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"The Golden Nostradamus Oracle": unboxing e comentário 

Existe, no mercado esotérico,  uma infinidade de oráculos à disposição dos mais variados consumidores. Não estou falando nos tradicionais instrumentos e sistemas oraculares como, por exemplo, o Tarot, o Lenormand, Kipper, Sibilla, Gypsy, etc. Estou me referindo, neste vídeo, àqueles oráculos que são específicos, criados, provavelmente,  com uma única finalidade: abastecer o sempre crescente número de consumidores. Este, THE GOLDEN NOSTRADAMUS ORACLE é, na minha opinião, só mais um deles. Produzido pela conceituada gráfica e editora italiana Lo Scarabeo esse deck de 30 lâminas recobertas em dourados e com imagens bastante simples, que parecem saídas de pequenos detalhes de manuais de alquimia ou mesmo dos famosos "Livros das Horas", ele (o deck) parece enfrentar uma enorme concorrência baseado apenas no apelo dos (já bastante repetidas) arabescos e fundos em folheação a ouro. O livreto que o acompanha traz, em diversos idiomas, inclusive o português, um texto bastante primário sobre a pessoa, ou personagem, de Nostradamus, e alguns esquemas de tiragem além das tradicionais mini-explicações sobre o significado das cartas, acrescidos de frases atribuídas a ele (Nostradamus). Qualidade muito boa, apesar das cartas serem confeccionadas com um papel de baixa gramatura para o tamanho (são maiores que uma carta normal de Tarot, por exemplo) das mesmas. As lâminas vêm acondicionadas num estojo com detalhes no mesmo ouropel das cartas. Enfim, se você, como eu, não é um grande fã do Nostradamus e não se deixa convencer facilmente com qualquer coisa que brilhe, guarde seu dinheiro para adquirir algo melhor em termos de "conteúdo" e, até, valor histórico. 

Deck: THE GOLDEN NOSTRADAMUS ORACLE 

Autor: Pierluca Zizzi 

Editora:  Lo Scarabeo

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Memorabilia 3 > Memoriar (por m²) > Versus > MARCIA GADIOLI

imagem acima do livro Memorabilia 3

Versus, Memoriar (por m²) e Memorabilia 3 são  livros "de artista" produzidos pela  paulista  Marcia Gadioli.  Estruturados basicamente pela fotografia, seja como realização original ou reprodução de algo já existente, foram gerados artesanalmente com transferências de imagens para suportes distintos como o papel japonês de baixa gramatura, normalmente utilizado para restauros de xilografias ou etchings e algumas aplicações digitais sobre papel artesanal, todos com tiragem mínima.

 Memorabilia 3 é composto no papel japonês quase transparente, páginas sobrepostas, que segundo a artista, apresentam a mistura do tempo cingindo algumas gerações de sua família e "trazendo o momento, no qual o livro é folheado, as lembranças de uma trajetória e experiências vividas." Sobre uma base iluminada, as imagens  acabam por fundir-se assumindo, como pensa a autora, "certa individualidade", cabendo ao leitor a interpretação e construção de uma nova história.

Imagem acima livro Memorabilia 3

Diferentemente do que buscamos em um livro de arte, um catálogo ou uma monografia, esta peculiar produção considerada como "artística" é uma apresentação em um meio singular: concebidas como obras de arte em si mesmas. Por não entrarem em um processo maior, onde existe a necessidade absoluta de uma gráfica, sua expansão é determinada primordialmente pelo autor. Entretanto "ele flui para canais não convencionais e alcançam um público sem consentimento institucional ou comercial. " Uma crítica e uma alternativa ao stablishment editorial como dizem os impressores novaiorquinos da Printed Matter, Inc., uma organização sem fins lucrativos dedicada a produção e difusão desta maneira de mostrar um trabalho.

 Memorabilia 3 de Marcia Gadioli, que também é um objeto, tem suas folhas acondicionadas em uma caixa de luz que permite que as transparências sejam visualizadas. Estas podem criar novas interpretações como um recurso metafísico tanto para as páginas já vistas (o que torna-se pretérito) como as que estão pela frente (vigentes ou futuras) trazendo assim a subversão da temporalidade da narrativa que se une a visão entre o passado formal (as imagens de família antigas) e aquelas  contemporâneas ( produzidas pela autora para o livro).

Imagem acima do livro Memorabilia 3

A ideia da temporalidade certamente se manifesta na imagem antes da escrita, desde a pré- história, o que o filósofo francês Pierre Lévy chamou de temporalidade cíclica ao estabelecerem uma correlação entre as tecnologias cognitivas, ou seja, esse caminho que a "informação" leva para chegar até nós. Também pensamos nas "camadas" sobrespostas da arte contemporânea desde estes primórdios e a possibilidade da reintegração do fazer artístico no tecido da sociedade como um todo como era no príncípio, lembrando da curadora e crítica de arte novaiorquina Lucy R. Lippard  em seu ótimo Overlay- Contemporary Art and Prehistory (The New Press, 1995).

 No que chamamos de arte, algo muito subjetivo, esta proposta se manifesta pelo lúdico e pela possiblidade interdisciplinar de apresentação como oferece Marcia Gadioli. Ora como um objeto em si mesmo, ora pela possibilidade de intervenção do leitor, embora, como já provou a mineira Lygia Clark (1920-1988) nos anos 1960 esta é uma manifestação idiossincrática à própria ideia da arte. Igualmente quando a autora busca recursos textuais, nos vemos diante do arcabouço intelectual formulado pela genial artista suíça Mira Schendel (1919-1988) essencialmente nutrido pelas suas inquietações filosóficas.

imagem acima do livro Memoriar (por m²)

Podemos fazer paralelos através de muitas publicações que utilizam a imagem fotográfica para recorrem às questões transitórias e familiares, livros de tiragens bem maiores, mas ainda não tão próximos de produções convencionais, como o já publicados aqui como Catálogo de Perdas ( Sesi São Paulo, 2017) dos paulistas João Anzanello Carrascoza e Juliana Monteiro Carrascoza ( leia aqui review https://blogdojuanesteves.tumblr.com/post/167306135631/cat%C3%A1logo-de-perdas-jo%C3%A3o-anzanello-carrascoza/ ) ou o mais recente Veredas Mágicas (Fotô Editorial, 2019), da paulista Norma Vieira, ( leia aqui review https://blogdojuanesteves.tumblr.com/post/615294813623975936/a-compreens%C3%A3o-da-obra-de-arte-em-seu-esp%C3%ADrito-mais/ ) que trabalham reminiscências particulares em uma transcrição mais usual, inclusive na conjunção de texto e imagem.

 Em diferentes formatos, meios e tamanhos, os livros da artista trazem afinidades entre si. O principal é compreender que um  livro dessa natureza  é acima de tudo um convite a reflexão. Inclusive como discussão sobre a própria forma de um livro. É também uma experiência física que permite conexões com o meio - que embora seja social em suas implicações - é individual e pessoal, como pensa a curadora Lucy R. Lippard que, juntamente com o artista americano Sol LeWit (1928-2007), entre outros nomes, criaram em meados dos anos 1970 a Printed Matter, Inc.

imagem acima do livro Memoriar (por m²)

Já Memoriar (por m²) é um trabalho em que Gadioli procura abordar a memória coletiva, a passagem do tempo, usando como referências as alterações urbanas, embora a mesma direcione sua pesquisa para memória pessoal, "descobrindo e reconstruindo relações familiares  principalmente entre as mulheres ", o que sentimos como aproximação ao trabalho anterior, ambos produções de 2019.

 Segundo a autora, que vem de uma família tradicional "dita patriarcal" há o sentimento da presença e a potência das mulheres em suas diversas gerações. Uma percepção que, para ela, provoca certa desestabilização e questionamentos relacionados a sua identidade. Entretanto, neste livro, um objeto de um metro quadrado,  a construção dos layers e de como eles são vistos é semelhante a sua peça anterior. Memoriar (por m²) fez parte da mostra coletiva 1 mulher por m², no Espaço Ophicina em 2019 que itinerou por diferentes cidades, com curadoria da artista plástica e galerista paulista Lucrécia Couto.

imagem acima do livro Memoriar  (por m²)

A busca pela singularidade é da índole da arte e da fotografia ou ambas juntas.  Já em 1966, o artista americano Edward Ruscha lançava quase desapercebido o seu Every Building on the Sunset Strip, impresso em offset litográfico, um processo muito barato, no formato Leporelo (como uma sanfona) que aberto chegava a quase oito metros. A crítica mais progressista da época achou que ele estava reinventando o processo do livro de artista, afastando-se do artesanato e do estatus de luxo que caracterizavam este em favor da ideia e do conceito artístico, simplesmente expresso por textos e fotografias, buscando então uma produção e distribuição em massa. Já o mainstream, como as grandes bibliotecas rejeitaram os livros que então custavam alguns míseros dólares e hoje são cotados na média de US $ 1.500 um único exemplar vintage.

 Ruscha em seu tema banal, proposto "de maneira fria e inexpressiva" como está em seu verbete no Museu of Modern Art ( MoMA) de Nova York, que abriga um dos exemplares originais, um estudo fotográfico de norte a sul da avenida Sunset Strip de Los Angeles, teve como inspiração as imagens do consagrado fotógrafo americano Walker Evans ( 1903-1975) um conjunto de sinais e  da arquitetura vernacular nas ruas americanas feitas na década de 1930. Aqui o uso proposto da fotografia pelo artista, como mapeamento ou estudo topográfico e topológico, sinalizava já um impulso conceitual, ao invés do documental, aproximando-se assim da arte, bem como a recorrência a tipologia ( como em Evans) se aproxima a obra magistral de Schendel.

imagem acima do livro Versus

A edição Herbário Baldio (Ed.Fotô, 2019), da fotógrafa paulista Ana Lucia Mariz , uma edição basicamente artesanal, onde a autora elabora as imagens em uma técnica nada ortodoxa de raspagem depois que o papel é impresso, uma espécie de frottage ao contrário com delicados ramos de plantas - inspirada pela botânica inglesa Anna Atkins (1799-1871), segundo historiadores a primeira mulher a publicar um livro ilustrado- aproxima-se mais de leituras poéticas entre questões ambientais voltadas a nossa natureza.  Embora, apesar da inserção feminista na opção de Marcia Gadioli não deixe de conter a poesia em sua maneira mais formal, seu posicionamento, como o outra fotógrafa, aproxima-se de discussões políticas mais contemporâneas.  ( leia aqui review https://blogdojuanesteves.tumblr.com/post/185680834281/a-fot%C3%B3grafa-paulistana-ana-lucia-mariz-h%C3%A1-tempos ) .

 Em Versus, de 2019, Marcia Gadioli, recorre novamente as fotografias familiares acrescentando documentos também. Ela faz uma pesquisa de sua memória pessoal, detendo-se na observação destes materiais " documentos, fotografias e seus versos,  relembrando a forma de relacionamento entre as pessoas e as imagens que naquele momento estabeleciam laços afetivos que hoje são arquivos de memória." Daí, segundo ela, o uso do verso das imagens e a escolha de um tamanho diminuto, uma metáfora para algo precioso. Diferente dos demais, a autora recorre em parte a impressões digitais acompanhadas pelas artesanais. A artista criou o pequeno livro para a mostra Caixeiro Viajante, de outubro de 2019, na Galeria Casa Contemporânea, da qual é  proprietária juntamente com o arquiteto e curador Marcelo Salles.

imagem acima do livro Versus

Aqui também a  proposição do uso do verso da imagem fotográfica (que normalmente carrega em sua maioria anotações dos créditos ou informações mais localizadas) nos leva a excelente mostra Foto Cine Clube Bandeirante: Do Arquivo a Rede, iniciada em 2015 no Museu de Arte de São Paulo (MASP), com curadoria da artista plástica mineira Rosângela Rennó, que deu destaque ao verso das imagens, que continham os carimbos dos fotoclubes por onde elas viajaram. Curiosamente a curadora diz que a ideia veio justamente da falta de informação sobre os autores e que as referências contidas nos selos e carimbos foi uma forma de localizar as imagens no tempo. O que nos leva também ao pensamento de Gadioli e seus "arquivos de memória". A publicação homônima feita pelo museu paulista em 2016 é talvez o documento visual mais completo sobre a  produção modernista brasileira.

  Um longo caminho separa a produção de Marcia Gadioli da produção seminal e histórica dos anos 1960, onde muitos dos artistas conceituais pioneiros, assim como artistas de performance e outros de mídia experimental começaram a explorar as possibilidades da forma de um livro como um meio artístico. Sejam aquelas produzidas economicamente que permitiam a experimentação com obras de arte que eram acessíveis e podiam circular fora do sistema de galerias convencionais ou estas de que falamos, mais limitada, pela sua alta preocupação artesanal. Independentemente disso, hoje enxergamos essa produção como obras de arte complexas e significativas.

imagem acima do livro Versus

Como pensam os herdeiros da curadora Lucy R. Lippard  os livros de artista, continuam a nos mostrar um reflexo notável das práticas visuais contemporâneas - traçando a vanguarda dos desenvolvimentos mais importantes em sua trajetória histórica. Em face da proliferação contínua da mídia digital e da informação aberta e democrática, ressurgem surpreendentes nos últimos anos. Em que pese o paradoxo de vivermos atolados neste inevitável mundo digital,  estamos no momento certo para saudar com simpatia e comemorar publicações como estas de Marcia Gadioli e outros artistas, nos libertando de um único sentido visual e a nos levar pelas múltiplas experiências, inclusive aquelas não satisfatórias, antes que possamos perder esta importante capacidade humana.

 Imagens © Marcia Gadioli   Texto © Juan Esteves

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RS Notícias: Imagem Folheados - Já temos mais Lançamentos!

Fonte: RS Notícias: Imagem Folheados – Já temos mais Lançamentos!

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Eu sou o filho favorito Concebido e expelido do umbigo Em véu folheado à vidros E reflexos de outros ritmos Hei de marchar sob teu peito Enquanto danço com teus fuzis E as meia dúzias de bandeiras Serão costuradas como toalhas de mesa A nuvem negra é uma paráfrase Em desrespeito ao olho que tudo vê A futurologia frutas cristalizadas Admite a culpa como leve deslize Onde esteve, meu capitão? Entre o sangue ou o álcool? Em beijos rebatidos à torcida Morto e de lábios enxertados O teu nome ao primogênito Era sinônimo de desforra O teu corpo, um bordel A tua voz, o enigma Eu empunho teus feitos e heróis Como se fossem meu, meu pai Eu visto tua pele, como se fosse a minha Meu moinho entalhado no peito Eu amo os teus amores também Eu faço a minha imagem a semelhança deles Em mim faço morada de teus túmulos Nada que possa ameaçar o plantio de vossa terra O órfão que adotara os pais Que inventara teu sobrenome par Que adulterara seu sotaque E confabulara parentescos de grau de  terceiros...

O Filho Favorito, Pierrot Ruivo 

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Colar Escapulário de Coração com a Imagem de Maria

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