia abrir um desses portais para permitir a vinda desses demônios ou “anjos caídos” que revelaram o nome celestial para Satanás: Choronzon, o “Morador do Abismo”. Outro dos rituais realizados por Dee foi convocar os porteiros Archon Cernunnos. [2]
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A figura com chifres do tipo Cernunnos ou deus com chifres, no caldeirão de Gundestrup, em exibição no Museu Nacional da Dinamarca em Copenhague. Fonte: Wikipédia.
De sua parte, Kelley estava apavorado com os espíritos, reconhecendo-os como demônios e constantemente implorando a Dee para interromper as sessões. Dee insistiu em seguir em frente, sobrecarregando Kelley até a exaustão e mantendo-o praticamente prisioneiro em Mortlake. Embora Dee possa ter sido o membro mais inteligente da sua espécie, ele ainda era visto como um mosquito insignificante pelas hiperinteligências angelicais, especialmente quando a dupla começou a implorar por dinheiro – Kelley até perguntou se os anjos poderiam emprestar algum dinheiro a ele! Mas, apesar de toda a embaraçosa falta de evolução de Dee e Kelley, eles teriam que servir, porque os “anjos” tinham um plano e eles eram os que estavam no ganho.
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John Dee e Edward Kelly evocando um espírito. Arte de Ebenezer Sibley, por volta de 1825. Fonte: Wikipédia.
Em suma, os anjos queriam nada menos do que uma nova ordem mundial dirigida por princípios divinos e propuseram o que deve ser uma das ideias mais nefastas da história: uma religião mundial baseada no amor e na fraternidade, um supracristianismo ou supramonoteísmo que não apenas uniria o catolicismo e o protestantismo, mas também o judaísmo e o islamismo em um todo fundido. As almas de todo o globo seriam assim reunidas em torno de um Estado e uma Igreja únicas, todos dirigidos pelos próprios anjos a partir da Nova Jerusalém. Nesse sentido, Dee já havia dado o primeiro passo ao estabelecer uma nova ordem mundial temporal sob Elizabeth.
Os anjos eram tão fervorosos que ordenaram a Dee e Kelley que se apresentassem à corte de Rodolfo II, contassem que ele estava possuído por demônios e ordenassem que atendesse à mensagem angélica. Esta foi uma sentença de morte, mas Dee e Kelley cumpriram fielmente a instrução. Rodolfo II os ignorou, mas o núncio papal não, e planejou sua destruição. A Igreja, ao que parece, levou a sério as reivindicações de Dee e Kelley, talvez como uma ameaça à sua própria existência.
Entre 1582 e 83, Dee escreveu o De Heptarchia Mystica (Sobre a Regra Mística dos Sete Planetas), um guia para invocar anjos sob a orientação do Anjo Uriel, não publicado durante a vida de Dee. Ao longo do texto há referências ao poder de Deus, orações a Deus, etc., que até podem ser lidas como cristãs, mas há muitas passagens – e apenas uma delas seria suficiente – que denotam sua origem demoníaca. Esses “anjos” se identificam como “deuses, criaturas que governaram, que governam e que governarão sobre você”, espécies de demiurgos ou arcontes, construtores do universo físico. Dee recebe o poder sobre esses anjos – “Estes (anjos) estarão sujeitos a você” –, algo que somente Deus poderia ter. Deus é chamado de “Príncipe Geral, Governador ou Anjo que é o Principal neste mundo”, ou seja, este não é o Deus cristão, mas o próprio Diabo.
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Um dos desenhos contidos em De Heptarchia Mystica. Fonte: Esoteric Archives.
Em abril de 1583, os rumores de que eles estavam produzindo ouro por meio da alquimia, atraiu o interesse de um nobre polonês, Olbracht Łaski (1536-1604), que os convidou para trabalhar em sua casa. Dee e Kelly deixaram a Inglaterra e realizaram experiências alquímicas e mediúnicas dispendiosas que colocaram as finanças de Łaski em risco.
Na segunda metade da década de 1580, instalaram-se em Praga. Decepcionado por não conseguir desvendar o manuscrito Voynich, Dee entrega-o ao Conde Rodolfo II, que andava fascinado pela alquimia. Rodolfo II ficou muito impressionado, porém sua alquimia logo levou a queixas de bruxaria e heresia, com o Papa Gregório XIII (1502-1585, eleito em 1572) exigindo sua prisão. Rodolfo II permitiu que eles escapassem. Dee e Kelly tornaram-se então astrólogos independentes, e após alguns anos de vida nômade na Europa Central e de relativa estabilidade na Boêmia, durante os quais continuaram suas sessões mediúnicas ou conferências espirituais, Kelly de repente tentou sair, mas foi forçado por Dee a ficar.
Embora nenhum anjo na acepção da palavra jamais tivesse aparecido como mulher, os anjos garantiram a Dee e Kelley que nada poderia ser mais falso, já que apareciam frequentemente na forma de belas mulheres ou andróginos. Enquanto consultava o anjo Madimi, que já havia se mostrado uma jovem brincalhona e concisamente informativa, Kelley viu uma Madimi adulta se despir totalmente antes de dizer que eles deveriam “compartilhar todas as coisas em comum”, e até mesmo suas esposas.
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John Dee segurando uma caneta e Edward Kelley olhando para um anjo em um globo. Os espíritos El e Madimi podem ser vistos no fundo (contornos brancos). O Selo de Deus está na Mesa Sagrada em primeiro plano. Fonte: Museum of Witchcraft and Magic.
A instrução de Madimi não poderia vir em melhor hora para Kelley, que queria terminar com as conferências espirituais aterradoras para poder se concentrar na alquimia, que sob o patrocínio do nobre William de Rosenberg (1535-1592) o estava tornando rico. Jane Dee, que não suportava Kelley, chorou incontrolavelmente quando soube do plano, que Dee achou revoltante, mas acatou como um comando divino. Dee estava tão perturbado que convocou o anjo Uriel em protesto, que ratificou a validade do comando. Dee tinha então 60 anos, altura em que se voltou à doutrina agostiniana do “Ama e faze o que quiseres” [3] para garantir a si mesmo que sua alma não seria condenada. A frase de Santo Agostinho (Aurélio Agostinho de Hipona, 354-430), é claro, ecoaria quatro séculos depois no “Faça o que tu queres há de ser o todo da lei”, de Aleister Crowley.
Como sua saúde financeira dependia em grande parte das comunicações angélicas para os patrões ricos, Dee concordou com a troca de esposas, isto apesar da grande diferença de idade entre os quatro indivíduos e a imoralidade da situação. O “ménage à quatre” foi realizado depois que as quatro partes assinaram um contrato. “Eis”, os anjos disseram a eles depois que isso foi feito, “vocês estão livres”. Dois dias depois, uma nova presença apareceu, a “Mulher Escarlate”, chamada Babalon em enoquiano, a Prostituta da Babilônia do Apocalipse, que voltaria a ser invocada séculos depois por Aleister Crowley e seu discípulo Jack Parsons. Dee e Kelley ficaram tão apavorados que os dois se separaram e as sessões cessaram.
1588 amanheceu, e o Apocalipse que os anjos prometeram não se manifestou. Envolvido indiretamente na causa política que afligia a região, Dee foi expulso de Praga por Rodolfo II. Dee e Kelley nunca mais se viram.
Tendo convencido muitas pessoas influentes de que era capaz de produzir ouro, por volta de 1590 Kelley estava vivendo uma vida abastada. Rosenberg lhe doara várias propriedades e grande somas de dinheiro e o nomeara “Barão do Reino”, mas cansou-se de esperar por resultados, e Rodolfo II mandou Kelley para a prisão em maio de 1591, no Castelo de Křivoklát, na Boêmia Central, República Tcheca. Por volta de 1594, Kelley concordou em cooperar e produzir ouro, foi libertado e restabeleceu seu status anterior. Novamente falhou, e novamente foi preso, desta vez no Castelo de Hněvín, na região de Ústí nad Labem. Ao tentar escapar, Kelley fratura a perna e, devido aos ferimentos não tratados adequadamente, acaba por falecer em 1597, aos 42 anos de idade.
Quase falido após seis anos de viagem, Dee voltou para Mortlakeem 1589 para encontrar sua biblioteca saqueada e muitos de seus valiosos livros e instrumentos destruídos ou roubados (parte do acervo de Dee sobrevive na Biblioteca Britânica e em outros lugares). Logo depois que ele voltou, um surto de Peste Negra varreu Londres, pelo qual ele foi culpado. A praga também vitimou Jane Dee e cinco dos oito filhos de Dee. Por volta de 1592, buscou auxílio com a Rainha Elizabeth, que por sua vez o encaminhou para a cidade de Manchester, longe de Londres, para atuar como diretor do Christ’s College, um insulto a um acadêmico como ele. Seu mandato não foi nada feliz lá, e ele teve de retornar a Londres em 1605.
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John Dee. Fonte: R. Burgess, Portraits of doctors & scientists in the Wellcome Institute, London 1973, nº 775.7.
Quando Elizabeth I morreu em 1603, Dee perdeu seu patrocínio, bem como sua capacidade de se defender de seus muitos inimigos políticos e religiosos. James I (1566-1625), seu sucessor, um obcecado pela ameaça que as bruxas representavam, tanto que escreveu o Daemonologie em 1597, supervisionava pessoalmente a tortura de mulheres acusadas de bruxaria e lançou um contra-ataque cristão contra a era de alta cultura e alta magia de Elizabeth I.
Antes considerado o homem mais inteligente do mundo, Dee agora era forçado a vender seus livros e vários de seus bens para sustentar a si mesmo e a sua filha, Katherine, que cuidou dele até sua morte por volta de março de 1609, aos 82 anos, predita pelo Arcanjo Rafael, que disse a Dee sobre uma “longa jornada para além do mar”. Os anjos também o consolaram dizendo que seu nome e memória seriam preservados para sempre.
Após sua morte, um antiquário da região adquiriu o terreno onde situava-se sua residência com o intuito de promover escavações e buscar “relicários” pertencentes ao ocultista. Diversos registros redigidos pelo próprio Dee foram encontrados, entre eles, descrições detalhadas de suas práticas conhecidas como “conferências espirituais”. Parte desse conteúdo foi publicado em 1659 por Meric Casaubon (1599-1671), um erudito clássico franco-inglês que foi responsável pela ideia generalizada de que Dee estava agindo como uma ferramenta involuntária de espíritos diabólicos.
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Meric Casaubon. Artista desconhecido. Fonte: Art UK. 
Em A Treatise Concerning Enthusiasme (1655), Casaubon escreveu contra o entusiasmo e circunscreveu o domínio do sobrenatural. No ano seguinte, ele produziu uma edição de John Dee, retratando-o como tendo relações com o diabo. Além de atacar aqueles que negavam totalmente o sobrenatural e limitar o papel da razão na fé, Casaubon defendia o aprendizado humanista contra as reivindicações de uma nova filosofia natural emanadas de figuras da Royal Society.
Na mesma época, membros da Ordem Rosacruz reivindicaram Dee como um deles, embora não haja evidências de que o próprio Dee tenha pertencido a qualquer sociedade secreta.
Como tantos pensadores especulativos dos séculos XVI e XVII, Dee era o que o jornalista e escritor judeu anglo-húngaro Arthur Koestler (1905-1983) chamou de sonâmbulo, um dos visionários que criaram o mundo moderno por meio de suas tentativas de explorar os contornos prescritivos do antigo. O envolvimento de Dee em assuntos ocultos – vidências e canalizações –, combinava credulidade e uma paixão intelectual por discernir padrões no universo. Como o principal cientista prático e teórico da Inglaterra, Dee também defendeu o heliocentrismo e fez previsões científicas surpreendentes – do telescópio, da velocidade da luz, da quarta dimensão e dos usos da ótica para armas e energia solar que não seriam experimentados até a década de 1960.
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John Dee. Imagem: Mundo Tentacular.
Não há evidências de que Dee tenha conhecido Giordano Bruno (1548-1600), embora Bruno certamente conhecesse o trabalho de Dee; nem há evidências de que conheceu William Shakespeare (1564-1616), embora tenha ensinado o poeta, dramaturgo e estadista elisabetano Fulke Greville (1554-1628), que se declarou “mestre de William Shakespeare”, e mais de uma vez foi sugerido que Dee tenha servido de modelo para o mago de Shakespeare, Próspero, de A Tempestade (1610 ou 1611). Ambos os homens levantam questões preocupantes sobre o uso e abuso de sua “arte” ou poder mágico. Eles evocam visões teatrais que logo se dissolvem diante de nossos olhos, levando os críticos a traçar conexões entre sua magicamente “potente Arte” (A Tempestade, 5.1.50) e o poder do dramaturgo, o próprio Shakespeare. Descrições contemporâneas de Dee como alto e esguio, com uma longa barba branca, usando um longo vestido com mangas penduradas, tornaram-se a imagem arquetípica do mágico, incluindo o mencionado Próspero de Shakespeare.
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John Dee. Pintor desconhecido. Fonte: National Maritime Museum, Greenwich. 
A figura arquetípica de mago de John Dee foi encarnada por Christopher Lee (1922-2015) em sua interpretação do mago Saruman, o Branco, na trilogia O Senhor dos Anéis (The Lord of The Rings, 1999-2001),do diretor neozelandês Peter Jackson, baseado na obra doescritor, professor universitário e filólogo britânico John Ronald Reuel Tolkien (1892-1973). O olhar plano e a barba branca são as principais semelhanças entre o ator e o bruxo. 
Saruman tem seu palantír, enquanto John Dee tem sua pedra de apresentação. Ambos são bolas de cristal que eles usam para inspecionar magicamente a terra e lhes dão o poder de falar com os espíritos. 
Saruman (que significa "homem de habilidade ou astúcia" no dialeto mércio do anglo-saxão) se comunica com "o Necromante", que é um nome dado à presença vaga e maligna que se esconde nas sombras da Floresta das Trevas em O Hobbit e mais tarde é revelado ser o próprio Sauron, que estava convocando demônios e trazendo os mortos de volta à vida neste momento, em vez de liderar orcs para a guerra contra Gondor. 
Saruman e John Dee eram magos de grande conhecimento tanto mágico quanto científico. Dee era um matemático, cartógrafo e mecânico. Saruman era um químico, tendo projetado a pólvora que seu uruk-hai usa para demolir as paredes do Abismo de Helm. 
John Dee e Saruman tinham redes de espionagem. Frodo e companhia devem se preocupar com os espiões do Mago Branco tanto quanto se preocupam com os próprios Cavaleiros Negros de Sauron. Além dos rufiões que Sauron emprega para se infiltrar e flagelar o Condado em O Retorno do Rei, ele tem um enxame de corvos chamados Crebain, que usa para espionar a Sociedade. A rede de espionagem de John Dee consistia em uma rede de agentes estrangeiros no exterior, muitos provavelmente à procura de católicos conspirando na França para retornar à Inglaterra e matar a rainha. Ele também pode ter usado espíritos e a magia de sua pedra de apresentação para espionar inimigos no exterior. 
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Christophe Lee como Saruman, a encarnação de John Dee. 
Saruman e John Dee são tão atraídos por um poder misterioso que os levam a fazer acordos com o diabo dos quais mais tarde se arrependem. Eles têm o complexo de Fausto, do médico, mago e alquimista alemão Dr. Johannes Georg Faust (1480-1540), que teria feito um pacto com o diabo, a quem ele convoca em uma encruzilhada à meia-noite em um ritual necromântico a fim de obter conhecimento proibido de magia. No final, Fausto é arrastado para o inferno por demônios. Sua história foi contada inúmeras vezes, com destaque para a de Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832). O acordo de Saruman com Sauron é semelhante. 
Contribuições adicionais para o estudo da magia enoquiana foram feitas ao longo dos séculos por Thomas Rudd (1583-1656), engenheiro militar e matemático inglês, Elias Ashmole (1617-1692), astrólogo e alquimista britânico, Samuel Liddell “MacGregor” Mathers (1854-1918), ocultista britânico, William Wynn Westcott (1848-1925), ocultista britânico, Francis Israel Regudy, mais conhecido como Israel Regardie (1907-1985), ocultista e escritor que trabalhou como secretário pessoal de Aleister Crowley (1875-1947), e o próprio Aleister Crowley, que se tornou uma espécie de John Dee dos tempos hodiernos.
Notas
1. Com dimensões de um livro de bolso (16 centímetros de largura, 22 centímetros de altura e 4 de espessura), as 240 páginas do manuscrito em pergaminho de vitelo são ricamente ilustradas, sendo que algumas folhas têm várias vezes o tamanho do livro quando desdobradas. Metade do volume retrata plantas inteiras, a maioria não identificada (três delas foram, mas as espécies ocorrem em várias partes do mundo, não ajudando a localizar sua origem). Segue uma seção astrológica, com desenhos do Sol, da Lua, de estrelas, o zodíaco, círculos no céu e muitas mulheres nuas em piscinas com líquido verde. A seção seguinte contém estranhos desenhos de tubos, que se conjectura serem vasos sanguíneos, microscópios ou telescópios, e mais mulheres nuas em piscinas. Em seguida vem a seção chamada de farmacêutica, que parece uma lista aparentemente sobre folhas e raízes. O livro termina com páginas repletas de um texto formado por uma série de parágrafos curtos, ilustrado apenas por estrelas nas margens. Os cerca de 40 símbolos do texto lembram vagamente números arábicos e letras do alfabeto latino, bem como alguns sinais usados por alquimistas medievais. Eles estão organizados como em qualquer texto ocidental, agrupados em palavras separadas por espaços.
2. Cernunnos (em latim e em celta), deus chifrudo celta da natureza e da fertilidade que por vezes aparece sentado em posição de lótus e associado com animais. Karnon, do gaulês “corno”, é cognato de cornu do latim, de hurnaz do germânico, e de horn do inglês. Cernunnos é a mais antiga divindade do panteão celta. Há sinais, inclusive, de que ele seja anterior às invasões celtas. Independentemente de sua origem, o deus cornudo, galhudo ou cornífero, desempenha uma função importante não só por se tratar do senhor dos animais e mestre das caças, mas também da fertilidade e da abundância, regulando as colheitas dos grãos e das frutas e conectando a terra, o céu e o mar no centro sagrado do mundo. Posteriormente, foi considerado também o deus do dinheiro e, em alguns momentos, é associado ao Sol. Segundo as lendas, Cernunnos (o princípio masculino) é filho da grande deusa (o princípio feminino). Ele atinge sua maturidade no solstício de verão e se apaixona pela deusa. Ao fazerem amor, deposita toda sua força e a engravida. Quando a deusa dá a luz no solstício de inverno, o deus morre, pois foi ele mesmo que renasceu. É a representação da passagem das estações. Um símbolo do poder natural da vida, da morte e do renascimento. Essa relação incestuosa foi substituída por outra lenda, registrada por um poeta. Nela, Cernunnos nasceu da grande deusa sem seus chifres. Atingiu sua maturidade no verão e se apaixonou por Epona. Com ela se casou e ambos reinavam no subterrâneo, onde encaminhavam as almas. Porém, Epona precisava vir à terra cumprir suas funções de deusa da fertilidade, lembrando a história de Hades e Perséfone. Num desses momentos, Epona o traiu e uma galhada começou a nascer na cabeça do deus. Daí viria a ligação entre traições e chifres. No caldeirão Gundestrup, em Himmerland, Jutland, na Dinamarca, aparece sentado de pernas cruzadas, segurando uma serpente e um torque, ladeado por animais (incluindo um veado). A escultura está hoje no Museu Nacional da Dinamarca. Sua primeira representação conhecida está presente em uma gravação sobre rocha datada do século IV encontrada no norte da Itália. Aparece como um ser de aspecto antropomorfo, dotado de dois chifres de cervo na cabeça e dois torques em cada braço. O torque (espécie de argola aberta torcida com as extremidades em forma de esferas) é um atributo de poder e realeza utilizado no pescoço ou nos braços pelos grandes chefes e guerreiros mais destacados para que fossem identificados como mestres na sociedade celta. Ao lado dessa imagem estava desenhada uma serpente com cabeça de carneiro, símbolo de renascimento e sabedoria. Acreditava-se, então, que Cernunnos poderia tomar a forma deste animal. Frequentemente é representado acompanhado por animais, principalmente cervos e touros. Os deuses com chifres são sempre identificados como entidades de sabedoria e de poder. Na Antiguidade, tais protuberâncias cefálicas podiam ser levadas apenas pelos mais viris, dotados de valor, honra, masculinidade, etc. É possível que a ideia de “coroa real” venha daí. Um conto popular gaélico fala sobre viajantes que ganharam chifres ao comerem maçãs da floresta de Cernunnos. Após mordê-las, chifres cresceram em suas testas e eles passaram a compreender muitas coisas que aconteciam ao redor do mundo. Uma lenda escocesa afirma que chifres apareciam na cabeça dos melhores guerreiros. Os vikings são popularmente conhecidos por seus elmos com chifres, mas eles nunca levavam adornos semelhantes aos combates, pois isso seria um grande incômodo. Na verdade, utilizavam capacetes lisos e práticos, quase sem ornamentos. Os famosos capacetes com chifres eram utilizados apenas em cerimônias religiosas. Cernunnos foi muito adorado entre os povos celtas da França (Gália) e da Grã-Bretanha, onde foi associado a Belatucadnos, um deus da guerra. Os gregos associavam-no a Pã, mas os romanos o relacionaram a Mercúrio. Na Irlanda medieval, os chifres de Cernunnos foram transferidos ao Diabo, dando forças ao cristianismo contra o paganismo.
3. “Ama e faze o que quiseres. Tudo é permitido, que o amor permite; tudo é proibido, que o amor proíbe”, in Homilies on the First Epistle of John (Homilias sobre a Primeira Epístola de João), de Santo Agostinho.
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DIÁRIO DE PLANEJAMENTO #10 - Cenas e emoções (e mais algumas sugestões de leitura)
Oii, como vai? Hoje vamos falar um pouco sobre cenas e como as emoções nos ajudam a torná-las melhores. Como você constrói suas cenas e as emoções nelas?
Bem, parece algo simples, não? Você apenas fica em frete ao computador e escreve. Certo? Durante um bom tempo é o que eu pensei, mas como criei esse blog para aprender e entender como meu processo funcionava, vi que não era tão simples.
Para que um boa cena tenha tudo que precisa ele geralmente se baseia nos princípios básicos da narrativa: personagens, enredo, lugar, tempo e narrador. Priscamos que alguém esteja agindo ou reagindo, precisamos que esse alguém esteja inserido em um lugar e tempo, que esse alguém esteja fazendo algumas coisa e que alguém esteja contando/narrando/mostrando essa história. É tudo o que uma cena precisa para existir e tecnicamente, ela nem precisa fazer muito sentido, especialmente se for uma cena deslocada da qualquer outra cena ou enredo.
Entretanto, o que ela precisa para ser uma boa cena e se conectar a outras? 
Ela precisa ter certa continuidade para podermos continuar a história na próxima cena; 
Ela precisa ter um objeto com começo, meio e fim; 
Ela precisa de emoção.
É simples de entender. Dentro de uma cena pode haver um acontecimento ou podem haver mais de um. O Personagem deve ir de um ponto a outro de forma que soe credível. Ele deve ter algo a cumprir nessa cena. Por exemplo, ele precisa de ajuda, então vai em busca de um amigo e fala com ele. Essa foi a cena. Mas como podemos expressar emoções?
A forma mais simples que conheço é através do que seu personagem sente. Você inserir no texto o que seu personagem vai sentindo ou pode usar a técnica dos cinco sentidos.
Técnica dos Cinco Sentidos
É uma técnica que nos ajuda a criar cenas mais imersivas. Ela funciona quando decididos mostrar nossas cenas ao invés de contá-las. Por que não deixar que o personagem experimente os lugares e sensações através dos cinco sentidos? Olfato (cheiro), Visão, Audição (ouvir), Tato (tocar) e Paladar (gosto).
Claro que os cinco sentidos não servem apenas para isso. Poderíamos usá-los para a construção de personagem, dizendo como o protagonista vê ou se sente referente a uma pessoa. Por exemplo, a garota cheira a rosas, a talco de bebê, a pessoa o faz lembrar do cheiro da sua mãe, a comida que ele comia na infância e assim vai.
Sendo assim, nossos sentidos nos fazem entender o mundo ao nosso redor. Os leitores devem ser capazes de interpretar os arredores que descrevemos, de forma, mergulhando na história sem a necessidade de ficar pulando descrições chatas.
OBS: essa próxima parte peguei de algum lugar muitos anos atrás e agora já perdi o link, porém, esses trechos definem muito bem como a técnica funciona.
OLFATO
“A pousada estava cheia de colhedores de azeitonas, trabalhadores da vinha, carroceiros, fazendeiros e suas famílias. O suor de seu trabalho misturado com os cheiros de fumaça da lareira, lã molhada secando e esterco em suas botas.” (A Paixão de Artemísia, de Susan Vreeland).
VISÃO
“… as nuvens se separaram e a luz do sol roçou com um leve toque os arcos de pedra e as ameias da Porta Romana, a entrada sul da cidade de Florença. Edifícios ocres com telhados vermelhos e venezianas da cor de canela ou manjericão alinhavam-se na estrada." (A Paixão de Artemísia, de Susan Vreeland).
AUDIÇÃO 
“No passado, o outono começava com um barulho coletivo nas copas das árvores; então, em uma profusão sem fim, as folhas se quebraram e caíram flutuando, circulando e batendo em correntes ascendentes como o mundo se derramando.” (Os Virgens Suicidas, de Jeffrey Eugenides).
TATO
"Fiquei hipnotizado pelo calor e cheiro delicioso até que a chuva interferisse, correndo seus dedos gelados pelas minhas costas, me forçando a voltar à vida." (Jogos Vorazes, de Suzanne Collins).
PALADAR
“Tomei um gole. As pequenas bolhas derreteram na minha boca e viajaram para o norte em meu cérebro. Doce. Crocante. Delicioso.” (A Culpa é das estrelas, de John Green).
Essa técnica se aplica diretamente nas descrições. Se usarmos os cinco sentidos, assim mostrando e experimentando o mundo junto com nosso personagem, raramente será uma decisão equivocada.
Vamos tentar?
Cena: (Escrito por mim anos atrás.)
Eu estava aqui e ele estava ali, tão perto, mas tão longe. Por que ele não olhava para mim? Não havia ninguém na sala que não fossemos nós dois. Ele a um canto da sala, encarando seu celular e eu, de pernas cruzadas e segurando minha mochila contra o peito, sentindo aquela palpitação que não me deixava pensar. 
O que estava acontecendo comigo? Se ele fosse qualquer outra pessoa e se eu não sentisse como se fosse outra pessoa, nada disso estaria acontecendo. Ele não estaria me ignorando e eu não estaria me sentindo como o trapo mais inútil do mundo. Abaixei a cabeça e respirei fundo. Como eu odiava aquele lugar! Me fazia lembrar do passado, dos dias que tinha passado preso a uma agulha, condenado a observar aquelas gotas que me envenenavam, caírem lentamente, uma atrás da outra, indo direto para minhas veias, como um relógio que nunca parava, incessante e cruel, e final.
Por que ele não falava comigo? Por que ele não olhava para mim? Eu faria de tudo para ter mais esse momento, mesmo que eu tivesse que me obrigar a voltar a esse lugar de novo e de novo e de novo.
— Jamie Maritno? — A enfermeira anunciou. — O médico vai vê-lo agora.
Suspirei aliviado, finalmente meu tormento iria acabar. Me levantei e Alex, do outro lado da sala, se levantou comigo. E ao meu lado, sem proferir uma palavra ou um singelo olhar, seguiu a enfermeira. Eu fui junto, feito um fantoche guiado pelo mestre, me arrependendo de tudo, a centímetros de distância, mas sem poder tocá-lo; esse era nosso acordo silencioso.
Agora, eu gostaria de falar sobre uma técnica que nos ajuda a saber qual tipo de cena usar. Ela tem mais a ver com estrutura, uma forma de organizar nossas cenas sem complicações.
Cenas Reativas e Proativas
Existem dois tipos principais de cenas, as proativas e reativas: As cenas proativas ou de ação são aquelas em que o personagem pratica a ação e as reativas é quando o personagens reagem à ação, geralmente é quando se tem um momento de reflexão e de consequenciais dessa cena. Ou também podemos pensar nelas como “expectativa e resultado”, explicando que é necessário dar uma solução para uma pergunta feita anteriormente a fim de fazer a história avançar. A pergunta é feita na cena proativa, onde se cria a expectativa, e a resposta ou resultado vem na cena reativa onde conhecemos as consequências para tal ação anteriormente praticada.
Cena Proativa – ou de Ação
A cena proativa se desenvolve quando o personagem executa a ação. Ele quer alcançar algum objetivo e que geralmente há um conflito que o impede. Entretanto, nesse tipo de cena, nosso personagem não está lá porque alguém disse que ele tem que estar. Ele embarcou nesta aventura porque ele quis e ele é o personagem que sempre deve mover a história adiante, isto é, aquele que toma a decisão do próximo passo a se dar. O enredo deve ser sobre ele e o antagonista deve se opor diretamente a ele, psicológica e fisicamente. 
O personagem principal sempre deve sofrer as maiores consequências dos acontecimentos e ele deve decidir prosseguir por vontade própria, mesmo que no início ele seja levado por esse caminho pela influência de outras pessoas. O fim da cena deve servir de catapulta para uma próxima, com outra coisa aparecendo no caminho ou surgindo outro desafio que ele deve completar antes de chegar ao objetivo principal.
Resumindo, temos:
Objetivo: No começo da cena o personagem tem algum objetivo que ele espera alcançar ao final da cena.
Conflito: O personagem tenta completar seu objetivo, mas encontra obstáculos.
Revés: Ao fim da cena o personagem geralmente falha no que tentava fazer e se encontra em uma situação pior que a anterior, ou então, ele consegue o que queria, mas outra coisa ruim acontece ou outra dificuldade aparece em seu caminho.
Para criar uma cena proativa, temos que nos fazer as seguintes perguntas:
Quem é o personagem foco da cena? Qual é o seu objetivo para a cena?
O objetivo de uma cena deve ser simples e objetivo, facilmente visualizado pelo leitor;
O objetivo tem que fazer sentido e ser verossímil para a narrativa (construir personagem ou avançar a trama, ou os dois);
O objetivo tem que ser difícil, se for muito fácil a cena perde em tensão. É a tensão crescente em uma narrativa que cria o efeito “leitura viciante” ou seja, torna impossível o leitor largar o livro.
Conflito:
O conflito é essencial para uma cena proativa. Não tenha dó do seu protagonista, empilhe dificuldades atrás de dificuldades em cima dele. Não deixe o seu protagonista desistir prematuramente.
Reves:
Quanto mais tarde acontecer o revés no final de uma cena, melhor. A técnica do gancho narrativo é colocar, na frase final, o revés. Isso torna impossível parar de ler, mas, como toda técnica narrativa, tem que ser usada com parcimônia, ou o seu leitor vai sacar a estrutura e ficar sempre esperando o gancho no final da cena.
O revés deve ser inesperado, mas ao mesmo tempo seguir logicamente o enredo da narrativa.
Depois de uma cena proativa terminada com um revés, segue-se uma cena reativa, onde o protagonista toma fôlego novamente para criar um novo objetivo e tocar a trama em frente.
Cena Reativa - Consequência e Reação
Aqui, nosso personagem apenas está reagindo ao que aconteceu na cena anterior, é onde são apresentadas as consequências dos atos do personagem e o impacto emocional de algo que aconteceu. Esse tipo de cena foca no impacto físico ou psicológico, na vida de um ou mais personagens, pois cenas reativas são usadas para revelar dimensões mais profundas da psicologia de um personagem. Por exemplo, uma cena onde observamos a reação fria e indiferente de um personagem no dia após ele matar outro personagem.
Assim, temos:
Reação: No início da cena reativa o personagem ainda está se recuperando do revés da cena anterior. Ele passará algum tempo reagindo emocionalmente e então retomará o controle de seus sentimentos. A reação é emocional.
Dilema: No meio da cena o personagem estará calculando seu próximo passo. Geralmente isso consiste em escolher a opção menos ruim. O dilema é intelectual.
Decisão: eventualmente o personagem toma uma decisão. Essa decisão fornecerá o objetivo para a próxima cena proativa.
Resumindo:
Na cena reativa, o conflito é interior. O personagem enfrenta um dilema e precisa tomar uma decisão difícil. Em ambas as cenas, várias características são parecidas. Os dois tipos tem um personagem principal, um conflito, dificuldade e drama. Os dois tipos precisam mover a história adiante. Mas, o funcionamento interno varia entre cada tipo de cena e da necessidade dela de acordo com o que sua história precisa.
Vocês conseguem ver onde o fim desse tipo de cena nos leva?
Não? Pois bem, o fim de uma cena reativa nos deixa prontos para começar a próxima cena, que deverá ser proativa, pois esse tempo que o personagem leva para ponderar sobre o acontecimento empurra nosso personagem em direção a cena seguinte, uma cena alimentando a outra, em um ciclo que continua até chegarmos ao fim do livro.
Entretanto, há casos que esse estrutura pode ser quebrada. Onde, normalmente, teríamos cenas proativas seguidas de reativas, se nós quisermos acelerar a história podemos usar uma cena proativa atrás de outra cena proativa, ou usar cenas reativas curtíssimas. Se quisermos diminuir a velocidade da narrativa, basta aumentar as cenas reativas, pois elas são ótimas para construir personagens, colocando lembranças, memórias, diálogos que revelam o passado e a personalidade do personagem. Entre uma Cena Proativa e Reativa você pode mudar o Ponto de Vista Narrativo, usando essa alternância para introduzir novas narrativas na história. Atualmente, os romances tendem a deixar as cenas reativas mais simples e essenciais possíveis, focando mais em cenas proativas.
Os posts completos sobre esse assunto pode ser achados aqui:
Cenas
Cenas e seus aspectos
O ponto principal das cenas proativas e reativas é dar consequencia aos acontecimentos da sua história. Afinal, um enredo sem consequencias para seu protagonista dificil irá para a frente. E antes de irmos, gostaria de sugerir mais alguns posts que eu fui durante os anos:
ESTRUTURAÇÃO DE FRASES E PARÁGRAFOS 
Nesses tenho alguns conselhos que podem ser interessante e até uma forma de criar a estrutura de paragrafos.
MÉTODOS DE PLANEJAMENTO
Aqui discutimos quais são os tipos de escritores e seus processos criativos.
AMADURECENDO A IDEIA
Alguns questioamentos interessantes para o desenvolvimento do enredo.
PLANEJAMENTO DA HISTÓRIA
Um planejamento com os acpectos mais importante de uma história que eu estava escrevendo.
ROTEIRO DA HISTÓRIA
Eu devia ter deixado um post para falar somente sobre isso, mas como já tenho um post assim, decidi compartilhar com você. Ele fala do planejamento capítulo a capítulo que eu costumo fazer quando tenho muitas ideias. É algo para organizar o enredo e ter certeza que nada está faltando.
Por hoje é só. Sei que nesse post falei mais sobre tecnicas, eu achei que era o que o projeto estava precisando. Assim, vou tirar uma folga até a proxima segunda! Mas se alguém tiver duvidas, volto antes. Até logo!
POSTS ANTERIORES
Apresentação  
Dia 1 - O início da ideia  
Dia 2 - Visualizando as cenas  
Interlúdio - Como eu NÃO Planejei meu Livro
Dia 3 - Preparando a base  
Dia 4 -  Voltando aos clássicos  
Dia 5 - Expandindo a história
Dia 6 - Continuando a expandir (Momento Incitante)  
Dia 7 - Continuando a expandir, parte II (Exposição Inicial)
Dia 8 - Continuando a expandir, parte III (Fim da Exposição)  
Interlúdio #2 - Estruturas são fixas, flexíveis ou falta de criatividade? (Desenvolvimento do enredo)
Dia 9 -  Continuando a expandir, parte IV (Desenvolvimento e Resolução)
CONTRIBUIÇÕES
Como eu NÃO Planejei meu Livro, por @EGBRAGA  
Como Produzir Boas Cenas, por @EGBRAGA
***
Onde me encontrar:
https://escritoremaprendizado.tumblr.com/
https://desafiodeescritadiario.tumblr.com/
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O Satélite se Tenciona ao Nada
Sangrou na brecha quilos de moedas O que parecia ser ouro, era pus enrijecido O que era cobre, simula a saliva enferrujada O que era prata, acumula-se no bolor Desbota-se em luzes artificiais Desdobra-se para além da terra A promessa de fogo nos olhos Fora rompida pela pólvora Já mal sinto, contenho Eu peço por bijuterias e rezas Decoro o coro de toques ingênuos Me ato no reflexo misantropo A boca de zinco tens dilemas: Cafeteiras de porcelana, prazo estendido, Crise estomacal, monogamia, paz estéril, Arrogância, lobby farmacêutico, ataxia O sol se tarda, colore as paredes higienistas Em um amarelo esterco-higiênico A sangria que segurava a miséria Declama a falência múltipla de seus filtros Toda a febre deverá ser crucificada Demônios invadiram a tentação do corpo Enquanto moldava a santidade ao teu bel entreter Pai a corrupção, o Filho milícia, o espírito a mímica Ontem, ao menos eu tive espelhos Hoje nada tenho se não a recordação Pintando a fachada com nome de assassinos Absolvendo vampiros, consumando vitimas Se me provocas eu lhe cobiço Se me amaldiçoa, eu enxerto inversões Coagula no silêncio o estilhaço dos teus lábios Murchos a ideia interpretativa de devassidão
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iurykafka · 1 year
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pqp
A vida estupra.
Enraba com força,
Não para!
É namorada do tempo
Esse outro pau no cu.
Que passa os momentos
Os poucos, mas felizes!
Alegria de pobre e cicatrizes
O fim dos desenhos da manhã
Sono, cansaço e ônibus
Contas e patrão filho da puta!
Derruba, derruba, derruba!
Que ele é pobre e preto
Manda esse cretino pro esterco
Não alivia!
Êi, JC!
Tá foda!
Os fariseus são mitos
Cretinos desgraçados
Que andam abraçados com armas
E a gente só queria ler um livro
Um gibi, mas falaram que era hora de dormir
Que amanhã tinha trabalho
Achei que era domingo,
Mas dizem que é mentira
Que até o próprio Deus
No domingo descansou.
E sabe de uma coisa?
Se a gente pensar muito
Ou talvez só um pouco nisso,
A gente se fode,
É tipo se a gente fosse um cachorro
E não pudesse nem gemer com a paulada do humano.
Tem mais não
Iury Aleson
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maddcxhatter · 2 years
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                  maddox era muito mais do que todos poderiam imaginar, não era apenas um rebelde sem causa, que fazia qualquer coisa só pela graça de ficar doidão, a sobriedade para o hatter quase chegava a não ser mais uma opção, visto que a maldade de seus pensamentos e a altura dos mesmos eram mais do que ele podia aguentar, gostava de comparar sua mente a um caixão fechado abaixo da terra, onde suas unhas arranhavam a madeira e seus gritos ecoavam ao seu redor mas aos poucos podia se sentir morrendo pouco a pouco, a ponto que havia que usar alguma coisa para silenciar as vozes, a culpa e os pesadelos, mas claro aquilo era só o que maddox sentia e não deixava um terço de seu medo expor, mascarando seus sentimentos em sua groceria afastando qualquer um que pudesse se importar o bastante para perceber o caminho que estava caindo livremente. o abuso pelas substâncias havia chego a um nível que as providas por castigo não era suficiente, ele precisava de mais, ele queria mais, mais paz, mais silêncio, mais prazer, qualquer coisa que amenizasse a dor de estar vivo. maddox sabia que ir em tharte era perigoso, por isso não levava ninguém lá, não mais, porém ainda assumia o risco de ir sozinho atrás das flores que aliviavam sua dor, e no final de morresse era de fato uma perda visto que desde a morte de clarissa e stefan ele estava morto por dentro. normalmente ia para a outra dimensão em seu quarto, pegando qualquer chapéu que achasse mas por algum motivo o filho do chapeleiro não tinha nenhum, o que o fazia ter que aumentar sua lista de tarefas, tinha que roubar um. bem pra sua sorte, enquanto andava pelo jardim achou um boné velho e surrado, ele caminhou para dentro dos arbustos fechando os olhos. “leve-me a tharte.“ disse sentindo o poder fluir de suas mãos ao boné e do boné de volta para si, ele jogou o mesmo no chão vendo o chão se abrir num tipo de escorregador e ele desceu no mesmo, começando a procurar o carro que pegaria naquele dia em especial para dirigir até a rainbow forest, mas algo dentro de si o avisou, ele estava sendo observado, rapidamente o homem pegou as duas adagas que carregava em seu cinto e virou suas costas para o carro mais próximo afim de proteger-se, se aquela era sua hora ele estava pronto para morrer, bem, você pode imaginar o tamanho da surpresa de maddox ao avistar @emtiontamer​ ao invés do monstro devorador de carne humana. “você só pode estar fodendo comigo! cê tá louca? bateu a cabeça? fumou esterco?! que porra você tá fazendo aqui?!” o tom duro era seguido do rosto fechado mas se olhasse no fundo dos olhos do rapaz você poderia ver a preocupação palpável e o medo de algo acontecer com a outra. “pessoas morreram aqui, esse lugar é perigoso, você tá louca?”
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gralhando · 2 years
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Borboletas da morte - #
     Você viu borboletas coloridas se alimentando da morte. Elas mergulhavam os probóscides no corpo onde mareja o teor do apodrecimento. Você ignorou a visão porque não quis crer. Não acredita ainda agora nos avisos que eu já havia escrito.      Não existe uma mulher, não existe um homem, que parasite uma língua. Uma mulher ou um homem parasitam uma voz. Não as palavras, estas sofrem uma própria guerra psíquica, mas a voz, parasitam duramente uma voz. Com isto, formam do roimento, casulos e culturas. Destes casulos e culturas saem estas borboletas em nuvens. As borboletas que descem aos estercos e corpos abandonados sobre a terra e à tona da água.
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uniorkadigital · 3 days
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amarretadoazarao · 7 days
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Escitalopram
É bem verdade(ou ilusão farmacoquímica)Que quase já não sinto o mefítico da multidão que me rodeia onde quer que eu vá,O futum de sua festiva ignorância,O esterco moral que lhe é a vestimenta da moda,Que lhe é a grife falsificada mais desejada.E isso,É bem verdade(ou ilusão farmacoquímica),Concede-me oásis momentâneosDe tranquilidade/tolerânciaDurante as 24 cada vez mais longas horas do dia.Por…
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