Começou com eu não sendo capaz de acompanhar o ritmo da batucada. Eu queria correr, mas me sentia impedida, então precisei deixar as baquetas para trás.
Depois, os anos vieram fortes, e faltou maturidade para conviver no meio dos sábios - que então percebi que não eram sábios, apenas fingiam. O que não impediu de me expulsarem do grupo. Tudo bem, talvez eu tenha merecido por ceder demais e deixar minhas vontades de lado.
Entrei então numa briga de lobos, e certeza que me tornei eu mesma uma deles. Vivendo sempre em guerra, sempre em alerta, sempre esperando o próximo ataque - a me defender e também a fazer. Felizmente, ao ver que aquele ciclo jamais se encerraria, fugi. E de tantas cicatrizes e crateras, tornei-me lua. Solitária e apagada, sem muita perspectiva - até que o sol me encontrou, e iluminou.
De tudo que sofri antes, finalmente um pouco de morno para aquecer o coração. Dias ensolarados, noites brilhantes. Mesmo na chuva, nos aquecíamos. Mesmo quando a matilha voltou para me buscar, ele me abrigou. Era o ciclo perfeito, mas precisou ser encerrado quando notei que o sol precisava seguir seu fluxo, e já estava chovendo demais.
Ainda como lua, ao ver meu reflexo no mar deixei-me levar, mas o mar nunca foi de fato meu, e essa ferida durou meses para cicatrizar. Lá estava a lua com mais outra cratera.
Com o passar do tempo, nuvens passaram pelo lugar, mas o vento sempre os levaram rápido demais para qualquer um se apegar. Perdida em quem eu era - ou, pela primeira vez estando como eu mesma - me vi tomada por uma raposa.
Outro canídeo, mas julguei que dessa vez eu estava preparada. Em minha mente, agora eu já saberia lutar, eu já saberia me defender, tinha tudo preparado para durar. Porém a raposa tinha novos truques, claro, tão mais experiente, tão mais selvagem, tão mais sábia. Dessa vez eu não precisaria lutar, eu só precisava acompanhar. E como eu amei acompanhar. Em todas suas performances, a raposa punha sempre o melhor de si, e me deliciava ver todo seu potencial e alegria. A raposa estava no seu lugar certo, só faltava o mundo enxergar isso… e a raposa concordava, porém tanto que resolveu levar a si para o mundo, e eu que só tinha uma única função, não consegui acompanhar. Só e abandonada, por vezes lembrada, mas nunca o suficiente, pois a raposa era sagaz, e haviam segredos que ela escondida que precisavam ser tratados. A falta da raposa me fez definhar. A distância a tornou mais selvagem, os novos ares, menos compreensiva. Assisti enquanto meus maiores medos se tornavam realidade, mas a raposa era só desdém. Não havia pra onde correr, não havia lugar para estar, a guerra se iniciou novamente, e nenhum histórico e conhecimento poderiam ajudar: a raposa finalmente mostrou suas garras, e ela não iria mais parar… Mais feridas, mais dores, mais crateras. Mas já não sou mais a lua, tão pouco a loba, dificilmente uma própria raposa… Será que no fim serei sempre a chuva? Pra onde fugir quando eu mesma sou a própria tempestade?
Novamente quebrada, em ruínas, desesperada. Será que um dia isso tudo terá mesmo um fim?
Eu só queria ser uma estrela… Eu só queria conseguir brilhar com minha própria luz, e iluminar quem estivesse próximo. Eu só queria guiar, e ser minha própria guia. Ser luz mesmo quando chove. Ser brilho mesmo quando é névoa.
Nosso encontro não foi por acaso, eu tenho certeza. Nossa conexão foi espontânea. Estávamos vibrando na mesma frequência. Era pra ser.
Eu achei que você seria a resposta para todas as minhas perguntas, que você apaziguaria a agonia de uma vida inteira, eu enxerguei em você a solução de tudo, o futuro prometido, a restauração de coisas que você nem pode imaginar, eu coloquei tanta expectativa, fui com tanta sede ao pote. Não passou pela minha cabeça que somente um ano depois tudo mudaria.
O problema é que eu esqueci que tem dores que só podem ser curadas por quem as causou, que por mais que você tenha me entregado tudo eu não tinha nem metade de mim pra te dar de volta. Eu não posso culpar alguém, não posso dizer que é culpa de um passado traumático ou coisa e tal, a verdade é que relacionamentos exigem comprometimento, indenpender um pouco de si pra conseguir depender um pouco do outro, amadurecer e saber que ter um relacionamento a dois é ter uma vida a DOIS. E eu só sei ser sozinha.
Eu tinha certeza que estava pronta, mesmo depois de perceber que não, ainda lutei por isso, não aconteceu de uma hora pra outra, não acredito que o fim é assim. Por mais que nosso início tenha sido instantâneo, o fim começou lentamente com pequenos desencantos, com tropeços que deixavam pedaços de sentimentos para trás. E a linha de chegada (ou partida) tá ali, na minha frente a muito tempo e eu não quero alcançar, porque é dolorido. Pode não parecer com muitas das minha atitudes/falas mas eu sou um poço de dores sensíveis, minhas e dos outros, as vezes são tantas coisas que eu finjo que não aconteceram ou que não me quebraram todinha e ninguém nunca vai saber ou só vão saber a versão leve e cômica.
Mas, por mais que doa, eu vou atrasavessar, e dessa vez serei egoísta em dizer que por mais que te ame, não te deixo livre por você, e sim por mim. Porque esse amor deixou de ser como um caminho esperançoso e bonito e começou a ser tempestade que destrói tudo e antes que nos destrua eu quero que pare. Pare enquanto é bonito, mesmo que um pouco bagunçado, pare enquanto é saudável. Existem amores que não são feitos para vida inteira, mas são uma história inteira. E toda história tem um fim.
Assim como as flores roxas desabrocham no fim da tarde.
Assim como eu sou em vão, vagando nessa rocha em terrível desilusão.
Assim como eu planejei uma viagem sem retornar a margem dos meus pensamentos passageiros.
Assim como vivi em devaneios de dezembro a janeiro.
Assim como o copo está sempre cheio e sempre vazio.
É tudo perspectiva de uma vida mal resolvida.
Assim como não viver e não ser acabou se tornando quem eu era e quem eu fui.
Assim como as flores azuis secaram na tarde chata de segunda.
Assim como as novas flores não podem seduzir quem outrora só mora aqui dentro por fração de tempo.
Assim como eu espero que chegue o inverno.
Eu não prospero quinta de manhã, e assim como no passado eu deixei flores amarelas.
Assim como todos os outros eu não pude enxergar o senso comum.
Eu era e sempre serei daltônico perante ficar em prantos.
Assim como de canto eu choro odiando ou amando.
A mando de quem?
Dos sentimentos escondidos.
Dos seus sentimentos proibidos.
Sofri e sofro assim como o cegueira que varre minha visão.
Sofri e morro assim como sentir o cheiro de novas flores.
Assim como um camaleão mudando a cor perante o perigo eminente.
Assim como a borboleta brilha no sol do meio-dia, latente e ardente.
Assim como ser melhor que ontem.
Eventualmente.
Assim como ficar pra sempre no Jardim.
Assim é tudo isso pra mim.
E assim que eu puder ficar melhor na colheita do fim de ano, então o farei.
Assim como todos os outros?
Eu não sou como todos os outros.
Outrora pareça ser pouco, meu sentimento não se ofusca perante qualquer esboço.
Então posso ser daltônico, mas a minha maneira de ver essa rotina é observando o jeito que a cortina balança e se comporta na neblina fria, na chuva de quinta, e no frio congelante.
Me tornei um âmbar de cor ambulante.
E morri distante.
A fração de tempo em que permaneço aqui e ali, é só uma perspectiva não tão vazia assim.
E assim como todos os outros eu não consegui seguir.
Cheguei num lugar tão estranho dentro de mim, que a poesia não mais brota, não estou queimando mais, fico revisitando o passado em busca de alguma faísca perdida pelo caminho, mas, em mim o passado fica empoeirado rapidamente, até esquecido, a minha poesia nunca me pertenceu, não tenho uma poesia escrita que eu ame mais ou menos, na verdade nem lembro delas, quando vou reler alguma se quer me reconheço nas linhas, eu queimo e eu mesmo apago da mente, da minha trajetória.
Sigo buscando em mim a intensidade perdida, o afeto genuíno, o transbordar, eu sou meio copo, não sei se meio vazio ou meio cheio, mas não posso vir aqui e reblogar algo que não me queima mais, então posto o que coloco no papel e fica ali, parado, amarelando as folhas. Acho que está chegando o fim do meu ciclo por aqui, sinto que estou a me despedir deste local que tanto me acolheu, tanto me fez queimar toda minha intensidade.
Sou uma economista, racional, baseada em exatas, mas aqui eu sou a menina que tem um diário, que escreve sem medo, dos sentimentos, dos erros ortográficos, a moça que senta na areia da praia e tenta entender os mistérios da vida.
Eu escrevi mais para esvaziar, que guardar, paredes cheia de diplomas, conquistas, prêmios, quem diria que a jovem cheia de parafusos, andando, não se arrastando chegaria tão longe com sua bengala física, e aqui é a minha bengala emocional que mantém em pé sentimentos que guardo e só me sufocam até ir para o papel.
Nunca pensei em expor o que sou aqui, é frágil, é secreto, é algo só meu, quem conhece meus dois mundos não entende, quem conhece apenas um, acha cansativo, lidar com números, lidar com sentimentos, eu me via num lugar confortável em ambos os lados, mas agora está chegando ao fim.
Sinto falta da poesia dele, sua melhor parte era essa, aqui tinha um certo sentido quando eu poderia ler um dos maiores poetas anônimo que já li, era visceral, genuíno na sua natureza por em linhas organizadas seus sentimentos bagunçados.
Temos poetas incríveis aqui, mas ele sempre foi um diferencial e sempre que desejava me punir sumia, como alguém que te presenteia com o silêncio quando que te punir, eu aprendi que não devo esperar muito dele, ele faz o que pode, o problema é que sempre pode pouco. Mas qual poeta não é egoísta, eu mesmo sou, detesto que me copiem, detesto que usem minhas cinzas para ganhar "gostei" por aqui, já vi minha poesia no Facebook com minha antiga logo, com outro autor, fiquei tão furiosa que desinstalei o Facebook, depois de prometer que iria ter ao menos uma rede social, não sei se foi desculpas ou se foi raiva, era minha, você pode se conectar, mas não pode tomar pra si algo que me queimou por inteira.
Ah! Poetas que ainda queimam, sei que vocês são poucos, mas eu sei o quanto queimar é necessário, eu também já fui assim, hoje tô morna, nas minhas veias algo normal paira e me assusta, sem a intensidade, serei apenas a de exatas? Aquela que é respeitada por ser fria e calculista, por não errar com os números, será que de agora em diante terei que ser feliz com pagamentos, com reconhecimentos de exatas, será que neste exato momento enquanto espero mais um voo, eu teria que estar feliz por ser escolhida para um trabalho que amo fazer, mas nunca me fez queimar, será que eu deveria estar queimando agora? Não estou, estou triste, bem triste, com medo de ficar deprimida sozinha num quarto de um belo hotel, sendo paparicada porque sou boa no que faço. Eu sempre me pergunto se faço a coisa certa? Ajudar quem não precisa de ajuda, fazer felizes pessoas que sabem o seu saldo bancário, mas não lembro com exatidão do nome do filho, já presenciei um homem importante não lembrar que havia se separado e no final dizer que são todas iguais. Que pobreza não é mesmo, essas não tem dinheiro que compre a riqueza de ter o que o dinheiro não pode comprar.
Eu não quero me tornar assim, por isso cultivo minhas florzinhas, por isso o amor que sinto por elas me faz agradecer, que eu perca a vontade de queimar, tudo bem. Mas que eu jamais me esqueça que elas são um sonho que sonhei e julgava impossível realizar, pois hoje as tenho, as amo, sou feliz ao falar delas, sou abençoada.
Queridos poetas, talvez aqui reside devaneios meus, que irão oscilar com algumas poesias antigas, espero que entendam que talvez eu me vá, só não vou fazer despedidas.
Eles buscam pela verdade mas não querem encontrar,
Eu tentei me conformar, eu nunca concordei com nada disso,
meu silêncio foi pra sobreviver,
Para uma criança solitária, o que pode significar amar?
Tentaram exorcizar meu jeito feminino,
Encontrei desde cedo um refúgio nos livros, desabafos e desejo de criar,
Mas pode uma mentira ser tão bela e colorida a ponto de se acreditar?
Eu era novo demais,
coração ingênuo por sonhar,
Nunca diga nunca, tentaram me avisar,
Mas eu neguei e tentei fugir,
Minha vida se tornou um filme de horror,
Sozinho e com dezesseis anos,
Eu nunca tive um lugar pra voltar,
Em casa tinham vergonha de quem eu era,
Quando viram que não poderiam me consertar, me jogaram pro fim,
Meus livros, meus textos, minha alma,
Fecho os olhos, mas ao abrir estou preso na mesma memória de dor,
Ainda ouço ecos da sua voz no corredor da minha mente tentando me calar.
Eu fui o herói enquanto tentavam me matar.
Os seus olhos podem me ler desde os treze anos, um eterno conflito,
viver da arte ou morrer pelo holofote,
As paredes dessa cidade foram construídas com lágrimas de sangue e crueldade.
Vivendo num limiar, sem saber onde vai dar, tentando me manter sozinho,
Ao virar a rua existe um anjo caído, oferecendo seu pacto de mentiras.
Desde que eu nasci eles dizem que eu sou um pecado,
Como pode o amor ser algo errado?
A primeira vez que eu vi aquele garoto,
Algo tão belo se fez queimar no peito,
Mas agora todos estão decepcionados comigo.
Eles transformaram meu amor em um experimento,
Meus sentimentos suas piadas internas,
Eu nunca tive alguém em que eu pudesse confiar,
Ela era minha melhor amiga, e no final, eu fui o sacrifício,
A vida pode violentar, mas não mais que um amigo,
Você disse que eu deveria superar,
Que sou fraco demais, que eu não tenho maturidade,
Dormindo com o inimigo e lendo mensagens que pedem para que eu morra,
O que eles não sabem é que ando procurando por razões e motivos.
Expor sua depressão para o mundo é atestar insanidade,
Ultimamente venho sendo tão insano comigo,
Esconder toda essa dor me tornou o vilão de mim mesmo,
No fundo do peito, no silêncio do meu quarto à noite,
Num reino perdido do medo,
Essas palavras expelem como veneno,
Eu preciso expor toda essa crueldade,
Preciso dizer a verdade,
Algumas cicatrizes carrego desde cedo,
Que esse sangue escorra em arte,
Decisões profundas para pouca idade,
Toda crueldade que existe nessa cidade,
Que eu consiga curar esses sentimentos,
Não serei o culpado dos teus erros,
ou então serei assassino de mim mesmo.
Chega de crueldade. Esse é apenas o começo.
Esse é um trecho de meu próximo livro ‘’A Queda do Anjo’’, ao longo dos meses irei soltando trechos de capítulos para vocês se sentirem mais próximos de mim neste momento mais vulnerável de processo criativo, obrigado por independente do momento e da fase, estarem sempre comigo.
Há uma década ou mais, quando você foi meu presente, quis te salvar de si mesma. Tirar seus olhos fixos do espelho sempre em busca de uma versão de si que você considerasse aceitável, de preferência uma que não me desejasse.
Quando tua ronda se transformou numa presença, te recebi. Pensei comigo que seria triste demais se você ainda fosse a garota dos olhos fixos. Preferi acreditar que você tivesse saído da frente do espelho e encarado o mundo melhor, que sempre esteve pronto para te receber. Foi inevitável nutrir alguma expectativa de que a hora fosse agora.
Três dias depois, você percebeu que não conseguiria ser mais do que uma passagem. Seus olhos seguiam tão fixos quanto sempre estiveram. Talvez tenham se acostumado tanto com o próprio reflexo que perderam a habilidade de enxergar quem quer que fosse. Aos teus olhos, tudo que não seja seu próprio reflexo, é invisível.
É triste que aos meus olhos sua imagem seja tão mais bela que seu próprio reflexo. É uma pena que o meu reflexo em seus olhos seja para mim a mais bela das imagens, da qual eu sempre serei privada.
Eu poderia me sujeitar a ser um reflexo em seu espelho, sempre na esperança de que seu olhar se desviasse aqui e ali para me enxergar. Contudo, ali eu não caberia, ali eu jamais seria feliz. Ainda assim, como sempre, não fui eu quem te disse adeus. Novamente, me vi tão incapaz de te deixar ir quanto você sempre foi incapaz de permanecer.
No fundo, sou grata por sua percepção acerca da sua falta de habilidade de olhar além de si mesma e por tê-la exposto a mim. Não fosse por ela, eu provavelmente me contentaria em ser um reflexo no seu espelho, apenas para poder ter um vislumbre dos seus belos olhos verdes, sempre fixos e intocáveis.
Eu sou eu! Mas quem serei afinal?
múltiplas visões de um único ser,
complexo num reflexo distinto,
dúvidas a minha identidade irreal.
Não sei quem sou, apenas crises e variantes constantes
do passado, meu eu se dispersou em rebeliões
de infinitos eus dispersos, abandonados em instantes,
perdidos em falsos amores e suas ocasiões.
Posso ser então um talvez sem ter tido sua vez
ou até um depois estagnado no através.
Mas quem sou? Uma resposta clara não possuo,
mas no abismo desta pergunta, sempre recuo.
Talvez, eu seja o impossível, além do traço desenhado no papel,
um campeão que perdeu em todas as batalhas travadas,
um contador que desafia seu compasso, em oposição ao réu,
ou O poeta que anseia que derrube suas muralhas, por ele erguidas.
Sou só um jovem, um gato preto, o amaldiçoado,
sou todo errado, um problema sem resposta,
uma incógnita sem fórmula, o menos retórico,
o indivíduo sem aptidão para nada, o deslocado.
Posso ser o infinito mais finito,
o perito mais inexperiente,
até a lápide de um morto,
um anjo caído do céu, amaldiçoado eternamente.
Posso ser tudo que se esvaiu em nada
ou o nada que se quebra ao todo.
Posso ser o lodo de uma pia mal limpada
ou só um devaneio cético e errado.
Sou o pior dentre os terremotos,
a constante mais improvável presa em destroços,
o personagem mais difícil de ser elaborado,
sou o que sou, humano talvez, em um caos estagnado.
Já fui por muitos odiado,
por alguns terminei em machucados,
em mim enraizado o perigo,
sou um extraterrestre sem abrigo.
Na intensa vastidão do mundo, sou a pior
face, pessoa, poeta, variante, consoante, o inimaginável.
Por Deus, sou o personagem sem cor,
o abominável, sempre em uma confusão inevitável.
Eu queria ser importante para alguém, ser olhado com olhos de desejos, carinho e amor, sabe? Quão bom deve ser viver algo recíproco. Atualmente tudo que amei ou gostei, fui só — seja em amizades ou amores.
Confesso que às vezes sinto inveja de pessoas bonitas, mas não é recorrente. Eu penso que quando elas se apaixonarem por alguém, já vão ter percorrido metade do caminho. Alguém vai ter reparado em seu sorriso, em seu cabelo ou no seu rosto, e vão dizer o quanto isso ou aquilo é lindo. Fico admirado que qualquer pessoa do mundo está ao seu alcance, também fico feliz porque seus corações serão partidos poucas vezes — de triste no mundo basta eu.
Em contraste à essas pessoas lindas, chegamos a monstros que nem eu. No momento em que eu me apaixonar por alguém, já começo lá no fundo do poço. Serei aquele que grita o nome da pessoa e espera que ela grite o meu de volta, só que no final — tudo o que ouço são ecos. Quem gritará de volta para mim? Quem vai estender a mão para alguém tão horrendo?
Me acostumei a ser essa mancha escura, a ser aquele que nunca chora, a ser aquela pessoa que é sempre forte. Me acostumei com minha própria escuridão. Sim, me acostumei com essa merda toda que eu sou, mas no fundo eu sei, me acostumei demais, acostumei com coisas que não deveria.
Todas as pessoas merecem ser felizes, e a maioria vai ser. Mas no final, pessoas como eu não merecem isso — Vilões nunca tiveram um “feliz para sempre” — e tudo bem.
o meu silêncio me causa grande angustia, mas às vezes é o mais gentil que posso ser comigo mesma. isso me custa tanto, custa um nó na minha garganta, mãos tremendo de uma forma que eu sinto lentamente todo meu corpo passar a balançar e custa duvidas dilacerantes que quebram minha alma tão facilmente como se fosse a camada de gelo mais delicada e sensível ja vista, mas sabe o que o meu silêncio me permite desfrutar? das bizarrices monstruosas que minha cabeça se atenta. eu adoro questionar, perguntar cada pequena coisinha e agir como se fosse divina a ideia de boas respostas para perguntas ruins. não posso evitar como eu me sento no chão, me encosto na parede fria, abraço meus joelhos e tenho liberdade para me torturar em silêncio, com o meu silêncio. e eu acho que não tem nada mais cruel do que como eu sou tão obcecada por detalhes, sejam eles assustadores de tão ruins ou apenas tão doces que eu sinto todo meu corpo esquentar de dentro para fora. por que ela disse aquilo? por que aquele garoto franziu a testa daquele jeito? por que eu fui tão boba sorrindo daquele jeito? por que ela não sente a minha falta? por que eu me machuco e sangro até que não tenha nada além de um espaço totalmente vazio? por que ele escolheu aquela cor para mim? por que meu rosto esquentou tanto quando não devia? às vezes tudo que eu preciso é de 12 horas, sozinha, revendo cada detalhe de coisas que eu até me atreveria a perguntar. não me falta bravura, eu sou muito corajosa quando se trata de falar, mas sei que é desconfortável para outras pessoas quando eu os encaro com olhos do tamanho de um planeta, ansiosa esperando respostas de algo que eles nunca nem ao menos pararam para pensar, mas acredite, eu sim. perguntar é corajoso, mas ouvir é ainda mais e às vezes o ato mais doce que posso fazer por mim mesma é simplesmente não saber de nada e ter como única certeza o pensamento de que eu posso viver com isso, pois, por enquanto, acalmar o coração das outras pessoas respondendo duvidas e acalmando dores que elas nem ao menos pediram para ser sanadas é o suficiente para mim. eu durmo em paz sabendo que toquei mais fundo na alma de quem eu amo do que no dia anterior, durmo em paz sabendo que eles não precisam analisar os detalhes das minhas intençoes, pois eu as deixo tão claras como a seda de uma cama de hotel recém feita, sonho com quem eu amo sem esperar que eles sonhem comigo de volta, pois, por enquanto, os detalhes me levam a acreditar que sou querida e amada por quem realmente importa na minha vida, eu não fico doente analisando o brilho nos olhos quando eles me encaram, não fico perturbada com o toque gentil e uma mensagem com poucos emojis não me deixa apavorada me fazendo questionar quando serei abandonada. hoje, exclusivamente hoje, não me machuquei e não me torturei, os detalhes do que pensei não foram dolorosos e eu sei que amanhã pode ser diferente, mas hoje, quando meu coração acelerou e eu senti o pavor chegando quando minha respiração engatou eu lembrei das garantias recebidas de quem realmente importa e foi o suficiente para eu respirar fundo, deixar os malditos e delicados detalhes de lado e apenas seguir com a correnteza e então, meu silêncio não é tão perturbador e então, eu não preciso perguntar tanto.
Eu nunca serei uma filha digna para os meus pais, eles seriam bem melhor e teriam economizado muito mais sem mim. Ou até adotando uma boa criança. Meu pai diz que sou uma decepção pra ele, diz que sou inútil e imprestável. Minha mãe pega todas as minhas mágoas e feridas e esfrega na minha cara, não me deixando seguir e esquecer. Ambos menosprezam minhas conquistas e exaltam meus fracassos, pois, segundo ele, é minha culpa por não fazer como eles quiseram.
No amor eu deixei passar quem um dia quis um futuro comigo por alguém que vê mais erros que qualidade em mim, alguém que fica nas minhas fraquezas e não acredita nem nos meus diagnósticos, segundo ele é minha culpa tudo que acontece comigo e eu sou a pior das pessoas. Eu não sirvo como namorada, noiva, esposa ou mãe. Essa vida, segundo ele, não é pra mim e não tô apta a isso. Segundo ele, ele nem pode contar comigo e nunca vou ser uma de suas prioridades.
Meus amigos seguem a vida deles e eu não faço diferença em nenhuma delas.
Eu não tenho nada.
Nunca construí nada.
Não sou nada além de um chorume que polui tudo e todos.
Eu nem sou boa o suficiente para morrer, já tentei e até a morte me rejeita.
Tô tão farta e tão cansada.
Eu pensei que estava com a pessoa certa, que eu amo, mas errei.
Eu fui uma filha que tinha todos os orgulhos para dar aos pais e nunca reconheceram, aí, depois que eu desisto de mim, eles me culpam por ser essa merda que eu sou.
Em algum outro lugar , em outra vida talvez ,fui alguém de grande importância
Não para todos , pelo menos para um ou dois , ou uma multidão
Em algum outro lugar fui a dama escolhida por um amo que me alto valorizou
Em algum outro lugar fiz pinturas para marcar corações
Em alguma outra vida vivi o Jazz nas veias , sendo espetacular nos palcos , mas sofrendo nas ruas por minha cor
Em algum outro lugar ,poderia colher rosas em meu jardim , e pôr a mesa para jantar em família
Em algum outro lugar, meus olhos brilharam como nunca antes ao ver um sorriso
Em algum outro lugar ,chorei sem cessar e pela manhã veio o sorriso e o brilho no olhar, por alguém que vei a me salvar
Em algum outro lugar ,me tornei solitária ,pelo medo do abandono
Em algum outro lugar, sofri e revivi traumas por não saber escolher a mim
Em algum outro lugar tomei todas as atitudes que precisariam ser tomadas e tomei um orgulho ao meu coração , por me amar e me defender .
E neste lugar ... Quem eu sou ? Se apenas pisos em meus próprios cacos ...
E em qual lugar serei a mulher que pretendo ser?
Amada ou odiada ...não sei
Quem sabe qual será o lugar...?
Às vezes lembro de você, é estranho pois faz tanto tempo desde a última vez e mais tempo ainda que nos afastamos, mas é como se parte de você nunca tivesse ido embora. É como se tivesse um antes e depois de você, porque foi por sua causa que eu, apesar de levar um tempo, entendi que minhas atitudes, mesmo tentando acertar, foram erradas. Um tiro que saiu pela culatra. Talvez por isso, hora ou outra, eu olhe através dessa cortina que separa o antes e depois e sinta que, talvez, te encontrei no tempo errado. Por outro lado tenho a plena convicção que nada acontece por acaso e, se o destino quis que fosse assim, quem sou eu pra dizer que ele errou? Afinal de contas, só me tornei a pessoa que sou hoje por causa de todas as pequenas coisas que aconteceram. E, no que diz respeito a você, você foi a pessoa que eu mais amei mas não soube como amar. Hoje continuo não sabendo, mas sei o suficiente pra entender que cometi muitos erros e é inevitável pensar em como seria te conhecer nessa época da minha vida.
É inevitável pensar que talvez, só talvez, hoje fosse mais leve. Talvez você tenha sido a chance que eu tive e nunca mais vou ter, mas quem sabe o que o futuro reserva.
Sigo na esperança de dias melhores, sigo vivendo de acordo com o que aprendi sobre a vida e plantando sementes diferentes para colher coisas novas. Sem pressa, sem muitas expectativas sobre o que me aguarda, mas com a certeza que depois de você, nunca mais fui ou serei o mesmo.
E se nossa história teve um ponto final há um motivo que talvez vá além do meu entendimento, mas é assim que a vida é. Muitas coisas nunca vou entender, e talvez seja isso que a vida queira me ensinar: apesar da vontade de ter feito certas coisas diferentes, a única opção é aprender a conviver com as próprias escolhas, sem culpa, sem remorso, afinal foi feito o melhor que eu poderia fazer com a consciência que eu tinha naquela época. Nada foi em vão, e hoje sigo levando o aprendizado dos erros que cometi, tentando sentir a leveza e gratidão de ter passado por cada momento que me fez mudar e ser a pessoa que sou hoje. Sigo tentando não errar mais e acreditando que tudo aconteceu como deveria.
Talvez um dia a gente se esbarre em uma dessas esquinas... Mas, de qualquer forma, caso você leia isso algum dia: Obrigado por ter passado por aqui e eu te desejo uma vida extraordinária.
Não há chances para ninguém. O que eu perdi, quem eu perdi, é irrelevante. Eu fui e sempre serei só mais uma partícula de poeira, uma cirrose nos pulmões de alguém, a sobreviver à custa de um mundo que não é meu. A pensar em ser mais um grão de areia eu prefiro só ser o sal que se dissolve, a cor que não se pinta, de burro quando foge. Vou ser as nuvens, o cardume desfeito, a corrente perdida, vou ser um barco naufragado, uma surra de ideias que te espancou antes que fosses qualquer coisa. Uma situação desconfortante, um suor maltratante, um sorriso perdido em tantas lágrimas. Entenda-se, eu sou desconformado, desformatado, uma disquete que foi apagada, um vinil riscado, a repetir as minhas últimas palavras:
Nada.
Não sou nada.
Serei alguma coisa.
Ou morrerei nada.
Um excerto de "Súplicas de um Cadáver", um projeto dos meus, perdido algures.