De Olhos Bem Fechados: Todo o simbolismo ocultista do último filme de Kubrick que expôs o submundo dos cultos satânicos da Elite Illuminati - parte 1
Por Cláudio Tsuyoshi Suenaga
Nunca houve um diretor de cinema mais à frente de seu tempo do que Stanley Kubrick, tampouco um tão anti-establishment e que tenha procurado revelar tantos segredos ocultos da Elite Illuminati devidamente disfarçados e codificados em camadas e mais camadas de profundidades, pistas visuais subliminares e insinuações astutas.
Kubrick não denunciou conspirações e perfídias cometidas por governos, sociedades secretas, entidades controladoras ou grupos elitistas ocultistas apenas no seu último filme. Esse princípio de servir à narrativa superficial e a indústria enquanto codifica um subtexto oculto é algo que Kubrick realizou ao longo de toda a sua incomparável carreira de 50 anos. Talvez por isso mesmo e por sua meticulosa atenção aos detalhes e inabdicável perfeccionismo, que o mestre artesão fez apenas 13 filmes.
Kubrick morreu de um ataque cardíaco enquanto dormia, aos 70 anos, em 7 de março de 1999, exatamente 666 dias antes de 1º de janeiro de 2001 (em um aceno horrível para seu filme mais famoso) e apenas cinco dias depois de entregar aos engravatados da Warner Bros. o corte final de Eyes Wide Shut, adaptado do romance Traumnovelle (Dream Story), escrito pelo médico austríaco Arthur Schnitzler (1862-1931) em 1926 e recomendado em 1968 pelo produtor executivo germano-americano, antigo assistente e cunhado de Kubrick, Jan Harlan (1937-). Kubrick passou três décadas desenvolvendo o roteiro, mas seu perfeccionismo fez com que as páginas do roteiro fossem reescritas no set. O filme levou aproximadamente cinco anos na pré e pós-produção e detém o Recorde Mundial do Guinness para a filmagem contínua mais longa, com 400 dias.
Kubrick teria sido assassinado por ter ido longe demais ao revelar o submundo da alta elite e seus rituais e sacrifícios satânicos?
O compositor austríaco Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791) morreu logo após revelar os mistérios maçônicos em sua ópera A Flauta Mágica (1791), com libreto do alemão Emanuel Schikaneder (1751-1812), seu companheiro de loja maçônica. O jornalista e escritor inglês Stephen Knight (1951-1985) desvendou a conspiração maçônica por trás dos assassinatos de Whitechapel da Londres vitoriana em seu livro Jack the Ripper: The Final Solution (London, George G. Harrap & Co. Ltd.), lançado em 1976. A partir do ano seguinte, Knight começou a sofrer ataques epilépticos, e em 1980 foi constatado um tumor em seu cérebro. O tumor foi removido, mas retornou em 1984. Knight faleceu aos 33 anos (ironicamente o mesmo número de graus da Maçonaria e a idade de Cristo quando foi crucificado) em 1985, menos de um ano depois de ter lançado The Brotherhood: Secret World of Freemason (New York, Acacia Press), no qual desnudava vários segredos da Maçonaria. E William Morgan (1774-1826), autor de Freemasonry Exposed and Explained (New York, Fitzgerald Publishing Corportation, 1882), publicado pela primeira vez em 1836, foi sequestrado e assassinado por maçons do oeste de Nova York, o que deu início a um forte movimento antimaçônico.
Se a morte súbita de Kubrick decorreu de um assassinato, este pode ter sido encomendado por magnatas da alta elite de Hollywood que, ao verem a prévia ou exibição teste do filme pela primeira vez, decidiram pelo corte de grande parte do conteúdo. Antevendo que Kubrick não concordaria, cioso que era pela inviolabilidade de sua obra, resolveram removê-lo definitivamente, numa política conhecida como “controle” ou “redução de danos”.
Com Kubrick fora do caminho, o filme poderia ser reeditado, com a garantia de que nada significativo seria cortado, e embora a intenção fosse suprimir as cenas mais comprometedoras, isso é exatamente o que diriam. De fato, De Olhos Bem Fechados é tido como o filme inacabado de Kubrick, que teve apenas tempo para supervisionar o corte final, pré-exibido em 2 de março, cinco dias antes de sua morte.
Citando obrigações contratuais para fornecer uma classificação R (Restrito, menores de 17 anos requerem um acompanhamento dos pais ou responsáveis), a Warner Bros. alterou digitalmente a orgia na mansão, adicionando figuras sombrias digitalmente para bloquear alguns dos atos sexuais mais obscenos na sequência da orgia, evitando assim uma classificação NC-17 (fortes cenas de sexo, apenas para adultos) que limitaria a distribuição. Ora, se Kubrick teve de contornar as restrições verbais e visuais do Hayes Production Code, que proibia o uso aberto de linguagem chula, nudez, conteúdo sexual, etc. em Lolita, nunca se importou com tais restrições, vide que Laranja Mecânica recebeu uma classificação X (conteúdo adequado apenas para adultos).
O que haveria, afinal, de tão controverso e explosivo no conteúdo do filme a ponto de instar o seu assassinato? Em cenas que a Warner Bros. retém e agora se recusa a lançar, e que seriam cruciais para entender a mensagem subliminar escondida no filme, Kubrick expôs o mundo subterrâneo e clandestino dos rituais ocultistas/satânicos da alta elite (empresários, banqueiros, magnatas da mídia e linhagens nobres) que explora e mantém uma vasta rede de tráfico sexual e pedofilia (no que a de Jeffrey Epstein, o bilionário que se suicidou na prisão em 10 de agosto de 2019, seria apenas a ponta do iceberg), e sugere que essas sociedades secretas controlam tudo, desde a polícia até a mídia. Destarte, qualquer um que lhes traga problemas ou se lhes torne um empecilho, está sujeito a desaparecer. Quase todas as conspirações no que diz respeito aos Illuminati e às sociedades secretas como a Maçonaria e a Skull and Bones estão contidas em De Olhos Bem Fechados.
Kubrick filmou o ritual na luxuosa mansão Mentmore Towers, em Buckinghamshire, condado ao sul do Reino Unido, construído entre 1852 e 1854 pelo barão Mayer Amschel de Rothschild (1818-1874) para servir de casa de campo para membros da família de banqueiros mais rica de todos os tempos.
É sabido que os Rothschilds tomavam parte de eventos mascarados muito semelhantes ao mostrado em De Olhos Bem Fechados – veja as fotos de uma festa de 12 de dezembro de 1972 dada pela socialite francesa Marie-Hélène Naila Stephanie Josina de Rothschild (1927-1996), esposa de Guy Édouard Alphonse Paul de Rothschild (1909-2007), no Château de Ferrières, um dos castelos da família localizado a cerca de 24 quilômetros de Paris, construído para o barão James Mayer de Rothschild (1792-1868) na década de 1850. O barão orientou o arquiteto Joseph Paxton (1803-1865) a projetar Château de Ferrières no mesmo estilo mas com o dobro do tamanho de Mentmore Towers, que mais tarde acabou sendo usado para a estranha cena do "baile de máscaras" em De Olhos Bem Fechados.
Os anfitriões Guy e Marie-Hélène de Rothschild. Embora a roupa da primeira seja quase aceitável para coquetéis comuns, a baronesa realmente abraçou o tema da noite. Coberta por uma cabeça de veado realista cravejada com lágrimas de diamantes reais, seu rosto se manteve coberto durante grande parte da festa. Foto: Vendome Press.
O barão Alexis de Rede (à esquerda) veio vestido como um homem com muitos rostos – e por sua vez, talvez intenções multifacetadas. Ele foi fotografado sentado à sua mesa com um membro da família de banqueiros do Espírito Santo, que curiosamente circulou um de seus olhos. Foto: Vendome Press.
Ao que parece, a baronesa conseguiu conversar admiravelmente com o barão Alexis de Rede apesar das restrições de sua máscara de cabeça de veado. Foto: Vendome Press.
Além das máscaras típicas de rituais pagãos, que variam de cabeças de animais a gaiolas de mentira, há bonecas desmembradas e outros brinquedos de crianças quebrados propositalmente espalhados pelas mesas. Algumas mesas até apresentam manequins nus como se estivessem em um caixão com comida servida em cima dele, talvez inspirado nas mesas de manequins nus de Laranja Mecânica, lançado um ano antes.
Parte da comida daquela noite foi servida em cima de um cadáver de manequim deitado em uma cama de rosas. Foto: Vendome Press.
Algumas das leituras mais nefastas do Baile Surrealista de 1972 dizem respeito à adoração satânica e ao sacrifício humano. Embora haja uma inegável falta de evidências reais, as teorias não são fabricadas do nada. Ter bonecas desmembradas e suas cabeças espancadas e decapitadas decorando mesas de jantar é uma escolha pouco convencional, afinal. O álbum Yesterday and Today dos Beatles, lançado seis anos antes, traz os membros do quarteto de Liverpool cobertos de partes de corpos de bebês mortos, em uma doentia zombaria com o aborto, o inevitável resultado da agenda de amor livre que os Beatles estavam promovendo. Foto: Vendome Press.
Não fossem a idolatria e a alienação das massas, não seria necessário explicar imagens tão claras.
Encharcados em tons misteriosos de laranja e vermelho, Guy e Marie-Hélène de Rothschild fizeram sua mansão Château de Ferrières parecer em chamas. O efeito foi obtido com uma série de holofotes cuidadosamente posicionados voltados para a estrutura colossal.
O Château de Ferrières foi banhado por um brilho vermelho profundo para dar a aparência de estar pegando fogo.
Entre as notáveis celebridades presentes estavam o pintor espanhol Salvador Dalí (1904-1989) – o inspirador da temática da festa e por isso o único autorizado a prescindir de fantasia –, a estrela de cinema Audrey Hepburn (1929-1993) e a modelo que virou atriz Marisa Berenson (1947-), que alguns anos depois estrelaria Barry Lyndon, outro filme sobre a realeza e as elites ricas.
Naturalmente, os Rothschilds chamaram o pintor surrealista mais famoso do mundo para desenhar alguns dos figurinos para o baile de 1972. Sempre o artista contrário com um temperamento que ia contra o esperado, ele optou por não usar fantasia naquela noite. Ele é visto aqui descansando no Mae West Lips Sofa que ele projetou naquele mesmo ano e que foi inspirado em sua própria pintura de meados da década de 1930.
Audrey Hepburn chegou inocentemente usando uma simples gaiola em volta da cabeça.
A modelo e atriz norte-americana Marisa Berenson (ao centro) estrelaria Barry Lyndon poucos anos depois de participar da festa secreta dos Rothschild. O filme tratava da ascensão de um humilde irlandês enquanto ele tentava incansavelmente entrar nas linhagens de sangue azul da nobreza europeia.
Os convites para este “Baile Surrealista”, como foi chamado, foram impressos ao contrário, legíveis apenas se colocados contra um espelho; texto invertido e inversão de símbolos tradicionais são práticas ocultistas comuns.
Inspirado na pintura de René Magritte de 1929, The False Mirror, o fundo das nuvens talvez seja menos interessante do que a escrita invertida do convite. Essa inversão é típica da prática ocultista de subverter as normas cristãs em favor de crenças mais blasfemas.
Em De Olhos Bem Fechados, o pianista Nick Nightingale (Todd Field) escreve a senha da mansão [“Fidelio”, a única ópera de Beethoven (1770-1827), um nome masculino italiano que significa “fidelidade”, especialmente fidelidade sexual ao cônjuge] em um guardanapo de papel no Sonata Jazz Cafe no SoHo.
A música tocada na sequência da missa negra por Nick, que está de olhos vendados, é Backwards Priests, da Divina Liturgia da Igreja Ortodoxa Romena, executada no sentido inverso, algo típico do satanismo, pela compositora e violista inglesa Jocelyn Pook (1960-) em uma mistura hipnotizante de cordas, tímpanos e cantos vocais. Kubrick gostou tanto que usou mais material de Pook de seu álbum Deluge (1997), incluindo as Migrations inspiradas em tâmil (uma língua dravídica falada pelos tâmeis ou tâmis do sul da Índia), embora a faixa tenha sido alterada depois de receber protestos por seu uso de escrituras hindus em um “ambiente profano”.
Uma liturgia cristã é executada ao mesmo tempo de forma invertida antes da orgia generalizada que se seguirá, uma forma de profanação. Eis o cântico (ininteligível porque invertido do romeno):
“E Deus disse aos seus aprendizes… Eu dei a vocês uma instrução… para orar ao Senhor pela misericórdia, vida, paz, saúde, salvação, busca, libertação e perdão dos pecados dos filhos de Deus. Os que rezam, têm misericórdia e cuidam bem deste santo lugar.”
“And God told to his apprentices…I gave you a command…to pray to the Lord for the mercy, life, peace, health, salvation, the search, the leave and the forgiveness of the sins of God’s children. The ones that pray, they have mercy and they take good care of this holy place.”
Por trás das máscaras carnavalescas venezianas (reputadas como o centro da desordem civil, da devassidão moral e do erotismo), estavam altos membros da política, da corte, dos negócios e da indústria do entretenimento.
Máscaras venezianas usadas na missa negra satânica de Eyes Wide Shut.
O médico William “Bill” Harford (Tom Cruise) fica sabendo por Nick, seu antigo amigo de faculdade que se voltou para o jazz em vez de uma carreira médica de prestígio, da reunião enigmática que acontecerá durante a hora das bruxas do solstício de inverno, um baile de máscaras entre as elites da alta sociedade. Nick lhe informa a senha e que deve ir devidamente fantasiado.
Bill então pega um táxi para a loja de smokings e fantasias de aluguel, a “Rainbow”, que fica do outro lado da rua do Sonata Jazz Cafe. Os letreiros de neon do clube de jazz aparecem refletidos na vitrine da Rainbow enquanto Bill fala com seu proprietário. Por que Bill pegaria um táxi para simplesmente atravessar a rua? Porque está adormecido, mas dormindo de uma maneira diferente – ele está acordado, mas não está “desperto”, seus olhos estão fechados, ele está totalmente alheio aos caminhos que a esposa, uma mulher arrebatadora no auge de sua sensualidade, está traçando para ele.
Trajado com smoking, máscara, capuz e capa alugados na “Rainbow”, Bill entra na mansão em estilo gótico com a senha fornecida por Nick.
Na sala central, ele presencia uma grande reunião, um círculo de doze figuras encapuzadas com capas pretas que, ao se despirem ao comando de um sumo sacerdote ou hierofante de capa vermelha e capuz, revelam-se mulheres nuas esculturais vestindo nada além de máscaras, salto alto e fio dental. O sacerdote bate no chão com um grande bastão, enquanto segura um incensário que espalha nuvens de incenso fumegante. Ao redor da cena estão espectadores também vestidos com mantos negros e máscaras venezianas douradas.
Cenas da missa negra de Eyes Wide Shut. O sacerdote está exatamente no centro de um "círculo mágico" formado por mulheres que muito provavelmente são ''escravas Beta''. O ''círculo mágico'' é usado em rituais de magia negra durante invocações.
Uma das mulheres se aproxima de Bill e diz: “Não tenho certeza se você sabe o que está fazendo, mas seu lugar não é aqui”. Ou seja, mesmo sob a máscara, ele é reconhecido. “Você está em grande perigo e deve fugir enquanto pode”, insiste ela.
Finalmente, o médico intruso é chamado perante o conselho inquisitorial. Ele é exposto, obrigado a remover a máscara – sendo-lhe despido o privilégio do anonimato –, revelado, julgado e depois condenado. A mulher mascarada nua que tenta avisá-lo diz ao conselho: “Leve-me. Posso resgatá-lo”. “Tem certeza de que entende o que está assumindo?”, o sacerdote de manto vermelho pergunta a ela, que acena com a cabeça.
O gesto parece conquistar a tolerância dos juízes, que permitem que o intruso saia incólume, embora não sem um forte aviso: “Se revelar alguma coisa do que aqui presenciou esta noite, ou tentar de alguma forma prosseguir com qualquer tipo de investigação, surgirão terríveis consequências para você e sua família.”
No dia seguinte, Bill descobre que Nightingale havia desaparecido misteriosamente do hotel onde estava hospedado, escoltado por dois capangas. Mandy (Julienne Davis), uma das prostitutas que estava na festa como uma escrava sexual controlada, é encontrada morta. A mídia informa que ela morreu de overdose de drogas. Em uma cena posterior, é revelado a Bill que os membros do alto escalão da sociedade secreta controlam toda a mídia e até a polícia. Fica fortemente implícito que ela foi assassinada e que sua morte foi arranjada de modo que parecesse uma overdose. E o médico percebe que ele próprio escapou por pouco de ser sacrificado no ritual satânico, e que embora se considere um membro da elite, existem forças muito superiores a ele que operam nos bastidores.
Em uma sequência de treze minutos na mesa de bilhar de sua mansão, o milionário Victor Ziegler (Sydney Pollack) revela a seu amigo Bill que era um dos mascarados no ritual e lhe adverte contra qualquer indiscrição. Bill, perturbado, o questiona veementemente sobre a morte de Amanda. Victor age com total indiferença, como se fosse algo totalmente banal uma pessoa ''comum'' ser morta pela elite. ''Ela era uma prostituta. Teve uma overdose, ela era uma drogada, era apenas uma questão de tempo pra ela morrer, e a polícia não viu qualquer crime", diz Victor.
Diante da insistência de Bill em querer tomar as investigações para si, Victor, numa clara tentativa de aterrorizá-lo psicologicamente ainda mais, diz a ele : "Eu acho que você não percebeu o tamanho do problema que você se meteu na noite passada. Quem você acha que eram aquelas pessoas? Aquelas não eram apenas pessoas comuns. Se eu lhe dissesse seus nomes, e eu não vou te dizer os nomes, mas se eu o fizesse, eu acho que você não iria dormir tão bem". Victor, nesse diálogo, admite que as pessoas que frequentam esse ritual "fora do limite do profano" eram pessoas publicamente conhecidas e poderosas em seus meios. Bill já tinha sido requisitado por Ziegler em sua festa de Natal para atender a prostituta que acabou morta, quando esta teve uma overdose enquanto transava com o milionário e necessitava de atendimento médico urgente.
Mandy, a prostituta cuja vida ele salvou, sacrifica sua vida para salvar a dele. Ela não era mais inocente, mas desejava fazer uma separação moral entre seu mundo e o dele, e estava disposta a morrer para protegê-lo de um conhecimento que o corromperia. Ela queria que ele fosse mais moral do que poderia ser, como se pudesse reconhecer a nobreza de seu sacrifício.
Prostitutas, drogas, médicos, silêncio. O dinheiro pode comprar tudo. Bill é um médico confortavelmente rico, e embora não seja um membro da alta elite tal como Ziegler, também se imagina capaz de comprar qualquer coisa. É corriqueiro que ele puxe dólares de sua carteira bem recheada para pagar pelo tempo de um taxista, pelo incômodo em fazer um homem abrir sua loja em plena madrugada, ou para pagar pela companhia fugaz da prostituta Domino (Vinessa Shaw). Uma cena significativa é aquela em que Bill rasga uma nota de US$ 100 em duas e dá a metade ao taxista que o levou até a mansão, dizendo que ele receberia a outra metade se esperasse por ele. Rasgar dinheiro é um crime a que ele se permite para comprar o favor do taxista.
Mas como descobrimos quando ele é desmascarado na mansão e ao longo do filme, ele não passa de um servo de nível médio dessa poderosa elite. O foco míope dos que se centraram nos problemas conjugais e sexuais do casal em detrimento da exposição quase precisa de técnicas de controle da mente e de toda uma realidade ocultista tenebrosa, diz mais sobre a cegueira das elites em relação ao seu próprio ambiente do que sobre as inadequações de Kubrick como pornógrafo.
O que torna os homens verdadeiramente poderosos é a invisibilidade. O título De Olhos Bem Fechados se refere à regra primordial entre os membros das sociedades secretas para encobrir a elite endinheirada da sociedade – “Meus olhos estão fechados para seus crimes, irmão”.
Arizona Wilder (pseudônimo de Jennifer Greene ou Jennifer Ann Angel, uma sensitiva treinada e condicionada desde o nascimento por técnicas extremamente invasivas e violentas de controle mental baseado em trauma para servir aos interesses da Elite Illuminati) revelou em uma longa entrevista a David Icke em 1999, que “De Olhos Bem Fechados” é um termo usado pelos programadores monarcas que significa que tudo o que você viu não deve ser revelado a ninguém, sob pena de morte. Como o super-rico Ziegler diz na mesa de bilhar a Bill: “Se eu lhe disser o nome deles (os mascarados na mansão), acho que você não dormiria muito bem”.
De Olhos Bem Fechados também é uma referência flagrante a Hollywood e aos 1% que sabem exatamente o que está acontecendo, mas por motivos compreensíveis não dizem nada a respeito. Os poucos que se arriscaram a tanto, acabaram intimidados ou mortos da mesma forma que no filme. Quantas celebridades não morreram precocemente nos últimos anos em circunstâncias mais do que estranhas e suspeitas?
Kubrick expôs os rituais da alta elite de maneira incrivelmente realista, tanto que Wilder imediatamente os identificou como sendo semelhantes aos que a forçaram a tomar parte: “Em um de meus diários de 1990, falo sobre um ritual em que todos usam máscaras douradas e mantos com capuz. Tem a ver com o deus sol. Essas máscaras são usadas em cerimônias do tipo egípcio. As máscaras significam que ‘não somos indivíduos, mas temos um propósito em mente’. Uma coisa que eles nunca fazem é tirar suas máscaras.”
Wilder também esclareceu que Nightingale, o nome do pianista, significa “Mensageiro do Escuro”, e que a loja de fantasias Rainbow Costume Rental, que por sua vez está situada sobre uma outra loja chamada Under the Rainbow, tem esse nome porque nos rituais satânicos se vai “Over the Rainbow”, música cantada por Judy Garland em seu papel de Dorothy em O Mágico de Oz (1939, dirigido por Victor Fleming e King Vidor), talvez o filme mais usado pelos programadores Monarca. O arco-íris, portanto, está associado à criação de escravas sexuais por meio de controle mental, tanto que o codinome para a base ultrassecreta de L. Ron Hubbard nos anos 70 era “Over the Rainbow”.
A loja de fantasias de aluguel “Rainbow”. Sobre o arco-íris, a palavra “Costume Rental” pode ser lida como “Controle Mental”, termo do alemão Mind Kontrolle, daí o MK da sigla MKULTRA, o que foi bem conveniente, já que havia um grande número de médicos nazistas envolvidos no projeto, entre ele o “Anjo da Morte” Josef Mengele (1911-1979).
A loja de aluguel de fantasias “Rainbow” funciona como um centro pedófilo mantido pelo seu proprietário, o Sr. Milich (Rade Šerbedžija), que explora sexualmente sua própria filha ninfeta (Liliane Rudabet Gloria Elsveta “Leelee” Sobieski).
Na luxuriante festa na mansão de seu amigo Ziegler, Bill é conduzido pelo corredor por Nuala Windsor (Stewart Thorndike) e Gayle (Louise J. Taylor), duas modelos “Presidenciais Monarcas”, ao que ele pergunta aonde elas o estão levando. Gayle, cujo nome se liga ao amigo de Bill, Nick Nightingale, e a Dorothy Gale, a protagonista de O Mágico de Oz, responde que estão indo “onde termina o arco-íris”. Antes que Bill possa dizer algo, Nuala pergunta: “Você não quer ir onde termina o arco-íris?” E ele responde: “Bem, isso depende de onde é”. No folclore, o que há no fim do arco-íris? Um pote de ouro, outro convite ao dinheiro e à riqueza. A relutância de Bill em perseguir o “pote de ouro”, neste caso, embora esteja flertando descaradamente, é paralela à sua busca hesitante em momentos posteriores por aventuras sexuais que nunca chegam ao clímax. Claro, o fim do arco-íris é um lugar impossível de alcançar, da mesma forma que a satisfação, a falsa promessa do desejo.
O prisma irradiando as cores do arco-íris é um dos símbolos mais eloquentes quanto ao poderio das elites por reunir em um só tanto a pirâmide illuminati quanto as cores maçônicas. Não é à toa que ela se destaca em fundo negro na capa de The Dark Side of the Moon, o oitavo álbum de estúdio da banda britânica de rock progressivo Pink Floyd, lançado em 24 de março de 1973, bem no início do solstício da primavera.
Estrelas de cinco pontas (pentagramas) aparecem com destaque no fundo como decorações na festa de Natal de Ziegler, na lanchonete, na loja de brinquedos e assim por diante. O pentagrama na matemática é o símbolo da “proporção áurea”, mas, invertido, é o símbolo máximo do satanismo, já que faz atrair demônios e gera um campo preciso de energia luciferiana. Aleister Crowley o interpretava como a descida do espírito à matéria.
Há também aparições discretas da Estrela de Ishtar, de oito pontas, que representa Vênus, originária das culturas assíria, babilônica e fenícia. Ishtar foi uma deusa babilônica da fertilidade, do amor, da guerra e principalmente da sexualidade. A ela eram dedicados rituais relacionados a libações e ofertas corporais. Seu culto envolvia também a prostituição sagrada. Ela foi considerada a cortesã dos deuses, e teve muitos amantes. Em muitos livros é retratada como uma excelente amante, porém muito cruel com os homens que se apegavam a ela. Esse conceito é colocado em questão por diversas vezes no filme, especialmente por Alice. O símbolo astronômico de Vênus é o mesmo usado na biologia para denotar o sexo feminino; um círculo com uma pequena cruz embaixo dele, uma representação da feminilidade, e também o símbolo do cobre na alquimia. O cobre polido era usado para fazer espelhos nos tempos antigos e, portanto, o símbolo de Vênus também foi interpretado como representando o espelho da deusa.
Na festa de Natal na mansão de Ziegler, há estrelas de Ishtar e pentagramas por todos os lados.
Continua nas partes 2 e 3.
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Maria Quitéria e os papéis de gênero
Maria Quitéria, notória heroína baiana, tornou-se símbolo de resistência, valentia e emancipação à medida em que desafiou as normas de gênero da época ao se alistar no exército e lutar na Guerra da Independência do Brasil. Muito embora tenha tido que se disfarçar de homem para conseguir ingressar nas forças militares (as mulheres eram excluídas e lidas como incapazes de participar de atividades consideradas masculinas, como o combate) sua atitude revela a resistência feminina ao patriarcado e o desejo de liberdade e autonomia. Ao escolher lutar pela independência do país, rejeitou os papéis tradicionais de gênero que lhe eram impostos, como esposa, mãe e dona de casa, almejando realizações e uma identidade para além dessas restrições.
Em seus postulados sobre dominação, Weber classifica o patriarcado como um tipo de dominação tradicional. Nesta modalidade de dominação, quem ordena é o senhor e quem obedece são os súditos, as regras são determinadas pela tradição, regida pela honra e pela boa vontade do senhor. A aceitação desse tipo de dominação se dá em nome da obediência aos tradicionais níveis de hierarquia social, cujo exercício de autoridade é personificado na figura do patriarca. Weber ainda ressalta que a dominação tradicional é estável, devido à solidez do meio social e à dependência direta que a tradição tem com a consciência coletiva. A relação familiar é fundamental na conceituação do patriarcado, o vocábulo “patriarca” significa “chefe de família”. Portanto, o sistema patriarcal se constitui no formato de organização social da família, quando o sujeito masculino, simbolizado na figura do pai, exerce autoridade preponderante não somente diante dos filhos, mas perante os demais membros incluindo, especialmente, a esposa e filhas.
É nesse cenário que, em 1822, chega à casa da heroína Maria Quitéria um forasteiro. Um emissário vem à fazenda recrutando voluntários para a independência. Gonçalo, pai de Maria, logo dispara ao forasteiro que não tinha filhos homens com idade para ir para a guerra e ele próprio não poderia se ausentar e muito menos dispensar algum escravo. “ – Infelizmente nada posso fazer pela causa. O filho que possuo é ainda criança e não pode alistar-se para defender... Verdade que tenho escravos, mas escravo é dinheiro. [...] nada feito, meu amigo, nada feito! ” (LIMA, 1977, p.94). A “estrutura patriarcal de dominação”, segundo Weber, se refere ao estabelecimento de vínculos pessoais entre o senhor, os demais membros da família e os servos, e tem como fundamento a autoridade do chefe da família ou comunidade doméstica. Essa autoridade se baseia na tradição, ou seja, “na crença da inviolabilidade daquilo que foi assim desde sempre” (WEBER, 1922, p. 234), e no arbítrio pessoal do senhor, sempre limitado pelas normas “sagradas pela tradição” (WEBER, 1922, p. 243).
Maria então percebe a oportunidade e se oferece para ajudar as tropas, mas como é de se esperar, Gonçalo nega com veemência esse pedido, justificando que mulher não deve guerrear e sim tecer, bordar e cuidar da casa (LIMA, 1977). A resposta negativa do patriarca de nada adianta, Maria está decidida a entrar para o Exército, e consegue essa façanha com a ajuda de sua irmã Teresa. Com as vestes emprestadas de seu cunhado, Maria vai para Cachoeira/BA, cabendo ressaltar que seu cunhado de nada sabia em relação às vestes, muito menos de que ela se alistaria no exército.
Maria então corta os cabelos, para ficar mais parecida com um homem e segue rumo a Cachoeira, lá se alista como Soldado Medeiros, o primeiro nome que usa é desconhecido pela história, e assim nasce o soldado Medeiros (MOREIRA, 2014).
Maria Quitéria como soldado Medeiros durou pouco, pois seu pai a entregou a seu comandante, mas como ela era um bom soldado, sempre disciplinada, fazia os serviços pesados sem titubear, ótima com armas, nada diferente do outro soldado, nada diferente dos homens. A surpresa de seu pai foi grande quando ouviu do comandante (superior hierárquico de uma instituição extremamente arraigada na androgenia que é própria da disciplina militar) que o Brasil estava precisando de gente como Maria, não importava o sexo, pois se ela achava que podia ajudar no seio da tropa ela podia, sim, ficar! (LIMA, 1977).
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