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#Resistência policial
edisilva64-blog-blog · 11 months
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Coronel da PM acusa Exército de impedir ação contra acampamento golpista em Brasília: Revelações chocantes na CPMI do Golpe
O coronel da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), Jorge Eduardo Naime, afirmou em seu depoimento à CPMI do Golpe que o Exército impediu as ações da polícia para desmobilizar o acampamento golpista em Brasília. Naime, que está preso desde fevereiro e é acusado de omissão nos ataques de janeiro, acusou o general Gustavo Henrique Dutra de Menezes, ex-chefe do Comando Militar do Planalto, de…
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tecontos · 1 year
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Rapidinha com um policial (Abril-2023)
By; Maria
Oi Me chamo Maria, tenho 28 anos, sou morena clara, cabelos castanhos ondulados e tenho um corpo bonito, malho a 7 anos e consegui meu shape com muito suor.
Tenho uma tara enorme por homens fardados, o conto que vou relatar aqui aconteceu recentemente. Sempre fui safada na cama, gosto muito de sexo e a maioria dos meus namorados não dão conta, eu acabo enjoando e termino tudo, mas acabei pegando um homem lindo com uma pegada maravilhosa que me deixou louca.
O nome dele é Igor, tem mais ou menos 1, 85, musculoso, moreno, cabelo raspado, tatuado e com pinta de bad boy, ele é policial militar e me abordou um dia quando eu estava saí­ndo de um show de Jorge e Matheus. Uma amiga minha tava bêbada, falou que ele era um gato e ele sorriu meio sem jeito. Me desculpei por ela e ele começou a puxar papo e falou que o turno dele acabaria logo, perguntou se eu não tinha telefone.
Passei meu número para ele, deixei meu grupo de amigos e fui encontrar com ele em uma rua próxima do show, onde era mais reservado. Ele falou que eu era linda e sexy com o vestidinho que eu estava usando e geralmente, eu que sou difí­cil com os homens, tava sendo bem fácil com ele.
Ele me tascou um beijo gostoso que deixou ele de pau duro rapidinho, mas ele disse que a gente tinha que sair dali, então ele andou pra uma rua mais distante dali e deserta, colocou o pau pra fora e disse:
-Chupa! Quero sentir essa boca gostosa no meu cacete.
E eu claro obedeci e chupei aquele caralho grosso e veiudo que devia ter mais ou menos uns 19 cm. Fiquei imaginando como aquele cacetão ia me arrombar se ele me comesse, bateu até um medinho, mas senti tanto tesão quando ele ordenou que eu mamasse ele.
Ele ia empurrando minha cabeça para minha boca chegar na base do seu pau, eu tava entalada com aquela piroca mas ele não tava nem aí­, metia fundo mesmo, me fez engolir aquele cacete babado cada vez mais. O gosto do pau dele era delicioso, um gosto bom e um cheiro de macho suado que me deixou louca.
Abri mais a calça dele pra dar de cara com um saco enorme, aquele homem além de gostoso era bem dotado e tinha uma resistência enorme, ele demorou uma eternidade pra gozar e gozou tudo na minha boca. Era uma porra grossa e farta, que encheu minha boca e melou minha cara toda, uma delí­cia!
Nesse momento eu tava me sentindo a putinha dele quando o safado disse:
- Ainda não acabou! Quero fazer você gozar também, sua gostosa!
E começou a enfiar os dedos na minha buceta, tocar uma siririca bem gostosa pra mim. Ele só não me chupou porque para ficar numa posição boa pra isso ia ser meio arriscado de dar na cara caso alguém visse a viatura parada.
Eu fiquei batendo punheta pra ele do jeitinho que ele pediu, aí­ sua pica ficou dura logo, ele tirou uma camisinha da carteira e quando ele abriu vi que tinha a foto de uma mulher e uma criança, logo depois soube que ele era casado, apesar de não usar aliança.
Quando ele colocou a camisinha, que mal dava no pau dele, o safado me fez sentar gostoso, olhando toda hora para os lados pra ver se ninguém aparecia, mas ali aquela hora seria bem difí­cil. O cara era muito safado, ele chupou meus peitos com tanta vontade, ele sabia fazer gostoso, mamava meus seios, dizia toda hora que meus biquinhos rosadinhos eram uma delí­cia!
Ele me segurava pela cintura metendo gostoso e falando muita sacanagem. Nesse vai e vem gostoso eu não aguentei e gozei com o pau dele dentro de mim, uma sensação deliciosa, então ele continuou metendo depois que gozei, minha buceta tava muito sensí­vel e um pouco dolorida por causa da grossura do cacete dele.
Ele me comia me chamando de cachorra, de vadia, de puta, e confesso que eu sempre adorei ser chamada assim, me dá muito tesão. Ele gozou mais uma vez, soltou um urro e começou a beijar minha boca.
Depois dessa foda deliciosa ele me levou pra casa, e me fez chupar o pau dele de novo.
Enviado ao Te contos por Maria
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skzoombie · 2 years
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#Babble Yuta
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- Se por acaso, um dia você fosse me prender, como exatamente seria a abordagem? - yuta perguntava deitada na cama, enquanto você tirava o uniforme policial que usou o dia todo.
- Eu espero nunca ter que tomar essa atitude, meu querido - respondeu parando de tirar a vestimenta e encarando ele, ficando só com a calça do uniforme e a parte de cima sem nada.
- Apenas uma suposição, não espero que isso aconteça - ele falou levantando da cama e indo na sua direção, pegou na cintura e puxou para um pouco mais perto de seu corpo.
- Então vamos criar um enredo bem direitinho para essa suposição - falou maliciosamente e percebendo onde esse assunto chegaria - O que o senhor fez errado para eu ter que algemar você?
- Assaltei! E a(o) senhorita(senhor) vai agir como em relação a isso? Me pegou no flagra tentando fugir, o que pretender fazer? - yuta falava enquanto beijava sua mandíbula e deixava molhado da saliva.
- O Senhor pretende resistir a prisão? porque se vai fazer isso, vou ter que ser mais radical na ação.
- Pretendo resistir sim, e vai fazer o que? - ele se afastou olhando para o seu rosto e esperando uma atitude.
O menino foi surpreendido com sua ação, você o virou de costas rapidamente e segurou seus braços para trás, curvou o corpo dele sobre a bidê que havia no quarto.
- Se mantenha imóvel e não terei que ser agressivo com o Senhor - falou no ouvido dele e lambendo o rosto como se fosse um cachorro.
- Gosto de agressividade e tenho problema de hiperatividade, não acho que conseguirá me conter tão facilmente. - ele rapidamente soltou suas mãos da dele e virou na sua frente, pegou seu rosto e virou na sua direção, uma das mãos colocou por cima da calça na sua parte intima e começou a mover os dedos.
- É o bandido mais descarado que enfrentei em toda a carreira, gosto de pessoas resistência pela sua liberdade.
- Sério? Senhora(senhor) policial, você sabia que eu tenho um(a) namorado(a) que é da mesma profissão que a sua? É tão excitante quando ele(a) chega em casa e começa a tirar o uniforme, fico assistindo aquela cena deitado na cama e por baixo do cobertor meu pênis chega latejar dentro das calças só imaginando nós dois transando com ele(a) vestido daquele jeito.
- E ele(a) nunca realizaram esse seu sonho? parece frustrante - respondeu em meio a gemidos dos dedos do menino se movendo por cima da peça íntima.
- Infelizmente nunca! mas eu tive uma ótima ideia... você realizaria esse sonho para mim? - falou fazendo um biquinho.
- É claro, querido. - tirou sua mão da sua parte intima e jogou o corpo do menino na cama e sentando no colo dele.
- Você merece ser promovido, a melhor profissional, tão competente no que faz.
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okeutocalma · 10 months
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The killer [Capítulo Um]
No cenário sombrio, uma cena inquietante se desenrolava. O rosto do belo policial, agora assustado, era banhado por uma combinação de luzes vermelhas e azuis, criando um efeito dramático sobre suas feições atraentes. 
A luz vermelha, incisiva e intensa, criava uma atmosfera de urgência e perigo, delineando suas características marcantes e ressaltando a tensão evidente em seu olhar. Por sua vez, a luz azul, penetrante e fria, contrastava com a coragem subjacente em seu semblante, conferindo um toque de autoridade e determinação.
A luz vermelha e azul intercalava-se, criando uma dança visual que refletia a dualidade do momento vivido por esse policial. O vermelho pulsante era um símbolo inconfundível de alerta, evocando o perigo iminente que ele enfrentava. Já o azul, com sua calma aparente, iluminava as sombras, trazendo uma promessa de segurança e proteção mesmo diante das circunstâncias adversas.
A combinação dessas duas cores, enquanto iluminava o belo rosto do policial, revelava a complexidade de suas emoções.
Enquanto as luzes vermelhas e azuis piscavam freneticamente no ambiente, projetando suas cores intensas sobre o rosto do belo policial, era evidente o reflexo do medo e do susto em seus olhos. Seus traços bonitos e másculos contrastavam com a expressão de apreensão que tomava conta do seu rosto.
Em sua mão trêmula, ele segurava um caderninho de anotações desgastado, com a capa cinza e surrada, revelando as muitas histórias e investigações pelas quais aquele policial já passara. Suas mãos, normalmente firmes e seguras, tremiam levemente, demonstrando a tensão do momento.
A combinação das cores vibrantes das luzes e a palidez em seu rosto transmitiam a sensação de urgência e perigo, enquanto sua mente trabalhava freneticamente para compreender a situação que enfrentava. A cada pisca-pisca das luzes, o reflexo trêmulo em seus olhos parecia aumentar, mostrando o seu estado de alarme diante daquela cena.
Apesar do medo e da surpresa, a determinação do policial permanecia evidente. Sua postura firme e sua resistência em perder o controle transmitiam confiança, mesmo que por dentro estivesse sentindo uma mistura de emoções intensas. Era como se o próprio policial fosse um símbolo de coragem e bravura, enfrentando o desconhecido com determinação e coragem, utilizando seu caderninho como uma ferramenta de apoio constante.
Com passos lentos ele se aproximou da entrada do beco escuro e nojento. O policial soltou um suspiro horrorizado, seus lábios entreabertos expressando incredulidade diante da terrível visão que tinha à sua frente. Seus olhos percorriam o beco, onde a cena do crime se desenrolava em meio ao caos e à bagunça. O corpo inerte estendido no chão, os membros em posições desarticuladas, mostrava a violência dos eventos que ali ocorreram.
Apenas uma tênue luz de um poste distante iluminava a cena, criando sombras longas e desconcertantes. A sujeira acumulada nas paredes e no chão sujo e úmido parecia intensificar o ambiente sombrio do beco, reforçando a sensação de angústia.
O policial olhou para o cadáver com uma mistura de repulsa e tristeza estampada em seu rosto, enquanto sua mente tentava compreender o que havia acontecido ali. Sua respiração estava acelerada, e uma gota de suor escorreu pela sua têmpora, refletindo sua tensão e perplexidade diante da cena macabra.
Ele percebeu que vestígios do crime estavam espalhados ao redor: objetos jogados ao chão, marcas de luta nas paredes, manchas de sangue que destoavam do resto do cenário. A bagunça parecia ecoar a brutalidade do evento, criando um clima perturbador.
Enquanto se movia pelo beco, o policial tomava notas rápidas em seu caderninho, tentando registrar cada detalhe, mesmo com suas mãos levemente trêmulas. Ameaçadoramente, as luzes da viatura de polícia continuavam piscando no fim do beco, lançando uma luz inquietante e imprevisível.
Mesmo diante de toda a agitação e do horror da cena à sua frente, ele permanecia determinado a desvendar os segredos sombrios que aquele beco escondia. A resiliência e coragem do policial eram evidentes em sua postura, apesar do suspiro horrorizado e do sobressalto que o crime ali cometido lhe causou.
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Em um lugar distante dali as luzes vermelhas iluminavam a fraca atração espalhada pelo espaço, destacando o belo homem de cabelos negros como a mais escura noite caíam em seus ombros como cascatas, a mínima luz que refletiam em seus fios o dava um brilho único. 
Seus cabelos o dançavam conforme ao leve vento, se movendo para cima e para baixo conforme ele se mexia, pele tão pálida que se compara a um papel, seus belos olhos, não são azuis como o céu e nem verde como a floresta , são um marrom  que dá estabilidade e conforto, sem deixar a sua elegância de lado.
E havia uma sombra em seu olhar, não aparentava ser nada maligno ou malicioso, apenas suas olheiras e a combinação de seus olhos levemente puxados e caídos , destacando seus belos e exuberantes cílios.
Uma tênue luz avermelhada adentrava pela pequena janela da sala, espalhando uma aura suave sobre o ambiente. O belo prisioneiro, com longos cabelos que corriam pelo seu rosto, percebeu que era o sinal do nascer do sol. Os raios dourados começavam a ganhar intensidade, banhando seu corpo e trazendo um brilho suave à sua pele. 
O preso, contemplando a cena, sentiu uma mistura de melancolia e esperança. A luz do amanhecer trazia consigo a promessa de um novo dia, mesmo que ali, na escuridão claustrofóbica da cela que chamavam de quarto, o belo prisioneiro se encontrasse privado de sua liberdade.
O belo prisioneiro, exausto e cansado, finalmente se senta na cama que fora deixada no quarto da cela. 
Ele abaixa a cabeça, deixando seus longos cabelos caírem sobre seu rosto, e solta um suspiro alto e audível, como se quisesse liberar todo o peso que carregava consigo. O cansaço refletia-se em seus olhos, que estavam pesados e marcados pelo período de confinamento. 
Ele se levantava esticando seus músculos escutando eles estralarem e depois voltava a sentar na cama enquanto escutava o barulho dos policiais caminhando pelo chão que ecoavam pelas celas.
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wiki-identidades · 1 year
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Frases da militante travesti Janaina Lima
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"Para mim, travestilidade tem a ver com liberdade. É ser tão livre ao ponto de dizer nesta sociedade preconceituosa que sou travesti."
"Porque de fato eu sou travesti. Porque se eu disser que sou transexual, é como se eu dissesse que eu sou mulher. E eu não consigo dizer que sou mulher, porque eu não sou mulher. Simone de Beauvoir disse que “Não se nasce mulher, torna-se”. Eu não nasci e nem quero me tornar uma mulher. Eu sou travesti e é esta a minha identidade. Então, se eu disser que sou qualquer outra coisa que não travesti, seria como se eu estivesse mentindo, viajando… Dentre as caixas que me apresentaram nos meus 39 de vida, o que mais me aproxima é a travestilidade. Tem a ver um pouco com a quebra do binarismo e das caixas “homem” e “mulher”."
"Se vermos a história da travestilidade no Brasil, vamos perceber que ela é totalmente desassociada da palavra “travesti” do dicionário, da palavra “travesti” do CID-10, da palavra que as pessoas do mundo acham. Então, a figura da travesti no Brasil tem esse viés político, de resistência, de assumir algo diferente, de bater o pé para todas as imposições em que somos submetidas."
"Antes a travesti apanhava da polícia, mas você acha que ela não apanha hoje? Continua apanhando. A diferença é que é que não é tão público como antes. Mas se você for pega sozinha na madrugada por um policial preconceituoso, você corre o risco de apanhar."
"Acabamos lembrando que há alguns anos a gente não tinha essa exposição na mídia e que fazia a conta de cabeça: “poxa, esse ano morreram sete amigas, oito…”. A violência e as mortes continuam, mas agora ela é noticiada, antes não. Mas cada vez que leio sinto uma angustia muito grande, ao ponto de eu pensar: “Será que isso vai acontecer comigo? Será que eu sou a próxima?”. Me angustia e provoca medo de algumas situações."
"É algo que as pessoas simplesmente não se sensibilizam. Não falam: “ai, coitada, morreu”. Não. A primeira pergunta que fazem é: “O que ela fez, o que ela aprontou?”. E isso me remete há quase 20 anos atrás, quando eu levei a facada. As pessoas me perguntavam: “Mas o que foi que você aprontou?”."
"E eu falo isso porque existe uma pressão para que as travestis comecem a ser noticiadas como transgênero, referidas como transgênero, sem que a palavra "travesti" seja mencionada. Além disso, penso que o problema do brasileiro é que ele gosta de copiar o povo de fora e não dá valor ao que tem. Então, só porque nos Estados Unidos usam a palavra “transgender” a gente tem que trazer para cá e utilizar, independente se vai trazer invisibilidade para outras comunidades ou não? Eu não acho ruim que as pessoas se identificam como transgênero, mas acho ruim que as pessoas queiram que outras se identifiquem, sendo que elas não querem se identificar."
"Se antes as pessoas [transexuais] diziam "eu sou mulher e você não é”, hoje elas [mulheres transexuais] dizem “Eu sou e você também é”. Mas não é algo bacana, porque é uma história de “tem que ser”, “tem que assumir algo”. E vem com uma imposição para você falar que é algo que você não é. Algumas pessoas acham que se eu, que sou travesti, me assumir mulher vai diminuir o preconceito. Mas isso é uma mentira."
"As pessoas tendem a achar que tudo o que a travesti faz é algo que vai ser negativo. Em momento algum elas procuram algo positivo. E você percebe isso até nas falas: “Vai ter uma manifestação, chama as travestis que elas fazem barraco”. O próprio movimento já faz isso. Eu ouço isso 24h: “Vamos chamar a Janaina que ela vai junto e já faz barraco”. Quer dizer, a travestilidade já está ligada nestas coisas. Daí o mostrar peito já é ligado a algo ofensivo. Mas se a gente parar para pensar temos reflexões bem interessantes: A travesti choca quando mostra a sua identidade, mas você não vê ninguém criticar os 500 boys que vem nos trios só de sunga. E eles são uma prioridade para as pessoas. Se não tiver homem de sunga no trio, não teve Parada. Além disso, porque no carnaval é válido ficar com o peito de fora? Por qual motivo na praia é válido fazer um topless? Por qual motivo um peito de fora incomoda tanto na Parada, sendo que estamos falando justamente de um ato de liberdade? Também não há um mínimo trabalho de conscientização. As pessoas só dizem: Não pode mostrar o peito e acabou. Ninguém perguntou porque ela estava mostrando, ninguém perguntou qual era o intuito…"
Fonte: http://www.nlucon.com/2015/02/nao-nasci-e-nem-quero-me-tornar-mulher.html?m=1
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blogdojuanesteves · 1 year
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PERÍMETROS - uma cartografia fotográfica dos limites da cidade de São Paulo > KEINY ANDRADE
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A periferia das grandes cidades está retratada em algumas boas publicações que problematizam seus espaços físicos tanto quanto sociais, caso do excelente Perímetros uma cartografia fotográfica dos limites da cidade de São Paulo [Lovely House, 2022] do fotógrafo paulista Keiny Andrade, que mostra uma abordagem peculiar em seu livro de estréia. Uma investigação visual iniciada há cinco anos pelos 346 quilômetros de extensão nas fronteiras da capital paulista, com seus 22 municípios vizinhos. 
Ao contrário do que pode se pensar, esse registro trata de considerar muitas variantes, como ideologia e identidade. Elementos concretos ou existenciais dos envolvidos e como enxergá-los dentro do contexto de suas comunidades, coisa que o autor produz com muita pertinência e acutância, trabalhando com uma percepção subjetiva para a "nitidez" de suas imagens. Longe de ser apenas de caráter geográfico, já encontrado em alguns livros comentados neste blog, embora de importância igual, debruça-se em uma realidade diferente que demanda cada vez mais sua compreensão.
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 O fotógrafo em sua singularidade traduz o imenso caleidoscópio que são as periferias que parecem ser consonantes com o uso da cor como forma nas intrincadas moradias, um símbolo da criatividade de quem as habita, a singeleza combinada com a força do posar das pessoas, uma resistência que exemplifica a tenacidade do humano, onde o aparente afastamento do centro escamoteia uma complexa elaboração de edificações que não frequenta o cânone arquitetural da suposta beleza construída.
Perímetros projeta verdadeiros paradoxos que a fotografia, em sua função primordial, ocupa o espaço entre os relatos humanos e suas estruturas espaciais peculiares a desafiar os significados mais vulgares da beleza e da condição social, estabelecendo assim diferenciais propostos por seus protagonistas: o espaço concreto e as narrativas da sobrevivência em um país cuja desigualdade social é a norma estabelecida.
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 É um livro que distancia-se de outras boas publicações como a do paulistano Tuca Viera, com seu Atlas Fotográfico da Cidade de São Paulo [ Casa da Imagem/Museu da Cidade de São Paulo 2020] e do paulista Marcos Freire, com seu Casas do Brasil- Conexões Paulistanas [Museu da Casa Brasileira, MCB, 2021] já comentado aqui, publicações que trafegam igualmente por cenários arquitetônicos mas que dificilmente incluem personagens, afinal podemos pensar que a arquitetura em si mesma tem seu papel humano embutido.
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 No entanto, esse amálgama entre o concreto e o humano criado por Andrade é estabelecido pela sua narrativa em conjunção com a expressão gráfica da publicação em seus amplos discursos. São mais protagonistas que coadjuvantes que se apresentam, como se cuidadosamente fossem produzidos, mas que transparecem na legitimidade de sua originalidade. Outro paradoxo que o autor impõe habilmente: a garota retratada que espera com sua pipa na mão, como um acessório singular, ancorada em um barranco ou a moça que possa altiva com seu cão na coleira, que as colocam no oposto daqueles cuja abordagem policial viram dados neste mundo de preconceitos. As meninas que sorriem no guard rail que exalam vida e não o resultado de um censo a diminuir esse momento satisfatório onde a humanidade é expressa em sua plenitude.
 Em sua arquitetura, até mesmo as construções que parecem abandonadas ou estão mesmo assim, em imagens de contrastes médios, que lhes configuram uma certa assepsia, se incorporam em uma busca por momentos "bucólicos" nas fronteiras das cidades que conectam-se à grande São Paulo. Lugares como Guarulhos, Embu-Guaçu, Cajamar, Caieiras, Santana de Parnaíba, Santo André, São Caetano, Cotia, entre outras. O que vemos nos remete às paisagens de Israel e da Cisjordânia  [ antigo território da Palestina, a oeste do Rio Jordão] encostadas no conjunto da massa urbana de algumas cidades captadas pelo alemão Thomas Struth em sua participação no projeto criado pelo fotógrafo francês Frédéric Brenner, que juntou 11 artistas por uma década, publicado em uma monografia pela editora Mack em 2014, criando uma narrativa pictórica chamada The Place.
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 A massa verde captada por Keiny Andrade, parece suplantar a ideia do inóspito a que sempre estamos destinados a ver, embora a presença humana seja diferente dos outros livros aqui mencionados. E estas surgem mais contemplativas como a adolescente que equilibra-se em um tronco de eucalipto de forma e trajar elegante, ou do rapaz de havaianas e meias, com um gorro que posa com seu cão. A oposição clara da interpretação geral que é dada ao cenário convencional da "periferia".
 Diversos lugares que fundem-se em um único, inseridos no percurso uníssono latino-americano, como também  encontrado no livro Uma outra cidade um outro tempo [Museu da cidade de São Paulo, 2022] do veterano fotógrafo paulistano Iatã Cannabrava, já comentado neste blog, a mostrar que temos mais afinidades do que diferenças. A fotografia como elemento catalisador de distintas sociedades.
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 A urbanista paulistana Paula Freire Santoro, professora e pesquisadora da Universidade de São Paulo [USP] que escreve o posfácio no livro, nota que "A divisão entre rural e urbano se deu quando a terra virou mercadoria - se é que um dia ela não foi. Contudo, na prática, até hoje é difícil distinguir distinguir o tracejado definido por lei municipal. Há mais de cem anos, o planejamento das cidades se dá pela definição do que é perímetro urbano; o que está fora, em tese e por oposição, é rural." As fotografias que aparecem no livro, diz ela, escancaram uma realidade mais complexa: as ruas terminam esbarrando em muros; há construção, mas não ruas..." É o que vemos no homem montado em seu cavalo ou nas manilhas que parecem dividir um espaço desconhecido, no recorte preciso do fotógrafo que constrói sua própria geografia.
 O fotógrafo paulista André Penteado, autor dos livros Missão Francesa [Editora Madalena, 2017] e Farroupilha [Ed.Madalena, 2020], igualmente já comentados aqui no blog, que assina a consultoria de edição do livro, nos explica que a metodologia para produção do livro foi realizar uma pesquisa no Google Street View, identificando lugares visualmente interessantes e para eles se dirigindo quase sempre no final de semana, caminhando sem destino pela região, e que quando encontrava as pessoas, pedia para fotografá-las ou elas mesmos se ofereciam. Para ele, "suas imagens - simples e diretas e que não buscam o espetacular- nos colocam a seguinte questão: qual o interesse do artista em documentar lugares que parecem a exceção de algumas vistas da natureza, tão descolados do que tradicionalmente atrai o fotógrafo?" A resposta, segundo o mesmo, pode estar no subtítulo do livro. Descritivo e direto.
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 Deste modo temos uma situação em que vemos uma periferia "selecionada" pelo autor, mas ainda sim uma periferia. Distantes do que se convencionou ser ilustrada sistematicamente. Aqui o espaço ganha uma dimensão diferente, ainda que pudéssemos desgostar da arbitrariedade do fotógrafo, o que de fato é típico daqueles cuja a autoria impõe-se sobre o documental, no espaço reservado mais ao artista.
 O fotógrafo propõe uma reflexão sobre a natureza da convivência humana dentro do contexto das possibilidades mais contemporâneas, onde a população precisa necessariamente  reaprender e a discutir suas questões além dos próprios nichos,  para a construção de uma sociedade mais equilibrada. Neste ponto as imagens de Keiny Andrade convergem igualmente para um pensamento voltado também para o social colocando no plano da arte estabelecida, uma discussão antiga que diz respeito não somente aos protagonistas das publicações mas também a todos nós. 
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 A poeta e pesquisadora guatemalteca Ilka Oliva Corado, escreve em artigo na importante  publicação  Diálogo Sul  que “A periferia tem a missão titânica de ser rosto e voz de sua comunidade.” Ela bem coloca que, para grande parte da sociedade racista e classista, a  periferia é historicamente depositária de todos os males nas américas. Ela sugere a resistência do sujeito periférico, excluído tradicionalmente de seus benefícios e direitos como parte da sociedade. Nada melhor do que quando ela é mostrada como vemos aqui, como algo importante e distante dos piores arquétipos a que está frequentemente  agregada.
 imagens © Keiny Andrade    Texto © Juan Esteves
 Infos básicas:
 Perímetros uma cartografia fotográfica dos limites da cidade de São Paulo
Autor Keny Andrade
Editora: Lovely House
Edição de imagens: Keiny Andrade e André Penteado
Idiomas: Português, Inglês, Espanhol
Design: Bloco Gráfico 
Texto(s): Paula Freire Santoro, André Penteado
Impressão: Gráfica Ipsis
  Para adquirir o livro: https://lovelyhouse.com.br/publicacao/perimetros-keiny-andrade/
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fabiocollares · 2 years
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"Há histórias tão verdadeiras que às vezes parece que são inventadas.” - Manoel de Barros
Trilha sugerida para a leitura: Ludovico Einaudi - Experience
(Bota no repeat porque vale a pena!)
Essa história poderia ter inúmeros títulos: “Hoje alguém me leva até Bariloche”, “Desfruta a tua mãe!”, “Eu sou o cara mais sortudo do Mundo”, “O mate me salvou!”, “Uma curva no Fim do Mundo quase foi o fim da vida!”, “O pôr do sol mais lindo da Patagônia!”, “39 horas de pão, mate e empanada!”, “Coincidências que assustam!”, “Você salvou a minha vida!” e por aí vai. Mas talvez seja mais justo e condizente com a (ir)realidade, citar um poeta. Com vocês, Manoel de Barros: "Há histórias tão verdadeiras que às vezes parece que são inventadas.”
Era 9 de janeiro de 2020. Um dia qualquer. Hum...Não sei se um dia qualquer, mas um dia a mais na minha vida de mochileiro. Eu sairia para pedir carona. Estava em Ushuaia, a cidade mais austral do mundo. O sonho de 10 entre 10 viajantes. Eu havia acordado às 5h. Ouvi Juanca entrar. Ele é um cara muito legal, barman (por isso chegava a essa hora) e marido da Andrea, que estava me alojando em casa por Couchsurfing. Ela trabalhava em um hotel e hoje era sua única folga da semana.
Eu me levantei, tomei banho, comi algo bem reforçado e esperei que ela se levantasse, o que ocorreu às 7. Hain, a filha de 5 anos, não andava bem, com aquele vírus que assolou todos na casa, inclusive eu. Nos despedimos, ela reforçou o convite para eu ficar mais tempo e brinquei que deveria partir, pois hoje alguém me levaria até Bariloche - onde iria encontrar minha mãe uns dias depois, a mais de 2000km de distância dali. Ela riu, disse que sabe que eu tenho sorte, mas que daí seria demais - falou sorridente, com aquela doçura que a caracteriza. Sonhar nunca foi um problema para mim, mas chegar até Bariloche talvez fosse demais mesmo.
Desci a rua, andei quatro quadras até a parada. O ônibus B passou em poucos minutos e eu desci no fim da linha, no portal de entrada do Fim do Mundo. Tentei passar disfarçadamente pela polícia, mas não me livrei. Alguém me chamou. Fui convidado para entrar e deixar o número do passaporte. É o controle de quem anda por aí. Burocracias!
Então eram 8h da manhã. Eu ali, parado, onde havia chegado pela primeira vez em março de 2019 e, depois de muitas andanças por toda a Patagônia, cheguei outra vez antes do Natal. Minhas mochilas estavam pesadas. A temperatura, mais baixa que o normal. Até umas gotinhas de chuva apareceram. Aliás, parado é bondade minha, pois o vento estava absurdo. Eu observava os pequenos falcões brigando pela prioridade sobre o cesto de lixo próximo à estação policial e tentava me equilibrar. E equilibrar a mente, pois meus ossos começaram a congelar.
Primeiro eu coloquei as luvas, logo a touca e, depois de muita resistência, tive que tirar a jaqueta de frio mais forte de dentro da mochila grande. Já passava das 9h e fiquei um pouco assustado com a quantidade baixa de carros saindo da cidade. Foi quando uma senhora com seus dois filhos adolescentes me levou. Iam a Rio Grande, ali na Terra do Fogo (200 km) comprar um notebook novo. Como estavam acostumados a levar mochileiros, iriam me deixar do outro lado da cidade, já na saída, rumo à fronteira. Isso se chegássemos vivos, pois numa das curvas da subida em direção ao Paso Garibaldi, ela foi ultrapassar e se viu de frente para um outro carro, muito próximo. Foi por pura sorte que não terminamos a vida ali mesmo. Eu caí por cima da menina que estava ao meu lado e não sei como ela não se machucou toda com o meu peso. De resto, eles conversaram bastante entre si e eu fiquei na minha. Senti a despedida. Agradeci muito quando desembarquei e estava pronto para enfrentar o vendaval riograndino. Ali, em abril, naquele mesmo lugar, tive muita sorte e em pouco tempo fui levado. Só que hoje...
Iniciei a busca por carona ao meio-dia e ninguém fazia menção em parar. 13h30 sinto uma caminhonete vir pela via paralela à estrada. Parou atrás de mim e buzinou. Viro, brigando com o vento, e reconheço o motorista, que não fazia ideia de quem eu era. Dei a volta no carro, larguei minha mochila grande na caçamba e abro a porta. Era o Walter, o mesmo que tinha me levado, no dia 11 de março, da fronteira, San Sebastián, até Rio Grande. Gritei seu nome e ele se lembrou de mim na mesma hora! Exclamou, "Fábio!", e abriu um grande sorriso. Ele me levaria agora de Rio Grande até a fronteira, exatamente 10 meses depois. As coincidências me assustam.
Emendamos um bom papo, até que ele viu um casal pedindo carona mais adiante. “Vamos levá-los!” - me disse empolgado. Paramos, eles subiram e o uruguaio, mochileiro como eu, apresentou sua namorada húngara. Ele era artista, viajava sem dinheiro e trocava sua arte por comida, hospedagem e o que mais oferecessem. Dava para sentir que ele não estava bem, tanto física, quanto animicamente. Nosso motorista tentou ajudá-lo, ofereceu dinheiro ou até comprar um dos seus quadros, mas no pouco tempo em que tivemos todos juntos, no curto trajeto até a fronteira, o viajante do Uruguai reservou-se o direito de negar o que pudessem oferecê-lo. Na hora de descer, Walter e eu nos demos um grande abraço, trocamos Whatsapp e nos desejamos sorte na vida. Fiquei muito feliz em revê-lo.
Fronteira de San Sebastián. Lado Argentino. 10 km da fronteira chilena. Ali, em abril, também tive sorte e em menos de 10 minutos um simpático casal me levou até sair da Ilha da Terra do Fogo. Me posicionei e, de dentro dos poucos carros que saíam da aduana, ninguém me olhava. Vento forte, frio e o casal húngara/uruguaio aparece de novo. Ele parecia desesperado (e estava). Um carro parou, ele se aproximou e falou algo para o motorista. O senhor negou com a cabeça e nosso amigo artista ficou indignado, gesticulando fortemente. Logo atacou outra pessoa, que os levou.
Observei e fiquei pensando. Tentei me colocar na mesma situação e imaginei se eu faria igual. Abordar motoristas não me agrada. Prefiro que a pessoa tenha a iniciativa de me levar. Depois de muito matutar, percebi que essa poderia ser uma boa ideia para aquela situação extrema. Naquele momento, passando das 14h, eu já deveria ter chegado a Gallegos, meu primeiro destino imaginado, nessa longa jornada até Bariloche, cidade onde eu tinha que estar no máximo dia 19. Mas entre tudo que “deveria” acontecer e o que acontece de verdade, tem um Universo de distância.
Então aceitei a ideia de abordar os motoristas. Passam-se uns minutos e um menino aparece a pé. Bem novo, alto e muito magro. Brasileiro, de São Paulo. Vinicius. Conversamos pouco e logo eu disse que tínhamos que nos separar para pedir carona, pois ninguém nos levaria se ficássemos juntos. Ele foi para longe e quando dava um intervalo entre um carro e outro, eu me aproximava para bater papo. Comecei a dar dicas, indicar couchs e disse que iria ajudá-lo de alguma forma. Até que vi um Punto parar, 1h30 depois da minha chegada ali. Percebi o motorista sozinho. Fui direto e ele nem pensou, nem falou uma palavra, só começou a arrumar toda a gigantesca bagunça dentro daquele carro, para poder me levar, pelo menos nos 10 km até a fronteira chilena. Perguntei se havia espaço para mais uma pessoa. Ele disse que não. Realmente não dava. Avisei o menino Vini, nos despedimos e fui.
Rodrigo é fotógrafo, de uma tranquilidade que assusta. Porém dava para ver que estava perdido na vida, buscando saídas e respostas para perguntas que ele nem sabia quais eram. Os 15 minutos que conversamos no carro e um pouco mais na outra aduana, pareceram acender uma luz naqueles olhos. Contei de mim, de como viajava, de como era a vida antes - tudo em português, pois ele falava muito bem e queria treinar mais. O cara parecia assustado e agradecido ao mesmo tempo. Ele havia terminado um relacionamento de muito tempo, tinha uns 30 e poucos anos, queria dar uma guinada na vida e não sabia onde procurar. Resolveu trilhar toda a Patagônia para fotografar animais. Quando cruzou comigo, já no início da volta para casa, ainda não tinha chegado a nenhuma conclusão. Quando nos despedimos do lado chileno, já que ele iria acampar por uns dias numa reserva de pinguins, ele pareceu tomar cor, pensativo com tudo que havia escutado de mim e começou a gritar: "Obrigado, agora eu sei o que vou fazer da vida. Você me salvou! Você me salvou!". E se foi feliz, gritando. Aos poucos fui ouvindo ele se distanciar e ali fiquei, sendo arremessado pelo vento!
Um tempo depois vi o uruguaio e a húngara novamente e ele me disse que o dia estava duro, que estava com fome e não aguentava mais. Os policiais nos disseram onde dormir em caso de ninguém nos levar, num lugar abandonado uns quilômetros adiante. Eu já aceitava essa ideia também.
Quando vejo, reaparece Vinícius com um senhor. Eu os cumprimentei. O motorista dele faz uma cara de dúvida e pergunta algo para o menino. Eles trocam ideia e se vão. Na volta do carimbo do passaporte, o paulistano me diz que talvez possa me ajudar. E sim, Marcelo, me oferece carona até Punta Delgada, que está 14km depois da saída da barcaça, já no continente. Ele seguiria para Punta Arenas, no caminho oposto ao que eu iria. Mesmo assim, perfeito. Isso dava 178 km dali, exatamente. Uma baita ajuda!
Os primeiros 160 km foram rápidos. Até que chegamos perto da entrada da balsa do Estreito de Magalhães. Ali havia uma fila gigante de carros e caminhões. Das outras três vezes que eu tinha passado por lá, não havia sido assim. Logo descobrimos que não estavam cruzando o canal desde o meio-dia, por causa dos ventos de mais de 130 km/h. Óbvio, agora entendia os poucos carros na estrada. Quem iria viajar num dia assim, sem poder cruzar para o continente? Eram 16h e ali ficamos de papo, parados, até às 21h, ainda dia claro.
Até então, eu não sabia onde iria dormir. Pensei em diversas possibilidades, em seguir com eles até Punta Arenas, mas nem Clau, nem Lucas, antigos anfitriões, me responderam. Estavam trabalhando em outros lugares. Com as ex-couchs de Gallegos, aconteceu algo parecido: estavam em viagem de férias. Pensei no Elian, que uma vez me deu carona e disse que me receberia em casa. Estava em Ushuaia. Patrícia estava no norte, mas assim que consegui sinal de internet, ela me disse onde buscar a chave de sua casa. Muita sorte! Pelo menos eu já tinha onde dormir. Agora, eu precisava chegar lá.
Marcelo tinha voo às 3h da manhã, de Punta Arenas até Santiago, onde fazia um curso. Todos já tínhamos aceitado a ideia de que ali ficaríamos, pois o vento não cedia. Vi o uruguaio passar de novo, batendo no vidro de todos os carros possíveis, até que desapareceu mais à frente.
Às 21h30, para surpresa geral, começamos a andar. Entramos na segunda balsa. Os caminhões foram deixados para depois, já que na cabine há onde dormir. Foram 20 minutos cruzando um dos mares mais violentos do mundo, agora ainda mais agitado.
Dentro da barcaça, eu observei cada carro, cada placa e perguntei para algumas pessoas se iriam para a Argentina. Nada. Muitos automóveis estavam lotados. Quando chegamos do outro lado, Marcelo acelerou sua caminhonete para que passássemos o máximo de veículos possível. Estava enlouquecido, a uns 170 km/h. Assim que eu descesse lá na frente, poderia pedir carona para eles. Só agora começava a diminuir a luz do dia.
E então, exatamente às 22h, me despedi correndo do Marcelo e do Vinicius. Eu sei que nessas alturas seria bem difícil conseguir uma carona. Não havia muitas balsas depois da nossa e com a escuridão chegando, naquele lugar sem nada, ninguém teria coragem de me levar. Uma possibilidade grande seria dormir em uma daquelas paradas de ônibus, que parecem umas casinhas, ali do outro lado da estrada. Elas são bem fechadas e protegidas contra neve, chuva e vento. Quando um Toyota branco, que eu havia visto lá atrás, enfim surgiu, fiz uma cara de desesperado para o casal que vinha nele. Cheguei a juntar as mãos, implorando. Nada. Passaram reto. Tentei outro carro e nada de novo. Mais um e nada. Se terminaram os veículos. A adrenalina é tão grande nessas horas que não dá tempo de ser pessimista, nem otimista. Tudo se resume em agir, olhar para todos os lados, ver se vem mais alguém. Visão, audição… Instinto! Foi quando o horizonte me roubou totalmente a atenção.
O pôr-do-sol estava simplesmente alucinante! 22h e o sol recém se pondo. Foram poucos segundos que eu tive para admirar aquele momento. Parece que o mundo parou de girar. Eu parei de pensar. Não consegui me mover. Um sorriso me tomou conta e aquela beleza toda pareceu relaxar o meu corpo. Eu me senti leve. Parei de sentir frio, não me mexia mais com o vento, ainda forte. Meus braços caíram. Os olhos encheram de lágrimas. Enquanto eu observava tudo, maravilhado, não consegui nem tirar foto. Eu já vi entardeceres mais bonitos, mas nenhum me impactou tanto quanto aquele. Talvez fosse o suspiro que eu precisava para retomar as forças.
Depois de um silêncio total e ninguém surgir de nenhum dos lados, vejo um carro grande se aproximar e parar antes do cruzamento. De dentro saltam o uruguaio e a húngara. Uma lâmpada acendeu dentro da minha cabeça e uma explosão ainda maior tomou conta de mim. Minha mochila grande já estava no chão. A pequena, nas costas. Eu, literalmente, dei um pulo, agarrei tudo que eu tinha e saí em disparada! Eu sabia que o casal iria para Punta Arenas. Eles haviam me dito assim que nos conhecemos. Queria dizer, então, que aquele senhor que os deixava ali, certamente iria para Gallegos. Naquele local só há dois caminhos a seguir. Cheguei quase sem ar, mas a tempo. Enfiei a cabeça na janela do passageiro e pedi, implorei, para que o motorista me levasse os 60 km que me separavam do meu destino. Eu imagino a cara de desespero gigante que eu estava. Ele, sem mover nenhum músculo da face, acenou levemente de forma positiva com a cabeça. Sim, ele me levaria até Río Gallegos! Bingo!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Quando eu soube que havia conseguido, dei outro pulo, agora de felicidade. Corri para a parte de trás do carro, abracei o casal, atirei minha mochila no porta malas e sentei no banco do carona. Eu estava elétrico. Tinha conseguido novamente! Só que essa não era ainda a melhor notícia da noite. Ela viria no papo que se seguiu.
Tentei ser simpático, puxar assunto, pois vi que o senhor era bem calado. Aquele homem tinha uma cara de malvado, tipo o louco do filme “Onde os Fracos Não Têm Vez”, personagem de Javier Bardem. Quando eu parei de falar, ele me olha calmamente e diz assim: "Eu tenho uma longa viagem pela frente! (Um silêncio mortal) E não tenho kit de mate!".
Quase pulei de novo, mesmo sentado, e disse, meio gritando, com os olhos ainda mais arregalados, com toda a energia, que eu tinha cuia, bomba, erva e térmica! Só não tinha água - mas isso era fácil de conseguir. E já emendei a pergunta que teria uma resposta bombástica: “Para onde você vai?” - lancei. Ele me olha novamente, com aquela mesma expressão séria e diz a palavra mágica:
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(...suspense…)
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Bariloche!
Eu repeti:
B A R I L O C H E!!!
Eu quase tive um treco! “Eu vou encontrar minha mãe lá!” - gritei mais uma vez! Contei que na verdade era esse o destino dessa viagem toda, que eu tinha começado em Ushuaia, e que Gallegos era só a primeira parada. Foi quando Sérgio me olhou pela terceira vez e arrematou: "Não me importo que você vá comigo, já que você tem kit de mate e pode me fazer companhia!". E eu explodi de felicidade.
Passamos a fronteira separados, como de costume nas caronas. Tive minhas mochilas revisadas rapidamente por uma moça, na parte externa do prédio. Senti pena da oficial, pois ventava muito e fazia frio. Fiz ela rir, quando eu disse que a única coisa grave e viciante que eu tinha ali era um doce de leite. Depois dessa, ela me liberou rapidinho. Enquanto eu esperava o Sérgio, um casal ainda me ofereceu carona. Agradeci muito e disse que já esperava por alguém. Dali seguimos até um posto de gasolina em Gallegos.
Já um pouco mais tranquilo (ou menos louco de alegria), eu comecei a avisar todo mundo sobre o que eu tinha conseguido. A primeira mensagem que mandei foi para Andrea. Eu disse que estava com alguém que me levaria até Bariloche. B A R I L O C H E, com letras grandes e separadas, como escrevi na mensagem! Ela mandou um áudio rindo muito e que Juanca não conseguia acreditar no tamanho da minha sorte. Foi lindo ouvir suas risadas! Avisei a Patito também. Ela me desejou sorte e que o destino nos fizesse cruzar novamente. Mandei mensagem para casa, para a Letícia, que tinha passado as últimas três semanas comigo na Terra do Fogo. Quanto mais eu falava, mais empolgado eu ficava. É nessas horas que minha vida é uma louca mistura entre realidade e fantasia! Eu vivo essas coisas e quase nem acredito.
No posto peguei água quente, procurei mais erva e não achei. Dali seguimos até uma esquina que vendia empanadas. Levamos uma dúzia. Comemos no carro mesmo, um pouco desesperados de fome, mas ao mesmo tempo focados no caminho, que ainda era muito longo. Assim que pegamos a estrada, meia noite, eu me lembrei que a ponte de Piedrabuena estaria fechada durante a madrugada para obras. Sérgio não sabia, mas resolveu dirigir os 270 km até lá para ver. Eu estava com receio daquela escuridão, já que ali muitos guanacos cruzam a pista e causam acidentes. Sem contar o vento, que naquele trecho, derruba caminhões e capota carros, como se fossem de papel. Foi onde Patito quase morreu um ano antes. Quando chegamos a Piedrabuena, quase 3 da manhã, tomando muito mate e com um frio forte, o policial na barreira da ponte disse que às 8h reabriria o tráfego. Resolvemos dormir ali mesmo. Foi uma grande ideia.
Acordei um pouco antes das 7h. Já era dia claro e me lembro de ter ficado pensando que era a sétima vez que eu passava por ali em um ano. Quando liberou o trânsito, eu acordei o Sérgio. Energias recarregadas e nos mandamos para Gobernador Gregores, a 200 km de distância. Lá, paramos noutro posto da YPF, eu comprei erva e pegamos mais água.
A viagem de Sérgio, um mestre de obras de 58 anos, era para buscar este carro em Ushuaia, que é da locadora de um amigo, e levá-lo de volta a Bariloche. Fazia isso sempre, em diversos locais da Argentina. Dessa vez, pegou um avião até Buenos Aires e de lá ao Fim do Mundo, no seu aniversário, dia 8. Ao meio dia do dia 9 ele arrancou a viagem, para ser encontrado por mim às 22h em Punta Delgada, território chileno, logo após a balsa do estreito. Caminhos e acasos que se cruzam. Agora, naquele ponto da Ruta 40, já estávamos andando juntos há 12 horas e mais de 600 km. Incrível!
De Gregores tocamos direto, naquela pampa desolada pelo vento e isolada do mundo. Deixamos Bajo Caracoles e a ligação com a velha Ruta 40 para trás e subimos a Meseta Patagônica até a cidade de Perito Moreno. Compramos mais empanadas e eu tomei um café. Estava desesperado. O dia foi passando e as retas da 40, cheias de buracos, nos mantinham acordados. Cruzamos um carro brasileiro e depois outro. Quase nos perdemos e tomamos o caminho da costa, equivocadamente. Em um minuto eu percebi o erro no GPS e voltamos. Daí foi direto até Gobernador Costa, no meio da tarde.
Nesse meio tempo, eu havia decidido ficar numa cidade chamada Esquel. Ela fica umas 4 horas antes de Bariloche. Recém era dia 10 de janeiro e eu tinha mais alguns dias até encontrar a minha Mãe, no dia 20. Avisei a senhora Clara, que havia me recebido em outubro, e agora eu já tinha casa para ficar.
Sérgio e eu há muito tempo já batíamos altos papos. Ele já falava sem parar. Contou dos filhos, da nova namorada e do quanto ela tinha mudado sua vida. Falou do trabalho, da sua casa longe da cidade e ele me pareceu uma boa pessoa, extremamente justo, apesar da cara de mau. Ele sabia disso e me contou algumas histórias sobre o quanto ele assusta quem não o conhece bem. Dava gargalhadas.
A essa altura, eu ia reconhecendo cada curva e cada reta daquela estrada. Os lugares me marcam muito. Peguei a câmera e tirei fotos aleatórias do céu e de nuvens estranhas. Até então eu não havia fotografado nada, em mais de 24 horas. Eu queria uma imagem qualquer, uma lembrança, não sei bem. Talvez porque enfim chegava a hora da despedida. Os últimos quilômetros. Prometemos que nos veríamos quando eu chegasse a Bariloche.
Exatamente às 19h, Sérgio me deixou no cruzamento da Ruta 40, a 11 km de Esquel. Nos despedimos calorosamente. Ele me olhou bem nos olhos e me falou uma frase: "Desfruta a tua mãe!". Sérgio havia perdido a dele há pouco tempo e sentia que não tinha aproveitado o suficiente ao lado dela. Sorri e prometi que faria isso.
Atravessei a estrada, naquela felicidade monstruosa, com um sorriso gigante, e abanei de longe enquanto ele seguia. Parei, larguei a mochila no asfalto e o segundo carro que passou, freou. Em minutos eu estava no centro da pequena cidade. Dali, muito devagar, fui andando até a Clara, mandando mensagens para todo mundo, contando minha façanha. Às vezes não acredito na Sorte que tenho.
Ontem, seis meses depois, me lembrei pela milésima vez dessa história e tive que colocá-la no “papel”. Enquanto eu agradecia ao Acaso por ter colocado Sérgio no meu caminho, olho o meu celular e vejo que ele havia mandado uma mensagem. Como faz regularmente, não perguntou por mim. Quis saber como está minha Mãe e se ela está lidando bem com a Quarentena. Parece que aqueles 1500 km e as 21 horas em que convivemos, não nos presentearam somente com uma boa companhia e uma grande história para ser contada. Deram a Sérgio uma nova Mãe, por quem ele pudesse perguntar se ela está bem…
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conexaorevista · 8 days
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Na madrugada deste domingo, 12, a equipe da central de operações da Polícia Militar de Cascavel foi acionada após um incidente em uma distribuidora de bebidas, onde um casal armado efetuou três disparos antes de fugir em um veículo preto. Após receberem a denúncia, os policiais se dirigiram ao local indicado, onde confirmaram com testemunhas que o veículo em questão era um Fiat Stilo e que os disparos haviam sido feitos de dentro do carro. Durante a elaboração do boletim de ocorrência, uma mulher foi abordada e relatou que estava cobrando de um casal, uma dívida de R$ 200 referente aos cuidados de uma criança de quem ela era babá. Durante a discussão, o homem sacou uma pistola, mas não chegou a disparar porque a arma teria falhado. No entanto, após o conflito, o casal entrou no veículo e efetuou três disparos. Em seguida, a equipe policial avistou um veículo Fiat Stilo que tinha as características descritas pelas testemunhas e, ao tentar abordá-lo, o veículo fugiu, desrespeitando semáforos e preferenciais e colocando pedestres em risco. Após uma perseguição, o veículo perdeu o controle e atingiu uma calçada, momento em que os policiais desembarcaram e o condutor tentou atropelá-los. Em resposta à ameaça, os policiais efetuaram disparos nos pneus e na roda do veículo, impedindo sua fuga. Durante a abordagem dos ocupantes do carro, uma pistola calibre 22 foi encontrada sob o banco do passageiro. O condutor do veículo, que apresentava sinais de embriaguez, foi submetido ao teste do etilômetro, que registrou 0,65ml de ar alveolar. O casal que estava no veículo foi preso e conduzido à central de flagrantes para os procedimentos policiais. Além disso, a pistola calibre .22 com uma munição disparada, dois celulares e o carro foram apreendidos. Os dois vão responder pelos crimes de disparo de arma de fogo, porte Irregular de arma de fogo acessório e munição, embriaguez ao volante, resistência à prisão, desobediência e direção perigosa. Fique por dentro das notícias que são destaques em Corbélia e região. Clique Aqui e siga nosso Canal no Whatsapp.
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hamdeokcomplex · 11 days
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[plot drop] um final de semana… intenso.
sexta-feira, 10 de maio – 17h30
A semana de treinos parece longe de acabar, ainda que hoje seja a tão esperada sexta-feira. As exigências e alterações feitas de última hora nos seus treinos e rotinas de certo serviram para desestabilizar você e muitos de seus colegas e tudo o que você quer é que essa semana termine logo e que você possa aproveitar o final de semana usando todas as táticas possíveis para se livrar do estresse que seu treinador ou treinadora te causou. 
Mas, é claro que Kim Beomseok tem… Outros planos para vocês. 
Às cinco e meia da tarde, quando o treino está deliciosamente próximo do fim, seu treinador ou sua treinadora reúne a equipe para um aviso. Você nota certa insatisfação ou animação pontuando suas feições, deixando claro o quanto aquela situação agrada ou desagrada a pessoa encarregada de seu treinamento e isso desperta uma pontinha de curiosidade em você. Ou seria desespero? Não seria surpresa ser esse o sentimento que preenche seu coração, dada a natureza dos últimos avisos durante os treinos e sobre o complexo em geral. Desde a investigação policial até essa última semana de treinos, você diria que todos ali tem motivos para se desesperar frente a um novo aviso. 
E é esse o sentimento que aflora de fato no peito de alguns, quem sabe até mesmo do seu, ao ouvir seu treinador ou sua treinadora dizer que, neste final de semana, ao invés dos seus tão sonhados descanso e  relaxamento, vocês todos viajarão para um bootcamp. Serão testados até o limite de sua força e resistência física, bem como irão aprimorar o trabalho em equipe, extremamente valioso para aqueles que competem em duplas ou que compõem um time. E o ônibus sai esta noite, às 20h.
Vocês são liberados do treino mais cedo, logo após o aviso, mas a liberdade não lhe parece tão agradável quanto parecia momentos atrás, sabendo que precisa fazer suas malas, jantar e então partir para o que prometem ser dois dias de pura tortura. 
Faça as malas, atleta. O final de semana está prestes a começar. 
INFORMAÇÕES OOC 
Olá, atletas! Vocês acharam que a semana de treinos caóticos tinha terminado? Nananinanão! Preparem-se para um final de semana repleto de atividades que vão levar nossos atletas até a beira da exaustão. Atenção às informações:
Saída do ônibus: às 20h de hoje. 
Chegada no "acampamento" em Gangwon: às 21h45 de hoje. 
Dessa vez a viagem será curtinha e sem obstáculos que possam interrompê-la. Uma vez no "acampamento", os quartos serão divididos em alas divididas por sexo e por pavilhão, ou seja: todos os meninos da platinum dormirão no mesmo espaço, bem como todas as meninas do platinum dormirão no mesmo espaço (diferente dos meninos), e assim será em todos os pavilhões.
Como o foco deste final de semana não é o conforto, todos terão sacos de dormir individuais, mas dividirão o chão do local com os outros colegas de pavilhão do mesmo sexo. Não se preocupem com banheiros – eles são numerosos, então ninguém fica sem usar, mas todos vão sentir um gostinho do que era o Aereus antes da reforma! 
Um beijo das barbies~
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ambientalmercantil · 25 days
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ocombatente · 2 months
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Tribunal decide que morte de jovem em Manguinhos foi homicídio culposo
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Depois de dez anos de espera e dois dias de julgamento, o 3º Tribunal do Júri da Capital, no Rio de Janeiro, decidiu que o assassinato de Johnatha de Oliveira Lima em 2014, na favela de Manguinhos, deve ser tipificado como homicídio culposo, quando não há intenção de matar. A decisão representa uma classificação inferior à pedida pela acusação, para quem o crime cometido pelo policial militar Alessandro Marcelino de Souza foi um homicídio doloso (com intenção de matar). Com a decisão, há um declínio de competência e o caso vai ser transferido para julgamento no Tribunal Militar. O processo e as investigações recomeçarão e a pena vai ser decidida efetivamente pelos juízes militares. Ainda cabe recurso pelo Ministério Público. Johnatha tinha 19 anos de idade em 14 de maio de 2014, quando cruzou com um tumulto entre policiais e moradores da favela de Manguinhos. Um tiro disparado pelo agente da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), Alessandro Marcelino, atingiu as costas do jovem. Ele foi levado para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e morreu no local. A família prestou queixa na delegacia e começou a pressionar pelo andamento das investigações. A mãe de Johnatha, Ana Paula Oliveira, criou o grupo Mães de Manguinhos, ao lado de Fátima Pinho, que também perdeu o filho assassinado. Elas passaram a acolher outras vítimas e a cobrar respostas das autoridades para crimes cometidos por agentes do Estado. Em entrevista à Agência Brasil no dia 9 de fevereiro, Ana Paula falou da expectativa pelo julgamento. Ela desejava que a condenação do policial se tornasse uma referência para outras mães que passaram por dores semelhantes. Tribunal do Júri O júri começou na tarde de terça-feira (5) e foi encerrado no início da noite desta quarta (6), com nove testemunhas ouvidas, sendo cinco de acusação e quatro de defesa. A primeira testemunha a depor foi Glicélia Souza, vizinha e amiga de infância de Johnatha. Ela relatou que ouviu barulho de tiros e se escondeu com o filho dentro de uma loja. Não conseguiu ver de onde o disparo foi feito, mas viu Johnatha desarmado, caído no chão com ferimento, sendo socorrido por outras pessoas. Os moradores comentavam que os disparos partiram dos policiais. Fátima dos Santos foi a segunda a depor e disse ter visto três policiais no momento do crime, mas não testemunhou o disparo. Ela estava acompanhada do filho, que disse ter visto Johnatha baleado no chão. Em seguida, viu pessoas andando na direção dos policiais militares jogando pedras neles. A perita da Polícia Civil Izabel Solange de Santana disse que das 12 armas recolhidas para perícia técnica (9 pistolas e 3 fuzis), uma era compatível com a que atingiu Johnatha. A tia de Johnatha, Patrícia de Oliveira, contou que ficou sabendo do crime pelo primo. “Foi tudo muito rápido. Recebemos a informação que ele foi baleado nas costas, fui à UPA e disseram que estava morto, sendo que vi policiais circulando no interior da UPA e não haviam socorrido meu sobrinho. Quando fui na delegacia registrar boletim de ocorrência, descobri que policiais que teriam participado da ação prestavam depoimento como auto de resistência”, disse Patrícia. O julgamento teve ainda depoimentos das testemunhas de defesa, o interrogatório do réu, além dos debates entre acusação e defesa. Foi a partir desses procedimentos que o Tribunal do Júri decidiu pela classificação de homicídio culposo para o crime cometido pelo policial militar Alessandro Marcelino de Souza. Fonte: EBC GERAL Read the full article
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capitalflutuante · 2 months
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O Caminhos da Reportagem que vai ao ar neste domingo (31) trata dos desdobramentos, ainda hoje presentes, do golpe militar no Brasil, que há 60 anos colocou fim ao governo de João Goulart. Uma após a outra, tropas do exército aderiram à sublevação iniciada em Juiz de Fora, na madrugada daquele 31 de março de 1964. O movimento teve apoio de setores conservadores da política e da sociedade, de empresários, da Igreja Católica e das Forças Armadas. Castello Branco assumiu a presidência em 15 de abril, tornando-se o primeiro dos cinco presidentes-generais. A ditadura civil-militar iniciada ali durou 21 anos. A atriz Dulce Muniz lembra bem daquele dia. Ela ouviu o anúncio pelo rádio: “Veio uma voz… a partir deste instante, a Rádio Nacional passa a fazer parte da cadeia da legalidade. Pronto. Estava dado o golpe. Eu tinha 16 anos.” José Genoíno entrou para a clandestinidade após o AI-5 - TV Brasil José Genoino saiu da pequena Encantado, um distrito de Quixeramobim, no Ceará, para estudar em Fortaleza. Em 1968, quando é decretado o AI-5, ele fazia parte do movimento estudantil. Genoino entra para a clandestinidade, vai parar em São Paulo e, depois, para a região do Araguaia. “A minha geração só tinha três alternativas: ou ia para fora do país, ou ia para casa e podia ser presa e morta, ou então ia para a clandestinidade”. Ele é um dos poucos sobreviventes da Guerrilha organizada na região que hoje faz parte do norte do Tocantins. Até hoje, são raros os espaços de memória que contam a história dos anos de repressão. O principal deles é o Memorial da Resistência, criado no prédio que abrigava o temido Departamento de Ordem Política e Social, o Deops, em São Paulo. Para a diretora técnica do Memorial, Ana Pato, “a criação de centros culturais de memória dedicados à memória dessa violência do Estado são fundamentais para que as gerações seguintes não só aprendam isso, mas que a própria sociedade consiga elaborar o trauma.” No Rio Grande do Sul, o projeto Marcas da Memória tenta demarcar, identificar e explicar a história de importantes espaços repressivos em Porto Alegre. Dos 39 aparatos da ditadura conhecidos no estado, apenas nove ganharam placas. Algumas delas já estão apagadas. Coordenador do movimento de Direitos Humanos, Jair Kirshner e a repórter do Caminhos da Reportagem Ana Graziela Aguiar - TV Brasil Segundo Jair Krischke, coordenador do Movimento de Direitos Humanos, e um dos idealizadores do projeto, não há interesse por parte do poder público em iniciativas como esta: “Nós, como organização privada, estamos fazendo aquilo que o Estado deveria fazer. Como não faz, nós fizemos, provocamos.” O desejo de Krischke, e de todos que trabalham e lutam para que as marcas da ditadura não sejam esquecidas, é transformar esses espaços pelo Brasil em museus e memoriais. Uma das grandes referências no tema é o Museu da Memória e Direitos Humanos de Santiago, no Chile. Para María Fernanda García, diretora do museu, “é muito importante se dizer que aqui houve atropelos do Estado. É preciso lhes dar a visibilidade e a dignidade às vítimas, o que não lhes foi dado durante aquele período, e também depois, durante muitos anos”. Não prestar contas com o passado faz com que a democracia brasileira se torne frágil e que a violência do Estado ainda seja recorrente. “A questão da impunidade é altamente contagiosa. A violência que constatamos ainda hoje é fruto disso, da impunidade. A tortura ainda é usada pelas polícias e nos presídios. É uma herança que nós não conseguimos nos livrar”, afirma Jair Krischke. Violência policial que em 2015 matou o filho de Zilda de Paula. Ele é um dos 17 mortos na chacina de Osasco e Barueri, cometida por policiais militares encapuzados. Até hoje, Zilda busca justiça. “Perdi meu filho único, Fernando Luiz de Paula. Nunca pensei que eu ia passar por isso, nunca pensei.” Na faixa que ela tem em casa, com os rostos de outros mortos da chacina, lê-se a frase: “Sem justiça não haverá paz”. Dona Zilda conclui: “Não vai ter justiça e nem paz.
Não tem justiça, porque esse caso para a justiça já foi encerrado.” O programa Caminhos da Reportagem – 1964: Memórias que Resistem vai ao ar neste domingo, às 22h, na TV Brasil. Clique aqui e saiba como sintonizar a TV Brasil Com informações da Agência Brasil
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pacosemnoticias · 2 months
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Prisão domicilária para suspeito de tráfico de droga na Ribeira Grande
Um homem ficou em prisão domiciliária e outro suspeito ficou sujeito a apresentações periódicas por estarem "fortemente indiciados" de tráfico de droga tendo como "centro de operações" uma residência na Ribeirinha, na Ribeira Grande.
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De acordo com o Comando Regional da PSP dos Açores, os dois homens, com 47 e 19 anos, foram detidos após uma investigação policial permitir "comprovar o relato de várias denúncias anónimas que apontavam um suposto cenário de tráfico de droga com centro de operações numa residência localizada na freguesia da Ribeirinha", na ilha de São Miguel.
Os investigadores da PSP recolheram indícios significativos de que vários toxicodependentes se deslocavam sistematicamente à residência dos arguidos.
As provas obtidas "vieram fortalecer as suspeitas existentes quanto à prática de crime por parte dos dois suspeitos", adianta a PSP, em comunicado de imprensa.
Foi realizada uma busca domiciliária à resistência, tendo sido possível "surpreender os arguidos na posse de substâncias ilícitas e outros objetos relacionados com o crime sob investigação, nomeadamente quantias monetárias".
Foram também apreendidas 40 doses de droga sintética, uma balança de precisão e "quantidades diminutas de haxixe e liamba em condições de serem transacionadas junto de consumidores".
Após terem sido presentes a interrogatório judicial em Ponta Delgada, um dos suspeitos ficou sujeito a apresentações periódicas obrigatórias perante as autoridades e o outro arguido em prisão domiciliária, já que tinha sido condenado recentemente "a uma pena de prisão suspensa também pela prática de um crime de tráfico de droga", refere a nota.
A PSP destaca "a intervenção articulada entre autoridades judiciárias e policiais que veio a permitir debelar mais um foco de insegurança".
A situação, sublinha, estava "a causar notória desestabilização junto da comunidade residente na freguesia de pequena dimensão.
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educacaoplural · 3 months
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O movimento pelos direitos das mulheres e o sufrágio universal
O movimento pelos direitos das mulheres e o sufrágio universal representam uma luta histórica e contínua por igualdade, justiça e participação política das mulheres na sociedade. Ao longo dos séculos, as mulheres têm enfrentado discriminação, desigualdade e restrições em relação aos seus direitos civis, políticos e sociais, e o movimento pelos direitos das mulheres tem sido uma batalha constante para superar essas barreiras e alcançar a igualdade de gênero.
O movimento pelos direitos das mulheres tem raízes antigas e tem sido impulsionado por diversas lutas e movimentos ao longo da história. No entanto, o século XIX foi um período crucial para o surgimento e a expansão do movimento pelos direitos das mulheres, com várias conquistas significativas, incluindo a luta pelo sufrágio universal.
O sufrágio universal refere-se ao direito de voto de todos os cidadãos adultos, independentemente de raça, gênero, propriedade ou outras restrições. No entanto, durante grande parte da história, as mulheres foram excluídas desse direito fundamental, relegadas ao papel de espectadoras passivas na esfera política.
A luta pelo sufrágio feminino foi uma das principais frentes do movimento pelos direitos das mulheres no século XIX e início do século XX. As sufragistas, como eram chamadas as mulheres que lutavam pelo direito de voto, organizaram protestos, campanhas de conscientização e ações diretas para chamar a atenção para a causa e pressionar os governos a conceder o sufrágio feminino.
Um dos marcos mais significativos dessa luta foi a Convenção de Seneca Falls, realizada em 1848 nos Estados Unidos. Nessa convenção histórica, liderada por mulheres como Elizabeth Cady Stanton e Lucretia Mott, foi redigida a Declaração de Sentimentos, que reivindicava direitos iguais para as mulheres, incluindo o direito de voto. Embora a luta pelo sufrágio feminino tenha enfrentado resistência e oposição significativas, as sufragistas perseveraram, mobilizando apoio público e construindo uma ampla coalizão de mulheres e homens em favor da causa.
O movimento pelo sufrágio feminino ganhou impulso em outros países, como o Reino Unido, onde as sufragistas britânicas, lideradas por figuras proeminentes como Emmeline Pankhurst e sua filha Christabel, organizaram manifestações, greves de fome e outras formas de resistência não violenta para pressionar pelo direito de voto das mulheres. Apesar da oposição e da violência policial, as sufragistas britânicas conseguiram conquistar o sufrágio feminino em 1918 para mulheres com mais de 30 anos e em 1928 para todas as mulheres com mais de 21 anos.
Nos Estados Unidos, a luta pelo sufrágio feminino culminou com a aprovação da 19ª Emenda à Constituição dos Estados Unidos em 1920, garantindo o direito de voto das mulheres em todo o país. Esta conquista representou uma vitória histórica para o movimento pelos direitos das mulheres e um marco importante na luta pela igualdade de gênero.
O sufrágio feminino não foi apenas uma questão de justiça e igualdade política, mas também teve um impacto significativo na sociedade em geral. Ao garantir o direito de voto das mulheres, o sufrágio universal permitiu que as mulheres participassem plenamente da vida política e contribuíssem para a formulação de políticas, leis e decisões que afetam suas vidas e seu futuro. Isso levou a avanços em outras áreas dos direitos das mulheres, incluindo direitos civis, direitos reprodutivos, igualdade salarial e representação política.
No entanto, apesar das conquistas alcançadas, a luta pelo pleno reconhecimento dos direitos das mulheres continua em muitos países ao redor do mundo. As mulheres ainda enfrentam discriminação, violência de gênero, disparidades salariais e outras formas de desigualdade, destacando a necessidade contínua de um compromisso renovado com a igualdade de gênero e os direitos das mulheres. O movimento pelos direitos das mulheres e o sufrágio universal representam uma parte fundamental dessa luta contínua e uma lembrança do poder da ação coletiva e da resistência pacífica na busca por justiça e igualdade para todos.
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brasilsa · 3 months
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edisonblog · 5 months
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“CUÍCAS AND PANDEIROS FOR STOKOWSKI TO HEAR!”: THE NATIVE BRAZILIAN MUSIC DISC AND THE GOOD NEIGHBOR POLICY (1940 -1942)
Abstract: In 1940, in the context of the so-called Good Neighbor Policy, regent Leopold Stokowski (1882-1977) visited some South American countries on tour with the All-American Youth Orchestra.
Through the analysis of press sources and the Villa-Lobos Museum's documentary collection, this article aims to illuminate aspects related to the recording of the album Native Brazilian Music, which brought together, under Stokowski's initiative, some exponents of popular music from Rio de Janeiro. Janeiro – like Donga, Pixinguinha and João da Baiana.
The work discusses the role played by musicians in the diplomatic sphere and argues that one of the effects of the Good Neighbor Policy was to create a specular game in which, despite the alleged cultural unity of the continent, the rapprochement promoted discussions about national identity, difference and resistance.
This text is a partial result of the research “Heitor Villa-Lobos and cultural diplomacy Brazilian (1923-1959)”, supported by the Coordination for the Improvement of Higher Education Personnel (Capes) and the Brazilian Institute of Museums (Ibram).
All works and documents used in the research and preparation of the article are cited in the notes and bibliography.
The original documentary sources cited here belong to the Villa-Lobos Museum.
Pedro Belchior Villa-Lobos Museum – Brazilian Institute of MuseumsRio de Janeiro – Rio de Janeiro – Brazil [email protected]
image: The night of recording on the deck of the Uruguay was the main headline of the newspaper – A Noite – on August 7, 1940Source: A Noite, August 7, 1940.
source: https://www.revistas.usp.br/revhistoria/article/view/146365/159214
edisonmariotti @edison
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“CUÍCAS E PANDEIROS PARA STOKOWSKI OUVIR!”: O DISCO NATIVE BRAZILIAN MUSIC E A POLÍTICA DA BOA VIZINHANÇA (1940 -1942 )
Resumo: Em 1940, no contexto da chamada Política da Boa Vizinhança, o regente Leopold Stokowski (1882-1977) visitou alguns países da América do Sul em turnê com a All-American Youth Orchestra.
Por meio da análise de fontes da imprensa e do acervo documental do Museu Villa-Lobos, o presente artigo pretende iluminar aspectos relacionados à gravação do disco Native Brazilian Music, que reuniu, sob a iniciativa de Stokowski, alguns expoentes da música popular do Rio de Janeiro – como Donga, Pixinguinha e João da Baiana.
O trabalho discute o papel desempenhado por músicos na esfera diplomática e argumenta que um dos efeitos da Política da Boa Vizinhança foi criar um jogo especular no qual, apesar da pretensa unidade cultural do continente, a aproximação promoveu discussões sobre identidade nacional, diferença e resistência.
Este texto é resultado parcial da pesquisa “Heitor Villa-Lobos e a diplomacia cultural brasileira (1923-1959)”, apoiada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e pelo Instituto Brasileiro de Museus (Ibram).
Todas as obras e todos os documentos utilizados na pesquisa e na elaboração do artigo são citados nas notas e na bibliografia.
As fontes documentais originais aqui citadas pertencem ao Museu Villa-Lobos.
Pedro Belchior Museu Villa-Lobos – Instituto Brasileiro de MuseusRio de Janeiro – Rio de Janeiro – Brasil [email protected]
imagem: A noite de gravação no convés do Uruguay foi a manchete principal do jornal – A Noite – em 7 de agosto de 1940Fonte: A Noite, 7 de agosto de 1940.
fonte: https://www.revistas.usp.br/revhistoria/article/view/146365/159214 @edisonblog
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