Tumgik
#dialética
amor-barato · 1 year
Text
Há um quadro de Paul Klee que se chama Angelus Novus. Representa um anjo que parece querer afastar-se de algo que ele encara fixamente. Seus olhos estão escancarados, sua boca dilatada, suas asas abertas. O anjo da história deve ter esse aspecto. Seu rosto está dirigido para o passado. Onde nós vemos uma cadeia de acontecimento, ele vê uma catástrofe única, que acumula incansavelmente ruína sobre ruína e as dispersa a nossos pés. Ele gostaria de deter-se para acordar os mortos e juntar os fragmentos. Mas uma tempestade sopra do paraíso e prende-se em suas asas com tanta força que ele não pode mais fechá-las. Essa tempestade o impele irresistivelmente para o futuro, ao qual ele vira as costas, enquanto o amontoado de ruínas cresce até o céu. Essa tempestade é o que chamamos de progresso.
Walter Benjamin - Sobre o conceito de história
4 notes · View notes
psicoonline · 2 years
Photo
Tumblr media
Eu achava que o trecho abaixo era de um livro de introdução a psicologia sócio histórica citando Vigostky mas na época, não anotei a referência devido a surpresa que o trecho me causava - queria mandar pra minha psicóloga 😂😂😂 Hoje, buscando rapidamente o trecho, achei na internet com a referência W. Reich – Materialismo dialético e psicanálise. Buguei. Embora sempre me impressione a história do Reich, nunca li e sei bem pouco a respeito dele, sua teoria e seu jeito de trabalhar - assim como sei pouco de muitos autores... No final, não sei de quem é a definição e não estou com tempo para pesquisar mais, já que já são quase 15 dias que estou tentando achar a referência pra postar junto com essa imagem...😂 Então, quebrando a regra de referência e pesquisa... Vou postar assim mesmo... 😮‍💨😵 Perdoem o desabafo... 😑 mas se algum psi que segue a gente souber a referência ou se estiver disposta(o) a falar um pouco mais do Reich, escrever um texto pro https://psico.online ... Chama no privado. 😉 Agora o trecho: Todo movimento, sucessão de formas, evidencia uma dupla negação uma negação da negação. A primeira forma é negada pela segunda que é negada pela terceira gerando assim a aparente volta a primeira. *No entanto nada retorna ao que era*. A terceira forma reapresenta traços da primeira mas traz em si tambem traços da segunda forma superada, já não é mais nem uma, nem outra. O novo traz traços do velho, o velho já anuncia elementos do novo. A impressão de circularidade é apenas aparente, pois a última forma sempre reapresenta a primeira num patamar "superior". O movimento não é circular. mas em espiral. E aí. Faz sentido para você? Arte: @planetazeca #dialética #psicologia #psicanalise #reich #wreich #vigotsky #historicocultural #elipse #espiral #círculo #círculos #vida #psicoonline #psicólogo #psicóloga #terapia https://www.instagram.com/p/Cj8VlcwJh2V/?igshid=NGJjMDIxMWI=
3 notes · View notes
lucianopodes · 2 years
Photo
Tumblr media
Uma das maiores afirmações de Heráclito, foi que: "Ninguém pode entrar duas vezes no mesmo rio, pois quando nele se entra novamente, não se encontra as mesmas águas, e o próprio ser já se modificou." Tudo muda, tudo flui como a água, então assim, tudo também é regido pela dialética, a tensão e o revezamento dos opostos. O real é sempre fruto da mudança, ou seja, a reslidade que percebemos ao nosso redor, é um eterno combate entre os contrários. @prof.lucianodornelles #dialética #heraclitus #filosofando (em Por Ai) https://www.instagram.com/p/CpYgPhwOqaK/?igshid=NGJjMDIxMWI=
0 notes
edsonjnovaes · 5 months
Text
The Stars Down to Earth
Pouco depois de regressar, em 1952, à Alemanha – após um exílio de 16 anos – Theodor Adorno retorna aos EUA, permanecendo lá quase um ano na função de diretor científico da “Hacker Foundation”. Nesse período, desenvolveu como pesquisa uma interpretação da coluna assinada por Carol Righter de astrologia do jornal “Los Angeles Times”. Escrito em inglês, o livro foi publicado nos EUA sob o título…
Tumblr media
View On WordPress
0 notes
desmaterializandose · 4 months
Text
O trabalho da fadiga
É-me demasiado exaustivo a geração rotineira de conversa fútil; antes meses em silêncio que dias tagarelas. Odeio gastar palavra, mais ainda quando as tenho que gritar; lançando a entonação nas sílabas e a energia nas vogais, tentando transpor as coisas sólidas através da gramática. Não suporto repetir velhos diálogos nem me aturo a própria voz dizer mais do que necessita. O tempo não se perde, o que se desmancha é a vontade.
Estranho. O labor necessário para responder um desconhecido me é mais aprazível do que aquele desnecessário que interliga as frases de uma dialética doméstica. Custa-me mais a paixão que a educação.
25 notes · View notes
claudiosuenaga · 11 months
Text
Tumblr media
Combata o Futuro 10: Nós Somos A Resistência
Por Cláudio Suenaga
À medida que somos assolados pelos horrores de mais uma guerra e todas as demais desgraças cotidianas que os meios de comunicação corporativos nos mostram à la mode, à luz de seus filtros, vamos ficando cada vez mais dessensibilizados e entorpecidos, sem capacidade de responder como deveríamos responder.
Para quem viveu outros tempos um pouco mais amenos e menos tenebrosos, fica difícil adaptar-se à policrise: depois da crise econômica vem a pandemia, depois da pandemia vem a guerra, depois da seca vem o terremoto, depois do tsunami vem os incêndios, depois do tufão vem a erupção vulcânica, e esse mesmo ciclo se repete e se renova em um eterno retorno aleatório, e nos perguntamos se estamos sendo implacavelmente punidos por nossos pecados.
O volume de bombas, sangue, brutalidade e devastação em Gaza, vem juntar-se às intermináveis que se desenrolam na Ucrânia e em todas as capitais e periferias do mundo onde imperam a bandidagem, o crime organizado e o tráfico de drogas.
Sem que ninguém mais espere uma intervenção fundamentada e racional, só o que resta são brados sem alma daqueles que ocupam posições de autoridade na cena global, acompanhados de comentários rasos e declarações hipócritas de âncoras de telejornais e analistas internacionais a referendar as "posições" nacionais e geoestratégicas dos representantes do establishment.
Genocídio em massa e limpeza étnica são justificadas como necessárias e toleradas como "aceitáveis" por aqueles mesmos que classificam como fake news e "discurso de ódio" todas as posições que não se alinham às deles, enquanto enaltecem os valores "politicamente corretos" e as vantagens políticas ou geopolíticas em apoiar a causa deste ou daquele protagonista, CEO ou organismo internacional.
A falta de uma autoridade legítima para pôr fim ao massacre é o indicador mais revelador da falência daquilo que é considerada a "sociedade civilizada". 
Entre as massas, polarizadas por ideólogos e influencers pop stars, só o que ouvimos é uma confusão de disputas vociferantes e furiosas, enquanto convergem no medo comum de contrariar os dogmas da elite global. As vozes que murmuram e esbravejam com notável egocentrismo, arrogância e orgulho, perdem-se na cacofonia. 
Nas redes sociais, a civilidade e o bom senso foram substituídos pela toxicidade das queixas, dos ressentimentos, da angústia, dos ataques e das acusações sem limites, alimentados por um desespero abrasador para atribuir o colapso do que era conhecido e previsível a algum vilão da esquerda ou da direita, em uma caça às bruxas selvagem para angariar seguidores que farão arder suas tochas e queimar os bodes expiatórios no patíbulo das fogueiras que ao menos trarão um pouco de alívio e consolo ao pablum oficial e a sensação de que está tudo sob controle.
O medo de ir contra o dogma do que constitui a hierarquia da pirâmide do poder global paralisa e divide a todos, impedindo uma união de esforços contra a Nova Ordem Mundial, por mais tênue que possa ser.
Indo além das causas aparentes, por trás deste bizarro estado de coisas, está um pequeno culto global satanista antivida que deseja prolongar a dor e a destruição para os seus próprios fins e secretamente apoia ambos os lados do conflito a fim de produzir a máxima discórdia, a máxima perturbação dialética do caos e da morte, de modo a levar a realidade ao seu total paroxismo.
Sim, isso é puro mal em ação. É a manifestação de um projeto demoníaco de longa data – cujas raízes remontam ao próprio início da história humana – outrora encoberta mas agora escancarada e que emergiu nas últimas décadas como principal protagonista do caos perturbador e da divisão que agora se manifesta ao nível fundamental de nossas vidas cotidianas. 
Nem a intimidade das nossas vidas pessoais é mais respeitada, e parece quase impossível imaginar que as coisas pudessem chegar a um tal nível invasivo: a do controle não só da linguagem, como de nossos pensamentos. 
O problema para todos nós que estamos determinados a resistir às encenações grotescas desta trupe de atores obscuros, é que este culto é altamente enganador e muito bem disfarçado. Seus principais agentes se portam como astros e celebridades de Hollywood, sorriem o tempo todo, se apresentam muito elegantemente bem vestidos, e são muito bem treinados em técnicas de comunicação e persuasão. O Diabo veste Prada.
Ninguém imaginaria que por trás de suas aparências invejáveis e gestos sedutores, almejam destronar a Deus, tomando o seu lugar, e remodelar a criação, esvaziando-a de todos os seus aspectos divinos para reduzi-la a um mero código binário. 
Como nem preciso salientar, o compromisso de manter alguma forma de civilidade, humanidade e justiça neste mundo atualizado a cada instante, implacavelmente exigente e agressivamente competitivo, é um desafio demasiado elevado para os seres humanos, que não são páreos para os golems amorais eugênicos, trans-humanos e cibernéticos.   
Não é por acaso que o avanço da inteligência artificial é concomitante à degradação dos valores humanos fundamentais que são sistematicamente dilacerados nos confrontos em tempo de guerra.
Preservar os valores tradicionais, manter a linha da decência, do respeito e da justiça, não é apenas uma condição sine qua non, sensível neste momento precário da história humana em que aqueles que nos ditam a "verdade" estão eivados de cinismo, hipocrisia e imoralidade: é um imperativo absoluto.
O nazismo sangrento que voltou a irromper, destroçou os direitos, liberdades e valores básicos de uma sociedade que já estava em colapso e em grau bastante avançado de dilaceração sob a ditadura corporativa, científica, bancária e militar que domina as estruturas de poder globais de hoje.
Não hesitemos em reconhecer que "nós, o povo", destituídos de qualquer poder político ou institucional, somos a resistência. Somos nós as únicas consciências que restaram neste mundo dominado pelo poder do maligno. 
Tumblr media
Vamos acabar com qualquer ilusão persistente de que algum líder ou alguma instituição política existente ou "falso salvador" restaurarão nossas honras, dignidades e liberdades roubadas. Sejamos ferozmente realistas. Com raríssimas exceções, aqueles que representam politicamente os seus redutos eleitorais nas falsas democracias do mundo, estão lá para cumprir a agenda da cabala oculta e do Deep State.
Nós, que nos recusamos a ser submetidos a programas de "vigilância", que nos recusamos a ser sugados para a sua matrix digital controlada por inteligência artificial, devemos ir para a linha de frente da grande luta pela emancipação humana. Se não como uma força interligada, que seja individualmente, como uma força irreprimível.
As Big Tech são persuadidas a cumprir o seu dever público de "cancelar" os que se levantam contra esta Nova Ordem Mundial. As ferramentas óbvias para fazer isso são algorítmicas, ou seja, automatizar a pesquisa e eliminar as vozes dissonantes, independentemente da sua origem. Os algoritmos e outros softwares de inteligência artificial agem como verdadeiros tribunais de exceção e julgamento que de forma abusiva e sem um trâmite legal, sentenciam o acusado automaticamente, com indícios mínimos, sem audiência, inquérito e recurso, sem o direito de peticionar ou recorrer, ou seja, sumariamente. O veredito emitido é final.
Os tribunais do passado, por mais arbitrários e sumários que fossem, ao menos emitiam uma declaração por escrito e permitiam ao condenado o jus esperneandi (ou jus sperniandi, uma expressão jocosa muito usada no meio jurídico, mas inexistente em latim), o "direito de espernear" ou "reclamar". As sentenças são silenciosas, automatizadas, e qualquer protesto cai no vazio, vai para o limbo. Protestos e gritos não são ouvidos. Cancelado e "desmonetizado", o condenado desaparece no ostracismo sem que ninguém sequer fique sabendo. Engraçado como as pessoas ficam quietas quando sua renda desaparece. 
Tal como acontece no Gulag, os inocentes são arrastados juntamente com os culpados numa proporção desconcertantemente injusta. Use a palavra proibida ou frase errada em um texto, podcast ou vídeo público e o tribunal secreto concluirá que você é um instigador do ódio e da violência, que você é um terrorista.  
Não é o povo que deve temer seu governo. O governo é que deve temer seu povo. E eles nos temem. Somos aqueles que eles mais temem. Nós somos a resistência. E mesmo distantes fisicamente, em nossas mentes e corações sabemos estar unificados. É uma luta de todos os dias, uma luta permanente, mental e espiritual. Não tem nada a ver com a "passividade" que deveria ser reconhecida como a doença social mais alastrada que aflige a quase totalidade da humanidade cooptada e doutrinada.
Há um mundo que foi perdido e que devemos recuperar. Não há nenhum desafio mais significativo e urgente do que isso.
Leia os 9 manifestos anteriores contra a Nova Ordem Mundial em meu Patreon:
Tumblr media Tumblr media
Torne-se membro de minha comunidade no Patreon e tenha acesso a todos os meus posts públicos sem pagar nada por isso, ou torne-se o meu Patrono e tenha acesso a centenas de conteúdos exclusivos: https://www.patreon.com/suenaga
🔵 Colabore pelo PIX: [email protected]
🎬 Seja membro deste Canal e receba benefícios: https://www.youtube.com/ClaudioSuenaga/join
➡️ Rumble: https://rumble.com/c/ClaudioSuenaga
➡️ Site Oficial: https://claudiosuenaga.yolasite.com
➡️ Repositório de todos os meus trabalhos: https://suenagadownloads.yolasite.com/
➡️ Blog Oficial: https://www.claudiosuenaga.com.br/
➡️ Medium: https://medium.com/@helpsuenaga
➡️ Facebook (perfil): https://www.facebook.com/ctsuenaga
➡️ Facebook (página): https://www.facebook.com/clasuenaga
➡️ Instagram: https://www.instagram.com/claudiosuenaga
➡️ Pinterest: https://br.pinterest.com/claudiosuenaga
➡️ Twitter: https://twitter.com/suenaga_claudio
➡️ GETTR: https://gettr.com/i/suenaga
➡️ E-mail: [email protected]
✅ Adquira "Encuentros cercanos de todo tipo. El caso Villas Boas y otras abducciones íntimas", meu primeiro livro traduzido em espanhol, na Amazon:
Amazon.com (envios a todo o mundo desde os EUA): https://amzn.to/3Lh93Lb
Amazon.es (envios a todo o mundo desde a Espanha): https://amzn.to/3LlMtBn
Amazon.co.uk (envios dentro do Reino Unido): https://www.amazon.co.uk/-/es/Cl%C3%A1udio-Tsuyoshi-Suenaga/dp/B0BW344XF1/
Amazon.de (envios dentro da Alemanha): https://www.amazon.de/-/es/Cl%C3%A1udio-Tsuyoshi-Suenaga/dp/B0BW344XF1/
Amazon.fr (envios dentro da França): https://www.amazon.fr/-/es/Cl%C3%A1udio-Tsuyoshi-Suenaga/dp/B0BW344XF1/
Amazon.it (envios dentro da Itália): https://www.amazon.it/-/es/Cl%C3%A1udio-Tsuyoshi-Suenaga/dp/B0BW344XF1/
Amazon.co.jp (envios dentro do Japão): https://www.amazon.co.jp/-/es/Cl%C3%A1udio-Tsuyoshi-Suenaga/dp/B0BW344XF1/
✅ Adquira "As Raízes Hebraicas da Terra do Sol Nascente: O Povo Japonês Seria uma das Dez Tribos Perdidas de Israel?"
✅ Adquira “Illuminati: A Genealogia do Mal”, bem como meus dois primeiros livros, "Contatados: Emissários das Estrelas, Arautos de uma Nova Era ou a Quinta Coluna da Invasão Extraterrestre?" e "50 Tons de Greys: Casos de Abduções Alienígenas com Relações Sexuais - Experiências Genéticas, Rituais de Fertilidade ou Cultos Satânicos?", diretamente com o editor Bira Câmara pelo e-mail [email protected]
✅ Adquira os meus livros em formato e-book em minha loja no Patreon: https://www.patreon.com/suenaga/shop
8 notes · View notes
joycesoarespsi · 10 months
Text
“O método de Stutz” e algumas reflexões sobre a depressão
Tempos atrás assisti um documentário intitulado “O método de Stutz” em que o ator Jonah Hill inverte os papéis com o psicoterapeuta junguiano, fazendo-o falar sobre a vida e seus anos de trabalho, e tenta desvendar as nuances dos métodos de tratamento utilizados por ele. Vou tentar traçar algumas associações com as ideias que Stutz aborda ao longo do documentário, mas a partir da PHC (Psicologia Histórico-Cultural). Que fique claro, isso não é uma tentativa de correspondência entre abordagens com bases epistemológicas completamente diferentes (PHC e Psicologia analítica), apenas algumas elaborações e associações minhas que vão nos ajudar a pensar um pouco sobre a depressão.
A partir dos casos atendidos e anos de atuação, Stutz concebe uma ideia que chama de “Força Vital”, fazendo referência à vontade, o que queremos fazer e o que nos caracteriza como pessoas. Também, articula a relação dos seres humanos em três aspectos principais: com o corpo, com os demais e consigo mesmo. Stutz fala que toda a sua forma de tratamento da depressão tem como base pensar em alternativas que contemplem esses três aspectos da Força Vital, provocando algum grau de alteração em comportamentos e pensamentos que estejam enrijecidos (comportamentos e pensamentos que acabam alimentando um ciclo de culpa, vazio e perda de sentido). São, portanto, recursos que priorizam uma mudança de rotina e de hábitos (relação com o corpo), a identificação e busca por uma rede de suporte para o indivíduo (relações com os demais) e a escrita sobre os próprios sentimentos como um dos mecanismos organizadores do psiquismo (relação consigo mesmo). Partindo disso, é preciso salientar que essas ideias, apesar de serem nomeadas de maneira diferenciada por Stutz, não são nenhuma novidade na Psicologia.
Na PHC, poderíamos chamar esse processo de busca por alternativas como “reorientação das atividades” do sujeito. A partir da PHC há a retomada, reelaboração e reestruturação de sentidos e significados que mobilizam funções psicológicas superiores (como o pensamento, memória, atenção, volição, emoções, consciência, etc), visto que todas essas funções estão em uma relação dialética umas com as outras e com o meio. A PHC entende o ser humano como um ser integral e ainda traz, como um ponto-chave, a ideia de instrumentos e signos Mediadores: próprios do Humano e sua relação de trocas com a cultura; a cultura que nos modifica e é por nós, seres humanos, modificada.
Para além do articulado por Stutz a partir da abordagem junguiana, os instrumentos e signos mediadores, para a PHC, podem ser muitos. É tudo aquilo que serve de ponte para a construção de uma relação mais equilibrada conosco e com o mundo. Um filme, por exemplo, pode despertar lembranças desagradáveis ou agradáveis, servindo de meio para um fim na psicoterapia, resta questionar por que esse filme provocou tal reação, quais reflexões ele possibilita acerca do que o indivíduo vivencia particularmente; uma música pode seguir pelo mesmo caminho, assim como um livro ou mesmo ferramentas lúdicas típicas da Psicologia que nos auxiliam nesse processo: o Baralho de Emoções, por exemplo, que serve para psicoeducação e identificação/nomeação das emoções. Todos são instrumentos mediadores da relação entre nossas necessidades, motivos e ações no mundo. Além disso, a própria linguagem é o signo mediador de todo esse processo. Comunicar pode possibilitar novas formas de pensar e compreender a realidade em um contexto clínico em que há a intervenção e mediação do psicoterapeuta.
A depressão também é vivida de maneira particular por cada indivíduo, tendo especificidades que dizem respeito ao cenário de vida e cultura. Entretanto, é comum ouvir relatos de indivíduos que se sentem paralisados, vazios e sem a mesma disposição para as atividades diárias. Partindo da perspectiva da Psicologia Histórico-Cultural, esses fatores apontam para uma reelaboração dos motivos que estruturam e guiam a atividade transformadora no mundo. Dito de outra forma, compreender por que a vida, para o sujeito, perdeu o sentido, por que mesmo seus hobbies, trabalho ou estudo parecem desconectados dele mesmo, por que faz o que faz, quais os motivos parecem, de alguma maneira, alienados (ou seja, sem ligação com essas atividades que desempenha na realidade); entender, ainda, o caminho de surgimento das percepções distorcidas, os diferentes sentidos que atribui às experiências vividas, buscando a história do adoecimento em causa e quais os mecanismos que essa mesma história nos possibilita visualizar para pensar em caminhos alternativos e reestruturantes que potencializem a autonomia.  
Não estamos falando, portanto, de ter uma postura impositiva no tratamento das depressões, com afirmativas do tipo “faça o que eu digo e será curado” ou “você VAI sair curado daqui”. Fujam de qualquer profissional que age dessa forma. Frases desse tipo deixam implícito que o indivíduo em depressão é passivo no processo, apenas recebendo fórmulas mágicas que mudarão a vida de um dia para o outro. Na PHC, pelo contrário, o sujeito é ativo. Ele resgata a própria história e faz as próprias elaborações. Ele busca, com a mediação do psicoterapeuta, as próprias respostas e saídas. 
Assim, vislumbra-se a depressão não como algo biologicamente determinado, mas como um possível produto no percurso do desenvolvimento, do entrelaçamento dos aspectos culturais e biológicos. É importante refletir, por exemplo, de que forma uma sociedade individualista, atomizada, consumista e que culpabiliza os sujeitos por questões por vezes estruturais da sociedade, influencia o indivíduo em suas relações com o mundo e com ele mesmo. É, portanto, também na possibilidade de trocas com o meio e seus Mediadores (conforme comentado anteriormente), que esse indivíduo buscará por outros caminhos de desenvolvimento.
Ainda sobre o documentário em si: tenho mais algumas ressalvas que não pretendo compartilhar, pois esse post já ficou enorme. Apesar disso, acho que vale a pena assistir porque proporciona algumas reflexões interessantes.
— Psicóloga Joyce Severo Soares | CRP 07/40411
5 notes · View notes
hakkiest · 11 months
Text
@napo-con-fritas tageóme but i already answered all the questions in another tag game EXCEPT the To Be Read one SO!!! let me answer that one in excrutiang detail:
Next TBR:
Imáginários da Terra, ensaios sobre natureza e arte na contemporaneidade (Earth Imaginaries, essays on nature and art on contemporary times) by Louise Ganz
Thus was Adonis murdered by Sarah Cadwell
Sorelle Materassi (the Materassi sisters) by Aldo Palazzeschi
Culture in a Liquid Modern World by Zygmunt Bauman
Moça Deitada na Grama (young woman laying in the grass) by Carlos Drummon de Andrade
Mística e Razão, Dialética no Pensamento Judaico (Mysticism and Reason, dialectis in Jewish thinking) by Alexandre Leone
Merchands d'Art (Artsellers) by Daniel Wildenstein
Mirall Trencat (Shattered Mirror) by Mercé Rodoreda)
Le Sel de la Vie (the salt of life) by Françoise Héritier
Historie de l'art et lutte des classes (History of art and class struggle) by Nicos Hadjinicolaou
Baudelaire - compilations, organized by Plínio Augusto Coelho
Clarissa by Erico Veríssimo
tagging any mutuals that have been reading tbh!!! also @misa-ndry eonni you seem you've read a lot im curious on your next ones!
5 notes · View notes
euamooblog · 2 years
Text
Tumblr media
CHAPEUZINHO VERMELHO
não contente, o lobo voltou.
sem feiúra que o distinguisse dos outros lobos que fora,
sem clara violência que o condenasse em definitivo às amarras do meu asco.
carrasco, como sempre. mas pungente como toda a gente
que vive ardendo e rezando, escravizada em meus espaços subterrâneos
(pois há nas frias cavernas do meu corpo morno
vinte e duas operárias mal pagas, trabalhando duramente
para comover de incertezas este mundo de crenças ensimesmadas).
sim: não satisfeito, o lobo voltou.
usando óculos escuros, muito branco e fatigado, mas
exalando ainda o que lhe sobrara do cheiro da maldade,
disposto ainda a proferir um último golpe de língua.
contra mim, contra mim, deus meu - logo eu, logo eu
que me pusera a estudar em segredo
a ciência das sendas de sua dialética maliciosa.
ele falava de Chet Baker enquanto eu o ia compreendendo.
sob a farsa daquela úmida floresta de pelos havia um único e sincero apelo:
que eu guardasse no meu coração a sua sequidão,
a sua solidão etílica, a sua doença fálica,
a festa falaciosa de um menininho desamparado.
o lobo deve ter sorrido, insistindo na mentira da matéria.
e, despedindo-se ligeiro, disse-me, com sua imensa boca de lobo cerrada
(mas deixando escapar pelas brechas da dentição
uma baba que falava, articulada): estamos sempre fadados ao fim.
talvez, ele quisesse ser revelado. talvez, quisesse ser parido por mim.
e foi por isso que me privei de lhe mostrar a força do meu ventre:
porque estaria, estupidamente, entregando-lhe nas mãos a minha glória,
quando ali eu queria lhe dar, sabiamente, a minha burrice,
a minha preguiça, a minha desonestidade.
não cuspi o menino nas fuças do lobo - meu jeito de devorá-lo.
deixei-o afogar-se em sua própria seiva lamacenta de dúvidas,
fazendo, assim, com que ele pendurasse em minha parede uterina mais uma dívida.
pois que agora quero falar com você, lobinho
(lobo mau, tão mau, tão bonzinho): sim, eu o sei.
apesar do meu modo de vida vermelho, e da cesta cheia de frutas podres,
eu também sou lobo. e, em um dia de escandalosa fome, engoli a minha avó.
hoje, com a perícia ancestral de quem carrega uma velha na barriga,
posso farejar a sua presença dentro de qualquer silêncio.
-
(texto e ilustração de amanda moraes)
23 notes · View notes
zinesumarex · 6 months
Text
Tumblr media Tumblr media Tumblr media Tumblr media Tumblr media Tumblr media
Miles deixa o encontro um tanto contrariado.
Ainda tentando assimilar tudo que ouviu sobre Sumarex. Falta o mínimo para decidir o que fazer. Mas com toda certeza ele pedirá aquele bom e velho conselho à senhorita Agoreth.
No caminho, Robert Miles lembra-se do seu remédio: a bebida. Ele transpira frio. Seu colarinho parece estar mais apertado. Seus passos ganham um ritmo apressado e tortuoso. Sua mente não é capaz de processar as implicações.
Abre o carro e se assusta com o alarme que esqueceu de desativar. Já trêmulo, deixa o molho cair no assoalho duas vezes antes de recobrar uma certa habilidade, ligar o veículo e sair fritando os pneus rumo à agência, o Depto dos Vigias da Colônia.
Por um instante todo seu treinamento psicológico não passa de um discurso distante e inoperante. Porém, o que Miles não faz ideia é que, enquanto deixava o local, estava sendo vigiado com cuidado.
Tumblr media
Um Merovingi; agentes do nível A de execução, os primeiros cem treinados.
Os homens também são conhecidos como Meros. As mulheres geralmente são chamadas As Marias, mas o termo Merovingis se aplica à todos eles.
Popularmente são retratados como vampiros ou até mesmo como Lucifer. A característica principal de um Merovingi são os cabelos longos, mas nem todo Merovingi tem cabelos lisos. Inclusive há quem ostente longos dreadlocks.
As mulheres não exibem seus cabelos longos em público. Quando são vistas em seus círculos, usam rabos-de-cavalo.
Exímios articuladores, argumentativos, sedutores. Usam sempre a mentira e a bajulação como artifício. Apesar de possuírem habilidade dialética ímpar, partem sempre de premissas distorcidas e são violentos quando suas hipocrisias são expostas. A luxúria é o carro chefe e eles estão à frente de todos os processos de aliciamento dos consumidores por objetos inadequados, desnecessários, venenosos, parasitários e insustentáveis através do modismo e da influência.
Mas qual razão Miles estaria sendo observado por um agente do alto escalão? Ele não tem mais nada pra fazer nas nuvens de sua grandeza intelectual?
Certamente diz respeito ao momento de confusão de Milles e o desaparecimento de Pilares. Bem como todo despreparo apresentado pela agência local, e as circunstâncias pela qual a Colônia Sumaré está prestes à vivenciar.
Tumblr media
Chegando na agência, Miles encontra Agoreth no corredor principal com aquela cara de poucos amigos. Os dois caminham em silêncio até a sala de Miles. Ele só pensa no primeiro gole que dará para recobrar a sanidade.
Depois de três doses do seu uísque predileto, finalmente começou a falar. Contou à Agoreth tudo que conseguiu lembrar e entender do encontro que teve com o ex-agente D não identificado.
Ela ouviu calada, do início ao fim.
Quando Miles terminou, Agoreth suspirou, caminhou até à mesa onde as garrafas estavam, serviu-se de uma bebida qualquer e propôs um brinde, num gesto pra lá de estranho.
Miles brindou e perguntou sobre o agente Chavoso, como se quisesse esquecer o que acabou de ver.
Tumblr media
Agoreth explicou que ele havia sido enviado à Área Cura da Colônia para descobrir o paradeiro do homem-porco e tentar resgatar Pilares. Estavam apenas esperando Miles retornar para decidir o nome da operação, já que ele adora ser a pessoa que faz isso.
"Operação Bacon-Man..."
"...é pra abrir o apetite." - ele completa.
"Gostei." - Agoreth visivelmente aprova o nome apenas para terminar o assunto.
"Miles, já passa das treze horas... vamos antes que a feijoada acabe..."
Ninguém pensa de barriga vazia.
Tumblr media
2 notes · View notes
venturama · 7 months
Text
Tumblr media
Trivium: Gramática, Dialética (Lógica), Retórica
Tumblr media
Quadrivium: Aritmética, Geometria, Música, Cosmologia (Astrologia/Astronomia)
2 notes · View notes
marginal-culture · 1 year
Text
AMOR <3
não é o uso do outro, para atender nossos desejos pessoais e egoísta de solidão/carência... o amor é tendência expansiva, é despir-se da sua personalidade e tentar entender o mundo do ponto de vista do outro, com o que ele viveu, com seu histórico, com seus valores e não com os meus. pq se não vc deduzir que oq o outro faz é uma insensatez, pq eu no lugar dele não faria, mas ele não é você. E ele não é inferior a você, pq ele tem outro ponto de vista que vc se dispuser a aprender agrega ao seu. Eu te ofereço o meu mistério em demanda do teu, eu não sou dono de nenhuma verdade, a verdadeira empatia é querer ver o mundo por mais um ângulo além do meu, tão importante quanto o meu, eu vejo o mundo pelo teu ângulo e te ofereço o meu ângulo, te ofereço o meu mistério e saímos fazendo uma dialética, tese, antítese e síntese.. saímos os dois maiores juntos, se eu não me considero dono de nenhuma verdade e tenho ânimo de aprendiz perpétuo. Isso enriquece o sentimento amoroso, eu quero entender o mundo como você entende, inclusive para te ajudar e você me ajudar. Trocando nosso ponto de vista e crescendo juntos. Curiosidade no amor é fundamental.
7 notes · View notes
o-druida-ebrio · 2 years
Text
Tumblr media
- Heráclito de Éfeso
Nenhum homem pode banhar-se duas vezes no mesmo rio. Pois na segunda vez o rio já não é o mesmo, nem tampouco o homem. Assim, tudo é regido pela dialética, a tensão e o revezamento dos opostos. Portanto, o real é sempre fruto da mudança, ou seja, do combate entre os contrários.
23 notes · View notes
inutilidadeaflorada · 2 years
Text
A Persona Cristal em Jardins Holísticos Apostando Erotismo
Meu tempo em desleixo Cava sob teu peito argumentos Vazios que rimem pétalas desperdiçadas Me queres outra vez para celebrarmos o abandono A espera é um réquiem Entoado ao futuro de pulmões Um cântico dos afogados Que murmuraram teu nome ao contrário Eis um boto e uma sereia Contraindicando malícia Inventando melodias instáveis Impondo nudez em sua graça Mastigo teu ruído como um faminto Teu perfume fim de feira Me espera atrás de luzes de quilates inúteis E eu saberei se posso difundir-me em teus hábitos Para além de uma química nefasta Não posso ouvir meu peso em moedas Pois uivo ao delírio de minhas infinitas feridas Engatilhado ao complexo de um disparo cômico Eu troco de intenções Em um balé de terminologias Me tema, eu sou raiva e rancor Gero em mim uma química além da vã tentação Eis um segredo, ossos e fios de cabelo Lhe presenteio com as sobras e areias das guerras Funda-os no calor de minhas fornalhas Onde hei de gestar tua riqueza Necessitados de mim em suas mil facetas: Me querem estrela, me querem jovem Como farmácia, guerra, entretenimento, Dialética, dieta, flores, pecados e Fausto
16 notes · View notes
schizofia · 2 years
Text
Definição de rizoma
Tumblr media
Qualquer definição é um trabalho herético. Definições deixam de lado o que importa. Ao invés de nos perguntarmos "o que um rizoma?" é melhor nos questionarmos: "do que um rizoma é capaz?"
1° e 2° - Princípio de conexão e de heterogeneidade
Tumblr media
O rizoma não tem começo e nem fim. Qualquer ponto do rizoma pode ser conectado a outro. Isso o difere muito da "árvore".
A história da filosofia gosta muito de árvores. As árvores, os sistemas, operam na chave da hierarquia. Temos conhecimentos superficiais que se subordinam a conhecimentos mais profundos, primitivos, originários. Como exemplo, olhe a árvore metafísica de Descartes, descrita nas Meditações Metafísicas. No topo, nos galhos, temos a engenharia, a medicina, a moral; todos esses conhecimentos são pautados por um tronco, a física, física mecanicista que dita as leis que governam os corpos extensos; e por fim, abaixo dessa física, encontramos a base que sustenta tudo. A raiz da árvore do conhecimento é fundada na metafísica. A metafísica, o além da física, funda a física na medida que ela nos provém com os conhecimentos mais precisos acerca da realidade, o qual a ciência dependeria. Desta forma, temos uma ordem, uma hierarquia de conhecimentos subordinando uns aos outros. Violar essa ordem é um erro, um crime.
O rizoma, por outro lado, opera com base nesse crime. Cada ponto no rizoma, cada área do conhecimento, remete-se a outra indefinidamente. Sem fim. Diferentes regimes de signos são colocados em jogo, diferentes estados de coisas. "Um rizoma não cessaria de conectar cadeias semióticas, organizações de poder, ocorrências que remetem às artes, às ciências, às lutas sociais" (Mil Platôs Vol. 1, p.23).
3° - Princípio de multiplicidade
Tumblr media
"As multiplicidades são rizomáticas e denunciam as pseudomultiplicidades arborescentes." (Idem)
A multiplicidade provindo da árvore é "múltipla". É preciso atentar-se a palavra. Ela somente é "múltipla" mas não é multiplicidade em si. Quando enquadrada na forma do substantivo, a multiplicidade torna-se uma psuedomultiplicidade na medida que ela entra no jogo da oposição de predicados (a boa e velha dialética).
"O múltiplo opõe-se ao uno. "
Mas aonde que está o problema desta afirmação? Pois ela não captura o real movimento da multiplicidade. A multiplicidade é anterior ao conceito. Isso porque, o conceito depende da identidade. Ele depende da estabilidade do objeto e, principalmente, do sujeito que pensa esse objeto. Se não há sujeito, não há conceito, não há...
O erro está em dizer que não haveria pensamento. O pensamento, ao contrário do que muitos pensam, ocorre, não por conta do sujeito, mas através do sujeito. O sujeito é apenas o veículo do pensamento, este pensando e criando, criando (sem querer) o sujeito na medida em que ele pensa o mundo.
"Uma multiplicidade não tem nem sujeito nem objeto, mas somente determinações, grandezas, dimensões que não podem crescer sem que mude de natureza" (Idem)
Não existem pontos, muito menos posições em um rizoma. temos apenas linhas. As conexões formadas pelas multiplicidades, a sobreposição de diferentes dimensões (dimensões, os regimes das diferentes multiplicidades) formam o plano de consistência. Esse plano vai crescendo cada vez que se adicionam mais multiplicidades. Mas a multiplicidades se definem pelo que escapa o plano de consistência.
Mas pelo que a multiplicidade se define? Pela linha abstrata. A linha abstrata. ou linha de fuga, desterritorialização, muda de natureza no momento em que ela se conecta [a outra multiplicidade]. A linha de fuga opera 3 operações:
faz um limite ao número de dimensões que a multiplicidade pode preencher;
a impossibilidade de uma dimensão suplementar;
o achatamento de todas as multiplicidades.
O terceiro ponto faz com que todas elas adentrem um mesmo plano de consistência (ou uma mesma exterioridade). Estando todas no mesmo plano, não há possibilidade de transcendência ou de hierarquia. De forma semelhante opera o segundo ponto. No momento a linha de fuga tenta formar uma dimensão suplementar, subordinável a uma outra dimensão, a multiplicidade muda de natureza. Ela muda de regime. Assim há sobreposição de multiplicidades e constante transformação de sua natureza. Há sempre constante criação de dimensões. N dimensões. Mas o número de combinações da multiplicidade, apesar de beirar o infinito, não é infinito. Ela possui um limite imanente, traçado pela própria linha de fuga [que define a multiplicidade pelo seu exterior].
"As multiplicidades planas a n dimensões são a assignificantes e assubjetivas. Elas são designadas por artigos indefinidos (é grama, é rizoma...)" (Idem, p. 25)
4° - Princípio de ruptura assignificante
Tumblr media
É impossível impor um significado ao rizoma. Dar significado é esquartejar, cortar a realidade. É impossível cortar o rizoma. Afinal, dá em nada. Quanto mais cortamos, mais eles se proliferam. Ele pode ser quebrado em qualquer lugar, que ele retoma em uma de suas outras linhas. "Todo rizoma compreende linhas de segmentaridade segundo as quais ele é estratificado, territorializado, organizado, significado, atribuído, etc..." (Idem). Contudo, ao mesmo tempo que isso é verdade, ele também possui linhas de desterritorialização, linhas estas que fazem com que ele "[fuja] sem parar". Ele sempre escapa ao significado. Ele nunca pode ser perfeitamente enquadrado pelo conceito.
O processo de fuga é imanente ao rizoma. Sempre que há significação, estratificação, há a conversão do restante que escapa a significação em linha de fuga. As linhas que escaparam, entrelaçam-se com outras linhas de fuga, formando novamente o rizoma.
"É por isto que não se pode contar com um dualismo ou uma dicotomia, nem mesmo sob a forma rudimentar do bom e do mau" (Idem, p. 26)
Em outras palavras, é tudo tão arbitrário que nenhum dualismo suporta sua própria significação. Há sempre algo que escapa a significação.
Ao mesmo tempo que isso é uma maravilha, aí que está o perigo. Pois sendo tudo arbitrário, com a linha de fuga sempre escapando a estratificação, temos a chance de a linha de fuga, em sua reconstituição, ser restratificada pelo poder, ser cortada pelo significante, de modo que, volte o sujeito, e tudo que vem junto dele: as fantasias edipianas, as fantasias nazistas, etc...
"Os grupos e os indivíduos contém microfascismos sempre à espera de cristalização" (Idem)
A linha de fuga pode tornar-se uma linha de suicídio, uma linha de investimento fascista. Mas é aí que está a beleza do rizoma e a possibilidade do novo. Sempre há risco, sempre há perigo. O "bom e o mau" são produtos temporários da estratificação do rizoma. Eles são destruídos através do combate, da confrontação. A luta coletiva força uma nova restratificação, um novo sentido ao rizoma... que enfim dessa vez, escape da linha suicida.
Tumblr media
10 notes · View notes
semiopolitica · 11 months
Text
Democracia: destino e desejo
Tumblr media
    A diferença entre pré-Modernidade e Modernidade é aquela entre destino e desejo. Para as sociedades pré-modernas, o destino, transcendentemente posto, está traçado e temos que segui-lo. Para as sociedades modernas, é o desejo imanente que guia nosso caminho. 
    Por isso Spinoza é o filósofo por excelência da entrada na Modernidade, pois é ele que faz a passagem da transcendência à imanência. Essa imanência é divina e somos todos emanações infinitas de Sua infinita magnitude. Neste aspecto, o filósofo português-holandês, que escreveu um Tratado Teológico-Político, é o verdadeiro principiador da democracia moderna. Esta seria o regime imanente do desejo, o que significa que preferimos sempre governar a nós mesmos (seguir o desejo) do que sermos governados (seguir  o destino). 
    A imanência do desejo em Spinoza é modulada por dois afetos principais: paixão (passio) e conatus. A primeira é alegre quando aumenta o desejo e triste quando o diminui. Conatus, por sua vez, diz que todo Ser quer prosseguir. Por isso, conatus é a própria vigência da imanência: antes de seguir a algo, o Ser deseja prosseguir sem alvo a seguir. Seguir por seguir. 
    Se Spinoza permite passar da transcendência à imanência e com isso justificar a democracia através de uma teologia imanente, mesmo assim ele não consegue responder a uma pergunta básica: e se ser governado for melhor do que governar? Hobbes havia fundado sua teoria do Estado (Leviathan) no afeto do medo: por medo entregamos a soberania de nosso desejo ao Estado. Spinoza responde justamente a essa teoria hobbesiana, pois considera que é melhor a democracia, já que neste regime podemos somar os esforços pelo lado do prazer (paixão alegre) e reduzir os danos (paixão triste). A teoria política de Spinoza é aditiva: dois cooperando é sempre melhor do que apenas um solitário. É melhor juntar os esforços, pois assim cresce o conatus. A democracia é "naturalmente" melhor, e natureza é Deus. É uma explicação ainda teológica, mas imanente. 
    Mas por quê muitos preferem ser governados? Já havia surgido, desde o século anterior, por La Boétie, o tema da "servidão voluntária". Hobbes deu sua versão dessa servidão, mas em Baruch perdemos esta justificativa. Para, portanto, darmos um passo realmente para dentro da Modernidade, é preciso esperar Hegel. Com o filósofo alemão, a teoria da imanência e do desejo sofre um corte, uma ferida. Como todos sabem, o nome desse corte-ferida é "Espírito" (Geist). 
     Hegel diz que "O Sujeito é a Substância" e não mais Deus. Na ambiguidade da palavra "sujeito", que é tanto aquele que sujeita, quanto aquele que é sujeitado, mora a passagem decisiva para os tempos modernos. Essa ambiguidade deriva da contradição aberta pelo Espírito: aquele que não sendo, é. Pelo Espírito a Substância ganha subjetividade e reflexão, pois pode pensar a si mesma, ao negar-se. E com isso pode governar e ser governada. 
    É assim que Hegel funda sua dialética do Senhor e do Escravo. O primeiro não tem medo e pode governar. O segundo tem medo e é governado. E é assim também que a psicanálise pode complexificar a teoria do desejo, entendendo o jogo pulsional sadomasoquista. Há também gozo quando se é governado (possuído). O mais importante é que o desejo deixa de ser meramente aditivo, para se tornar divisível (e multiplicável). 
    A dialética do Senhor e do Escravo define portanto uma relação de co-dependência: o Senhor não poderia existir sem o escravo; o Escravo só é escravo diante de um senhor. É uma relação assimétrica que chamamos de "Poder". O Poder é a assimetria da relação entre A e B: AB é diferente de BA; a ordem dos fatores altera o sentido. A partir dessa dialética, Hegel consegue obter uma teoria de Estado que prescinde de justificativa teológica, mas que também não é imanente como em Spinoza. Ou mais precisamente: não é "horizontalista" como em Baruch. As relações não estão no mesmo "plano de imanência" para falar como Deleuze (que abertamente é um spinozista contra Hegel). 
    Por outro lado, Marx queria virar Hegel de "ponta-cabeça". Isso faria os Escravos governarem, o que geraria o paradoxo dos escravos virarem Senhores, e os Senhores escravos. Por causa disso, muitos marxistas, a começar por Toni Negri, acreditam que a teoria comunista de Marx é um retorno à imanência horizontal de Spinoza: não haverá mais senhores nem escravos, apenas formas aditivas (cooperativas) de autogoverno da "Multidão". O problema dessa leitura é que a sociedade comunista seria uma sociedade sem Poder, pois o Poder é a assimetria das relações.
    Ou ainda em termos mais drásticos: seria uma sociedade sem desejo. Pois o desejo a partir de Hegel deve se fundar não numa adição positiva entre duas paixões, mas numa negação divisiva: contradição. Em outras palavras, deve gozar por governar e ser governado. Kant havia proposto a ideia de uma lei de governo que poderia ser aceita por ser autoimposta: a lei que obedecemos é a lei que nós mesmos nos impomos. Ou ainda, colocando em termos propriamente modernos: o destino que seguimos é aquele que desejamos. O destino foi proposto por nosso próprio desejo. O problema é que em Kant chegamos a uma aporia: se o destino é ruim, trágico, catastrófico, é porque assim o desejamos. Se a democracia é injusta, é porque secretamente quisemo-la assim. E toda sorte de injustiça ficará justificada nesta aporia. 
    Assim, a solução não é nem a visão ingênua de Spinoza da "infinita imanência", nem as antinomias aporéticas de Kant, que geram círculos viciosos. Mas tampouco é também a visão hegeliana que credita ao Estado a superação (aufhebung) dos problemas imanentes da democracia e dos choques entre o positivo do governo e o negativo dos governados. E finalmente não é a visão comunista de uma sociedade sem Poder (sem governantes e sem governados).  
      Podemos sugerir como conclusão (e solução) uma ideia a partir da obra do sociólogo Niklas Luhmann (que leu Marx). A democracia não é um regime que rejeita o Poder, mas o coloca como meio de governo cindido. O Poder não é o fim para os meios, mas o meio para os fins. Na democracia o governo tem o Poder, mas este Poder é a expressão de um meio (político) cindido, dividido. Isso significa que a democracia é o reino de pelo menos dois paradoxos: a impotência dos poderosos e o poder dos sem-poder. A democracia é a própria expressão desses paradoxos, que não podem ser "superados" pelo Estado, mas desdobrados pela História. Esses paradoxos têm nome e já sabemos quais são: a impotência dos poderosos é destino; a potência dos sem-poder é desejo. 
1 note · View note