Tumgik
#estralo ao virar
forumaberto · 1 year
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Rolamento da coluna de suspensão • Linha VW
Detalhe da montagem do rolamento do coxim do amortecedor correto para a linha VW, chamado por muito de rolamento de peso, rolamento da coluna ou coxim rolamento. É comum nestes veículos que a montagem do rolamento errado gere ruídos muito incômodos ao virar o volante. 0:00 Dica remoção amortecedor lado direito VW1:00 Desgates de coxins linha VW1:20 Rolamento da coluna do amortecedor3:24 Busca…
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empath-y-1998 · 4 years
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oi linda, amo vc linda
Oii, agora é minha vez de pedir desculpas não é mesmo, eu te entendo se você não me responder e também entendo se você quiser continuar sem falar comigo, eu vou respeitar a tua encolha, respeitar seu espaço, mais acho que agora eu consegui te e me perdoar de todas as coisas que eu pensei que fosse obrigação tua mais na verdade era tolice minha, consegui virar a pagina e não voltar mais nas coisas ruins que aconteceram, só guardar as coisas boas que a gente viveu, então, desculpas em depositar coisas demais em você, desculpa pela minha grosseiria naquela festa, desculpa ter sido mal educada com você a frente de todo mundo, desculpa pelas minhas criancices, desculpa por ter te feito mal, eu espero que um dia você me perdoe de coração. Eu cheguei a pensar que nunca ia te desculpar, o tempo passou e eu pensava em falar com você na formatura mesmo achando que mesmo que até lá eu não conseguisse tirar aquele sentimento ruim do peito, raiva magoa... cheguei a pensar que na formatura se for em ordem alfabética nossa cadeiras podem vi a ser lado a lado por que seria o P e depois o Y então a gente ia ficar de cara feia na formatura mais vejo que nada melhor que o tempo pra algumas coisas, e no qual onde era um sentimento ruim hoje é saudades, por mais que esse tempo foi um ano quase, mas hoje me peguei pensando em como era bom você vir me perguntar como eu estava quando eu sumia quando vinha pra minha casa, como era bom eu ser eu mesma sem pensar que dependendo do que eu falasse fica-se meio estranho, como seria se a gente tivesse feito a tatto juntas como era o planejado, graças a Deus que a gente não fez por que a minha mãe ia perceber uma hora depois de tanto tempo eu em casa, mais ao mesmo tempo me da tristeza que acho que não vai ter outra pessoa na qual eu um dia tenha vontade e confiança de fazer, sinto muita falta sua amiga, sinto falta das tuas risadas escandalosas e engasgadas, do teu jeito de ver a vida, da sua positividade, de compartilhar tudo que a gente já viveu sempre se relembrando e nunca deixando nossa historias morrer, principalmente que a gente morou junto e depois se mudou e superamos aquilo tudo, até saudades de levar verdurinha pra você desconfio que até minha mãe sente saudade de eu falando de você por que por um longo tempo ainda ela insistia de eu te legar coisas e eu dizia não, saudades de você quer colocar a vida nas redes sociais, sinto saudades em dividir minhas conquistas com você, você foi umas das pessoas mais especiais e que no qual mais me ajuda a crescer até hoje em dia longe, as vezes me pego vendo um filme ou uma serie sobre amizade ontem em especial eu tava assistindo e tinha duas amigas que completavam 33 anos de amizade e uma delas morreu, ai hoje na reunião eu tive a aquele estralo na consciência que eu não quero morrer sem te falar tudo isso a gente nunca sabe o dia de amanha, ainda mais no meio dessa pandemia, eu to matutando que falam que é na faculdade que você consegue uma amizade verdadeira pro resto da vida e eu deixando a minha ir embora, nem sei se você vê o tumblr mais achei o local mais apropriado pra vir te falar tudo isso, e vou colocar pra todo mundo ver, e se eu morrer vou mandar nos dois que um dia se vai ver isso. Em fim espero que você seja muito feliz e realize todos seus sonhos, mesmo longe estou rezando por você, conta comigo pra todo sempre.Te amo amiga
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rienestimpossible · 5 years
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Acostumada a andar pelas ruas daquela cidade grande, sabendo ser possível encontrar conhecidos a cada esquina, apesar de seu tamanho, me surpreendi ao ver novamente aquele mesmo cara parado em frente ao sebo que eu procurava.
Minha parte sonhadora poderia achar que era obra do destino e ri comigo mesma antes de pedir licença ao passar por ele para entrar, tendo com certeza um semblante no rosto alegre demais para quem não era tão apaixonada por sebos. Ainda contente com meus devaneios de histórias românticas, adentrei mais no ambiente e busquei a sessão de poesia. Não que eu fosse a pessoa mais entendida do assunto, era simplesmente minha mais nova obsessão - e elas sempre mudavam. Quem sabe qual seria a do próximo mês?
Focada nos títulos e inebriada com o cheiro do incenso vindo dos fundos, agachei-me para ver melhor e tive apenas tempo de registrar o pequeno vulto que vinha em minha direção, antes de cairmos eu e ele no chão do estabelecimento. Bati com o braço, não de forma graciosa, na estante a qual, instantes antes, eu tinha achado o livro que queria. Com a poeira que levantou e caiu como flocos de neve escuros, espirrei, é claro. Abracei o pequeno corpo em cima de mim que ria descontroladamente, sem noção do perigo.
É claro que era uma criança. Não podia ser o moço da entrada e, com certeza, não seria o início de uma história romântica. Sentei-me com a criança no colo e verifiquei que não havia machucados, ao mesmo tempo que uma mãe -supus eu- desesperada colocou a cabeça entre duas prateleiras e a procura do filho arregalava os olhos ao nos ver naquele deprimente estado. Eu sorri para tranquilizá-la, enquanto recebia diversos pedidos de desculpas.
Ainda sem me levantar, os observei partindo de mãos dadas para fora do sebo, enquanto o pequeno menino levava uma bronca. Estendi o braço para pegar o livro e senti uma fisgada de dor no braço, não contive a careta. Balancei a cabeça e comecei a me levantar, sem apoiar o braço no chão, quando uma mão masculina apareceu no meu campo de visão.
Peguei-a e olhei para cima. Claro que era o moço da entrada e, com toda certeza, ele tinha visto a cena toda. “Que desastrada” ele deve ter pensado. Olhei em seus olhos castanhos, que denotavam uma preocupação sincera diferente do sorriso que tinha no rosto, e não contive o riso da situação toda. Quase esqueci da dor até ficar de pé e ajeitar os ombros.
Ele soltou minha mão e se abaixou. Eu apenas observei o cabelo bagunçado pegar o livro que tentei anteriormente e caminhar para o caixa. Minha mente teve um estralo e corri atrás dele. Que absurdo.
-Moço, eu estava atrás desse livro. - e foi a única frase deprimente que consegui pensar naquele segundo. O caixa nos observava atento, esperando. O cara continuou pagando sem se virar. Pasma, observei-o pegar a sacola e sair do sebo. É claro que fui atrás, pelo amor de Deus. Eu merecia pelo menos uma resposta.
-Ei, não se faz assim! Eu sei que você viu a situação toda! - falei alto andando atrás dele. Talvez alto demais. Ele parou e virou para me observar.
-Você é sempre tão barulhenta? - a voz era dura e macia ao mesmo tempo. Algo se arrepiou nas minhas costas.
-Você sempre pega o que não é seu? - resmunguei em troca, claramente perdendo a razão da sensatez. Eu podia pegar outro livro, não era nada demais.
Foi então que ele riu. Ele realmente riu na minha cara e estendeu a sacola para mim. Encarei-o confusa.
-E então? Não vai pegar de volta? -perguntou, debochando, enquanto sacudia a sacola a minha frente. Eu não sabia como reagir. Eu queria tanto aquele livro? Por que diabos o tinha seguido? Pela injustiça do mundo naquele dia?
-Não. Tudo bem. Foi só um momento impulsivo num dia muito longo. -respondi e registrei a surpresa em seu rosto. Sorri cansada, acenei e dei meia volta.
-Garota do sorriso, espera! -ouvi aquela mesma voz me chamar depois de ter dado alguns passos. Olhei para trás. -Eu acho que você precisa mais desse livro do que eu. Que tal você ler e depois combinamos de trocá-lo?
Absolutamente surpresa, apenas fiz que sim enquanto ele colocava a sacola na minha mão. Pegava o celular e abria a agenda de contatos. Recitei meu número ainda o observando e disse meu nome. Ele me disse o dele e partiu, sem mais nem menos. Apenas partiu. Eu o observei sumir rua abaixo e fui para o café aberto mais próximo no centro antigo da cidade.
Escolhi uma mesa próxima a janela, começava a chover. Peguei meu celular e tinha uma mensagem apenas de um número desconhecido: “Coloque gelo no braço. Aproveite a leitura.” assinado apenas como “G.P.”. Balancei a cabeça e mandei foto do livro sobre a mesa, sorrindo internamente.
Abri na primeira página, onde havia uma dedicatória. Entretanto, não foi a dedicatória que me paralisou, isso é comum em livros comprados em sebos, foi a assinatura no final: G.P.
Era apenas coincidência, não era?
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jkappameme · 6 years
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Acompanhante de Aluguel (Longfic 11/15)
Tumblr media
Jeon Jungkook Autora: Agness Saints Gênero: Comédia, Romance Sinopse: Parecia piada, quatro anos de um relacionamento frustrante havia chegado ao fim, mas Haneul ainda te atrapalhava a vida. Se ele não tivesse arranjado um namoro relâmpago, você não precisaria demonstrar que está bem também, que não ficou para trás. Você não precisaria, principalmente, contratar aquele maldito acompanhante de aluguel.
Moreno. 1,80 de altura. Porte atlético. Bonito. Inteligente. Educado. Agradável. Sabe estabelecer uma conversa. Sem compromisso emocional, apenas financeiro. Valor sob consulta. Interessados: [51] 5782-4158
Esquece o “parecia”, a vida é mesmo uma piada pronta. Contagem de palavras: 11.576 Avisos: +16.  A história faz parte da série puerlistae au. Parte: 1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7 | 8 | 9 | 10 | 11 | 12 | 13 | 14 | 15 | 16 Playlist. | Playlist 2. | Playlist 3.
A iluminação proveniente da tela do celular faz parte de um grupo pequeno de luzes que nos guiam pelo caminho; junto de postes espalhados esporadicamente e casas com luzes acesas. Não há lua no céu ou carros por aqui. A noite é quente, nublada e úmida. E enquanto tento administrar todas as sensações e sentimentos que me rondam, tenho Jungkook bem em minha frente. Seu aroma tropical invadindo a noite e sua imagem invadindo meu cérebro, se mesclando com a tentativa de arranjar respostas aos tantos porquês.
Depois do meu fracasso explícito na biblioteca ontem, minha noite foi assombrada por pesadelos e devaneios ruins. O cansaço me pegando os ombros agora como um lembrete da angústia vivida. Que ainda vivo. Desde então retomei minha busca desenfreada por um caminho alternativo. Um caminho seguro e bem planejado. Uma solução que me faça mudar o rumo dessa noite. Mesmo que eu já tenha analisado todas as minhas opções ontem, mesmo que eu já tenha ido e vindo por todas as alternativas existentes. Eu preciso continuar tentando. Porque não quero colocar o que quer que tenhamos aqui em risco. Não quero ser vencida pela ideia estapafúrdia de mamãe.
Não quero.
Até porque ainda é a família de Jungkook. Pai, mãe e a irmã mais velha. A família toda. É como invadir uma morada sem permissão, invadir mais uma parte da sua vida. E não é como se eu não quisesse saber de cada pedaço dela, eu quero. Mas da forma justa e não por conta de um anúncio de acompanhante de aluguel furreca.
Pensei em uma viagem da família Jeon para o Chile. Alaska. Madagascar. Júpiter. Para qualquer lugar longe o bastante para dar fim a esse encontro desastroso no fim de semana. Um lugar longe o suficiente para meus pais não solucionarem a questão com passagens compradas em cima da hora, sem planejamento algum.
Mas quanto mais eu pensava sobre, mais certeza eu tinha que a ideia era tão ruim quanto contar toda a verdade para eles.
Tentei então enumerar minhas preocupações, tentei enumerar meus problemas, organizá-los em uma lista para que, pelo menos, meu caos estivesse em ordem. E consegui por uns pares de horas cretinas. Só uns pares de horas. Porque pouco depois tudo desandou quando vi Jungkook atravessando as catracas da ala masculina. 20 minutos atrasado. A calça jeans clara e a camisa xadrez o acompanhando em um caminhar apressado. Toda a listagem feita se embaralhou tragicamente e ele a encabeçou sem esforço algum.
Porque aqui, agora, enquanto entendo que nenhum caminho alternativo de fato existe nesse cenário coberto de teias mentirosas, percebo que não é só Haneul que me ronda a vida inteira. Jungkook também é o início, o meio e o fim. Ele vem como contraste no piche grotesco que é meu ex-namorado, que é meu karma e inconsequência. Ele se esparrama como ramos e flores rastejantes, minha solução. Os dois em volta de mim, interligados de uma forma imunda e injusta.
E o “e se” passando a ser agora a maior das minhas lamentações.
E se eu tivesse encontrado Jungkook muito antes de ter encontrado Haneul?
— Vire à direita em 100 metros.
A voz feminina que salta entre nós é a de seu celular. E é a única que vem sendo ouvida há dez minutos, quando saímos da estação de metrô. Não que antes nossas vozes estivessem vindo com facilidade numa conversa despretensiosa. Porque nunca fomos assim e não seríamos agora. Principalmente agora. Tirando meu transtorno interno e secreto, nós ainda estamos afogados no que podemos e o que não podemos fazer. O fantasma de um beijo que não aconteceu ainda pairando sobre nós. Um cumprimentar esquisito de dois beijos seguidos no rosto e olhares que não conseguem se sustentar. E tudo se parece incerto. E até que seria engraçada essa situação toda se eu não estivesse a ponto de acabar com tudo isso.
Apresso o passo ao atravessarmos mais uma rua esquisita e sem movimentação, o aplicativo de mapas em seu celular vibra volta e meia com uma nova instrução e nós seguimos. Seus olhos ainda plantados na tela e seu aroma tropical ainda invadindo a noite inteira. E não deixo de pensar que as coisas poderiam ser fáceis só por hoje.
Mesmo sabendo que não existe escapatória, tento vasculhar cada canto do meu cérebro a procura de um desvio; de uma resposta milagrosa que salve o que o destino reserva para essa noite. Mas o nervosismo borbulha tanto em mim, que não consigo sequer pensar direito. E a única coisa que arranjo é um emaranhado de problemas e soluções pela metade.
Sinto-me melancólica e derrotada; sinto-me um disco arranhado que repete sempre o mesmo trecho da música.
A rua de paralelepípedos é coberta por pontos de luz aleatórios. Um aqui e outro ali. Postes que funcionam e que não funcionam distribuídos pela calçada de maneira descuidada. Casas de um piso só com muros baixos. Na esquina um terreno baldio repleto de árvores e arbustos sem forma alguma. E, por um milésimo de segundo, me permito pensar sobre como o cenário é muito diferente dos que me acostumei. De uma rua paralela a da universidade para uma outra perdida na zona leste da cidade. Conexões de metrô que nunca me aventurei em pegar antes. É uma festa em um lugar esquisito.
— Falta muito?
Minha voz vem em eco numa rua estreita, fazendo-me perceber agora a vontade desesperada de fugir de mim, dos meus pensamentos. Cada canto do meu corpo vibra e eu me sinto nausear.
— Aqui diz que vamos chegar em uns dois minutos. — Fala sem me olhar. A voz saindo aérea enquanto ele faz uma menção rápida ao sacudir o celular. — Precisamos andar mais uma quadra e então virar a esquerda.
Faço uma careta de desgosto, mesmo sabendo que ele não me olha. Meu estômago se embrulha mais uma vez. Não há comida ou certeza nele. Só há uma imensidão de nada misturada com o cair da realidade me pegando aos poucos.
Jungkook para de caminhar por um tempo e depois retoma, os olhos mirando a rua e depois retornando à tela do celular. Caminhamos e caminhamos. Limpo o suor da palma de minhas mãos no tecido da saia e estralo os dedos logo em seguida.
E talvez minha inquietude repentina seja pela certeza de que assim que chegarmos à festa, eu não vou ter mais desculpa alguma. Também não vou mais ter tempo algum. Porque nada mais vai me impedir de puxar Jungkook para um canto e pedir para que ele faça seu papel de acompanhante de aluguel mais uma vez.
Um fim de semana em família em Busan.
E então, qualquer coisa que tenhamos aqui, vai desaparecer como a merda de um passe de mágica.
— Jungkook!
Eu saio estridente, mais irritada do que gostaria de soar. Sinto que posso explodir a qualquer instante por pensar em absurdos, estar prestes a fazer um absurdo e por eu me sentir um absurdo. Sinto-me a mil por hora de repente. Um desespero errado, desconexo. É quase uma realidade paralela.
Tenho vontade de dar pontapés e socos no ar. Porque merda. Merda. Merda. Merda. Essa situação é ridícula. Minha família com a família dele. Uma ideia imbecil que coloca as coisas em risco. Isso é... Argh!
E quando penso em engatar mais alguma frase em tom malcriado e sem sentido, Jungkook para, me fazendo parar abruptamente também. Um passo de distância entre nós e um universo inteiro de distância no que pensamos. Sei disso. Seus olhos se erguem depois de certo tempo, talvez segundos, minutos. Tudo parece intenso demais no universo explosivo que criei dentro de mim. Dois segundos para seus olhos se adaptarem e um girar de pulso para me iluminar com a luz artificial. Perco seu rosto no breu. Mas sinto que só agora percebeu que estou aqui também. E, apesar de me sentir exposta e envergonhada por dezenas de razões explícitas e secretas, me sinto um pouquinho melhor.
— O que foi? — Ele pergunta confuso. — Aconteceu alguma coisa?
— Esse lugar não é longe demais?
— Não, é virando essa esquina agora.
Meus olhos estão fixados nele, esperando que ele entenda que a pergunta não foi essa. Mas a verdade é que eu nem sei onde quero chegar com isso. Eu só preciso falar, falar e falar. Mesmo que não faça sentido algum. Quero fugir de tudo como uma boa covarde que sou. De mim, dele. Do que vim fazer.
— O que aconteceu pra ser tão longe? — Tento de novo. Minhas mãos apertando o tecido da saia em nervosismo. Um pedido silencioso de isenção de responsabilidade. — Não quiseram fazer na república da última vez?
Meu coração bate forte no peito por todos os finais ruins que imaginei para hoje. Em um devaneio positivo e minúsculo, ele aceitava toda essa ideia. Mas o pensamento foi tão rápido quanto veio. Porque sei que mesmo que ele aceite, as coisas nunca mais vão voltar a ser como antes. Como agora. E percebo que ainda que eu inicie uma briga raivosa com Jungkook nesse dado momento, nada vai conseguir tirar isso de mim.
Ele abaixa o celular, seus pés agora sendo iluminados pela luz artificial. Levo um tempo para lhe encontrar na escuridão da noite, uma varanda e um poste acesos me ajudando a encontrar suas feições. E fico presa ali por um tempo, nas pintinhas, nos segredos e nos seus etcéteras.
— _____, tá tudo bem?
Sofro um baque esquisito. Minha raiva ainda me toma o peito, mas não escapa pela boca. Pisco uma, duas, três vezes. Demoro um tempo para entender a pergunta.
— Por que tá me perguntando isso?
— Você tá estranha desde ontem. — Dá de ombros, mas não parece indiferente. — Tem alguma coisa que você quer me contar?
E então eu travo. Pernas, braços, mente e fala. Já não conseguia sair daqui, agora que não saio mesmo. Mental e fisicamente. Existe alguma possibilidade dele já saber? Existe alguma possibilidade de estar escancarado e só eu não perceber isso?
Tento engolir a saliva, mas ela tranca na garganta. Penso em cuspir ou vomitar. Nenhuma de fato é uma boa ideia. E continuo então só olhando Jungkook me encarar. A feição se tornando cada vez mais curiosa à medida que demoro a responder.
— Por que você... — Minha voz sai esganiçada. E ela sai antes mesmo que eu perceba. — Acha isso?
— Você parece nervosa. — Fala, e por um instante me parece chateado. — É o lugar? Juro que não é perigoso.
Contorço meu rosto em uma careta dolorosa. Não era pra ser assim.
— Não é isso.
Seu suspiro vem e junto ele sai em um sussurro:
— Então é diarreia?
— O quê?
Minha voz é alta em ofensa. Repito a pergunta em pensamentos para ter certeza do que ouvi. E não posso mesmo acreditar. Vejo Jungkook erguer os braços em defesa.
— Você tá toda encolhida!
E, de repente, me torno ciente de cada parte minha. Apesar de me sentir a ponto de explodir, meus braços estão enrolados ao peito, tão presos que quase me impedem de respirar. Meus olhos esbugalhados e minha boca em uma linha fina de apreensão. Eu pareço mais uma criança medrosa do que um personagem do GTA.
— Não é diarreia, Jungkook! — Quase grito frustrada, soltando meus braços. Por que ele é desse jeito? — Não é... Isso. Que saco!
Engatamos em silêncio outra vez. Mas ainda assim não me movo. Apesar da história da disenteria ter mesmo me pegado de guarda baixa, ela não consegue fazer com que eu me sinta menos miserável que antes. Ainda me sinto covarde e arrependida. Mesmo que nenhum pedido tenha sido feito até agora. Nervosa, mas não mais irritada.
— Você quer voltar?
— Voltar?
Não entendo.
— Você quer voltar para os dormitórios? Tá arrependida de ter vindo? Eu vou entender.
Quero sufocar um gemido doloroso de entendimento. Porque estou finalmente percebendo. Ele interpretou minha reação esquisita do jeito mais torto e cruel possível. É claro que sim. Até porque é Jungkook e ele nunca realmente escolhe a interpretação mais coerente. E me sinto mal. Porque quero estar aqui com ele. Apesar de toda a imundice que me ronda, Jungkook ainda é Jungkook.
— Não, — falo depressa. — Não é isso.
Penso num instante curto que preciso ser sincera, que precisa ser agora. Sinto uma necessidade extrema de cortar pela raiz todas as interpretações errôneas que ele está prestes a ter essa noite. Num impulso esdrúxulo e desleal, as palavras dançam na ponta de minha língua. Meu cérebro correndo pelos prós inexistentes e contras tão vastos. Mas assim como a coragem me veio, ela vai embora. Como aquele devaneio positivo. Quase não existiu.
— Tem a ver com Haneul?
Sua voz me vem certeira e meu cérebro se toma incolor. Não penso em nada e não sinto nada. Um, dois, três minutos. Quatro horas. Cinco dias. Sou vazio por uma eternidade de tempo enfiada em dez segundos de silêncio. Não existe mais resquício de ódio inconsequente, sem sentido, dentro de mim. Acredito agora que todo meu ser é de fácil acesso. Meu queixo caído e meus olhos arregalados. E com isso não consigo balbuciar nada além da verdade:
— É.
Não sei se respiro ou se todo o ar está trancado dentro dos pulmões. O cenário todo ao nosso redor é desconexo, como toda a noite que se seguiu até agora. Não tenho a mesma passageira coragem que tive há poucos segundos. Ela se esvaiu por completo. Um fervor começa arder em meu peito quando Jungkook dá um passo a frente. Ele suspira, sua feição moldada por sombras.
— Eu já sei que quem comprou o notebook foi Haneul, não você. — Revela. — Ele me contou.
O quê?
Pego-me submergindo na quebra do roteiro que criei. Sou interrompida na metade. Minha linha de raciocínio se perdendo e voltando sem saber ao certo o caminho que fez. Ainda é um vai e vem esquisito de sentimentos e sensações. Mas não existe mais ardor no peito ou mãos suando. Existe só a mescla ínfima de confusão e vergonha.
Levo um instante para recapitular, voltar no tempo e tentar pensar de forma coerente. Mesmo que essa tarefa esteja sendo difícil desde ontem. Apesar de me sentir aliviada pela mudança repentina de cenário, não deixo de me encolher em embaraço pelo que acabei de ouvir. Porque Jungkook realmente acha que esse é o motivo certo.
Eu não planejava manter segredo ou muito menos contar para ele sobre a origem do notebook de última geração. Porque, na verdade, nunca me pareceu um tópico problemático, nunca me pareceu um tópico necessário para se trazer à tona. Mas por todas as coisas que vem acontecendo, pela totalidade dos fatos e angústias reunidas, parece que a descoberta é muito mais importante e delicada agora.
— Quando você ficou sabendo disso?
Vejo-o cruzar os braços, a cabeça se movendo para olhar para os lados por alguns instantes. Ele parece desconcertado. E quando a explicação vem, eu entendo o porquê.
— Ele me contou assim que você foi ajudar Sorn.
E logo percebo que Jungkook se sente tão desconfortável quanto eu ao se lembrar daquele fatídico momento cretino. E, por um momento, eu me sinto grata pela empatia.
— Desculpa por você ficar sabendo desse jeito.
Ainda me tenho perdida com a pedra no meio do caminho. Ainda me tenho perdida no problema impensável que me caiu como um pedregulho preso no sapato. Mas não quero não me preocupar com o que tenho bem aqui. Não quero fazer pouco caso de algo que Jungkook pensa ser grande. Tento administrar então esse pequeno problema com o enorme que ainda pesa nos meus ombros.
E quanto mais o tempo passa, mais eu tenho certeza que preciso beber para encarar tudo o que é e tudo o que vem pela frente. Depois desse alarme falso, foi comprovado que não consigo passar por isso sem estar completamente alcoolizada.
— Eu não me importo. — Fala alheio a tudo o que se passa dentro de mim. — Até porque foi ele quem quebrou e era ele quem deveria pagar. Nada mais justo.
— É, mas... — Falo incerta, ainda me sentindo incoerente. — Eu deveria ter te contado. Você não ficou chateado?
— Não. É por isso que você tá assim? — Mas não respondo e ele entende do jeito que quer entender. Da forma errada. De novo. — Bem, eu já disse que não me importo.
Seu tom de voz vem firme, cheio de certeza. E há um silêncio. Um silêncio comprido em que ninguém se mexe. Eu aqui e ele lá. Três a cinco metros. Nossas vozes como megafones no meio da escuridão. E, nesse meio tempo, sinto que ele quer dizer algo a mais, mas que não diz. E penso por um instante no que mais pareço transparecer. É sobre isso o que ele pensa em dizer?
Penso de novo também que agora seria uma boa hora para lhe contar a verdade. E como seria uma ótima hora para se ter coragem. Mas é só um pensamento solto outra vez. Sem intenção alguma de se tornar um plano abrupto. Puxo o ar com força para dentro de mim, a luz do celular de Jungkook ainda ligada, iluminando agora parte de seu braço. Remexo-me no lugar, de repente, me sentindo presa não só emocionalmente, mas fisicamente também.
— Acho que tá na hora da gente entrar. — Fala sem graça, apontando para uma casa com luzes acesas que se pode ver aqui da esquina. — É ali.
A morada é de um piso só e não há muito que se ver daqui além de janelas com luzes intensas e o portão de ferro branco aberto.
— A-ah... — Volto meu olhar para ele. E entendo que não sou a única desconfortável. — É.  Aqui é muito escuro.
Ele acinte, a luz do celular sendo desligada e o aparelho guardado no bolso traseiro da calça.
— O bairro é residencial e a maioria é da terceira idade, eles dormem cedo. — Fala vagamente. — É por isso.
A informação vem desconexa no ar, assim como nosso pequeno silêncio. A mudança de clima já era óbvia, mas agora se parece extremamente palpável. Meu suspiro vem acompanhado de seu pigarreio.
— Acho que é mesmo hora da gente entrar.
[...]
Duas.
Não.
Três doses e meia de licor de lichia.
É. Foi isso. E uma cerveja. Duas. Não. Foi uma só.
Aperto os olhos e enterro meu rosto em minhas mãos. Estou sentada em um dos bancos na divisa da cozinha americana com a sala; um cômodo aberto com visão ampla para o jardim do fundo. E não sei se tenho dor de cabeça ou é só a fumaça excessiva que irrita meu nariz. Como também não sei se o enjoo repentino é da bebida ou da imbecil constatação de que, mesmo com o nível altíssimo de álcool rodando minha corrente sanguínea, o nervosismo não me abandonou. Pelo contrário, ele só se embebedou junto comigo. O que o deixa um pouco dramático demais. E um tanto quanto desesperado demais também.
Sinto uma necessidade de rosnar de raiva. Porque é frustrante. Eu não me sinto nada preparada, mesmo afundada em drinks e intoxicada com gelo seco de tutti-frutti. Não me sinto pronta para chegar em Jungkook e despejar meu drama familiar em forma de um pedido absurdo para estender esse lance de acompanhante de aluguel. Não que eu acreditasse realmente que em algum momento eu fosse me sentir preparada para isso. Mas eu tinha uma pontinha de esperança de que, pelo menos, agora a ideia de contar não fosse tão aterrorizante assim.
Solto um suspiro sofrido, a música alta buzinando nos meus ouvidos e eu tentando me manter equilibrada nesse banquinho de madeira. A cozinha é clara, com móveis populares e uma atrocidade de bebidas sortidas amontoadas no balcão que imita mármore. E enquanto tenho Jungkook na minha visão periférica, eu fito insistentemente a divisa de ambientes.
Toda a minha esperança depositada em destilados foi por água abaixo.
E eu não tenho um plano B.
A não ser que fugir seja considerado um plano. Se sim, então eu tenho um.
Meu cérebro é como uma máquina quebrada, eu tenho ciência disso. Mas não consigo não pensar. Não consigo não buscar um motivo para desaparecer daqui. Qualquer coisa que me tire do agora, que me tire do que eu vim fazer e que não fiz. Entretanto, quanto mais tento achar a saída, mais me perco. Eu poderia simplesmente sair correndo agora, não é? Mas o que eu diria para Jungkook amanhã?
É um labirinto cretino que me leva ainda mais ao centro do problema.
Não sei há quanto tempo chegamos, como também não sei exatamente como paramos aqui. Assim que passamos pela porta da república, eu só me lembro de nós dois agarrarmos copos de Soju e mandar ver em três segundos. Talvez por motivos distintos, talvez pelos mesmos motivos. Quem sabe a conversa de mais cedo tenha deixado Jungkook desconfortável a ponto de se embebedar nos quinze primeiros minutos. Quem sabe ele só tenha feito isso para sobreviver a essa noite. Como um pressentimento ruim.
E eu não o culpo em acreditar em um pressentimento, a propósito. Até porque ele não estaria errado, estaria?
Passo as palmas das mãos contra o tecido de minha saia, elas continuam suando de maneira vergonhosa e infantil. Na ponta da minha língua não existe nada além do gosto da mistura horrenda entre licor de lichia e cerveja. Não existem palavras, muito menos coragem. Não existe inclusive algo que me torne consciente das minhas ações.
Resvalo pelo banco e caio em pé, minha saia se demorando pelo assento até encontrar minhas coxas outra vez. Apoio-me no balcão ao meu lado, as frutas de plástico ali remexendo pela minha atrapalhação. Não sei o que pretendo fazer, só faço. Como num reflexo longo e duradouro.
Há uma música ao fundo, a mesma de antes ainda forte e alta. A batida não me é esquisita, talvez eu a conheça. Não sei bem. Talvez seja só meu cérebro me enganando pela repetição do refrão. Eu o ouvi há poucos segundos, não foi? Respiro fundo com a intenção de inspirar um ar sem que tenha aroma de tutti-frutti. Não tenho sucesso. Tateio o balcão por mais um tempo e, num vislumbre, ainda na divisa dos cômodos, caço Jungkook com o olhar.
E não demoro a encontrá-lo.
Lá está ele, ao fundo da cozinha. Suas costas em display e sua calça marcando bem a bunda quando ele se empina para alcançar sabe-se lá o que no armário aberto em sua frente. Um pedacinho de pele exposta da cintura e um suspiro escapando pela minha boca. Um misto de sensações e o desvio do meu objetivo. Ele é campeão de fazer isso.
Para piorar ainda mais meu nervosismo. Ou melhorar? A óbvia constatação de mais cedo foi que Jungkook está irresistível. Ridiculamente irresistível. Cabelos, piercings e a boca rosada pela bebida. Ele me tem na palma da mão, sabe-se lá desde quando.
Sinto uma fisgada do lado direito da minha cabeça; tento equilibrar os sentimentos. Dois tipos de nervosismo. E eu estou e sou fodida. E não faço ideia de como sair dessa situação toda. Até porque Jungkook nunca foi mestre em me ajudar nessas horas. Ele parece só dificultar a minha vida. Eu deveria saber disso. Já não bastasse eu ter que lidar com todo o meu caos interno, eu ainda preciso lidar com ele. Jeon poderia ser um cara não incrível, um cara sem coxas bonitas ou sem um nariz que enruga quando ri. Poderia, principalmente, ser alguém que não usa camisa xadrez de flanela e calça clara justa. E essa não é uma tarefa difícil, você sabe. Só agora consigo pensar em pelo menos três combinações de roupas incríveis e diferentes:
1) Um sobretudo até os calcanhares;
2) Três casacos grossos;
3) Um cobertor de microfibra.
Dane-se a chegada do verão. Quem se importa com isso quando minha sanidade está salva?
Dou meu primeiro passo em sua direção e sinto meu estômago rodopiar dentro de mim. Sou tomada por dezenas de sentimentos; não sei ao certo o que faz minhas pernas quererem travar no caminho. É o pedido ainda não feito, a minha bebedeira extravagante e a realização tardia de como Jungkook está bonito essa noite. É a certeza da ressaca moral sendo muito mais forte e presente do que a ressaca física. Mas não sei decidir. Porque não me parece mais óbvio qual delas me faz querer desaparecer e qual delas me faz dar mais um passo.
A música ainda toca. Talvez a mesma, talvez uma nova. Cambaleio na direção de Jungkook, desviando de algumas pessoas pelo caminho estreito e o alcançando em poucos passos bambos. Meu cérebro temporariamente danificado achando uma boa ideia parar por aqui.
— Preciso falar com você!
É um quase grito. Meu corpo correndo pelo armário e meus olhos focando em sua figura. Recebo então seu olhar de canto, surpreso. Os cabelos negros são uma bagunça completa e o topo das bochechas tem uma coloração avermelhada. E me pergunto se é pelo tanto de Soju ingerido ou se pelo calor terrível aqui dentro.
— Eu tava procurando por copos. — Fala, os braços ainda levantados no alto. — Não achei. Se importa?
Ele tira então duas xícaras brancas e pequenas do armário. Xícaras de chá. E levo uns segundos para lembrar de que ele está aqui para pegar bebidas. Nego avidamente, não focando muito na consequência. Na verdade, nem sequer pensando de fato sobre a pergunta. Eu estou esperando ele ter alguma reação sobre o que acabei de falar, porque só me sinto a beira de uma gastrite nervosa.
Jungkook despeja um vinho frisante em uma das xícaras. Parecendo não ligar muito para minha urgência; na minha voz ou em meus olhos o fitando.
— Então amanhã você não tem aula? — Ouço-o perguntar e então me perco. Ele não me ouviu? Fingiu não ouvir? Lembro-me vagamente que esse era o assunto antes dele vir para cá, mas não quero continuá-lo. Assinto aérea, confusa. — Só vai ter o fechamento na sexta?
— Mais ou menos. — Minha voz sai bamba e não sei se vejo essa desconversa proposital ou não como um sinal divino para interromper meu propósito. — Não é bem um fechamento, as notas vão sair no mural...
Eu sou fora de órbita em um cômodo terrestre demais. E não sei se prossigo com qualquer plano que tenha se formado no meu inconsciente. Eu conseguiria prosseguir agora?
— Odeio quando as notas saem no mural, todo mundo vê a de todo mundo.
Não falo nada por uns instantes. Não que eu pudesse afirmar que minha coragem surgiria do nada e me fizesse falar de vez o quê vim falar. Mas eu tive uma pontinha dela para iniciar tudo isso, uma minúscula que agora se foi por completo. Talvez eu... Quem sabe, eu possa tentar daqui um tempo, não é? Não precisa ser agora. Precisa?
— E você?
De novo minha voz vem em inconstância.
— Vou amanhã só pra ver se passei para a seletiva do curso de verão.
Remexo-me desconfortável no lugar. Porque da última vez que esse assunto surgiu, ele veio juntamente ao de sua ida para Busan no fim de semana. E me sinto a beira do início de uma crise horrorosa. De novo. Em sequência! Porque meu problema ainda está aqui e não foi solucionado.
O maldito encontro em família.
Eu queria que fosse fácil, que Jungkook de repente lesse mentes. Que soubesse genuinamente o que quero falar. Mas não sei mais o que de fato é pior. O verbalizar ou sua reação a tudo isso. Pigarreio e contorno seu corpo, minhas pernas batendo no armário quando paro do seu outro lado.
— O resultado saiu rápido, não é? — Solto uma risada nervosa, agarrando sem pensar uma das garrafas pequenas em sua frente. — Pensava que fosse demorar.
Ele não me responde e limito-me então a focar toda a minha atenção na bebida que agora seguro. Abro e a cheiro, não guardando característica alguma do licor em si. Meus olhos passeiam pelo rótulo como numa espécie de leitura dinâmica, quando resolvo tatear o balcão a procura da xícara vazia que vi logo ali de relance. Tateio e tateio numa busca cega, meu corpo se inclinando sobre o balcão para um maior alcance e meu cérebro captando palavras soltas das informações no verso.
Volume. Porcentagem. Licor.
— _____?
— Hm?
Meus dedos ainda tateiam a superfície gelada em busca do recipiente, mas não o encontro de jeito algum. Olho então para o que faço, a xícara que antes estava logo ali, está longe. Bem longe. Debaixo de uma das mãos de Jungkook. Arrisco um olhar em sua direção e logo encontro seus olhos me medindo curiosos. Não entendo. Inclino-me mais um pouco, meus dedos alcançando a borda da porcelana, mas ele a afastando com facilidade. Percebo então que ele vem fazendo isso desde o início.
— O que foi? — Solto aflita, de repente me dando conta de nossos corpos colados, sua cabeça acima na minha e nossas cinturas encaixadas. — Jungkook...
Ele meneia a cabeça, contrariado. E me pergunto se só agora ele se deu conta da minha urgência de antes. Eu espero, por tudo o que é mais sagrado, que não.
— Vai beber isso?
Pisco algumas vezes antes de correr meus olhos até a garrafa que seguro.
— Vou.
Tento de novo alcançar a xícara e dessa vez Jungkook nem se move. O objeto está bem longe do meu alcance.
— Argh, Jungkook... O que foi?
Sinto-me irritada, aflita. Eu só quero beber, sem essa de censura sobre a quantidade de álcool que ingeri. Não foi tanta, foi? Só quero beber e esquecer sobre o que vim fazer.
— Não é uma boa ideia.
Meu corpo se remexe e eu me ajeito no lugar. Minha pele esfriando assim que me afasto de seu corpo. Não existe a possibilidade de não ser uma boa ideia. É uma excelente ideia. Beber para tentar esquecer o quão doloroso é ser manipulada indiretamente pela minha própria mãe.
Viu? Uma excelente ideia!
— Por quê?
Jungkook suspira e tira a garrafa de minhas mãos com praticidade, virando o rótulo para mim sem rodeio. Seu dedo indicador sugerindo algo que eu deveria ler, mas que não faço questão.
— É licor de ameixa.
Dou de ombros.
— E qual o problema nisso?
Ele estala a língua, impaciente. E eu quase me sinto ofendida por isso.
— Ameixa solta o intestino, com álcool piora. Vai piorar sua diarreia.
Um, dois, três. Quatro segundos. E logo então entendo.  
— De novo! — Quase grito, o empurrando pelo ombro. — Eu não to com diarreia!
Mas é tarde demais e sua risada já vem toda cheia de energia. Me trazendo a chance de presenciar seu nariz enrugando e seus olhos se fechando em divertimento. E percebo que mesmo que a quantidade de álcool que ingeri tenha sido mesmo alta demais, a dele não deve estar muito atrás da minha. E, no fim, acabo sorrindo também. Dando-me ao luxo de ter esse momento com ele só por agora.
— Pelo menos eu fiz você dar uma relaxada. — Ergue os ombros, cheio de si. O cabelo se movendo minimamente na testa e um sorrisinho de escárnio crescendo no canto da boca. — Me agradeça mais tarde.
Encolho-me ao seu lado, vendo-o tomar um gole gordo de sua xícara cheia e logo trazendo para perto a minha. E por mais que eu goste de vê-lo preparar drinks para mim, eu só consigo enxergar sua boca brilhosa pelo frisante recém ingerido. Porque sinto, verdadeiramente, que seu beijo poderia tirar tudo de ruim que tenho em mim.
— Aqui, bebe esse.
Ele arrasta a porcelana em minha direção e me olha. A bebida que me fez é rosa clara e doce na ponta da língua. E eu até tentaria identificar o cheiro senão tivesse acabado de perceber que o perfume tropical de Jungkook destoa dentre todos daqui. Inclusive do maldito gelo seco de tutti-frutti. E quero que fique assim. Essa bolha invisível feita pelo seu aroma.
Sucumbo entre os ombros em conforto, meus pensamentos me levando para a primeira vez que paramos no meio de uma cozinha entre músicas e bebidas. Vivemos um flashback tortuoso e injusto, porque escondo coisas e minto. E me perco, enquanto sua atenção agora é voltada para uma garrafa bonita marrom. Termino minha bebida em silêncio, vendo pessoas indo e vindo. Ouvindo músicas começando e terminando. Sinto-me esquisita e pesada e não sei como me livrar disso. De novo. Respiro fundo, largando cautelosamente a xícara vazia no balcão antes de olhar para Jungkook.
— Sua família... — Começo, vendo-o se virar para mim de repente. — Sua família sabe sobre esse lance de acompanhante de aluguel?
Ele me olha por um instante, parecendo não entender aonde quero chegar. E, para ser sincera, eu também não. A pergunta surgiu assim que abri a boca e agora não sei bem se foi uma boa ideia. Jungkook parece ponderar por um segundo. Demora-se em dobrar as mangas da camisa até os cotovelos, depois em terminar com a bebida que acaba de se servir. E me pergunto se o que está por vir tem mais a ver comigo ou com ele mesmo.
— Não. — Responde encostando-se de costas ao balcão. — Eles provavelmente não aceitariam muito bem.
Sinto um incomodo no peito.
— Por que você acha isso?
— Quem aceitaria bem o filho ser acompanhante de aluguel? — Ele dá uma risada sem humor e um rebuliço esquisito acontece no meu estômago. — E minha família não é ruim financeiramente falando, a gente tem uma vida confortável. Mas eles já arcam com todas as minhas despesas aqui, não queria que eles tivessem um gasto extra com o notebook.
Sou inserida em uma partezinha da sua vida. Não mais de maneira intrusa. Mas isso não me deixa mais confortável aqui. A realização de que enfiaria Jungkook em uma saia justa com seus pais me pega de jeito. Não cogitei a hipótese de ele contar a verdade para eles, mas, dessa forma, ele teria que mentir igual a mim, não é? E só eu sei que mentiras sempre se enrolam em mais mentiras. A sensação desse lado da história não é nada boa. Eu bem sei.
— Não tem explicação pra eu fazer isso, entende? — Umedece os lábios e me encara. — Eu poderia simplesmente pedir e pronto. Acho que isso é o que pioraria a situação.
— O que você acha... — Não consigo controlar minha voz. Não consigo fazê-la parar ou sair de maneira clara e direta. Ela continua em falhas e parecendo agir por impulso. — O que aconteceria se eles descobrissem?
Jungkook parece pensar por um segundo mais uma vez. E me pergunto se ele mesmo já se fez essa pergunta em outra ocasião. Como também me questiono se esse é um daqueles assuntos em que não se deve tocar. Será que o deixa tão desconfortável quanto o assunto Haneul me deixa?
— Eles me fariam voltar pra Busan na hora. — Responde, mas não me olha mais. O seu cenho é franzido e não sei se ele se incomoda por falar sobre ou por perceber o campo minado que estamos caminhando aqui. — Eu provavelmente não conseguiria nem ter tempo de fazer a transferência para alguma universidade de lá. Eu teria que começar tudo do zero.
Quero vomitar. Talvez pela bebida, talvez por perceber que mais coisas estão ameaçadas além da minha própria mentira deslavada. E me tenho em cima do muro, entre pedir e não pedir. Porque agora a decisão não me parece óbvia. E por mais que tenha sido comprovado por mim mesma que não existam alternativas, eu me sinto tentada a pensar que não escolher caminho nenhum seja uma opção também.
— Eles não são compreensíveis?
— Não é isso. Eles são. Eles me apoiam em todas as decisões que eu tomo, mas... Acho que isso foge. — Seu peito infla e ele se vira para o balcão. — Minha mãe passou por muita coisa ruim quando menor, ela não quer que eu ou minha irmã passemos por dificuldades também. Eles trabalharam demais pra nos dar tudo. Isso seria visto como um fracasso, entende?
Balanço a cabeça em afirmação, mas não sei o que isso quer dizer. Meu estômago ainda é bagunça em forma de nervosismo.
— Se eles são compreensíveis, você acha que se você expli-
— Não, sem chance.
Jungkook me interrompe sem rodeios. E quem sabe esse seja mesmo um assunto que o deixa desconfortável. Vejo-o completar sua xícara mais uma vez e, antes que eu perceba, estou falando de novo:
— Sua intenção é boa, talvez eles entendam.
— Sua intenção também é boa, por que não tenta com seus pais?
A rasteira vem certeira e eu caio de cabeça em cima do muro imaginário que criei. E enquanto o vejo beber mais um pouco, entendo que não fico chateada com o que me disse. Ou, quem sabe, irritada. Até porque concretizo que o encontro de famílias coloca em risco não só as mentiras em que me meti, mas também bota em risco coisas que eu não deveria ter o poder de controlar. E, num instante, o que me preocupa não é mais contar para Jungkook ou fazer o pedido. O que me preocupa é o que vem depois. O que me preocupa é o que vai vir depois que ele aceitar. Porque eu deveria ser a única a correr riscos. Eu gerei o problema e eu deveria ser a única a arcar com as consequências dele. A imagem que tenho dele é ligada à minha solução e não é justo.
— Desculpa. — Sua voz me tira do transe e corro meus olhos para ele. Sua respiração é pesada antes de continuar. — Eu fui um babaca, desculpa. Não deveria ter falado assim, nossas situações são diferentes.
— Tudo bem. — Dou de ombros, pegando a xícara de suas mãos e dando um gole ali. — Não deveria ter insistido.
— Não é isso. — Estala a língua em contradição, virando-se para mim outra vez. — É um assunto que...
Ficamos em silêncio. Porque não é preciso que Jungkook se explique, porque entendo. Nossos olhares se sustentam por alguns segundos e me permito nos enxergar.
Não sei exatamente quando me apaixonei por Jungkook. Só sei que sinto. Sensações e sentimentos. Talvez tenha sido naquela resposta à pergunta de minha mãe. Quem sabe tenha sido quando me preparou o primeiro drink. Quiçá sobre o diálogo sobre a minha verdade. Não sei bem. E, para ser sincera, isso não é lá muito importante. Porque Jungkook ainda é a melhor parte de toda essa baderna que eu me enfiei. E eu não tenho a menor duvida disso. E como em um romance de época coberto por drama, aqui e agora, olhando-o sob luzes brancas claras demais, eu sinto que a qualquer momento posso deixá-lo ir. E não quero.
— Eu vou me mudar no próximo mês.
Ele diz por fim, um sorriso crescendo no canto da boca e ele alcançando a xícara vazia carregando meu olhar confuso.
— Se mudar? Pra onde?
— Pra república. — Responde e a pergunta seguinte parece estar estampada em meu rosto. — É, aquela república.
Lembro-me então das festas em que fomos lá. Os cômodos quase sem móveis e os poucos parecendo terem sido escolhidos aleatoriamente para ocuparem os lugares. Sem cortinas nas janelas ou tapetes no chão.
— Achava que não tinha mais espaço.
— Não tem, mas vai abrir uma vaga. — Ele preenche tanto a porcelana sobre o balcão, quanto a que seguro. — Taehyung vai pra um intercâmbio no meio de julho, vai ficar um ano fora e quando ele voltar, mais uma vaga já vai ter sido aberta também.
Assinto aérea, o cara de óculos azul e sua bebida horrorosa me tomando os pensamentos por uns instantes em uma lembrança vaga.
— Qual o problema dos dormitórios?
— São meio caros, a república vai sair mais em conta. — Explica. — Fico me sentindo mal de ficar nos dormitórios sabendo que fora deles o preço é melhor. Meus pais não reclamam, mas não que-.
Ele mesmo se interrompe e eu entendo o porquê. É o assunto de novo, de uma forma indireta. Jungkook não gosta de depender tanto assim dos pais e logo paramos, outra vez, no assunto de acompanhante de aluguel. E sinto-me pesada e culpada novamente. Porque ainda não sei o que fazer. Eu tenho um pedido, um encontro entre famílias e uma mentira. Posso fazer tudo o que eu quiser com elas, inclusive ignorá-las. Eu vivo em dualidade. Por dentro e por fora. Sei o que fazer. Não sei o que fazer. Sigo e não sigo.
Vejo Jungkook respirar fundo e olhar para os lados. Penso em tentar dizer outra vez, mas agora é diferente. Porque sei mais do que sabia no início. E soa egoísta e injusto demais trazer a tona esse assunto outra vez justamente agora.
Beberico o vinho frisante na minha xícara e olho em volta também. A angústia sendo companheira de todo o meu nervosismo. Vejo pessoas ao nosso redor indo e vindo, rostos novos, diferentes. E acabo me perdendo nisso, me permito pensar sobre algo que não envolva toda a lama que me rodeia. E me foco. E me concentro.
Reparo, então, que diferente das festas de república da Chung-Ang que fui, essa é um tanto diferente. Desde a existência de cortinas nas janelas aos tapetes no chão. Os móveis podem ser populares, mas são bonitos. Ainda existe a presença de gelo seco, irritante e meio fedorento, mas ainda assim. Ninguém mais se amontoa nos sofás da sala ou interdita a entrada da cozinha, as pessoas aqui têm seu próprio espaço. Porque existe espaço.
Alguém acaba de quebrar um copo na divisa de cômodos, perto do banco onde antes eu estava sentada. E há uma movimentação, tanto dos outros quanto nossa. Sinto uma mão espalmar em minhas costas e quando me movimento, percebo que é Jungkook quem me conduz para longe dali. Atravessamos a sala, a música alta bombeando nos ouvidos. Há pessoas por todos os lados e nenhuma me parece conhecida. Ou rostos que já vi de relance pelo campus da universidade. E me foco nisso. De novo. Talvez para não surtar de vez, talvez para não agir por impulso, talvez para tentar me convencer de que a opção de não falar seja mesmo a melhor alternativa.
— Jungkook?
Chamo-o assim que paramos em um corredor. O trânsito por aqui parecendo ainda mais tranquilo do que o que vem sendo o restante da festa. Há algumas portas por aqui e o aviso de banheiro em uma delas. Não existe mais cheiro de tutti-frutti, porque penso que a saída para o jardim do fundo seja logo ali depois da porta branca de vidro aberta.
Ele se vira para mim, o corpo encostando-se a parede e a boca brilhando outra vez pela bebida recém ingerida. Aqui a luz é amarela e logo percebo que ele consegue ficar ainda mais bonito por debaixo dela.
— O que foi?
Estou pé em sua frente, porque não consigo me sentir relaxada para me encostar a paredes e fingir que dentro de mim não é um carvanal de emoções cretinas e não cretinas. Eu já desisti de tentar separá-las, numerá-las, botá-las em ordem em uma lista. Porque elas se enlaçam e eu me torno caos. Como sempre é.
— Cadê o Jimin?
Minha pergunta sai como um pedido silencioso de escape. Não me sinto realmente interessada na resposta ou no porquê a festa parece diferente das demais. Ela só veio como uma tentativa de me distrair por uns instantes.
Jungkook, no entanto, não me responde de imediato. Ele me olha do alto por um tempo, tomando um, talvez dois goles da xícara que segura. Ao fim, tem as sobrancelhas arqueadas e uma atitude prepotente que não entendo, mas que gosto de olhar.
— Por quê? — Seu tom é debochado. — Você era meio que afim dele no início, não era?
Sou lavada em choque, pega desprevenida pelo extremismo. Quase engasgo.
— O quê? — Fico perdida na acusação e um tanto envergonhada também. Porque, bem, é verdade, mas nunca vou dizer. — Nunca fui. De onde tirou isso?
Ri e me tenho 100% presa no que vem a seguir.
— Você perguntou se ele era solteiro.
— Você falou que ele era comprometido. — Bebo o que seguro um tanto ofendida pelo que ouço. Sinto-me traída o tempo todo por sentimentos extremos e drásticos. — Não perguntei nada.
Seu corpo desliza de maneira natural para frente, seu quadril na altura da minha cintura. Dois centímetros de distância. E não sei se é apenas coincidência ou se tudo isso foi proposital. Mas já começo a me sentir quente. Balanço os joelhos por puro instinto. Deve ser o álcool. Ou essa bolha tropical.
— O Jimin é um babaca. — Solta prático, voltando ao lugar. — Eu sou também, mas ele é mais. Um dia você vai entender.
Seu olhar é ainda de prepotência e fico o encarando por alguns instantes outra vez. A boca úmida, os olhos negros e sua aura intimista. É aquele lance dos detalhes. Sempre é. E me deixo perder entre eles por um momento.
Pisco uma ou cinco vezes, não sei mais contar direito.
— Você não respondeu minha pergunta. — Falo, percebendo enfim. E, talvez, as não semelhanças dessa festa não sejam só invenções da minha cabeça para eu ter algo ao que me prender, afinal. — Cadê o Jimin?
Jungkook parece pensar, depois termina o que tem em sua xícara em um gole certeiro.
— Não veio.
Ele esfrega a boca com as costas de uma das mãos e me olha. Seu olhar vem em fresta, como se me intimasse para uma briga. E Jungkook me contraria inteira, como sempre faz.
— Como assim não veio?
— Não veio.
E há um silêncio para que eu tente entender; tanto o que acontece aqui, quanto o que ocasionou toda essa postura desconfiada repentina de Jeon.
— Tá, mas e o resto?
— Que resto?
Mais silêncio. Porque de fato me pego perdida em sua pergunta. Que resto eu esperava ver? Seus amigos ou os amigos de Haneul? E enquanto o vejo pegar a xícara das minhas mãos e tomar mais um gole de bebida, olho em volta. Pessoas diferentes, lugares diferentes. Música diferente. Tudo de fato é diferente. E algo me toma os pensamentos de repente.
— Jungkook... — Começo, recebendo seu olhar por cima da xícara. — Existe alguém nessa festa que você conheça?
E é aí que ele quase engasga. A porcelana escapando por um instante e ele a alcançando ligeiro antes que seja tarde demais. A bebida escorrendo por seu queixo e um caos instalado. E sei que existe algo de errado aqui. Jeon parece ponderar, pensar em algo a dizer, mas não diz. Fita o fundo da xícara por um tempo, limpa a bebida pelo rosto e depois respira profundo. Quando penso que algo vai sair de sua boca, nada sai.
— Jungkook?
— Não. — Responde abruptamente. — Não existe.
Meus olhos crescem de pavor, mas não consigo acompanhar o sentimento ou o que essa notícia realmente quer dizer.
— Jungkook!
Sua cabeça meneia e ele estala a língua em contradição, depois se remexe no lugar. Parece alvoroçado e, por conta disso, fico também.  
— O que foi?
— Como assim o que foi? — Dou um passo em sua direção, minha voz saindo mais baixa em seguida. — O que a gente tá fazendo aqui?
Ele me olha. Seus olhos correndo meu rosto inteiro.
— É uma festa.
— Eu sei que é uma festa, mas... — Olho para os lados, ninguém parece prestar atenção em nós. — Como você ficou sabendo dela?
— O Jimin descobriu e me falou.
Afasto-me desconfiada.
— Então o Jimin conhece essas pessoas?
Ele não responde e isso é o bastante para eu entender que não, Jimin também não conhece ninguém.
— Jungkook! Por que vo-
— Era a única festa antes das férias começarem! — Me interrompe. Seus olhos estão em mim e ele parece um tanto impaciente por eu não ter entendido. — Foi a única oportunidade que achei pra gente ficar sozinhos de novo, só nós dois, porque da última vez você foi acompanhada e é... A próxima festa da república vai ser só mês que vem.
Jeon puxa o ar forte pros pulmões, me lança um olhar esquisito e logo se concentra em beber mais do vinho frisante. E quero rir, uma risada alta e sincera, mas não consigo. Meu coração parece ter crescido tanto no peito que posso jurar que a qualquer instante pode explodir. E agora tenho certeza. Absoluta certeza. Não quero colocar em risco qualquer coisa que tenhamos aqui ou qualquer coisa que seja importante pra ele. Mais do que nunca sei que não quero pedir o que vim pedir e que não vou. Porque me importo e sou ridiculamente apaixonada por Jungkook.
— Tipo um encontro?  
Minha voz vem mansa dessa vez e ele ergue os ombros, agora um tanto sem graça.
— É meio longe? Sim, com certeza. A galera é estranha? Também. Mas tá aí.
E fico o olhando por um tempo. O ar faltando quando tento suspirar. Sua camisa xadrez um tanto aberta, sua pele exposta, seu cheiro, seu cabelo, sua boca e todos os seus etcéteras. Uma combinação de detalhes, uma coletânea do que mais gosto nele. Tudo isso pensando em uma oportunidade para ficarmos a sós mais uma vez. De novo. Como ele me contou naquele corredor a última vez.
O pensamento de que seu beijo pode me tirar as coisas mais ruins que carrego me encontra de novo. E num passo dado em sua direção e num puxar de gola, eu faço nossos lábios se encontrarem sem cerimônia alguma.
Sua boca é gelada e traz o sabor doce de vinho presa entre a minha. Meu corpo se alinha ao seu e minhas mãos sobem até seu rosto. É um beijo surpresa e singelo, que logo termina quando me afasto minimamente para olhar Jungkook de perto. Seus olhos se demoram a abrir e, assim que encontro a imensidão negra deles, tenho certeza que peguei o caminho certo.
— Eu gosto quando você toma a atitude.  
Ele sussurra só pra mim, um sorriso no canto da boca rosada e um suspiro solto. Não parece mais envergonhado ou agitado como antes. Somos agora, juntos, fora de órbita em um ambiente terrestre demais.
E antes que mais alguém fale algo, Jungkook pressiona sua boca na minha mais uma vez. A sensação me invade de imediato e meu peito aperta de uma saudade que não percebi sentir tanto quanto agora. Sua língua deslizando pela minha como da primeira vez que se encontraram, seus braços me apertando contra seu corpo e um sufoco de desejo me tomando a garganta. Enrolo-me em seu pescoço e nos tornamos um emaranhado de beijos, apertos e mordidas.
Tudo parece insuficiente, no entanto; porque quero mais perto, mais envolvimento, mais tudo.
Mais Jungkook.
Suas pernas batem contra as minhas e, em passos incertos e destrambelhados, atravessamos uma porta antes entreaberta. Nossos corpos se afastando um instante para Jungkook se desfazer das xícaras num cesto de roupas e eu perceber que nos enfiamos em um banheiro minúsculo com luz amarela. E quando o vejo se virar para mim outra vez, eu me sinto ferver por inteira. Porque aqui e agora, com a luz encostando sua pele exposta e sua boca vermelha por minha causa, eu sinto que nunca vi algo tão bonito quanto ele.
Vejo a porta se fechar com seu toque sutil e o baque é o incentivo que faltava para Jungkook voltar para mim. Em forma de dedos se embrenhando pelos meus cabelos, beijos em meu pescoço e carícias pelas minhas coxas. Ele é suave e lento, uma melodia lasciva que me envolve por inteira. Cada centímetro do seu corpo encosta-se a cada centímetro do meu, mas ainda parece não ser o suficiente, porque o quero mais, mais, mais perto de mim. Passeio minhas mãos por seu peito, procurando a abertura da camisa xadrez, puxando-o e puxando-o. Desço eles pelos botões e alcanço o cós da calça. Eu sinto sua pele quente nas articulações dos meus dedos e não sei o que fazer com tudo isso.
Porque Jungkook ainda é caos de cheiros, gostos, sensações e sentimentos.
Como numa dança lenta e íntima, nossos corpos se balançam, suas mãos alcançando meus quadris e me fazendo girar sobre meus próprios pés. Seu corpo agora me alcançando por trás, me segurando contra o balcão da pia. Nosso reflexo no espelho quase me deixa envergonhada, seus olhos nos meus e sua boca distribuindo beijos molhados pela minha orelha, pescoço e nuca. Espalmo minhas mãos no mármore e sinto Jungkook se inclinar sobre mim. Seu quadril pressionando minha bunda e suas mãos subindo minha saia.
Fecho os olhos por um momento, me concentrando na sua língua e em toda a sua presença imperial sobre mim. É uma sensação maluca, num ambiente maluco. Entretanto, quando volto a abrir meus olhos, algo me chama a atenção no canto do balcão da pia. Uma embalagem branca de enxaguante bucal, a mesma marca que minha mãe compra religiosamente todo o mês. E, como num passe de mágica, toda a angustia que antes pensei ter dispersado em decisões antes tomadas, reaparece como fogo em mata.
Os dedos de Jungkook tamborilam pela minha pele com graça e sutileza, mas não consigo mais me focar direito. Ainda quero me sentir imensa, infinita. Mas a droga do aperto no peito começa a reaparecer, a culpa começa a se tornar tão pesada quanto antes. E mesmo que eu queira que não exista nada mais na minha cabeça que não seja Jungkook nesse pequeno instante, eu só consigo pensar no meu objetivo quando botei meus pés nessa festa. E sou pesada de arrependimento.
Quando sinto sua mão puxando minimamente a barra de minha calcinha para baixo e a outra subindo em direção ao meu seio esquerdo, num vislumbre cretino de lucidez então, eu entendo que não consigo. Que não consigo levar adiante sem finalmente falar o que vim dizer. Mesmo já tendo estabelecido minha decisão de dar fim a esse lance de acompanhante de aluguel. Mesmo que eu já esteja decidida a arcar com minhas próprias consequências. Eu não consigo levar adiante sem contar para ele. E isso é ridículo, sei que é.  
E, antes que suas mãos invistam em mais uma puxada ou em um toque certeiro e eu perca todos os sentidos, eu o empurro para trás de maneira súbita e seca. Minha saia flutuando por milésimos de segundo entre nós e suas mãos agarrando o nada.  Seu rosto no reflexo é retorcido em alarde e confusão e seu perfume tropical faz tudo ficar um pouco mais difícil do que tecnicamente já é.
— Jungkook... Não dá. — Falo, minha respiração pesada. Minhas pernas trepidando ainda por todos os seus toques em mim. — Eu não to relaxada.
Tenho seus olhos cravados nos meus, ainda perdido no que deveria ter sido e que não foi. Meu seio esquerdo formiga pela falta de seu possível toque e me remexo no lugar, desconcertada pelo que acabou de acontecer. Viro-me finalmente para ele, respirando fundo e o encontrando ali. Seu peito subindo e descendo e sua boca ainda mais vermelha pelos beijos. A camisa completamente torta no seu corpo e o cabelo apontando para todos os lados.
É difícil de tentar construir uma linha de raciocínio clara e complexa. Eu só consigo pensar em palavras chaves que logo se mesclam a boca, beijos e Jungkook. E tudo se torna bagunça de novo.
— Ok... — Sua voz é uma lufada de ar e não precisa de muito para entender o quão perdido ele ainda está. — Você quer ir pra... Outro lugar? Ou... Eu fiz alguma coisa que você não gostou?
— Não. — Falo abruptamente, percebendo que é agora ou nunca. — Não é o lugar ou... Não é isso. Eu preciso te falar uma coisa antes da gente continuar.
Jungkook parece levar um tempo para entender o que lhe digo. Seu rosto se molda em atormento, enquanto ele dá um giro no próprio corpo e depois me olha de novo.
— Tudo bem, — sua voz é cautelosa. — O que é?
Umedeço os lábios e fecho os olhos com força. Mas logo depois os abro. Meu corpo é quente e não posso me descuidar por um segundo sequer. Porque a sensação da língua de Jungkook deslizando pela minha nuca ainda é muito clara e quase a sinto em mim.
— Tá. — Descolo-me do armário por puro impulso. Vou de um lado a outro, minhas mãos tentando ajeitar meu cabelo inutilmente. — Você pode... Você pode se sentar, por favor?
Puxo o ar com força e percebo que Jeon nem sequer se moveu. A forma como seu cenho se vinca me deixa nervosa, meu coração apertando no peito quando paro abruptamente de me mover.
— Espera. — Pede, as mãos no ar. Ele parece tentar se situar. — Isso tem a ver com Haneul de novo?
E meus olhos se perdem. Caço o lustre em formato antigo, o vaso sanitário bege e o cesto artesanal com mais de quatro rolos de papel higiênico dentro. Tento buscar algo que me diga que não voltei ao passado, para o início da festa aonde ele me fazia a mesma pergunta. Volto a olhá-lo, as argolas prateadas se movendo nas orelhas quando sua cabeça meneia.
— Como assim?
— Porque eu também tenho uma coisa pra falar.
Encaro-o por um tempo, o que acabou de dizer não faz sentido. A informação não se liga a nenhuma lembrança que esteja circulando e que já circulou o meu cérebro. Ela é completamente inédita como um filme recém lançado nos cinemas. E fico perdida no momento, olhando Jungkook passar a língua pelos lábios e respirar fundo.
— Que coisa?
— Eu deveria ter dito algo aquela noite. — Sua voz agora vem quebrada e percebo todo o esforço que Jungkook faz para falar sobre isso. — Deveria ter dito algo pra impedir que ele falasse aquelas coisas pra você.
Demoro um tempo, pensando e resgatando memórias. Não preciso perguntar para ele sobre que noite ele fala, porque agora tudo parece claro como água cristalina. A noite em que conversamos no corredor, a noite em que Sorn passou mal, a noite em que voltei a ser conectada a Haneul de uma maneira que me amedronta e que me faz recuar. Lembro-me de tê-lo visto me olhar o tempo inteiro, como me lembro também de ter pensado que ele esperava por uma reação minha. Mas talvez Jungkook só não soubesse o que falar, assim como eu. Penso que deveria me sentir pesada agora, me sentir ultrapassada e humilhada pela lembrança, mas a verdade é que a única coisa que tenho em mim é a certeza de que preciso resolver esse problema.  
— Não deveria. — Digo, apoiando-me no balcão e o vendo, finalmente, se sentar na privada em minha frente. — Quem deveria ter dito algo era eu. Esse problema é meu e não seu.
Há um clima no ar, mas que não pego. Não é algo pesado ou esquisito. É só um clima diferente de todos os outros. Logo lembro, então, de nós dois conversando no meio da rua, antes de entrarmos na festa. Talvez tenha sido isso que ficou trancado na garganta de Jungkook e que ele não conseguiu falar.
— Era sobre isso que você queria conversar?
Sua pergunta vem, enquanto eu me tenho tentando organizar o que falar em seguida. Mas eu sou só bagunça e não faço ideia por onde começar. Jungkook me olha debaixo, as mãos espalmadas nos joelhos sobre a calça jeans clara e a camisa xadrez ainda torta em seu corpo. Conto até três mentalmente e balanço a cabeça em negação.
— Então o que é?
Eu sinto meu corpo todo ser tremedeira. E por mais que eu saiba que meu objetivo já mudou, continuo aflita por sua reação. Eu sou tomada por nervosismo e posso jurar que a qualquer momento vou explodir. E não aguento mais viver essa tensão pela noite inteira. Não aguento mais guardar para mim.
Puxo o ar com força e o solto aos poucos. Tudo isso sob o olhar cauteloso de Jungkook. Quando abro a boca, todas as palavras parecem sumir.
— Busan! — Quase grito, fechando os olhos com força mais uma vez e reunindo as mãos em frente ao meu rosto. — Tem a ver com Busan! Eu tentei não ir, mas não faz sentido eu não ir e...
Silêncio.
— _____? — Ele solta um riso, encostando minimamente em minha perna para que eu o olhe. E eu o olho. — Do que você tá falando?
Engulo a seco, de repente achando uma péssima ideia contar isso para ele. Porque, por mais que eu tenha desistido de todo esse encontro de famílias, eu cogitei seguir em frente, não foi? Ele ainda pode se chatear, não pode?
Jungkook está me olhando e parece ter toda a paciência do mundo. Respiro fundo, não sabendo se existe um jeito de voltar no tempo ou se existe alguma maneira de desconversar algo que eu mesma iniciei.
— Minha mãe me ligou na segunda. — Falo incerta. — Ela quer que nossas famílias se encontrem em Busan esse final de semana. Disse que não existe desculpa alguma, que eles vão com ou sem mim.
Arrisco um olhar em sua direção, Jungkook parece absorto demais. Não existe mais resquício da risada que soltou há pouco tempo, nem sequer um resquício de um toque em minha perna. Ele é contradição pura.
— Você tá me dizen-
— Mas eu já desisti! — Apresso em dizer, lembrando subitamente que não falei o ponto mais importante. — Eu desisti! Ok? Eu já desisti de pedir a sua ajuda. Eu ia te pedir na biblioteca, mas não tive coragem. Pensei em pedir hoje, mas...
— Mas...?
— Eu não quero, não quero mesmo, porque eu me importo. — Minhas mãos estão fechadas em punhos e nenhuma das palavras que eu falo parecem fazer sentido. — Eu me importo com você e não quero, não... Não quero que arrisque a faculdade por um problema que não é seu. É um problema meu e não é justo eu pedir pra você fazer isso. Não quero mais você como acompanhante de aluguel ou... Eu desisti.
Sinto-me sem ar, como se tivesse acabado de correr uma maratona inteira até chegar aqui. Tento repassar o que acabei de dizer, mas nem sequer lembro mais. Existe algo em mim, algo certo e grande, que me diz que não estou me fazendo entender. E isso me aflige e me deixa angustiada.  
— Se você desistiu, — começa, as palavras vindo aos poucos e pausadamente como se estivesse resolvendo uma questão lógica em uma aula de marketing. — Se você desistiu, então por que tá me contando isso agora?
Por um momento me preocupo com o que dizer, com qual explicação dar. Porque talvez eu tenha mentido por tanto tempo, sobre tantas coisas, que eu já não saiba mais ser sincera de maneira natural.
— Porque eu não sei o que acontece que eu sinto essa necessidade ridícula de te falar as coisas. — Falo verdadeira, meu coração bombeando nos ouvidos. Não existe música por detrás da porta ou pessoas no mundo. Só existe nós dois e esse banheiro pequeno em algum lugar no leste da cidade. — Mas eu não quero te assustar, tudo bem? Com nada. Com o que eu sinto ou com o pedido que não quero mais fazer. Eu já desisti. Entenda que eu já desisti e só to te contando porque não consigo guardar isso pra mim.
Sinto uma necessidade extrema de repetir por mais um milhão de vezes que desisti. Que essa ideia foi imbecil e que eu nunca deveria ter sequer cogitado pedir isso a ele. Sinto uma necessidade imensa de frisar, desenhar, explicar de maneira didática de que não, eu não o quero mais como meu acompanhante de aluguel. Nunca mais como acompanhante de aluguel. Eu o quero como Jungkook e somente Jungkook. Mas minha voz tranca e não consigo mais dizer nada. Vejo-o fixar seus olhos no piso gelado por um tempo e penso em contar os segundos, minutos ou horas que se passam. Mas só consigo repassar seus detalhes como reza nos pensamentos.
A cicatriz na bochecha, a pintinha debaixo do lábio e os olhos tão negros como o céu sem estrelas.
— Sabe? — Sua voz vem depois de um tempo, lúcida. — Eu sinto que deveria tá muito bravo com você agora. Eu tinha era que levantar e sair daqui, porque não é a primeira vez que você faz isso comigo.
Minha respiração para e minha garganta se aperta. Porque vacilei com ele. Mesmo com todas as minhas intenções e inseguranças, eu continuei errando com ele. Tento engolir a seco, mas meu maxilar está travado. E anseio pelo que está por vir. E anseio pelo mas, porque precisa ser algo bom. Precisa ser algo que me garanta que tomei a decisão certa ao contar sobre isso para Jungkook.  
— Normalmente eu ficaria realmente bravo, mas não me sinto assim agora. — Fala e o ar volta aos meus pulmões. Ele respira fundo e ergue seu olhar até o meu. — Você sempre faz eu me sentir esquisito por não agir do jeito que eu deveria agir. É assim o tempo todo, porque também não consigo te tirar da cabeça tem semanas e isso não é normal pra mim... Acho que é um problema, não sei. Mas eu me sinto aliviado de saber que você desistiu, porque eu também me importo com você.
Demoro um tempo para raciocinar, tentando desvencilhar as palavras das frases e logo então as repetindo de forma pausada pelo meu cérebro. E quando entendo, não sei o que dizer por primeiro, nem sei se preciso dizer algo. Sinto meu rosto completamente imóvel por uns instantes.
— Eu... Desculpa.
Minha voz é um fiapo imbecil, mas sinto a urgência de fazer o pedido, pelo menos. Vejo um riso no canto de sua boca e ele dando de ombros em seguida.
— Por eu me importar com você? — Vem debochado. — É, eu me peço desculpas o tempo todo por isso também.
— Não foi po-
Jungkook ri.
— É, eu sei.
Passo as mãos pelo meu rosto, desconcertada. Isso é horrível. Quer dizer, a sensação que tenho agora, a sensação de perceber em todas as enrascadas que o enfiei e em todos os problemas que ocasionei na sua vida. Essa sensação é ruim e ultrapassada, porque me faz perceber que eu deveria ter entendido muito antes. Que eu deveria ter entendido que aquele post-it furreca não traria solução alguma para ninguém. Pelo menos, não a que eu procurava encontrar.
— Isso não vai mais acontecer.
Falo, tirando minhas mãos do rosto para encontrá-lo me olhando outra vez.
— Era por isso que você tava estranha na biblioteca e no caminho até aqui? — Assinto. — O que você vai fazer, então? Agora que não me quer mais como acompanhante de aluguel.
— Eu não faço a menor ideia.
Jungkook se remexe na privada, ele estrala os dedos e depois os passa pelos cabelos. Os fios se alinham para trás por uns instantes, mas logo caem em mechas por sua testa.
— Eu poderia dar um jeito, falar pros meus pais que eu tenho uma namorada e... — Ergue os ombros. — Não sei, convencer eles de que esse encontro de famílias não é bizarro, mas... Eu preferiria não fazer isso.
— Não vai precisar fazer, é sério. — Digo rápido, porque é verdade. — Não vai. Eu... Vou arranjar um jeito! Não sei como, mas vou. Eu não deveria nem ter cogitado te pedir isso, porque não quero, não quero mesmo te chatear de novo.
Ele assente entendido, um sorriso bonito e seu nariz se enrugando. E sinto meu coração bater descompassado no peito, mas ele não alcança mais meus ouvidos em desespero ou nervosismo, ele só dança conforme a música. Conforme nós dois. E me sinto bem agora, me sinto bem por ainda ter Jungkook aqui.  
— Você se sente melhor agora que me contou?
— Sim.
Ele alcança uma das minhas mãos e enrosca seus dedos aos meus. Meu corpo, de maneira involuntária, se move até o dele sentado, só parando quando minhas pernas batem às suas.
— Senta aqui.
Jungkook pede, seus dedos agora dedilhando minhas coxas e suas mãos se espalmando por detrás delas para me puxar em direção ao seu colo. Nossos quadris se encaixam e eu enrolo meus braços em seu pescoço. E seu cheiro é tão natural que, por um instante, esqueço que esse de fato não é o perfume que sempre senti na vida.
— O que você quer com isso?
— Te consolar.
Rio e nossos olhares correm diretamente para nossos quadris encaixados.
— Era pra ser um abraço.
— Um abraço erótico?
Seus braços envolvem minha cintura e ele sorri.
— Não, nada de erótico.
Aperto-me contra ele, então, em um abraço. Aproveitando para afundar meu rosto contra seu pescoço, sentindo seu cheiro e seu calor. E me sinto bem aqui, por mais que eu saiba que amanhã as coisas não serão nada fáceis.
— Não é pra dormir.
Ouço-o falar e, sem me mover, pergunto:
— Por que eu dormiria?
— Porque na primeira festa você dormiu na poltrona enquanto eu jogava videogame.
Ergo minha cabeça abruptamente, só para que eu consiga encará-lo direito.
— Eu fiz o quê?
— Dormiu. Depois da cozinha a gente foi pra sala e em dez minutos você dormiu por sei lá quanto tempo. Você não lembra?
A lembrança vaga me toma a cabeça, ela é distorcida, esquisita. E toda a lembrança que eu tinha de beijos e amassos por seis horas seguidas em Jungkook é substituída pelo toque do tecido áspero da poltrona e suas tentativas de me fazer acordar. E fico um pouco perdida por ter acreditado durante tanto tempo em algo sem fundamento.
— Mais ou menos.
Mio e o vejo rir. Decidindo, por agora, deixar para lidar com essa nova lembrança amanhã ao acordar. Ou hoje ao acordar, não sei bem. Enfio meu rosto em seu pescoço outra vez e sabe-se lá por quanto tempo ficamos ali. Se por seis minutos ou por seis horas.
E o “e se” passando a ser agora um desejo utópico.
E se eu tivesse encontrado Jungkook muito antes de ter encontrado Haneul?
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alvaromatias1000 · 6 years
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Quando viro o volante faz um barulho estranho, o que é?
Tudo anda bem, quando de repente você ouve algo estranho vindo da parte dianteira do carro. Mas, como acontece? Ao olhar melhor, percebeu que só ocorre quando esterça a direção. Então, vem outra pergunta: Quando viro o volante faz um barulho estranho, o que é?
É sinal de problemas. Os sistemas de direção são desenvolvidos para funcionar em velocidade ou parado sem nenhum tipo de barulho, rangido ou outra manifestação audível ao motorista, exceto em situações como batendo no fim do curso do volante, o que infelizmente ainda acontece em alguns modelos, mesmo caros.
No geral, mesmo com assistência direção hidráulica, eletro-hidráulica e elétrica, não se pode verificar barulhos e outros ruídos que sejam anormais. Mas, o conjunto de direção não atua de forma individual na frente do carro.
Existe o sistema de suspensão também, assim como os freios.
Neste artigo, vamos ver algumas das causas que podem levar o volante fazer um barulho estranho quando se vira a direção. Os problemas mais comuns estão ligados ao sistema de suspensão, assim como o de tração.
Também a própria direção pode trabalhar contra, dando alguns problemas que geram ruídos.
Quando viro o volante faz um barulho estranho, o que é?
Alguns dos problemas do volante faz um barulho estranho ao esterçar vem dos itens citados acima, importantes não só para o conforto e controle ao dirigir, mas também para economia e, principalmente, para segurança. Abaixo, confira alguns problemas que podem se fazer presentes de forma “ruidosa”.
Rolamento do coxim do amortecedor
Com o veículo parado e a direção esterçando, se houve um rangido ou estralo, uma das causas possíveis é o rolamento do coxim do amortecedor. Ele fica nas torres dos batentes hidráulicos dentro do coxim, que fica entre a parte externa da caixa de roda e a interna, sob o capô do carro, dentro do cofre do motor.
Acontece que, quando este rolamento trava, a mola do rolamento, que permite ao conjunto girar em movimento, acaba correndo para fora de sua posição, gerando um ruído durante o esterçamento da direção. Geralmente, esse rolamento com o coxim custa em média R$ 80 para modelos mais comuns.
O rolamento da torre do amortecedor também é outro item que pode causar um barulho ao virar o volante e, dependendo do modelo, o preço pode variar entre R$ 20 e R$ 80, mas obviamente alguns itens serão mais caros se forem importados.
Homocinética
Durante a condução, um ruído mais preocupante é um estalar metálico, que lembra algo quebrando. Isso é a junta homocinética. Trata-se de uma peça com articulação que permite o movimento da força gerada pelo motor e transmitida pela transmissão via diferencial para as rodas.
A junta homocinética permite que o semi-eixo e a roda possam movimentar-se em ângulos diferentes, fazendo com que a roda possa girar livre para os lados e de cima para baixo ou vice-versa, acompanhando o terreno e a direção que se queira tomar.
Quando essa peça está avariada, geralmente por contaminação com água, poeira ou lama, por isso possui um guarda-pó (coifa), ela provoca um ruído forte, facilmente audível. Ela é feita de um conjunto de esferas de aço numa cúpula e quando dá sinal de problema, o recomendável é troca-la imediatamente numa oficina especializada.
O preço da junta homocinética varia bastante, mas geralmente começa pouco acima de R$ 100 e pode chegar a valores muito elevados, dependendo da marca e modelo ou se é nacional ou importado.
Além disso, a chamada manga de eixo pode apresentar problema no rolamento que prende o semi-eixo na roda, atravessando essa peça que faz a ligação entre o braço da suspensão e a chamada bieleta da barra estabilizadora, com o eixo da roda.
O rolamento tem preços variados, mas pode ser encontrado a partir de R$ 25.
Direção hidráulica
A direção hidráulica pode gerar um ruído contínuo e agudo, assim como vibração no volante ao esterçar. O motivo é o baixo nível do fluido do sistema de direção.
Para evitar esses problemas, basta completar o nível do óleo lubrificante do sistema.
Entretanto, se isso nunca aconteceu e de repente começou a apresentar baixo nível, o recomendável é fazer uma inspeção para verificar se não há um vazamento de fluido.
O serviço deve ser realizado em uma oficina, de preferência especializada em sistemas de direção. O custo vai variar de acordo com marca e modelo, assim como dos reparos que precisarão ser feitos.
Precaução
Para evitar ouvir ruídos e barulhos indesejáveis ao virar o volante, o importante é estar com a manutenção do carro em dia.
Verifique, de acordo com o manual do proprietário, os períodos de substituição e verificação dos itens de suspensão e direção, sempre sendo recomendado ir em oficinas especializadas para obter um serviço de qualidade e com preço aceitável.
Também verifique o estado do sistema de direção hidráulica, assim como pneus, freios e rodas, pois o desgaste natural de pneus, pastilhas e discos, por exemplo, facilita a geração de problemas em outros componentes, que aí poderão gerar mais ruído ao volante.
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mxxxrsalgado-blog · 7 years
Note
[ drape ]
tw: menção a violência 
A tonalidade púrpura tinge a epiderme do abdômen ao que a dor irradia pela superfície, propagando-se pela corpulência masculina à medida que os músculos tensionam. O filete escarlate peregrina pela superfície do lábio, umedecendo o queixo com gotículas de sangue. Ele precisava respirar, mas a sensação de estar com o nariz fraturado prejudica o processo. O policial eleva o tronco quando sente a pontada em seu tórax, levando as digitais trêmulas a região. Não seria a primeira, tampouco a última vez que apanharia do chefe da máfia por ter fracassado. O seu aparente fracasso, porém, era sinônimo de vitória à polícia. Naturalmente que o líder do grupo corrupto desconhece da informação, mas ele sente em sua própria pele a fúria alheia. Por alguns instantes, Myungdae acredita que desmaiaria em virtude a moléstia. Mas o consciente não quer abonar aquela dor, pois o mantém em sã lucidez quando precisa cuspir sangue. “Por quanto tempo mais aguentaria?” O questionar advém junto a imagem de seu suposto líder recolhendo uma barra de metal entre os dígitos, deslizando-a pelo chão para levantá-la e entrecortá-la no ar, mas aquele para subitamente ao que olha em sua fisionomia. Nem por um instante, Myungdae havia pedido por clemência, mas o olhar desesperado entrega a condição de sua alma. O líder lhe diz algumas palavras, cujo discernimento é restrito a palavras-chaves: saia daqui. Myungdae não sabe de onde extrai energia, mas ele põe-se primeiramente de joelhos para então tatear a superfície da parede e firmar as pernas. De relance o Moon tem a sensação que cairia, pois a visão turva inebria o equilíbrio e ele fraqueja. Mas era orgulhoso demais para cair de joelhos diante aquele que tanto repugna, seu próprio avô. O homem não havia hesitado nem por um instante em lhe bater por quase duas horas, mas não jazia de todo surpreso. O genitor da família era destituído de misericórdia ou empatia, portanto, ainda estar vivo é o que surpreende. Afinal, o seu “equívoco” fora sinônimo de perda de milhões. E, para alguém tão capitalista e egoísta quanto o avô, algo como aquilo era imperdoável. Mas Myungdae não liga verdadeiramente para a dor ou pela lamúria do avô, aquela quantia monetária era sinônimo da soltura de inúmeras pessoas que jaziam refém do tráfico humano e prostituição. Estava de consciência limpa por ter conseguido libertá-los a tempo da chegada dos homens do avô. Porém, tudo tem o seu preço e o salário de seu ofício era aquela dor angustiante. Ainda com o equilíbrio debilitado, o homem sai às pressas daquele covil. O ar sendo repuxado de seus lábios agora inchados para suprir a demanda por oxigênio quando está ao ar livre. A destra vai em direção ao próprio nariz, tomando a coragem de colocá-lo no lugar ao que morde a boca ao sentir o estralo. Tudo o que precisava era chegar em casa e cuidar dos próprios hematomas. Por ter sido praticamente sequestrado pelos comparsas do avô era natural que não estava com nenhum carro, logo o que lhe resta era andar até o próprio apartamento. Mas ele sequer havia imaginado que o encontraria durante o percurso de volta para casa. Kikwang. E para piorar à sua condição, ele havia percebido a sua presença. Raríssimas eram às vezes em que desejava ser ignorado pelo outro e aquela era uma das vezes, pois ele havia orado em silêncio para que o outro não viesse em sua direção. Mas é o verdadeiro oposto. O modelo estava vindo em sua direção. Poderia jurar que havia um olhar preocupado em sua face, mas de certo que o último detalhe era uma percepção enganosa de sua mente. Quiçá por estar tão focado em ignorar a dor e a angústia em seu próprio ser, Myungdae não percebe a tempo que estava caindo. Estava fraco por causa da tormenta das últimas horas e debilitado psicologicamente, mas ele repugna a si mesmo por decair na frente do outro. Porém, ele não sente o impacto dos joelhos contra o chão daquela rua, pois Kikwang o havia segurado. O olhar recai minimamente para o rosto daquele onde, certamente, se não fosse pela dor ele viria a sorrir para tentar tranquilizá-lo e dizer em monólogo que estava tudo bem. Mas estaria mentindo e odiava mentiras. “M-me desculpe, Kikiwang-ssi.” Oraliza em uma súplica, desviando o olhar e procurando inutilmente se afastar do outro. Porém, ou estava muito fraco ou o aperto de outrem era forte. Não tem total lucidez quanto a indagação, pois logo jazia no banco do passageiro no carro do outro. “Não me leve ao hospital, por favor. Eu vou ficar bem.” Jazia com os músculos tensionados e as mãos contraídas em punho. Definitivamente não poderia ir ao hospital. Afinal, como explicaria que havia chegue aquela situação? Poucos sabem que era policial e uma dessas pessoas era Kikwang. Havia confiado no outro para dizer tal informação, além de que sente que não conseguiria ter segredos para com outrem, portanto, acredita que ele entenderia o porquê do pedido. “Só me deixe em casa, eu sei o que preciso fazer.” Myungdae novamente morde a boca tentando sucumbir um grunhido, de certo que o efeito da adrenalina havia passado e a dor estava voltando. “Eu confio em você, Kikiwang-ssi.” Sussurra quando se permite fechar os olhos e recostar a cabeça contra o vidro do carro onde não percebe que havia adormecido.            
   (….) Quando, porém, retorna à sanidade, Myungdae sente mãos tocando-lhe o dorso para tirar o tecido que o envolvia, assustando-o o suficiente para agarrar os punhos alheios e arregalar os olhos. Estava assustado por acreditar ainda estar à mercê da tortura do avô, mas quando vislumbra da fisionomia de Kikwang, o policial afrouxa o aperto e retorna a repousar a cabeça contra o travesseiro. Uma das mãos, porém, ainda envolve as mãos alheias. Onde ele percebe tardiamente quando sente aquela sensação peculiar. “Me desculpe. Eu já estou indo embora.” O artista procura se levantar, mas é prontamente impedido por outrem. “Você sabe que não precisa me ajudar, Kikwang. Você não precisa fazer isso. Além de que eu não deveria estar aqui. Desculpe-me por incomodá-lo” Curvaria o tronco em um pedido de desculpas, mas só de ter se movimentando a pouco fora suficiente para sentir dor mais uma vez. “Droga. Eu sou um lixo, certo? Não deveria ter voltado a aparecer na sua vida. Me desculpe.” Sentia-se de certa forma apavorado, pois havia aquela sensação de precisar chorar. Mas ele tenta ao máximo, procurando virar a cabeça para o lado quando sente as lágrimas deslizando por sua face. “Só me perdoe. Por tudo.” Refere-se entre enigmas desde o fato do envolvimento de seu avô ao fato de ainda amá-lo. Sentia-se uma criatura vil ao direcionar amor para alguém que seu avô, direta ou indiretamente, havia ajudado a destruir. 
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