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luizsendochato · 3 years
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The Mitchells vs. the Machines - Filme
A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas (The Mitchells vs. the Machines) é um filme de 2021 feito pela Sony Pictures Animation Studios e distribuído pela Netflix, porém ele estava originalmente marcado para ser lançado em setembro de 2020, nos cinemas, e foi previamente chamado de Connected.
Depois do Aranhaverso conquistar meu coração como o filme 3D mais bonito, esteticamente, que já vi. Meu grau de exigência subiu muito com relação a Sony Pictures Animation e eu sinto que em parte isso influenciou a maneira como vi esse filme.
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O filme conta a história da família Mitchell, uma família estranha e disfuncional como muitas. Katie, a filha mais velha está louca para sair de casa, na esperança de finalmente se encontrar e ser compreendida na faculdade. Enquanto isso seu pai, Rick, percebe que talvez essa seja a última chance de tentar arrumar a conexão entre os dois, organizando uma grande viagem em família.
Acho que só pelo parágrafo acima você já deve ter pensado "acho que já vi isso antes", o que é totalmente normal. Infelizmente, o filme não tem o roteiro mais original e imprevisível, a história em si é um tanto clichê e se assemelha a várias outras de famílias disfuncionais ou que abordam a relação entre pais e filhos adolescentes. No entanto, o que realmente me agradou na animação é como todos os personagens têm seu momento para brilhar, até mesmo o cachorro, e como ela é cheia de ótimos momentos de humor. Fiz uma experiência ao assistir com minha mãe e ela não se divertiu tanto quanto eu, acho que em parte deve haver um fator geracional. O que quero dizer é que o filme inteiro é criado pelo ponto de vista da Katie, então é comum eles usarem de vídeos, gifs e filtros do instagram para gerar algum tipo de humor, algo que, pelo menos na minha família, pais e tios não parecem entender muito bem. Por outro lado, o filme também trabalha várias piadas mais nonsense que são ótimas e abrangem um público mais amplo.
Uma parte de mim não lembra de robôs na primeira vez que vi o trailer de Connected, por outro lado não consegui encontrar esse primeiro trailer que me lembro. No entanto, conversei com uma amiga e aparentemente ela também sentiu que quando ela ficou sabendo do filme, venderam mais uma ideia de trama familiar do que de luta contra máquinas. Não acho que a revolta das máquinas atrapalhe o desenvolvimento da narrativa, pelo contrário, eles criam até alguns paralelos entre tecnologia e relacionamentos familiares, nada muito chocante ou aprofundado, mas que ajuda a relacionar as duas tramas. Infelizmente, aqui a revolta das máquinas não foge muito do clichê de outros filmes que também abordam o tema. Inclusive, eu prefiro a versão em inglês do título (porque "revolta das máquinas" me faz pensar em Exterminador do Futuro), ou o original Connect (mais curto, direto e menos óbvio)
Queria dedicar aqui um espaço ao desenvolvimento dos personagens, que na minha opinião ficou bem bacana e permitiu muito que cada um deles tivesse sua própria contribuição para a resolução dos problemas propostos. Gostei principalmente do cachorro, que além de servir perfeitamente como alívio cômico, também funciona como uma peça essencial no combate as máquinas. Além dele a Katie também tem uma cosntrução bem bacana, eu como alguém formado em animação, consigo entender muitas questões pelas quais ela passa, principalmente o medo dos pais que a profissão não de dinheiro. Os pais também são bem construídos e se assemelham a muitos que temem as escolhas profissionais dos fihos.
Algo que também estive pensando é em como Homem Aranha no Aranhaverso foi feito pensando em vários detalhes, desde o shader aplicado que gerava hachuras em regiões mais escuras, como em uma HQ, até detalhes do roteiro e na animação (como o fato do Miles ser animado "on twos", enquanto o Peter é animado "on ones"), o nível de detalhes é tão alto que você precisa ver várias e várias vezes para ir pegando tudo, ou assistir algum vídeo no youtube com todos eles. Não quero dizer que A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas não é bem-feito, porém não consegui sentir esse nível de detalhamento, ao mesmo tempo tenho consciência que 2020 foi um ano complicado para todos e com certeza isso pode ter afetado o resultado final. Isso é algo que também aconteceu, na minha opinião, em Soul, que pareceu não ter recebido tanto cuidado quanto outros filmes da Pixar, também não é um filme ruim, mas eu esperava mais dado o histórico do estúdio e considerando que Onward já não tinha sido tão impressionante, na minha opinião.
De um ponto de vista estético, o longa é caprichado no maior estilo Aranhaverso. A ideia era retratar os acontecimentos pela visão de mundo da Katie, assim, são inseridos uma série de elementos como já mencionei, além de vinhetas e pequenas animações que parecem terem sido tiradas de algum chat como Telegram, WhatsApp, ou Messenger. Percebi algumas similaridades com o estilo do Aranhaverso, mas depois de ver uma segunda vez e olhar com mais cuidado, ficou claro que o estúdio se esforçou bastante para tentar criar uma estilização mais própria e que resultou em um filme bem bonito.
Com relação animação em um todo ela é muito bem-feita e fluída. Os conceitos de personagens, mais cartunescos, ajudam muito a criar maior expressividade e exagero, contribuindo ainda mais com o humor de certas cenas, como quando Rick sugere que todos larguem os celulares e façam contato visual.
A trilha sonora, não é emblemática e marcante, mas não é incômoda, nem atrapalha o desenvolvimento da trama. Ou seja, cumpre seu papel e entrega algo bom.
Não tenho uma frase favorita nesse filme, mas tem algo que eu amei muito que é o Monchi de terno (vale mais que mil frases).
Enfim, The Mitchells vs The Machines, não é aquela obra prima, nem parece ter sido feito tão nos detalhes como Homem Aranha no Aranhaverso (o último filme do estúdio), porém é uma animação bonita, bem animada e muito divertida. Mesmo o roteiro não sendo tão original ele é capaz de entreter e entregar uma boa experiência.
Espero que o Aaron me ligue para que a gente possa conversar sobre dinossauros.
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luizsendochato · 3 years
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Godzilla vs Kong - Filme
Oi gente, desculpem pela ausência, vou precisar reduzir um pouco a frequência com que publico minhas resenhas aqui por questões de trabalho. Agora, infelizmente, será uma vez por mês, eu sei que é um período longo, mas  é melhor do que nada.
Godzilla vs Kong é o quarto filme do monsterverse, o universo de monstros gigantes e radioativos da Warner Bros. Foi dirigido por Adam Wingard, que também dirigiu o live action da Netflix: Death Note. Confesso que por essa experiência passada, fiquei com um pé atrás sobre Godzilla vs Kong, porém me surpreendi com o resultado. Eu colocaria aqui a data de lançamento no Brasil, mas com toda a situação da Covid-19 acho que vai demorar um pouco para que possamos sair de casa e assistir um filme no cinema com segurança. Então, vou pular direto para a resenha.
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Godzilla anda atacando algumas instalações pelo mundo e aterrorizando algumas pessoas. Enquanto isso, o dono dessas instalações decide enviar uma missão científica para o centro da Terra, ou como eles chamam: Terra Oca (hollow earth). O cientista chefe da expedição decide levar o Kong com eles, com a justificativa de que poderiam encontrar outros como ele por lá, uma família. O único problema é que tirar Kong de sua redoma pode chamar a atenção de Godzilla e, segundo o filme, “dois alphas não podem coexistir”, por isso, eles vão quebrar o pau um com o outro.
Godzilla vs Kong é aquele filme onde você precisa exercitar sua suspenção da descrença. É como mais um capítulo de Velozes e Furiosos, tudo é absurdo, porém é uma absurdo que tem alguma lógica, pouquíssima, daquele tipo que força a amizade. Acho que isso, aliado a uma falta de conhecimento popular sobre certas questões ajuda a digerir mais esse roteiro. O que eu quero dizer sobre isso? Vou usar um exemplo que não da grande spoilers. Em determinado ponto do filme o Godzilla solta um raio atômico que atravessa a superfície até o centro da Terra. O próprio raio atômico já é um absurdo se a gente for parar pra pensar, soltar um raio atômico por tanto tempo, que atravessa a Terra e abre um buraco enorme (tão grande que o Kong sobe do centro da Terra por ele em questão de minutos, eu sei que o Kong é grande, mas poxa são minutos!), quanto de energia uma criatura precisa pra isso? São detalhes que a gente consegue até consegue pensar “poxa é um raio atômico superpoderoso, capaz que daria pra atravessa tudo isso e abrir esse buracão” e ignorar a energia pra soltar e manter esse bagulho.
Outro ponto é a radiação, teoricamente todos esses monstros gigantes estão vivos graças a radiação ( Pelo mesmo eu pressuponho que o Kong também tenha radiação em si, porque ele manuseia itens radioativos sem que os mesmos causem qualquer problema nele, nem mesmo uma queimadura), o Godzilla se alimenta de radiação. E ninguém usa uma porcaria de roupa antirradiação durante o filme. Não é a toa que o elenco de humanos vive mudando, eles devem morrer de complicações de radiação entre os filmes. Eu sei que Godzilla foi criado como uma resposta as bombas nucleares em 1945 e acho isso algo bem bacana, adiciona bastante sentido em a radiação ser um elemento tão presente nos filmes, mas custava os personagens pelo menos se protegerem um pouquinho dela? Uma abordagem como essa seria mais plausível nos anos 60, um exemplo é o número de super-heróis Marvel que foram criados na base da radiação: Homem-Aranha, Demolidor, Hulk etc. No entanto, aconteceram muitas coisas nos últimos 60 anos, isso inclui uma série de desastres nucleares que mostram como a radiação é fatal para humanos, até pouco tempo o seriado Chernobyl retratou com maestria os perigos da radiação. Acho que adicionaria até uma camada a mais no universo, sabe? Seriam criaturas tão poderosas que a fonte de vida deles é algo extremamente mortal para os reles humanos. Enfim, eu ainda senti por parte dos primeiros filmes do Godzilla que a radiação era levada um pouco mais a sério, mas parece que os roteiristas foram cada vez mais ignorando os efeitos e perigos dela até chegar aqui.
Tudo isso são detalhes que algumas pessoas mais exigentes podem pegar, mas mesmo assim eu não achei impossível suspender a descrença e curtir o que ia acontecendo. Porém, se você não consegue desligar seu cérebro nem por um minuto e simplesmente ignorar a enorme falta de lógica. Acho que esse filme não é bem para você.
Com relação aos efeitos especiais eu gostei bem mais desse filme do que seu predecessor, Godzilla II, em que a maioria das cenas acorria em ambientes escuros, ou em que não era possível apreciar muito os efeitos especiais. Aqui os efeitos estão bem legais e as cenas estão bem mais iluminadas, vide a batalha final que ocorre a noite em Hong Kong, mas mesmo sendo a noite, a iluminação da cidade deixa tudo muito claro. Aqui vai um ponto extra porque eu achei lindo os neons nos edifícios e eles contribuem muito com essa iluminação que comentei.
Além disso, as lutas estão bem animadas e mesmo com muitos cortes é possível entender, no geral, o que está acontecendo. 
Com relação ao roteiro, Godzilla vs Kong não é nenhuma obra prima, é previsível em certos momentos e repleto de personagens superficiais, porém de uma forma que funcionam mais do que nos filmes anteriores. Andei pensando bastante sobre esse aspecto e eu gostei muito de Kong: Ilha da Caveira e também um pouco do primeiro Godzilla. No primeiro o bacana é que acompanhamos essas pessoas tentando escapar da ilha, nenhum deles é muito aprofundado, mas eles tem o suficiente para capturar nossa atenção. No segundo caso, o Godzilla rouba muito mais a cena, e o humano não tem tanta importância, mas eu acho que encaixa bem como uma introdução para o universo. Eles nos ajudam a entender melhor a história por trás do que está acontecendo e ainda é possível se colocar no lugar deles. Ou seja, são dois filmes em que foi possível se conectar mais com as pessoas. Tanto em um como no outro somos induzidos a torcer pelos monstros gigantes e também pela vida dos personagens humanos. Em Godzilla II, porém os humanos ficaram tão fora de foco e trama era tão  desinteressante, preguiçosa e focado só no Godzilla e em seus inimigos que pra mim foi uma tortura assistir. Realmente não consegui me conectar com nenhum personagem, nem consegui achar qualquer um deles inteligente ou expert em suas funções. Então, não fazia muita diferença eles estarem ou não ali. Tanto que nem lembro direito quem eles eram, o que faziam ou o que os motivava, se é que existia algo assim.
Meu maior medo era que o mesmo se repetisse aqui, já que teríamos dois monstros de grande destaque. Porém, não é bem o que acontece, por menor que seja a introdução dos novos personagens e por mais raso que tenha sido o desenvolvimento deles é possível estabelecer algum tipo de conexão, seja torcendo para o vilão se dar mal, ou para alguns personagens consigam se infiltrar em uma empresa supertecnológica (no maior estilo Stranger Things) ou até mesmo torcemos para que alguns dos cientistas voltem vivos do centro da Terra. Acho que talvez o grupo que funcione menos seja o dos infiltrados, em que os personagens não se misturam tão bem, afinal, eles não tem muita utilidade ali além de ajudar o espectador a entender melhor o que está acontecendo, pelo menos é o que ocorre na maioria dos casos. O personagem de Brian Tyree Henry, funcionou bem como alívio cômico e eu até diria que não teve nenhuma frase nesse filme que merecia ser destacada, mas tem uma fala dele que eu achei muito boa.
“Mas que pena! Eu adoraria poder ouvir o discurso dele até o final!”
Só mais uma chatice, perceberam que em todo filme do Godzilla, nesse monsterverse, um personagem oriental precisa falar Gojira? O pior é que muitas vezes esse personagem nem tem muitas falas, ou nem faz muita coisa, mas ele precisa falar Gojira só pra sei lá, lembrar que é assim que se fala no Japão? Enfim, acho um tanto desnecessário....
Por fim...
Godzilla vs Kong é aquele filme que exercita sua suspensão da descrença, com um roteiro cheio de soluções e acontecimentos absurdos e muitas vezes previsíveis. No entanto, consegui me divertir com a disputa por dominância dos dois, graças a personagens que, embora pouco desenvolvidos, conseguem providenciar algum tipo de conexão com o público, ou proporcionar alguns momentos cômicos. Além de lutas bem animadas e efeitos especiais bem empregados, no geral.
Na minha humilde opinião, Kong: a Ilha da Caveira ainda é o melhor dessa série, porém Godzilla vs Kong é muito melhor que Godzilla II e não está tão distante do primeiro Godzilla. Gostaria de poder ver mais filmes desse monsterverse. Infelizmente, não é possível saber como a bilheteria será afetada pela nossa situação atual, então, torço por uma boa resolução para isso tudo.
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luizsendochato · 4 years
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Cobra Kai - Série
Comecei a ver Cobra Kai no início de outubro, maratonei as duas temporadas disponíveis na Netflix em um final de semana. Vi a terceira na ultima semana para escrever esse post. Achei uma das séries mais interessantes dos últimos tempos e, por isso, vou falar um pouquinho sobre o que achei da série como um todo e das temporadas. Já aviso que irei falar sobre o arco das temporadas e as vezes do desenvolvimento de certos personagens, tentei ser bem vago/superficial para não dar spoiler, mas fica a aviso.
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Johnny Lawrence (William Zabka), o vilão do primeiro Karate Kid, nunca superou os acontecimentos do filme. Ele é um cara que parece ter congelado nos anos 80 e nunca conseguiu melhorar de vida, enquanto isso, Daniel Larusso (Ralph Macchio) é um homem de negócios bem sucedido e lembrado até os dias de hoje como um campeão.
A série se desenvolve a partir disso, colocando Johnny e Daniel sempre em lados opostos, porém diferente dos filmes, aqui nós vemos os dois lados. Tanto a visão de Johnny em que Daniel é um babaca, quanto a de Daniel em que Johnny seria a personificação do mal. E isso é o que faz Cobra Kai ser tão incrível na minha opinião. O desenvolvimento de personagens faz com que nenhum deles seja o vilão, na verdade ambos são babacas as vezes, como qualquer ser humano. É impossível não sentir algum tipo de empatia por eles, por mais erradas que sejam certas atitudes.
Tudo começa quando Johnny decide abrir de novo o dojo Cobra Kai, mesmo não tendo a menor ideia de como funciona para ter um dojo, isso inclusive gera ótimas cenas de humor, graças a perspectiva um tanto inocente, inexperiente e bruta de Johnny. Enquanto isso, Daniel descobre que o dojo Cobra Kai foi reaberto e começa uma série de atitudes com intuito de privar o mundo dos ideais do Cobra Kai.
Graças a um bom desenvolvimento tanto na primeira quanto na segunda temporada nós podemos ver que Johnny começa a cada vez mais se questionar sobre o que lhe foi ensinado no dojo, ele percebe uma série de comportamos tóxicos ou nocivos aos quais era submetido por seu sensei e tenta de alguma forma adaptá-los para os novos estudantes. Digo adaptá-los porque Johnny ainda parece interessado em manter uma postura mais durona, mas por exemplo, não quer que seus alunos trapaceiem ou lutem sem honra, como ele foi induzido a fazer no fim do primeiro filme. Outro exemplo é que no começo ele não admite garotas em seu dojo por questões preconceituosas, porém ele muda de ideia e aprende que garotas também podem lutar.
Falando de alunos, o contraste de gerações é outro ponto digno de boas sacadas de humor durante todas as temporadas. E fica cada vez mais claro que Cobra Kai é uma série sobre costumes e crenças que não cabem ou podem ser aceitas mais em nossa sociedade, no entanto continuam sendo perpetuadas por algumas pessoas, principalmente gerações mais antigas que veem a geração Snowflake como um problema. Embora a série tenha como cenário Los Angeles, nos EUA, é possível traçar paralelos com o panorama que vivemos aqui no Brasil.
Primeira Temporada
A primeira temporada foca mais em nos apresentar os personagens e criar alguns conflitos. O humor é divertido e a richa entre Daniel e Johnny entretém bastante, embora ela seja um tanto infantil em diversos momentos. Somos apresentados aos jovens discípulos, dentre eles os principais são Miguel Diaz, Samantha LaRusso (filha de Daniel) e Robby Keene (filho de Johnny) que vivem um triângulo amoroso bem de série teen.
Aqui vemos como Johnny é um péssimo pai para Robby, mas uma figura paterna interessante para Miguel. Isso se mantem por todas as três temporadas e embora eu não veja nada de errado em Johnny ser bom para Miguel, não me desceu muito bem a maneira como Johnny parece simplesmente incapaz de ser bom também para o filho. Não é como se ele tivesse uma motivação maior para escolher Miguel no lugar de Robby, ou deixar Robby tão de lado.
A primeira temporada também serve como ponto inicial para os questionamentos e mudanças de atitude de Johnny.
Os arcos de Sam, Robby e Miguel são um tanto quanto previsíveis, porém isso não estragou meu entretenimento e acabei surpreendido em um ou outro momento.
Em outras palavras, a primeira temporada foi um tanto morna, ela é divertida, mas não fica muito claro onde os desenvolvedores querem nos levar, nem o que será discutido. Então, ela parece mais uma história sobre dois antigos inimigos que não conseguem superar o passado, misturado com uma história teen de triângulo amoroso e caratê. É legal, mas não parece suficiente para sustentar a série por muitas temporadas, até que...
Segunda Temporada
Aqui as coisas ficam bem mais interessantes. Na primeira temporada começamos a ver também o desenvolvimento de um sentimento de grupo, os alunos de Johnny eram um bando de “zé ninguéns”, excluídos da maioria dos grupos e festividades, porém eles começam a cada vez mais acreditar que são alguém graças as regras e atividades que compartilham. Chega a lembrar um pouco o filme Die Welle, em que um professor decide submeter uma sala a um experimento social, fica a recomendação caso não tenha visto.
Essa mecânica de grupo é explorada de forma mais tímida na primeira temporada, porém na segunda temos um maior aprofundamento a medida que o dojo de Johnny cresce e uma vez que Daniel abre o próprio dojo. Aos poucos, Daniel começa a receber ex-estudantes que não conseguem se adequar ao grupo Cobra Kai. Ao mesmo tempo vai se criando uma polarização e rivalidade entre os grupos, que culmina com o último episódio da temporada, em que ficou claro que o diálogo não era mais uma opção. Acho, inclusive, que isso foi bem trabalhado nessa temporada, nós vemos pessoas que um dia já foram amigas lutando umas contra as outras por estarem em grupos diferentes, vemos até mesmo certos personagens sendo incentivados a tomar certas atitudes com medo de serem excluídos do grupo, ou para defender membros do grupo (não exatamente porque esses personagens manteriam uma boa relação de amizade, mas só pelo fato de serem do mesmo grupo).
A jornada de Johnny e seus questionamentos continuam e ganham um incentivo que é o retorno de John Kreese, o antigo sensei dele. Kreese, vai aos poucos incentivando os alunos do dojo Cobra Kai a terem comportamentos mais violentos e posturas cada vez piores. Com o tempo Johnny percebe os danos que Kreese vem causando e pede para ele se afastar, mas a essa altura o estrago já fora feito.
O triângulo amoroso ganha mais um membro, virando um quadrado amoroso?! Tory é a mais nova integrante do dojo Cobra kai e interesse romântico de Miguel. Aqui o relacionamento continua algo bem teen, mais superficial, previsível e com os personagens tomando atitudes bem imaturas para resolver os problemas, o que não me incomodou muito, porque já fui adolescente e eu era um idiota que provavelmente faria umas bobagens assim.
Kreese é o novo personagem inserido nessa temporada que merece mais destaque. Através dele os produtores foram capazes de dar uma nova cara e propósito para a série, a medida que Kreese se desenvolve e fica mais forte entre os alunos, mais percebemos como ele é perigoso. Ao mesmo tempo certas falas e comportamentos criam semelhanças com algumas figuras famosas nos dias de hoje. Em um certo momento Kreese grita para o vendedor latino de uma loja de conveniência “America: Love it or leave it”.
O antigo sensei de Johnny representa uma série de comportamentos e atitudes que não encontram mais sustentação nos dias de hoje. Ideias ultrapassadas, brutas e com uma pitada de paranoia. Com o passar dos episódios fica cada vez mais claro que ele é o verdadeiro vilão de Cobra Kai. A série deixa de ser uma rivalidade, um tanto infantil, entre dois antigos adversários e se torna uma série sobre dois adversários que encontram um inimigo em comum, um quadrado amoroso teen e caratê.
A adição de Kreese foi sem dúvida muito bem colocada, enriquecendo a narrativa nos conflitos e questionamentos de Johnny, o que me deixou extremamente ansioso pela terceira temporada.
Alerta de Spoiler (Pule para o Fim do Spoiler, se você ainda não viu)
No episódio final ocorre uma briga entre os dojos, no colégio, em que muitos dos estudantes acabam feridos e Miguel acaba em coma com a possibilidade de não andar mais. Kreese toma o controle do dojo Cobra Kai e se aproveita da situação para promover um discurso de que Johnny falhou com seus alunos e que o ocorrido seria culpa dele. Frustrados com o que acontecera a Miguel e desapontados com Johnny, os alunos aderem a narrativa de Kreese.
Essa reviravolta foi espetacular e eu não consegui deixar de traçar um paralelo com o documentário de Michael Moore Fahrenheit 9 de Novembro, em que Moore defende a ideia de que a chegada de Trump ao poder viria de uma insatisfação por parte da população norte americana com o governo Obama. Sentindo-se traídos e abandonados muitos americanos não teriam saído para votar em Hilary Clinton ou até mesmo teriam encontrado em alguns dos discursos de Trump algum tipo de acolhimento.
Eu acho que o mesmo ocorreu aqui no Brasil em 2018. Embora os governos do PT tenham feito coisas boas, também foram marcados por uma série de problemas e escândalos que deixaram parte da população brasileira completamente desacreditada em votar novamente no partido, ou ainda acabaram por criar, em muitos, o “antipetismo”. Em um cenário como esse o discurso de Jair Bolsonaro ganhou força e muitos acabaram encontrando algum tipo de amparo nele. 
Então, eu imagino que você já tenha entendido a importância de uma série como Cobra Kai, além da originalidade em trazer para a narrativa uma questão tão atual. Eleições americanas em 2016, o documentário de Moore foi lançado em 2018, as eleições no Brasil ocorreram em 2018 e a segunda temporada de Cobra Kai saiu em 2019 criando um paralelo com tudo isso. Os roteiristas não fizeram um trabalho perfeito, na verdade, ficou um pouco superficial as vezes, mas, do meu ponto de vista, o simples fato de inserir esse momento em uma série voltada para um público tão grande já é um mérito. 
Mas óbvio, essa é minha interpretação dos fatos e como sempre, vou incentivar o diálogo.
Fim do Spoiler
Terceira Temporada
A terceira temporada não acrescenta muito ao que já foi apresentado nas duas anteriores. Alguns personagens da primeira temporada retornam, outros muito presentes somem, mas os principais continuam sendo Johnny, Daniel, Kreese e o quadrado amoroso.
Daniel e Johnny tentam se recuperar dos acontecimentos da segunda temporada, enquanto Kreese se fortalece cada vez mais. A origem de Kreese é contada por flashbacks que tentam explicar um pouco mais os pensamentos e atitudes dele, mas não pareceram acrescentar muito na narrativa (da terceira temporada, pode ser que acrescente na quarta), nem nos faz sentir muita empatia por ele.
O quadrado amoroso tem algumas mudanças entre os casais, mas eu ainda acho esses romances um dos pontos mais fracos do enredo.
Assim como nas outras temporadas, nós temos um fator nostalgia em que os produtores trazem de volta personagens e locais dos filmes. No entanto, achei que diferente das temporadas anteriores em que os lugares eram trazidos de uma forma meio forçada e até mesma gratuita (como o Johnny e o Daniel parando no local onde Daniel passou a infância), em que não parece acrescentar muito, dessa vez a visita ao Japão e o reencontro com certos personagens pareceu se encaixar melhor na narrativa e acrescentar no que se sucedeu.
A dinâmica entre os grupos Cobra Kai e Miyagidô continua, só que dessa vez o Cobra Kai ganha novos integrantes, mais violentos e de caráter mais duvidoso. Com isso, as brigas se intensificam ao ponto de os Cobra Kai quebrarem o braço de um dos supostos “inimigos”. Ao mesmo tempo nós vemos a mobilização de alguns personagens que reconhecem o perigo que Kreese representa e decidem colocar suas diferenças de lado.
Isso tudo para dizer que essa terceira temporada perde um pouco do gás da segunda, uma vez que demora 10 episódios para que os personagens tomem algum tipo de atitude contra o vilão.  No entanto, a história, embora forçada em alguns casos, continua sendo bem divertida. Particularmente achei essa a temporada mais engraçada das três. Os roteiristas também souberam criar pequenos conflitos que ajudaram a sustentar o enredo e aguardo ansioso pela quarta.
No geral...
Pensando na coreografia acredito que as lutas protagonizadas por William Zabka e Ralph Machio tenham uma qualidade melhor que as protagonizadas pelos jovens. Os socos e chutes parecem mais realistas, até mesmo quando temos uma grande quantidade de atores envolvidos. O mesmo não posso dizer sobre os finais da segunda e terceira temporada com as lutas grupais. Não me entenda mal, elas não são ruins, pelo contrário, eu adorei ver esses quebra pau, mas também são as sequencias em que os socos e chutes parecem mais falsos, além de alguns personagens parecem monstruosamente fortes nocauteando, levantando ou jogando outros personagens no chão como se fossem bonecos de plásticos. Quando vejo situações como essa, penso que só uma pessoa com um físico meio The Rock conseguiria fazer algo assim e bem, ninguém na série chega perto de um físico desses.
“Nossa Luiz, como você é chato!”
Eu sei! No entanto, quero deixar claro que não são coreografias ruins porque mesmo com esses defeitos, elas conseguem entreter.
A trilha sonora é bem bacana também, refletindo bastante o estilo musical de Johnny e as vezes dando um clima meio épico a lá anos 80. Eu adorei a trilha que toca nos créditos.
As vezes a produção peca um pouco na nostalgia e as vezes eles forçam um pouco a barra com certas atitudes de personagens, porém não é nada que atrapalhou muito minha suspenção da descrença.
Enfim, Cobra Kai é uma série bem que produz uma sequência para Karate Kid melhor que os filmes que vieram em seguida. Ela é nostálgica, as vezes até demais, trazendo personagens e situações que nem sempre acrescentam muito para a história. A coreografia das lutas é bem feita e cumpre sua função num geral, embora algumas lutas, imagino que por conta de sua complexidade, não fiquem tão realistas. O humor ácido é um dos pontos altos, junto com a dinâmica de grupos, o desenvolvimento de certos personagens e a ousadia de criar, do meu ponto de vista, uma estrutura para a série que reflete a atualidade, com relação a ascensão de alguns líderes de extrema direita.
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luizsendochato · 4 years
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The Mask You Live In - Documentário
The Mask You Live In é um documentário de 2015, dirigido por Jennifer Siebel Newsom. Infelizmente ele não está disponível em nenhuma plataforma de streaming, no momento, mas você pode encontrá-lo completo e legendado no Youtube.
Cheguei nesse documentário depois de assistir um vídeo do canal Minutos Psiquicos que, inclusive, serve como complemento para o doc e para este texto.
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Quando foi a primeira vez que você ouviu “Seja um homem”? Qual era a sua idade? Qual era o contexto?
Essa é uma das primeiras falas do documentário e na minha opinião uma das mais impactantes. Não consigo lembrar da primeira vez que tive minha masculinidade questionada, porém eu posso garantir que ela foi questionada muitas vezes durante toda a minha vida. E quais são os efeitos disso?
Essa é a proposta de The Mask You Live In, apresentar para nós um panorama de como os homens são educados desde pequenos e como isso os afeta ao longo da vida e as pessoas ao redor deles. O documentário faz toda essa análise com base na sociedade americana, apresentando dados e dando espaço para que especialista falem sobre o assunto. Com certeza, por serem sociedades diferentes, alguns pontos não batem e em alguns casos a escala pode ser com menor ou maior intensidade, por isso, vou tentar complementar com algumas experiências próprias e até mesmo sugerir equivalentes pelos quais passei. Não quero que eles sejam interpretados como comuns a todos os brasileiros, mas como um incentivo ao diálogo sobre essas questões. No meu caso foi assim, mas como foi no seu caso?
O documentário começa pontuando algumas das características que muitos interpretam como ser homem na sociedade americana: ser mulherengo, ter um bom porte físico, ser bom em esportes e ser rico.
Com base na minha experiência eu posso confirmar que ser mulherengo faz parte da definição que a sociedade brasileira tem de um homem. Desde pequeno você é incentivado a ter uma namorada, ser um caçador e se você não tem, ou nunca conseguiu ficar com uma garota você automaticamente passa a ser visto como um cara esquisito ou homosexual.
Ter um bom porte físico também faz parte, porém eu não sei se estaria em uma das maiores características. Particularmente nunca me senti muito pressionado nesse aspecto, porém cheguei a conhecer muitos caras que viam a necessidade de ter um corpo bem definido para assim conquistar mais mulheres.
Ser bom em esportes também é outro ponto que não me parece encaixar tão bem na sociedade brasileira. Na sociedade americana existe todo um estímulo para se criar bons atletas, cheguei a conhecer pessoas que conseguiram bolsas em escolas e faculdades graças a habilidade que elas possuíam em esportes, posso estar falando uma grande besteira, mas acredito que isso nem exista no Brasil. No entanto, existe um esporte em específico com o qual sou traumatizado desde pequeno, que é o futebol.
É quase como se todo homem precisasse ser bom em futebol, eu era ruim. Quando pequeno tinha joelhos em x, o que tornava correr algo um pouco difícil para mim, minha mãe diz que era muito comum eu tropeçar nas minhas próprias pernas e lembro bem de usar aparelhos ortopédicos enquanto dormia para corrigir isso. Já tinha dificuldade de correr normalmente, imagine correr com uma bola. Tropeçava na bola, corria com ela para o lado contrário porque não conseguia virar, cheguei até a fazer gol contra sem querer.
Fui chamado de todos os nomes possíveis e imagináveis durante essa época, “bixa”, “viado”, “arrombado” ou as comparações “joga pior que menina”. O professor de futsal e, também, professor de educação física me excluía dos jogos, me deixava no banco ou me colocava para jogar nos minutos finais. Pra não dizer que ele era um babaca total, uma vez ele me deixou ter um time, mas não lembro bem se foi porque minha mãe chegou a reclamar ou se foi porque eu estava preste a sair.
Quando mudei de colégio, aos 10 anos, tudo que eu não queria era chegar perto de uma partida de futebol. Simplesmente não suportava a ideia de ser xingado e excluído novamente, por isso eu fugia das aulas de educação física ou das partidas de futebol, quando forçado a jogar era um dos últimos, se não o último, a ser escolhido. Percebendo isso, a professora as vezes me colocava para jogar com as meninas, rolou um certo bullyng por causa disso, “só sabe jogar com a meninas”, mas eu preferia muito, afinal estava tudo bem não saber jogar tão bem. Também aprendi a jogar basquete porque mais ninguém jogava, então não rolava nenhum tipo de julgamento.
Com relação a última parte de ser rico, também nunca me senti pressionado nesse aspecto por ser homem. Mas já ouvi pessoas com pensamentos mais antigos dizendo que o homem precisa ter um emprego bem estável, porque na pior das hipóteses ele deve sustentar a família.
Alguns pontos que não apresentados logo no começo, mas que eu senti minha masculinidade questionada algumas vezes foi o fato de eu não gostar de jogos FPS, principalmente de  CoD ou Battlefield, também não gostar de FIFA, nunca ter colecionado um álbum de copa do mundo, gostar de coisas fofas (inclusive minha namorada faz ou me dá muitas coisas fofas), não beber coisas alcoólicas, gostar de chá de maçã com canela e frutas vermelhas. Ah! E eu simplesmente desisti de jogar LoL, pelos mesmos motivos que parei de jogar futebol, eu era xingado e excluído pra caramba.
Se ele ficaria arrasado de ouvir que joga como uma menina, o que estamos ensinando a este menino sobre meninas?
Desde pequenos somos (nós, os homens) induzidos a demonstrar poder e superioridade, somos induzidos a associar que mulheres e homossexuais são fracos ou inferiores e que nós não podemos ser assim. A sociedade não cria um ambiente em que os garotos podem se sentir seguros com sua masculinidade, seguros com quem são, fazendo com que eles sintam a necessidade de provar para os outros.
Achei interessante esse ponto do documentário, porque sempre senti a necessidade de provar meu valor em diversas coisas e quem me conhece sabe que eu tenho costume de extrapolar na qualidade do que faço, ou fazer coisas boas em prazos absurdos. Meu TCC em animação é um exemplo de algo insano que precisei fazer, mas só na terapia caiu a ficha que no fim eu só gostaria de ter recebido um “parabéns!”, ou “estou orgulhoso de você”. Recebi isso de três professores, sendo um deles o meu orientador e cheguei a ficar um pouco chateado por não ter ouvido de outros envolvidos.
Algo que tem sido difícil lidar ao longo dos anos, mas que tenho orgulho de ter tido algum progresso é exatamente nisso. Percebi que diversas das minhas atitudes tem sido respostas a aprovações que gostaria de receber de determinadas figuras, muitas delas sendo homens. É como se eu estivesse sendo constantemente desafiado e isso tem gerado um esgotamento mental muito grande. Talvez “ser rico” possa ser trocado no meu caso por “ser bem sucedido”. Provar para aquele tio que trabalhar com arte não é fazer caricatura, para o seu pai que trabalhar com arte tem sua importância na sociedade, provar para o seu avô que é possível se sustentar com esse trabalho e que ele não é só um hobbie. Talvez as coisas fossem mais fáceis se no lugar de questionar, nos propuséssemos a incentivar.
Não sei se esse último se enquadra tão bem, mas como disse a ideia é promover o diálogo, não estar certo ou errado.
Buscando essas provações o documentário mostra que muitos homens cometem atos de violência para alcançá-las. Como é o caso de tiroteios em escolas, beber álcool e usar drogas em grandes quantidades, ou realizar feitos estúpidos que colocam em risco as próprias vidas.
A violência é outro ponto trazido para a discussão, quando é dito que garotos são ensinados a revidar, ou buscar vingança quando se sentem feridos, eu me senti representado. Não porque eu ache isso certo, mas porque faz sentido e de fato, se somos ensinados desde pequenos que devemos ser superiores, quando não somos, muitas vezes recorremos a violência para demonstrar. E se não pudermos externalizar esses sentimentos, eles viram raiva.
Externalizar. Lembro até hoje que quando comecei meu tratamento psicológico uma das coisas que eu mais tinha dificuldade era expressar o que eu estava sentido, até porque a simples pergunta “O que você sente?” não parecia de forma alguma simples de responder. Homens são ensinados desde pequenos a não demonstrar sentimentos e a maioria das figuras masculinas dos jogos, filmes, livros, quadrinhos ou séries não demonstram. Só com a terapia comecei a entender que muita da raiva que eu sentia poderia sair, se eu pudesse, de alguma forma, conversar com alguém sobre meus sentimentos. E a verdade é que eu nunca consegui falar dos meus sentimentos com meus amigos, era estranho, desconfortável e eles também não pareciam confortáveis em se abrir. Também não é, nem nunca foi costume conversar com minha família, assim como não é em muitas. Foi quando percebi que estava rodeado de amigas, na verdade que eu tinha mais amigas do que amigos e que elas me ouviam e eu ouvia elas.
Uma vez o El País apresentou uma pesquisa na minha antiga faculdade onde eles revelavam vários dados sobre assédio em ambiente de trabalho e embora a porcentagem de mulheres assediadas fosse bem maior, o número de mulheres que comentavam e se abriam com outras pessoas, em porcentagem, também era maior. Você pode conferir melhor a pesquisa pelo link.
Em uma apresentação de trabalho sobre transtornos de ansiedade, minhas fontes (uma delas era o site do Drauzio Varela) indicavam que mulheres estariam mais suscetíveis a desenvolver esses transtornos, porém elas também diziam que a maioria dos homens não buscava ajuda. O mesmo também é apresentado pelo vídeo dos Minutos Psiquícos no início desse texto.
Ou seja, homens não tem o costume de falar. E isso acaba sendo prejudicial para muitos em diversos níveis.
O documentário ainda aborda a questão da representação da masculinidade nas grandes mídias. Principalmente nos videogames em que muitos jogos funcionam dentro da mecânica de “mate seu inimigo para prosseguir”. Vi um vídeo pouco tempo atrás em que se analisavam os jogos apresentados na E3, esse tipo de mecânica era apontado como o predominante nos dias de hoje. Não acho errado a existência de jogos violentos, não é como se eles influenciassem todos os comportamentos violentos sempre, porém acho importante a existência de uma maior diversidade de mecânicas entre os títulos de grande peso e principalmente nas apostas das grandes desenvolvedoras. Até porque a falta de alternativas pode de fato limitar a visão de mundo de quem joga e influenciar atitudes violentas. Complementando, também tem esse artigo da gamesidustry que achei bem interessante.
Um dos pontos que também pareceu bem pertinente, na minha opinião, foi o da pornografia. Graças a internet ter acesso a pornografia tem sido algo muito fácil e com a falta de uma educação sexual apropriada os garotos tendem a entender pornografia como educação sexual. O problema é que os vídeos de pornografia estão cheios de violência contra as mulheres, ou perpetuam uma série de ideias erradas, como a ideia que mulheres gostam de pênis enormes, sexo violento, ou até mesmo as fantasias absurdas fora os vídeos de estupro reais que acabam sendo encontrados em sites pornográficos, dentre outras tranqueiras.
Falando de estupro, eu acho extremamente importante uma educação para homens nesse sentido. Digamos que o próprio conceito do que é estupro pode ser algo nebuloso para muitos homens. Não só do ponto que eles podem ser estupradores sem ter total consciência, mas porque muitos podem nem saber que já foram estuprados. Conheci muitos homens que acreditavam que estupro era só quando havia penetração. Outro vídeo que vi trata exatamente sobre esse assunto, existe uma espécie de ideia na nossa sociedade de que o homem está sempre disposto a transar e que se ele recusa sexo tem algo errado com ele. O que não é verdade, um homem pode recusar uma relação sexual, assim como uma mulher e ambos devem ser respeitados. O canal Popculture Detective desenvolveu dois vídeos, onde apresenta-se situações de assédio sexual de homens em que essas cenas deveriam, ou são vistas como cômicas e inclusive mostra um pouco mais como existe uma visão deturpada sobre o assunto. Sexual Assault of Men Played for Laughs  Parte 1 e Parte 2
Espero que você tenha gostado e que os vídeos, estudos e matérias tenham complementado os dados apresentados no documentário e até mesmo ajudado a compor um pouco mais o cenário brasileiro.
Por fim, vou responder a pergunta que o documentário nos deixa, pelo meu ponto de vista. O que é ser homem?
É ter consciência que fomos ensinados errado a vida inteira e que muitos dos nossos comportamentos podem ferir pessoas que amamos e a nós mesmos. É estar aberto a dialogar nessa hora, repensar o que nos ensinaram e começar a fazer a diferença agora, para que os homens que vierem depois de nós tenham uma vida melhor, assim como as pessoas que irão conviver com eles.
The Mask You Live In é um belo documentário que busca apresentar como a sociedade cobra e ensina uma série de comportamentos nocivos para homens. Comportamentos que podem fazer mal para homens e para as pessoas ao redor deles. Embora este apresente um recorte da sociedade americana, muitos dos pontos apresentados estão presentes na sociedade brasileira como é o caso do homem predador, ou da pornografia substituindo uma educação sexual. Os temas são bem apresentados e fundamentados com dados e especialista no assunto. Como um dos objetivos do documentário é promover o diálogo, recomendo muito que todos assistam, para que possamos dialogar mais sobre “O que é ser homem?” e o que podemos fazer para melhorar.
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luizsendochato · 4 years
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Cama de Gato - Livro
Cama de Gato é um livro escrito por Kurt Vonnegut e publicado em 1963, ou seja, essa obra tem 57 anos no momento em que escrevo esse texto. Aqui no Brasil foi publicado pela Aleph, uma das minhas editoras favoritas e que tem o costume de fazer boas promoções em seus e-books. Comprei o livro no dia 1 de novembro de 2020 por R$ 9,99.
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“Todas as verdades que estou prestes a contar são mentiras descaradas.”
Vonnegut, Kurt. Cama de gato (p. 9). Editora Aleph. Edição do Kindle.
Cama de Gato conta a saga de um jornalista que busca escrever um livro sobre "o que as pessoas faziam na noite da explosão da bomba nuclear", para isso ele vai atrás da história do dr. Felix Hoenikker, o criador da bomba atômica (no universo do livro). Gostei bastante dessa premissa e fiquei bem preso nos capítulos iniciais, em que conhecemos mais sobre Hoenikker. É interessante como as pessoas sempre descrevem ele como uma pessoa horrível em muitos aspectos, ausente como pai, insensível, desinteressado por pessoas, ou relações humanas, vivendo no próprio mundo ou como seu supervisor disse “uma força da natureza”. Mesmo assim o supervisor e a filha tentam, de alguma forma, convencer o jornalista que Hoenikker era um santo. O que eu acho bem cômico.
– Às vezes me pergunto se ele não nasceu morto. Nunca conheci um homem menos interessado nos vivos. Às vezes acho que esse é o problema do mundo: muitas pessoas em cargos importantes que estão mortas, frias como pedra.
Vonnegut, Kurt. Cama de gato (p. 66). Editora Aleph. Edição do Kindle.
Uma das primeiras coisas que fiz foi pesquisar o que seria uma cama de gato. Lembro de ter brincado quando criança, mas foi muito pouco, por isso precisei pesquisar. Caso você não saiba uma cama de gato, ou teia de gato, é uma brincadeira feita com um barbante, ou uma linha, que fica enroscada em seus dedos. O objetivo é passar o barbante para as mãos da pessoa que está brincando com você, depois ela passa para você e ai você passa de novo para ela, e continua esse passa pra lá e passa pra cá. Depois de algumas combinações o jogo recomeça, portanto, ele não tem fim, a brincadeira acaba quando um dos participantes cansar.
Sendo bem sincero, a principio, personagens e algumas situações apresentadas podem parecer desnecessárias ou confusos para a narrativa, porém com o desenvolvimento da trama tudo começa a se conectar, por mais absurdas ou malucas que sejam as conexões. Nesse caso ainda, lembrei um pouco de Douglas Adams por conta do humor ácido e do absurdo, embora Adams tivesse, provavelmente, 11 anos na publicação de Cama de Gato.
Bem, acho que a primeira relação do livro com o jogo está exatamente no fato de tudo estar conectado, como se a trama fosse o barbante enroscado em nossas mãos.
Senti que os primeiros capítulos fluíram mais rápido, mas mais ou menos nos 30% do livro rolou uma quebra nessa fluidez. Começamos a ser apresentados a uma série de novos personagens, histórias e conceitos presentes no Bokonon, porém achei difícil entender a relevância de tudo logo de cara. Além disso, o dr. Hoenikker é deixado de lado, assim como as entrevistas. Essa mudança foi um tanto abrupta para mim, o que me deixou um pouco confuso, até porque daqui em diante não estava claro para onde o livro me levaria, nem o que os personagens buscavam.
A propósito, o Bokononismo é uma religião que existe nesse universo baseada em mentiras inofensivas, restrita a ilhota de San Lorenzo, uma republica caribenha, com um ditador que persegue seguidores de Bokonon. Embora todos na ilha, inclusive o próprio ditador, sejam seguidores de Bokonon.
A leitura foi bem rápida graças ao humor ácido, uma linguagem descomplicada e aos capítulos bem pequenos. Mesmo com a quebra que citei anteriormente, essas características facilitaram com que eu continuasse a leitura e adentrasse em San Lorenzo.
Acontece que depois das entrevistas iniciais o autor descobre que um dos filhos do dr. Hoenikker está em San Lorenzo, ocupando um cargo importante e prestes a se casar. Durante a viagem e na ilha aprendemos mais sobre Bokonon, San Lorenzo e os filhos de Hoenikker.
Quando a França invadiu San Lorenzo em 1682, os espanhóis não reclamaram. Quando a Dinamarca invadiu San Lorenzo em 1699, os franceses não reclamaram. Quando a Holanda invadiu San Lorenzo em 1704, os dinamarqueses não reclamaram. Quando a Inglaterra invadiu San Lorenzo em 1706, os holandeses não reclamaram. Quando a Espanha invadiu San Lorenzo em 1720, os ingleses não reclamaram. Quando, em 1786, negros africanos assumiram o controle de um navio negreiro inglês, aportaram com ele à costa de San Lorenzo e proclamaram a ilha uma nação independente, na verdade um império com um imperador, os espanhóis não reclamaram.
Vonnegut, Kurt. Cama de gato (p. 118). Editora Aleph. Edição do Kindle.
SPOILER ALERT
(pule para o fim do spoiler, caso não tenha lido)
Durante a entrevista com o supervisor de Hoenikker, descobrimos que um oficial da marinha, cansado com a lama dos combates teria pedido o desenvolvimento de um cristal que pudesse acabar com a lama. A partir disso surgiu a ideia do Gelo 9, capaz de congelar a água até a temperatura de 55°C. O problema é que o gelo 9 congelaria a lama, o lago próximo, o rio que o alimentaria, a nascente subterrânea, o oceano onde o rio desembocaria e assim por diante, destruindo o mundo. O supervisor afirma que tal cristal jamais foi feito, porém não é verdade, antes de morrer, Hoenikker criou o gelo 9 e seus filhos passaram a carregar pedaços com eles.
No fim, descobrimos que cada um deles usou o pedaço que tinha para conseguir algo em troca, um marido, um amor ou uma posição de destaque em San Lorenzo. O que fez com que os EUA e a URSS tivessem amostras de gelo 9, assim como San Lorenzo. Como consequência da ignorância e da irresponsabilidade, umas das amostras entra em contato com a água, o mundo acaba congelado e milhões de pessoas são congeladas junto.
FIM DO SPOILER
Creio que só no fim caiu a ficha de que o livro é uma comédia ácida sobre a ignorância humana no tempo em que foi escrito. Digo só no fim, porque o que realmente me comprou foi a ideia de um jornalista escrevendo um livro sobre o dia da bomba, então quando tudo isso foi “abandonado” eu não sabia mais exatamente o que eu estava lendo. Acho que se você ler Cama de Gato, deixando um pouco de lado essa trama das entrevistas e estando aberto(a) a mudanças, sua experiência pode ser melhor que a minha.
Durante a guerra fria, o medo de URSS e EUA acabarem com o mundo utilizando suas ogivas nucleares era constante e qual a razão de usar essas armas se no fim tudo que elas vão trazer são mortes e a destruição daquilo que conhecemos? Ficou claro o questionamento e a crítica de Vonnegut sobre a ciência ser usada de forma irresponsável por governos, criando armas tão potentes e mortais como a bomba atômica. Além da crítica a cientistas que ficam tão concentrados em resolver problemas, ou promover grandes descobertas que não pensam em como elas podem ser usadas de um jeito ruim, ou se quer parecem ligar para isso.
Acredito que ai entra a segunda relação com a brincadeira da cama de gato. Como dito anteriormente, o jogo não tem fim e depois de algumas combinações ele se repete. Nós estamos constantemente repetindo as mesmas ações. Duas semanas atrás publiquei aqui um texto sobre O Dilema das Redes que mostra exatamente como as redes sociais tem fugido do controle dos próprios criadores, favorecendo a disseminação de fakenews, uma maior polarização, ascensão de grupos extremistas e até mesmo manipulação de eleições e como só agora, depois que muita coisa rolou, estamos começando a ver alguma mobilização por parte dos donos dessas redes para conter a utilização delas de uma forma negativa. Mesmo assim, nós vemos no documentário que outros pontos, que não ganharam tanto destaque, ainda, continuam sendo ignorados, como o fato de o objetivo das redes ser cada vez mais viciante e os impactos delas no nosso psicológico.
Embora publicado em 1963, muito do que está presente nessa obra é contemporâneo. Além do que já foi citado, cheguei a me espantar com certos personagens que representavam pessoas 53 anos atrás e se mantém atuais. Inclusive, questionei-me se seriam personagens atemporais, ou se talvez os pontos do livro sejam atemporais, ou somente meras coincidências. Não acredito ter estudo suficiente para responder essas perguntas, mas com certeza existem similaridades entre a sociedade brasileira de 2020 e a americana de 1963.
Temos um medo constante de comunistas e qualquer pessoa que teça alguma crítica ao modelo imperialista norte-americano parece ser visto como inimigo. O que é totalmente compreensivo, naquela época, dado o contexto histórico da Guerra Fria e à caça as bruxas (macartismo) realizada na década anterior. No livro, o casal Minton vai para San Lorenzo, depois que o embaixador Minton é acusado de flertar com o comunismo. Enquanto isso, caso você viva em uma bolha, ou seja de um futuro distante, no Brasil de 2020, mesmo depois de quase 30 anos do fim da URSS, temos uma parcela da população que acredita que qualquer pessoa com um pé na esquerda, ou contrário ao governo atual seja um comunista safado apoiador das ditaduras em Cuba, Venezuela e China (o que não é verdade). Boa parte desse pensamento vem da polarização estimulada pelas redes sociais, como pode ser visto no documentário O Dilema das Redes.
Também nos deparamos com o personagem H. Lowe Crosby, que eu particularmente acredito que, em 2020, todo mundo tenha um parente assim na família, ou conheça alguém assim.
Eram robustos, com uns 50 anos. Ambos falavam muito alto. Crosby me disse que era dono de uma fábrica de bicicletas em Chicago e que seus funcionários não passavam de uns ingratos. Estava indo estabelecer seu negócio em San Lorenzo, um país mais grato.
– Conhece bem San Lorenzo? – perguntei.
– Nunca estive lá, mas gostei de tudo que ouvi – disse H. Lowe Crosby. – Eles têm disciplina. A gente pode ter certeza de que lá as coisas acontecem de um ano para outro. Lá, o governo não fica encorajando um bando de zé-ninguém, de quem nunca se ouviu falar, a ser alguma coisa.
– Como?
– Jesus Cristo, lá em Chicago não fazemos mais bicicletas. Agora só se fala nesse movimento das relações humanas*. Esses intelectuais se reúnem e ficam tentando descobrir novas formas de deixar todo mundo feliz. Ninguém pode ser despedido, não importa o que faça. E se alguém, acidentalmente, fabrica uma bicicleta, o sindicato nos acusa de práticas cruéis e desumanas, o governo confisca a bicicleta, alegando impostos atrasados, e a entrega a um cego no Afeganistão.
– E você acha que as coisas serão melhores em San Lorenzo?
– Caramba, tenho certeza que sim. As pessoas lá são pobres o bastante, medrosas o bastante e ignorantes o bastante para ter algum bom senso!
Vonnegut, Kurt. Cama de gato (p. 85). Editora Aleph. Edição do Kindle.
Além desse trecho Crosby demonstra acreditar que algumas pessoas vieram ao mundo somente com intuito de fabricar bicicletas para ele.
Talvez seja algo tipicamente humano, mas é fato que estamos cada vez mais conectados e cada vez mais criando coisas que acabam sendo usadas para fins nefastos. Estamos cada vez mais em uma cama de gato.
Foi difícil escolher um trecho favorito nesse livro, mas acho que meu preferido é esse aqui:
– Um médico da minha equipe, o dr. Schlichter von Koenigswald.
– Alemão?
– Vagamente. Ele fez parte da SS por quatorze anos. Foi médico de campo de Auschwitz por seis anos, naquele tempo.
– Ele está fazendo penitência na Casa da Esperança e da Misericórdia?
– Sim – disse Castle –, e fazendo grandes progressos também, salvando vidas de todos os lados.
– Bom para ele.
– Sim. Se ele continuar no ritmo atual, trabalhando dia e noite, o número de pessoas que terá salvo se igualará ao número de pessoas que ele deixou morrer… no ano 3010.
Vonnegut, Kurt. Cama de gato (p. 173). Editora Aleph. Edição do Kindle.
Se quiser saber um pouquinho mais sobre o livro, tem esse video da Aleph que eu achei bem legal, por comentar algumas das coisas que falei aqui e complementar com mais algumas.
Cama de Gato é uma comédia ácida sobre a ignorância humana. Os capítulos curtos, a linguagem descomplicada e o humor fazem com que a leitura flua bem rápido. Embora tenha sido escrito em 1963, o livro possui uma série de temas, críticas e reflexões que se mantem atuais, principalmente no que se refere ao uso da ciência de forma irresponsável, ou para fins negativos por pessoas e governos. Falando do dia 30 de dezembro de 2020, um ano que começou com uma possível terceira guerra mundial, acho que continuamos igualmente ignorantes.
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luizsendochato · 4 years
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Extraordinário - Livro
Mais um e-book que li durante a pandemia. Extraordinário (Wonder) de R. J. Palacio foi comprado em 20 de agosto de 2020 por R$ 7,47. Ele já estava na minha lista tem um tempo, principalmente porque gostei do filme e porque as temáticas me interessam.
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Para quem não sabe, Extraordinário conta a história de August Pullman, um jovem de 10 anos que ama Star Wars e ciências. Auggie  mora com os pais, a irmã e sua cadela em Nova York, tem poucos amigos e estuda em casa. Isso porque Auggie ganhou na loteria da genética, desenvolvendo uma série de problemas faciais e necessitando passar por uma enorme quantidade de cirurgias plásticas, mesmo assim ele ainda tem, o que todos definem como, “um rosto deformado”.
Mas tudo está prestes a mudar, Isabel e Nate (os pais dele) decidiram matricula-lo em uma escola, agora August precisa lidar com uma vida totalmente nova. Como é de se esperar Auggie vai enfrentar crianças maldosas, sofrer bullying e no começo vai ser isolado dos demais. Como qualquer pessoa diferente acaba sendo.
Bullying não é um tema novo, na verdade é algo que tem se falado muito nos últimos anos, mais em personagens adolescentes. A maioria das obras tenta nos mostrar a dor da vítima e as reações que ela pode ter. Aqui não é muito diferente, exceto pelo fato que a autora deixa claro que Julian, o bully, é influenciado pelos pais, que veem Auggie como uma criança de necessidades especiais que deveria estar em uma escola preparada para receber crianças assim, além de acharem a presença de Auggie algo muito “pesado” para os filhos conviverem.
Gosto como Palacio elabora os comportamentos das crianças, lembrei muito a minha infância. Além de ter adorado como ela busca, através dos capítulos, apresentar diferentes pontos de vista. Vemos a situação pelos olhos de Auggie,  e também pelos olhos de seus melhores amigos, Jack e Summer. A linguagem que ela usa para cada personagem, constrói muito bem cada um e nos auxilia a ter uma noção das coisas que estão rolando, mas que não estão tão claras ainda para outros personagens. Um exemplo é que Auggie suspeita que as crianças estejam tratando ele como o pedaço de queijo de O Diário de um Banana, porém o ponto de vista dele é o do isolado que nada sabe, tudo fica mais claro quando lemos o que Summer e Jack tem a dizer sobre isso.
Enquanto lia Extraordinário também estava lendo Querido Edward e assisti a um documentário The Mask You Live In. Não consegui deixar de traçar paralelos entre as obras. O primeiro é uma história sobre um garotinho que foi o único sobrevivente de um acidente aéreo e precisa lidar com o trauma da tragédia. O segundo aborda a questão do “O que é ser homem?”, mais precisamente na sociedade americana, porém acho que muitos elementos são comuns a sociedade brasileira.
No documentário existe um momento que somos apresentados a raiva que muitos homens sentem, porém não demonstram. Afinal, existe uma espécie de senso comum na sociedade que o homem não deve sentir ou se expressar. Enquanto isso, tanto Querido Edward, quanto Extraordinário são livros escritos por mulheres, em que o protagonista masculino é apresentado como um garoto que não deixa a raiva se apossar dele, acho que isso se deve ao fato de ambos se permitirem sentir e estarem em ambientes onde ninguém os reprime por isso. Nós vemos isso, vemos como August permanece bom e gentil, mesmo quando as crianças são maldosas com ele. Vemos ele ficar chateado com acontecimentos e os pais, amigos e até mesmo o diretor da escola darem suporte para ele. Diferente de Jack, que sucumbe a raiva e bate em Julian.
Quando criança me identificaria mais como Jack, do que como August, porém eu gostaria de ter sido mais August. A raiva que o documentário apresenta é algo que eu sinto e nunca soube lidar até começar a terapia e é algo que até hoje, mesmo depois de mais de mais 6 anos, encontro dificuldades. Nesse ponto, talvez o personagem pareça estranho para alguns, mas prefiro vê-lo como um exemplo do que muitos homens, como eu, podem se tornar.
Vou comentar mais sobre The Mask You Live In e Querido Edward nos textos deles, que estão em produção, mas provavelmente só chegarão em 2021.
A família de Auggie é sem duvida outro ponto bem interessante no livro, em vários momentos comparei os comportamentos dos pais de Auggie com os meus. Diálogo talvez seja a melhor palavra que descreve porque acho essa família bonita, nós conseguimos ver que todos conseguem conversar sobre os mais diferentes tópicos, respeitar os diferentes pontos de vista e os pais são capazes de assumir erros. Eu achei maravilhoso uma mãe ou um pai pedindo desculpa porque talvez o que ela(e) pensou que seria melhor para o filho não teve um resultado tão bom.
As vezes me pego pensando “Se eu tiver um filho, não farei isso  ou aquilo”, exatamente buscando me distanciar de hábitos que não me agradam nos meus pais. Não acho que exista uma forma certa de ser pai ou mãe, não existe manual de instruções e ninguém prepara  a gente pra isso. No geral, só repetimos os comportamentos que nos foram ensinados. Fico contente em perceber que tenho consciência disso e posso no lugar de repetir, repensar meus comportamentos e dar uma experiência melhor do que a que eu tive.  Alegra-me que muitos dos meus pensamentos encontraram algum conforto nos personagens paternos de Palacio.
Assim como somos apresentados aos pontos de vista de Jack e Summer, também vemos os pontos de vista de outros personagens como Olivia (irmã de August), Miranda (melhor amiga de Olivia) e Justin (namorado de Olivia). Acredito que todas as visões contribuem para o um aprofundamento da narrativa e enriquecimento dos personagens. A autora também desenvolve bem uma linguagem própria para cada um deles.
Não demorei muito para ler e acho que um fator que ajudou muito foi o tamanho dos capítulos. Todos são bem curtos, o que deixa a leitura mais dinâmica. A linguagem, embora sofra variações para se adaptar aos diferentes personagens narradores, em nenhum momento fica rebuscada ou cansativa. O que acho perfeito, considerando que Extraordinário é, principalmente, um livro dedicado a um público mais infantil, esse tipo de linguagem e estrutura é muito mais convidativo para crianças, até mesmo se elas não tiverem o hábito de ler.
Outro fator que, na minha opinião, torna o livro mais agradável e atraente para crianças, e até mesmo outras pessoas, é o enorme número de referencias da cultura pop. Isso permite que todo o universo de Auggie fique muito mais próximo do nosso.
Por fim, fica claro que o principal objetivo em Extraordinário é ensinar crianças a serem gentis e o poder da gentileza. Nesse aspecto acredito que temos uma história bem estruturada, com diferentes pontos de vista e personagens bem ricos. Sendo possível ver desfechos positivos e otimistas para todos que buscam ser bons, gentis, compreensivos ou que buscam uma segunda chance. É um livro que eu, com certeza, leria ou incentivaria meus filhos a lerem (embora eu não tenha filhos, ainda). Por coincidência, terminei de ler no dia 13 de novembro de 2020, fiquei sabendo depois que esse é o dia da gentileza.
Tive a ideia, enquanto lia, de começar a gravar os trechos que mais gostei a fim de compartilhá-los nos meus textos. Esse aqui foi o meu favorito.
— Mas em outro livro de J. M. Barrie, chamado O pequeno pássaro branco, ele escreve… — O Sr. Buzanfa começou a folhear um pequeno livro até encontrar a página que estava procurando, e então voltou a pôr os óculos. — “Vamos criar uma nova regra de vida... sempre tentar ser um pouco mais gentil que o necessário?” Então ele olhou para a plateia. — “Mais gentil que o necessário” — repetiu. — Que frase maravilhosa, não é? Mais gentil que o necessário. Porque não basta ser gentil. Devemos ser mais gentis do que precisamos. Adoro essa frase, essa ideia, porque ela me lembra que carregamos conosco, como seres humanos, não apenas a capacidade de ser gentil, mas a opção pela gentileza. O que isso significa? Como isso é medido? Não podemos usar uma régua. É como eu estava dizendo antes: a questão não é medir quanto vocês cresceram este ano. Não dá para quantificar com precisão, não é? Como sabemos que fomos gentis? O que é ser gentil, a propósito?
Palacio, R.J. Extraordinário - Edição Especial (p. 296). Intrinseca. Edição do Kindle. 
Como sempre, meu veredicto: Extraordinário é um livro fácil de ler, voltado para um público mais infantil e que busca ensinar o poder da gentileza. Um tema desses não se mostra só interessante para crianças, como também pode cativar alguns adultos (eu por exemplo haha!). A narrativa é bem imersiva, os personagens são bem desenvolvidos e o fato de termos muitos pontos de vista só deixa tudo mais rico e interessante. A vida muitas vezes pode ser desagradável, injusta ou até mesmo cruel, mas talvez a melhor opção para evitar mais danos, ou problemas, seja ser um pouco mais gentil que o necessário.
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luizsendochato · 4 years
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The Social Dilemma - Documentário
The Social Dilemma, ou como foi traduzido para português no Brasil O Dilema das Redes, é um documentário de 2020 dirigido por Jeff Orlowski e disponível na Netflix.
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Cheguei nesse documentário depois de ler um artigo no Linkedin em que o Facebook parecia estar um pouco incomodado com algumas coisas que eram ditas ali. Não sou um grande fã do Marquinhos Zuckberg e algo que foi discutido muito, cada ano com mais intensidade, ao longo dos meus cursos superiores era exatamente os desdobramentos das redes sociais e da internet nos dias de hoje.
Uma das questões propostas pelo documentário é exatamente a maneira como esse novo mundo digital nos afeta. Uma das diferenças entre as gerações anteriores e a atual é o fato de lembrarem de um mundo sem internet. Ou do desenvolvimento desse mundo. Eu lembro de ter internet discada, ser ruim, cara e não poder usar o telefone enquanto a gente “surfava na net”, por isso a regra em casa era “você só pode usar em um caso de extrema importância.”, ou seja, a gente não usava.
É engraçado pensar em tudo isso, porque eu me sinto um idoso de mil anos, a simples ideia de um mundo sem internet parece muito distante.
Comparando esses dois mundos, hoje é muito fácil trabalhar remotamente, o que foi algo sem dúvida incrível durante esse tempo de pandemia. Existem bancos digitais que facilitam horrores a nossa vida, bancos que você chega a gostar. Bancos e gostar são quase que antônimos. Consigo escrever esse blog e falar o que eu estou pensando, direto do meu celular, que eu guardo no meu bolso e tem gráficos, processador e mais memória RAM que muitos computadores até 2010. Ou, ainda consigo ler e armazenar centenas de livros em um único dispositivo que eu posso levar para qualquer lugar, o que de fato me permite continuar lendo, já que não tenho mais espaço para armazenar livros e quadrinhos no meu quarto. O mundo da tecnologia é show!
Mas a internet é algo muito grande e ela vem se expandindo de uma forma que não é possível prever ou controlar. Nessa falta de controle é que moram os perigos. Temas como “qual o poder das redes sociais sobre o nosso psicológico?”, “As redes sociais podem influenciar na decisão de uma eleição?”, “Como elas afetam os nossos relacionamentos?”, “Qual é o papel delas em discursos de ódio e teorias da conspiração que vem cada vez mais ganhando força nos dias de hoje?” dentre outros são a base desse documentário que apresenta visões de pessoas que trabalharam no desenvolvimento dessas redes e autores de livros que tentam nos alertar sobre seus perigos.
The Social Dilemma tenta ilustrar alguns dos perigos através da vida de uma família nos dias de hoje. Porém, nada muito chocante como vemos em Black Mirror. Aqui nós temos cinco integrantes, sendo os filhos os que mais ganham destaque, todos tem celulares, inclusive a mais jovem dos três.
Spoiler Alert: Eu descrevo a seguir algumas cenas, pule para “Fim do Spoiler” caso não tenha visto.
Os dois mais jovens se mostram viciados em seus celulares, a mais velha não parece tão afetada, assim como os pais. Certo dia a mãe tem a ideia de colocar todos os celulares em um pote para que eles possam jantar em família, distantes de notificações. Poucos minutos depois a mais nova explode o pote e recupera seu celular. Vemos ela em seguida tirando selfies e postando, aguardando por comentários e interações. A garota apaga fotos que não recebem atenção dos demais, fica feliz com comentários positivos e é afetada por comentários negativos. Tudo isso em pouquíssimos minutos, deixando claro como a identidade dela parece ser construída com base na rede social.
O filho aposta com a mãe ser capaz de ficar uma semana distante do celular. Fica claro o desconforto dele em não ter o aparelho por perto, ver notificações aparecendo intensifica esse sentimento. A garota com quem ele parece estar interessado, deixa de interagir tanto com ele, por não vê-lo mais online e ele também não parece saber interagir com ela sem o celular, sendo que eles tem aula na mesma sala.
O garoto perde a aposta ao recuperar o aparelho depois de ver uma notificação que sua ex está com outro cara. Isso o deixa bem deprimido e graças ao algoritmo da rede, discursos extremistas começam a surgir em seu feed. Em pouco tempo o jovem está imerso em uma quantidade absurda de conteúdo extremista. Fazendo inclusive com que ele fique mais disperso com relação ao mundo ao redor.
Fim do Spoiler
O documentário nos alerta sobre como as redes sociais se esforçam para serem viciantes, como as notificações são usadas como um forma de te puxar para dentro delas novamente, como a cada interação a rede aprende mais sobre você e como é difícil controlar o conteúdo que é postado na internet. 
Antes de continuar falando do documentário queria fazer uma introdução sobre quem está avaliando. Até para que fique claro como eu sou influenciado pelo conteúdo do documentário e para que eu possa fazer mais alguns comentários com base na minha vivência.
Depois de ver o documentário, eu verifiquei meu tempo de uso e o dos meus pais no facebook e instagram. Segundo os dados, meu tempo é de aproximadamente 17min no facebook e 30min no instagram. Meu pai conseguiu 2h30min de facebook e 5min de instagram, minha mãe 1h30min de facebook e 40min de Instagram.
Eu uso outras redes, então, acho que consigo distribuir mais meu tempo entre elas. No entanto, não sou o tipo de pessoa que interage muito, mesmo assim o facebook mostra mais publicações de certas pessoas do que outras, não porque eu interajo mais com elas, mas porque as vezes eu leio, ou vejo e a rede social conta quanto tempo eu fico em cada postagem. Com base nisso, meu feed acaba sendo elaborado. No caso do meu instagram, venho usando ele muito para divulgar meus trabalhos de 3D e dando mais suporte para artistas, por isso, pessoas que não trabalham com 3D ou não são artistas tem aparecido com cada vez menos frequência para mim. Assim como artistas 3D, cursos, faculdades, escolas de artes digitais e renderfarms tem aparecido cada vez mais como anunciantes.
Quanto mais tempo passamos na rede social, mais ela sabe sobre nós, mais direcionados são os anúncios e as postagens. Como foi dito no documentário, toda rede precisa de dinheiro para continuar se sustentando e se você não está pagando pelo serviço, é porque você é o produto. Os anunciantes pagam para que os produtos deles cheguem até você. As páginas/perfis pagam para que o conteúdo deles chegue até você.
Infelizmente nem sempre esse conteúdo é saudável. Quando meu pai mexe no facebook, ele assiste vídeos e fica naquela sequência infinita que a rede social vai criando para você. Virou costume ficar assistindo vídeos até dormir e mais de uma vez peguei ele dormindo, enquanto o vídeo que era reproduzido disseminava fake news. Minha mãe não segue um caminho muito diferente e já vou explicar mais a frente.
As redes vem tentando, ao longo dos últimos anos, controlar um pouco mais a disseminação de fake news, mas ainda temos muitas sendo criadas e espalhadas. O que nos traz para mais uma diferença entre o mundo pré redes sociais e pós redes sociais. “O que é verdade?”
Um bom exemplo são todos os medicamentos que vem sendo recomendados para tratamento de covid-19. E até hoje, depois de meses, ainda temos pessoas defendendo o uso da cloroquina e pessoas condenando (não estou me posicionando sobre isso, não sou médico para poder me posicionar, só estou dando o exemplo). Chegamos em um ponto que fica muito difícil saber o que é verdade no presente. Se formos pensar, até o passado acaba ganhando novas “interpretações” nos dias de hoje.
Na noite de 8/11/2020 eu fui dormir com tosse seca, na manhã seguinte além da tosse estava com febre e garganta inflamada. Mandei mensagem para minha mãe dizendo que preferia almoçar sem meus pais e para que ninguém chegasse muito perto nos próximos dias. A primeira reação dela foi comprar um monte de remédios que, segundo ela, diversos médicos recomendaram nas redes sociais. Eu me recusei a tomar os medicamentos sem consultar um médico antes e isso foi suficiente para conseguir criar uma bela briga. No hospital, contei a história para o médico e perguntei se eu deveria tomar os medicamentos. Ele me respondeu exatamente o seguinte “Foram feitos testes com a X e até o momento ela não parece surtir qualquer tipo de efeito, os únicos casos em que o efeito se mostrou promissor foram com dosagens muito altas e que fariam mais mal do que bem. Quanto ao outro medicamento, a Y, eu recomendaria somente se seu caso fosse mais grave, seu pulmão está limpo e você está respirando muito bem.” 
Ao chegar em casa, tomei bronca e fui chamado de “inocente”. Eu não tinha avisado minha mãe, só meu pai e ele preferiu ficar calado. Ela estava crente que eu havia sido mandado pra casa sem nenhum tipo de teste. Também estava crente que o médico havia dito que eu não tinha nada, o que mais uma vez não se confirmou porque ele mandou fazer o exame, exatamente porque os sintomas batiam. As pessoas que ela assiste nas redes, supostamente médicos também, conseguiram fazê-la se posicionar contra certos médicos e até mesmo a ida em hospitais, sugerindo que um tratamento preventivo na base de certos medicamentos seria suficiente, o que não se mostrou bem verdade e até mesmo, depois de algumas pesquisas, encontrei mais pessoas (médicos e biólogos) se posicionando contra a ingestão de tais medicamentos como forma de prevenção ou tratamento.
(Omiti nomes de medicamentos porque não quero incentivar ninguém a tomar nada, na verdade quero incentivar as pessoas a buscarem por atendimento médico, caso precisem)
O doutor que me atendeu foi supersincero, me recomendou alguns remédios para dor de garganta e disse que ele havia se tratado com eles quando contraiu COVID-19. Meus exames deram negativo e minha garganta inflamada já passa bem, porém foi um episódio um tanto assustador, digo isso porque sou adulto e pude ir sozinho no hospital tentar descobrir o que estava acontecendo antes de tomar remédios sem prescrição, mas e quando se trata de uma criança, ou de alguém que não esteja nas mesmas condições? Basta pesquisar um pouco para encontrar casos de pessoas que foram parar no hospital graças a supostas "curas" ou recomendações disseminadas nas redes sociais, como é o caso do Donald Trump tendo uma "epifania" e sugerindo ao vivo a ingestão de desinfetante para uma lavagem interna (gente, por favor, não bebam desinfetante). O vídeo foi compartilhado e as notícias que se seguiram foram de um aumento de número de casos de pessoas chegando aos hospitais após a ingestão de produtos de limpeza, empresas do ramo foram obrigadas a se mobilizar e emitir comunicados a fim de tentar impedir mais casos.
Algo que eu quero incentivar muito aqui é que as pessoas leiam e se informem, busquem opiniões diferentes e principalmente busquem pela “verdade”, não que de fato haja uma verdade porque do meu ponto de vista, o mundo não é preto e branco e parece que cada vez mais as redes sociais vem nos levando para um caminho onde as pessoas deixam de ver os tons de cinza. A maior prova disso é a polarização política existente hoje, não só no Brasil como em outros países também e talvez a única forma de amenizar as coisas é exatamente buscando por alternativas menos extremas ou  supostas “verdades absolutas”.
Fui um tanto neutro e muito mais descritivo e explicativo nessa análise. Mas saiba que gostei bastante do conteúdo e na minha opinião complementou em parte tudo que estudei ao longo dos últimos anos, além de ter promovido novas reflexões sobre os temas abordados. Fiquei mais interessado em ler alguns livros de autores que aparecem no documentário, até porque não é a primeira vez que ouço falar deles e alguns já estão há um tempo na minha lista de desejos.
Por fim, eu queria só dizer que tenho um primo que nasceu depois de 2015. Ele já sabe mexer melhor no youtube do que meus pais, sabe encontrar os vídeos da Turma da Mônica Toy sozinho, mas também acaba chegando em conteúdos bem sinistros que já deixaram a mãe dele um tanto assustada. Fora o caso da Momo que aterrorizou muitos pais e traumatizou algumas crianças, pouco tempo atrás. Eu não tenho a menor ideia de como ele vai crescer com tudo isso, ele não conhece o mundo que eu conheci, não sabe como as coisas já foram, só conhece o presente. E se no presente nem a gente sabe o que é verdade, não temos como saber como vai ser o futuro.
The Social Dilemma é um documentário que busca nos conscientizar sobre alguns problemas que estamos sujeitos a enfrentar no nosso dia a dia utilizando as redes sociais. Ele não busca chocar com seu conteúdo, mas promover uma reflexão sobre nossos hábitos e como esse novo mundo afeta as novas gerações. Tentei, em alguns parágrafos complementar com experiências que tive ou presenciei nos últimos anos, mas recomendo que todos assistam porque só pontuei alguns dos temas apresentados. Realmente acredito que todos os temas propostos nessa obra sejam dignos de reflexão. O futuro é incerto, o que sem dúvida gera bastante ansiedade, mas não quer dizer que não podemos fazer nada a respeito.
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luizsendochato · 4 years
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A Cidade Inteira Dorme e Outros Contos - Livro
A Cidade Inteira Dorme e Outros Contos é uma coletânea do autor Ray Bradburry, o mesmo de Fahrenheit 451. Eu li a versão Kindle da Biblioteca Azul, depois de comprá-lo em uma promoção por R$ 5,90.
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Ao todo são 13 contos de ficção com diferentes estilos, indo desde contos que parecem filmes de Sessão da Tarde até contos que são repletos de suspense:
Uma pequena viagem
O lixeiro
O visitante
O messias
A autêntica múmia egípcia feita em casa
A cidade inteira dorme
O homem Ilustrado
O homem em chamas
As frutas no fundo da fruteira
O dragão
A pedestre
O alçapão
A hora zero
Li o livro tem alguns meses e pelos títulos não consigo me lembrar de todos. Acho que isso se deve ao fato de ter gostado bem mais de uns do que de outros e os preferidos são os que ficaram na lembrança. Por isso, inclusive, pretendo falar um pouco sobre eles. Fica ai uma lista: O lixeiro, A autêntica múmia egípcia feita em casa, A cidade inteira dorme, O homem Ilustrado, O dragão, O alçapão, A hora zero.
Ter gostado mais desses não significa que os outros são ruins. Gostar de algo está muito relacionado a bagagem que temos, as vezes o que acontece é que nossa bagagem não se assemelha muito ao conteúdo da história, o que pode torná-la desinteressante para nós, ou pode tornar a nossa compreensão sobre os acontecimentos mais rasa, até mesmo confusa.
Além disso, precisamos levar em consideração nosso humor e nossos sentimentos. Tem dias que certos tipos de histórias não são bem-vindos e dias em que gostaríamos de ver/ler algo mais específico. Não sei quanto a você, mas depois de muito tempo lidando com questões pessoais, ou problemas eu me sinto muito mais aberto a assistir filmes/séries ou ler livros que não exijam muito da minha cabeça, é a melhor hora para assistir aquele filme de ação em que tudo explode e que os roteiristas forçam a barra com situações impossíveis. Ou assistir aquela comédia romântica bobinha. Por outro lado, na maior parte do tempo eu gosto de filmes, séries e livros que mexem com a minha cabeça, tem um humor mais ácido, ou viajam na ficção-científica. Como já disse o livro possui contos bem diversos, então pode ser que você esteja em um bom dia para ler o conto O Alçapão, mas talvez não seja o melhor para ler o seguinte A Hora Zero.
Continuando, tenho a impressão de que os personagens de Ray Bradburry são sempre um tanto “estranhos”. Andei pensando um pouco sobre o assunto e na minha opinião eles não agem como imagino que pessoas agiriam em determinadas situações, o que faz com que certos acontecimentos pareçam um pouco forçados.
O melhor exemplo dos personagens estranhos, nessa coletânea, foram as garotas apresentadas em  A cidade inteira dorme. Esse foi o conto que eu mais gostei, mas também o que achei mais forçado. Gostei principalmente pela maneira como Ray desenvolve o suspense, ele vai crescendo ao longo da narrativa e você vai ficando cada vez mais tenso, envolvido e interessado na história. Tudo começa com um corpo sendo encontrado no meio de uma ravina por duas amigas e com a suspeita de um assassino em série que busca jovens garotas como vítimas. As amigas pretendiam ir ao cinema, porém depois de encontrarem o corpo começam a pensar sobre voltar para casa, mas uma delas se mantem firme aos plano original e convence as demais que elas devem ir ao cinema, à noite, sozinhas, com um assassino em série matando mulheres na periferia da cidade, próximo de onde elas moram. É por isso que eu achei forçado, qualquer um em sã consciência ficaria em casa, trancaria todas as portas e janelas e não sairia a noite.
Entendo que isso foi meio que necessário, a obsessão da protagonista em continuar faz com que o autor possa adicionar novos acontecimentos que só reforçam como essa ideia parece estúpida. Todos os acontecimentos contribuem para gerar algum tipo de medo em quem lê e nas garotas. Ou seja, é um conto bem tenso e envolvente, por mais que tudo ocorra por conta de uma obsessão “boba”.
No entanto, isso não foi algo que afetou meu entretenimento, embora eu acredite que esse seja um ponto negativo nas obras do autor, os personagens agindo de forma forçada, acho que o maior ponto positivo são sempre as premissas de cada história. Todas são muito interessantes e inspiradoras. 
Como por exemplo, a premissa por trás de O lixeiro, em que um lixeiro se assusta com a possibilidade de seu caminhão precisar ser usado caso as cidades sejam bombardeadas. Nesse caso ele seria encarregado de carregar os corpos.
O mesmo também ocorre com o conto O homem ilustrado, em que um homem decide virar atração de circo e vai até uma tatuadora que preenche o corpo dele com diversas artes, porém duas artes mostram o futuro e só devem ser reveladas depois de certo tempo... no caso o que elas revelam não é muito agradável.
O dragão se apresenta como um conto bem original, ele parece o mais distante dos demais por se passar em um período medieval, mas no fim entendemos melhor porque é um conto de Bradburry.
O alçapão foi um conto que tive muita vontade de tentar adaptar, ou até mesmo expandir. A história deixa muito para nossa imaginação, mas segue uma linha narrativa muito tensa. Enquanto lia, lembrava de filmes como Babadook, ou Invocação do Mal, imagino que se fosse adaptado ou expandido seguiria um estilo similar. A narrativa aqui gira em torno de um alçapão que surge misteriosamente na casa de uma mulher. Ela decide não o investigar, porém barulhos estranhos começam a surgir durante a noite. Achando que são ratos ela chama um dedetizador e o resto deixo para você ler.
A hora zero, embora eu tenha achado um conto previsível, adorei a ideia de que as crianças estariam trabalhando com alienígenas, ajudando-os a invadir a Terra. Tudo com a maior inocência.
Por fim, temos A autêntica múmia egípcia feita em casa, pra mim esse conto tem muita cara de Sessão da Tarde e apresenta a aventura fechadinha de um coronel aposentado e um garotinho, que decidem fazer uma múmia em casa e pregar uma peça na cidade, afinal, nada acontece lá nunca e uma múmia seria uma ótima forma de agitar as coisas. É um conto bem tranquilo e divertido de ler.
Conclusão: Acho que esses contos valeram o investimento, foi uma leitura bem divertida que, inclusive, me incentivou a adicionar mais livros de Bradburry na minha lista de desejos. Então, você vai ver mais aqui no futuro. Os outros contos, não citados, também são interessantes e talvez eles instiguem você mais do que a mim. Sem dúvida, todas as histórias têm premissas fascinantes, embora algumas decisões de personagens pareçam forçadas, do meu ponto de vista, não senti que elas atrapalharam muito meu apreço pela obra.
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luizsendochato · 4 years
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Creating Character Arcs: The Masterful Author's Guide to Uniting Story Structure - Livro
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Creating Character Arcs: The Masterful Author's Guide to Uniting Story Structure, Plot, and Character Development  é um livro que ouvi falar pela primeira vez em um podcast da escola Revolution, em que foram citados vários livros sobre escrever histórias. Eu anotei cada um e adicionei todos a minha lista de desejos, exceto por esse que estava custando R$ 5,37 na versão Kindle (e não era uma promoção). Não sei quanto a você, mas eu particularmente desconfio da qualidade de um produto quando o preço é muito baixo, esse livro é a prova que eu estou errado.
K. M. Weiland é a autora desse livro teórico que eu adorei. Primeiro porque a linguagem dela é supersimples, não perdendo tempo com termos difíceis, enrolações ou discursos de como ela é foda. Isso fez com que a leitura fluísse muito mais rápido pra mim, era como se estivesse conversando com alguém.
Segundo, embora ela use estruturas clássicas ( jornada do herói ) para exemplificar os diferentes tipos de personagens e arcos, não é como se ela estivesse te forçando a usar essa estrutura. Desde que você entenda como a coisa funciona, cabe a você tentar estruturar tudo do seu jeito.
Quando eu estava no colégio, lembro das professoras de redação sempre incentivarem a escrever personagens "esféricos", mostrar que eles evoluem ao longo da narrativa. Elas inclusive diziam "o protagonista sempre deve ser esférico". No geral eu tirava notas baixas porque nunca curti escrever seguindo regras rígidas.
Até mesmo me questionei o porquê de não me recomendarem ler o trabalho dela durante a faculdade. Durante os 4 anos o que eu mais ouvi foi Mckee, Vogler, Campbell, SydField e Blake Snyder, mas não me recordo de ninguém falando dela e se falou eu sinto muito, mas não me lembro. Acho que o problema da faculdade e do colégio é que, em ambos os casos, eu me sentia preso a estruturas e a muitos professores que obrigavam a usar sempre a mesma estrutura.
Weiland começa o livro exatamente falando sobre esse personagem esférico que minhas professoras tanto comentavam. Esse personagem vai começar a história acreditando em algo, uma mentira, e ao longo da história ele percebe que essa crença não é boa e que algo precisa ser feito. Nesse caso, que ela chama de final positivo, o personagem evolui com a narrativa e consegue, no fim, se tornar uma pessoa melhor e ver o mundo com novos olhos.
Acho que esse é o caso da maioria das histórias de hoje em dia, por isso não faltam exemplos de filmes ou livros que ela analisa cuidadosamente.
Além disso, ao fim de cada capítulo ela faz uma série de perguntas para que você possa se questionar sobre seu personagem e avaliar melhor o arco dele durante a narrativa. Gostei muito das perguntas e salvei todas para ir usando enquanto escrevo minhas histórias.
O segundo tipo de personagem apresentado é o que minhas professoras do colégio chamavam de "linear". Ele não evolui. Segundo a Weiland, quando temos esse tipo de personagem em uma história as crenças dele já estão corretas. Nesse caso o mundo vive uma mentira e o personagem precisa lutar para mudar o mundo. Um dos exemplos que ela usa para esse caso é Capitão América e o Soldado Invernal que na minha opinião foi um tiro certeiro, não só pelo fato de ter sido o filme que me fez começar a gostar do Capitão, mas porque ele ilustra perfeitamente o que ela vai dizendo. O mundo viver uma mentira é algo que fica claro desde o início e eles casam isso muito bem com o fato de o Steve Rogers ser um cara que acordou depois de décadas congelado, o que faz com que seja difícil viver nesse mundo tão diferente ao qual ele estava acostumado.
Em seguida a autora mostra como criar um arco negativo. Aqui funciona da mesma forma que o arco positivo, mas invertido. Portanto, no lugar de seu personagem terminar a história como uma pessoa melhor, ele acaba pior, ou se ele lutava contra uma mentira, ele passa a acreditar nela. Eu particularmente gosto muito desse tipo de arco, ele é muito usado para o vilão ou o anti-herói.
Existe uma série de outros conteúdos muito interessantes como por exemplo “Como construir arcos em séries?”, “Todos os seus personagens precisam ter arcos?”.
Enfim, se você já escreve ou está pensando em começar a escrever com certeza o livro da Weiland vai ser bem interessante, complementando ou ensinando uma série de dicas para estruturar bem a história dos seus personagens e por consequência a sua história também.
Se ficou interessadx em adquirir o livro. Saiba que não precisa. Você encontra o conteúdo desse livro, e de outros escritos pela autora, no blog dela helping writers become authors. Porém, se possível, tente comprar. O conteúdo é bom, barato e você ainda financia a autora.
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luizsendochato · 4 years
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MindHunter: O Primeiro Caçador de Serial Killers Americano - Livro
Primeiro post do blog. Vou falar um pouquinho sobre minha experiência lendo esse livro, mas antes gostaria de te convidar a ler a seção “o que é isso?”, onde eu falo um pouco mais sobre mim e o que eu gostaria de poder atingir com esse blog.
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Eu comprei MindHunter em uma promoção no dia 9 de agosto, o e-book custou R$ 9,90. Fiquei meses aguardando o valor abaixar e assim como muitos, o que me levou a comprá-lo foi o seriado da Netflix.
A primeira coisa que de fato me pegou nesse livro foi uma nota da editora logo no começo
Originalmente publicada em agosto de 1996 nos Estados Unidos, esta obra reflete o ponto de vista dos autores neste período e em épocas anteriores. Além disso, para preservar a integridade do texto, a editora optou por não alterar informações relativas a eventos posteriores a primeira publicação.
Lembro que em seguida fui comentar com uma amiga sobre o que eles poderiam querer dizer com isso.
O livro começa com o autor, John Douglas, em meio a uma espécie de ataque devido a sua rotina extrema como agente do FBI. Nos capítulos seguinte somos apresentados a uma série de acontecimentos cronológicos desde a infância até a entrada de Douglas no FBI e seu ingresso na divisão que começa a estudar os assassinos em série.
Esses acontecimentos nem sempre se mostram muito relevantes para o desenvolvimento da história. O que acaba dando a impressão de que essa parte inicial é mais lenta e um tanto desconexa ou desnecessária. Principalmente, se assim como eu, você chegou até esse livro querendo ler as conversas com os serial killers.
Depois de alguns capítulos chegamos no ponto em que assassinos em série começam a ser analisados. A partir daqui o livro fica bem mais interessante, do meu ponto de vista. Em muitos casos você vai ler histórias sobre os crimes cometidos sem acreditar que de fato isso pode ter ocorrido. Na série, um dos assassinos que mais recebe destaque é Ed Kemper, é possível até mesmo desenvolver algum tipo de empatia com ele. No livro ele também recebe bastante destaque e acaba se tornando, acredito eu, o personagem mais bem desenvolvido, dentre os assassinos. É aFssustador ler os crimes que ele cometeu e impressionante como ele é descrito como alguém que oscila entre momentos de lucidez, nos quais o autor descreve como sendo momentos em que ele demonstra arrependimento por seus crimes e confessa que o melhor seria que ele jamais retornasse a sociedade.
Acho Mindhunter um livro muito interessante nesse aspecto, com certeza não o melhor, sinto que poderia ter desenvolvido mais, porém existe pelo menos uma faísca sobre a questão “Assassinos seriais poderiam ser reeducados e então reinseridos na sociedade?”. Uma faísca porque eu sinto que só vemos um lado da moeda. Lembra da nota da editora? Acho que talvez ela se referisse em parte a isso. A medida que chegamos ao fim do livro, depois de ler sobre um enorme número de casos e assassinos em série, somos apresentados a uma história em que o assassino acaba sendo morto pelas vítimas. As vítimas depois são convidadas a fazer apresentações em Quântico, em uma dessas apresentações John Douglas os pergunta.
Se Wayne Nance tivesse sobrevivido e não existisse a pena de morte, ou seja, se ainda estivesse compartilhando o planeta Terra conosco, vocês se sentiriam tão tranquilos quanto agora?
 Ao que o marido responde pelo casal “Tenho quase certeza que não.”
Em outros momentos John diz que haveria uma espécie de limiar. Até determinado ponto a reeducação seria possível, mas depois de determinado ponto (o primeiro assassinato muitas vezes) não.
Também um pouco mais ao fim do livro, John demostra ser contra psiquiatras darem liberdade a certos tipos de criminosos. Vou colocar aqui dois trechos dos livro que explicam melhor o posicionamento do autor.
Para mim, o problema é que são contratados jovens psiquiatras, psicólogos e assistentes sociais que são idealistas e aprenderam na faculdade que podem realmente fazer a diferença. Então eles se deparam com esses sujeitos na prisão e querem acreditar que são capazes de mudá-los. Muitas vezes não entendem que, ao tentarem analisar esses detentos, estão lidando com indivíduos que também são especialistas em analisar as pessoas! Em pouco tempo, o detento saberá se o doutor fez seu dever de casa, e, caso não tenha feito, conseguirá minimizar o crime e seu impacto sobre as vítimas. Poucos criminosos oferecerão, por livre e espontânea vontade, os detalhes mais perturbadores de seus feitos a alguém que já não saiba deles. É por isso que uma preparação completa era tão necessária em nossos interrogatórios prisionais.
Douglas, John. Mindhunter: o primeiro caçador de serial killers americano (p. 366). Intrínseca. Edição do Kindle.   
Ele usa como exemplo o caso de Ed Kemper, que durante sua onda de assassinatos frequentava um psiquiatra, que inclusive, atestou uma melhora no quadro do paciente. Aponta que psiquiatras podem ter o estudo, mas não tem a experiência de campo, assim ele vê de uma forma negativa o médico que se compromete com o paciente sem antes ler sobre o passado do mesmo. Afinal, o médico precisa tratar o paciente e em muitos casos a única forma é evitando que julgamentos atrapalhem no seu trabalho.
Como no caso do médico de Thomas Vanda, pessoas em profissões de auxílio muitas vezes não querem agir de maneira parcial por saberem os detalhes sangrentos do que o criminoso fez.
Douglas, John. Mindhunter: o primeiro caçador de serial killers americano (p. 366). Intrínseca. Edição do Kindle.
Enquanto eu escrevia isso lembrei do Dr. Dráuzio Varella. Ele não é psiquiatra, mas eu acredito que esse tema de médico e paciente ainda seja bem atual. Se você é de um futuro distante ou só vive em um universo paralelo joga ai no google “Dráuzio Varella e Suzy”, tenho certeza que esse episódio brasileiro conseguiu juntar bastante material sobre o tema.
Para adicionar um ponto a mais nesse tópico, peguei esse trecho que pode acrescentar na construção de uma opinião sobre o assunto.
O dr. Park Dietz, que trabalhou conosco em muitas ocasiões, já declarou que “nenhum dos assassinos em série que já tive a oportunidade de estudar ou examinar era legalmente insano, mas nenhum era normal. Todos eram pessoas com distúrbios mentais. Mas, apesar de seus desajustes, que têm a ver com seus interesses sexuais e seu caráter, todos eles sabiam o que estavam fazendo, sabiam que seus atos eram errados, mas escolheram fazer mesmo assim”. É importante lembrar que a insanidade é um termo jurídico, e não médico ou psiquiátrico. Não significa que alguém está “doente” ou não. Tem a ver com o fato de a pessoa ser ou não responsável por suas ações. Agora, se você acredita que alguém como Thomas Vanda é insano, tudo bem. Acho que é possível argumentar a favor dessa opinião. Mas, depois de examinar bem os dados, acredito que precisamos encarar de uma vez por todas o fato de que, independentemente de qual seja o problema de pessoas como Thomas Vanda, possivelmente não tem cura. Se aceitássemos isso, talvez eles não fossem soltos tão rápido, para darem continuidade ao que fazem sem parar. É bom destacar que aquele não tinha sido o seu primeiro homicídio.
 Douglas, John. Mindhunter: o primeiro caçador de serial killers americano (pp. 366-367). Intrínseca. Edição do Kindle.
Eu não quero me aprofundar muito nessa temática, até porque eu me comprometi a falar mais da minha experiência lendo o livro. Acho que cada um pode ter sua opinião sobre o assunto, que não precisa ser muito similar a apresentada por Douglas, mas como tudo nesse blog vou te convidar a pesquisar mais sobre e a levar Mindhunter como um lado da moeda. Até porque a psicologia e a psiquiatria são áreas em constante evolução e o livro é de 1996. Pode ser que exista uma série de estudos mais recentes sobre a mente criminosa, ou assassinos em série. Se você discorda do ponto de vista de Douglas, gostaria que mesmo assim tentasse lê-lo. Ele trabalhou por anos com crimes bem desagradáveis e lidando com uma série de personalidades complexas, isso com certeza acaba por afetar a maneira como alguém vê o mundo.
Se você não viu a série e não quiser tomar spoiler vá vê-la agora.
Uma história que me deixou bem interessado é a do professor demitido. Na série nós vemos um diretor de escola infantil ser demitido depois que os agentes do FBI são convidados a dar uma apresentação para crianças sobre o trabalho deles com análise de perfis. Depois da apresentação uma professora relata que o diretor teria metodologias um tanto singulares ao “castigar” as crianças fazendo cócegas em seus pés e pagando-as em seguida. Na série rola um debate sobre o que fazer com o diretor e o Holden Ford (personagem que seria inspirado no John Douglas) acaba por aconselhar a demissão do mesmo.
No vida real foi um pouco diferente. John foi contatado somente depois da demissão do professor e de acordo com o livro ele concordou com a mesma, dizendo que pela descrição o professor poderia se encaixar em um perfil.
E ai entramos em uma aspecto um tanto Minority Report do livro (Pra quem não sabe, Minority Report é um filme de 2002 com Tom Cruise e dirigido pelo Steven Spielberg, o filme é baseado em um conto do Philip K. Dick, que você encontra no livro Realidades Adaptadas da editora Aleph). John acredita tanto na análise de perfis desenvolvida por ele e por sua equipe que chega a ser um tanto arrogante, porque passa a impressão de que ela seria infalível. Em uma parte do livro, ele é convidado a decifrar a identidade de Jack, o Estripador 100 anos depois de seus crimes e diz com muita segurança que a análise é capaz de fazer isso. Douglas acaba apontando para um dos possíveis suspeitos e diz que caso estivesse errado, provavelmente seria alguém muito similar.
Eu não acho em hipótese alguma que a analise de perfis desenvolvida pela galera do FBI seja ruim, pelo contrário, tenho certeza que deve ser um material muito interessante e funcional. Graças a ela foi possível que diversos assassinos em série fossem pegos antes que cometessem mais crimes. Porém, não consigo deixar de ser um tanto cético quanto a uma eficácia de 100%. Não sou psicólogo, nem psiquiatra, no máximo leio alguns livros sobre o assunto pra me divertir as vezes, mas pra mim pessoas são seres vivos muito complexos e da mesma forma que um psiquiatra pode errar sobre o diagnóstico de um paciente que saiba exatamente o que dizer ou fazer, a análise de perfis também estaria sujeita a mesma falha.
No entanto, Douglas defende muito a análise de perfis e inclusive cita planos de pré-crime desenvolvidos por futurologistas do FBI. Talvez, Minority Report seja o exemplo mais óbvio sobre o assunto, mas com certeza é um começo para o debate. Afinal “Uma pessoa que jamais cometeu um crime, deveria ser presa ou sofrer punições pelo fato de se parecer com outras que cometeram?”
Voltando no caso do professor. Pelo que da a entender, ele teve a vida e o relacionamento arruinados, talvez ele tenha conseguido dar a volta por cima. Pesquisei sobre ele, rapidamente, porém não consegui encontrar nada. Na série da Netflix essa história termina com a esposa do diretor indo até a casa do Ford e dizendo que o marido dela não consegue mais emprego nem como professor substituto.
Concordo que ele tinha atitudes bem inadequadas para com as crianças, no entanto, até onde eu sei, isso não configura como um crime. Também concordo que pela análise de perfis ele criava uma relação de controle com as crianças e que assim como muitos assassinos, o pior poderia surgir quando esse controle fosse perdido. Porém, tudo não passa de especulação e talvez a demissão não tenha sido a maneira mais adequada de lidar com o problema, até porque ela só promove uma exclusão social, o que pode em muitos casos desencadear outros problemas.
Tenho certeza que deve haver um grande número de opiniões sobre esse assunto e como a questão poderia ser resolvida. Não deixa de ser interessante como a análise de perfis tem uma grande importância na captura de criminosos durante uma investigação, mas talvez utilizá-la de forma a prever crimes e punir pessoas antes mesmo que os cometam não seja algo muito bacana.
Existem algumas coisas durante a leitura que podem incomodar alguns leitores ou leitoras, não vou comentá-las por não ser meu lugar de fala (mas você acha alguns comentários no site da Amazon) e porque eu levo em consideração que esse livro foi escrito 24 anos atrás. Embora alguns desses incômodos sejam amplamente discutidos hoje, por conta principalmente da internet, em 1996 a internet ainda era bem rudimentar comparada aos dias de hoje e a quantidade de informação recebida pelas pessoas, ou disseminada era muito menor e com um alcance muito menor. Como a nota da editora diz no começo, houve uma tentativa de preservar a integridade do texto. Em resumo, não espere por todas as coisas que você esperaria por um livro escrito nos dias de hoje.
Por fim, vou agradecer se você chegou até aqui. Eu sei que eu tagarelei pacas ai sem cima, mas de uma forma direta: Minhunter é um livro que apresenta crimes e a mente de diversos assassinos em série. Além disso, diversos temas que se mantem atuais e polêmicos apresentam algum tipo de desenvolvimento nas páginas escritas por John Douglas e Mark Olshaker. Infelizmente esse desenvolvimento se mostra mais unilateral, pendendo para a visão de mundo dos autores em 1996, o que não é de fato ruim, desde que você não o considere como uma verdade absoluta e se quer se de ao trabalho de ler ou ouvir outros pontos de vista sobre o mesmo assunto. O começo pode não te cativar muito, nem vai ser muito necessário para o resto do livro, mas eu garanto que melhora. O método de análise de perfis é com certeza muito interessante e seu desenvolvimento possibilitou grandes avanços na área de revelar criminosos ou prever crimes, porém a defesa de Douglas sobre a eficácia dessa metodologia pode soar um tanto arrogante as vezes. Por ser um livro de 24 anos não espere por todas as coisas que você esperaria de um livro escrito nos dias de hoje.
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