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#25 de Abril de 1974
leiturasqueer · 5 months
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Maria Velho da Costa (1938-2020)
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REVOLUÇÃO E MULHERES
Elas fizeram greves de braços caídos. Elas brigaram em casa para ir ao sindicato e à junta. Elas gritaram à vizinha que era fascista. Elas souberam dizer salário igual e creches e cantinas. Elas vieram para a rua de encamado. Elas foram pedir para ali uma estrada de alcatrão e canos de água. Elas gritaram muito. Elas encheram as ruas de cravos. Elas disseram à mãe e à sogra que isso era dantes. Elas trouxeram alento e sopa aos quartéis e à rua. Elas foram para as portas de armas com os filhos ao colo. Elas ouviram falar de uma grande mudança que ia entrar pelas casas. Elas choraram no cais agarradas aos filhos que vinham da guerra. Elas choraram de verem o pai a guerrear com o filho. Elas tiveram medo e foram e não foram. Elas aprenderam a mexer nos livros de contas e nas alfaias das herdades abandonadas. Elas dobraram em quatro um papel que levava dentro urna cruzinha laboriosa. Elas sentaram-se a falar à roda de uma mesa a ver como podia ser sem os patrões. Elas levantaram o braço nas grandes assembleias. Elas costuraram bandeiras e bordaram a fio amarelo pequenas foices e martelos. Elas disseram à mãe, segure-me aqui os cachopos, senhora, que a gente vai de camioneta a Lisboa dizer-lhes como é. Elas vieram dos arrebaldes com o fogão à cabeça ocupar uma parte de casa fechada. Elas estenderam roupa a cantar, com as armas que temos na mão. Elas diziam tu às pessoas com estudos e aos outros homens. Elas iam e não sabiam para aonde, mas que iam. Elas acendem o lume. Elas cortam o pão e aquecem o café esfriado. São elas que acordam pela manhã as bestas, os homens e as crianças adormecidas.
in Cravo (1976)
Considerada uma das grandes vozes renovadoras da literatura portuguesa desde a década de 1960, Maria Velho da Costa foi autora de contos e de teatro, destacando-se sobretudo no romance. Escreve "Novas Cartas Portuguesas" com Maria Isabel Barreno e Maria Teresa Horta - tratado sobre os direitos das mulheres em Portugal - e que lhes valeria um processo judicial, suspenso depois da revolução de 25 de Abril de 1974.
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leitoracomcompanhia · 5 months
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Maravilhas
"Se alguém matou alguém deus ressuscitou a todos, porque estão a dizer que não houve nenhuma baixa. E as maravilhas nessa terra são tantas que dizem. Afirmam a pés juntos. Que só há música, flores e abraços. Dizem. Que de repente os ausentes estão a chegar. Os cegos vêem sem óculos nem outro aparelho. Os coxos deixaram de dar saltinhos, ficando as pernas da mesma altura. Mesmo os manetas tocam violino. De repente."
Lídia Jorge, "O Dia dos Prodígios; não sei quem foi o fotógrafo, desculpem lá.
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Pela Liberdade
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memory-echo · 5 months
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Vamos celebrar?
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filmloversociety · 5 months
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Documentary As Armas e o Povo (1975)
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sakuhina · 9 months
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Hi! Do you know any books in English about the Estado Novo Dictatorship and the subsequent 25 Abril Revolution?
Anon you asked this like months ago sorry I'm only answering this now, are you still here.
(Sorted alphabetically)
Estado Novo:
Fado and Fátima: Salazar’s Portugal in US Film Fiction
From the Armed Struggle against the Dictatorship to the Socialist Revolution: The Narrative Restraints to Lethal Violence among Radical Left Organisations in Portugal
Under the Sky (documentary about Jewish refugees in Portugal during WWII, audio is in English but subtitles in Portuguese)
Meeting Salazar: Irish dignitaries and diplomats in Portugal, 1942—1960
Home Bound: The Construct of Femininity in the Estado Novo
Memory of Resistance and the Resistance of Memory: An Analysis of the Construction of Corporatism in the First Years of the Portuguese Estado Novo
NATO's Secret Armies: Operation Gladio and Terrorism in Western Europe (Chapter 9: The secret war in Portugal)
On student movements in the decay of the Estado Novo
Portugal, Jewish Refugees, and the Holocaust
Re-reading the Photographic Archive: The Propagandistic Staging of the Portuguese Estado Novo in the Braga District
Salazar: A Political Biography
Salazar, The Dictator Who Refused To Die
Saloio Women: An Analysis of Informal and Formal Political and Economic Roles of Portuguese Peasant Women
Sixties Radicalism and Social Movement Activism - The War Against The War: Violence And Anticolonialism In The Final Years Of The Estado Novo
Territorializing Maoism: Dictatorship, War, and Anticolonialism in the Portuguese “Long Sixties”
The Memory of the Portuguese First Republic throughout the Twentieth Century
The Opposition to the 'New State' and the British Attitude at the end of the Second World War: Hope and Disillusion
The Portuguese Armed Forces and the Revolution
To Talk or Not to Talk: Silence, Torture, and Politics in the Portuguese Dictatorship of Estado Novo
Women's Organizations and Imperial Ideology under the Estado Novo
Ghosts of war: China’s relations with Portugal in the post-war period, 1945–9*
Wartime Macau: Under the Japanese Shadow*
Colonial War:
Amílcar Cabral's writings in English
Evading the War: Deserters and Draft Evaders from the Portuguese Army during the Colonial War
Killing Hope U.S. Military and CIA Interventions Since World War (Mentions the CIA's role in the Colonial War + subsequent involvements in Africa during their civil wars)
Modern African Wars (2): Angola and Mozambique 1961-74
Portugal’s African Wars: Angola, Guinea-Bissao, Mozambique
Portugal's Guerrilla Wars in Africa
Samora Machel Speaks, Mozambique Speaks
The Retornados from the Portuguese Colonies in Africa
The United States and Portuguese Decolonization
25 de Abril / Carnation Revolution:
Another Country (documentary about the revolution seen first-hand by foreign journalists, available in solidaritycinema)
From the Armed Struggle against the Dictatorship to the Socialist Revolution
Out of the Shadows: Portugal from Revolution to the Present Day
Portugal, the impossible revolution?
Revolução (small video from 1975 with images and speeches from the time)
Scenes from the Class Struggle in Portugal (documentary, quality is a bit bad)
These are all the articles, documentaries and ebooks I have in English, but I have plenty more in Portuguese if anyone wants. Some of these are not *necessarily* what you asked but eh. Do note I haven't read all of these. Let me know if any of the links don't work!
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rabbitcruiser · 1 year
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The Carnation Revolution (Portuguese: Revolução dos Cravos), also known as the 25 April (Portuguese: 25 de Abril), was a military coup by left-leaning military officers that overthrew the authoritarian Estado Novo regime on 25 April 1974 in Lisbon, producing fundamental social, economic, territorial, demographic, and political changes in Portugal and its overseas colonies through the Processo Revolucionário Em Curso. It resulted in the Portuguese transition to democracy and the end of the Portuguese Colonial War.  
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eleonorpiteira · 5 months
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Celeste dos Cravos
An illustration commemorating the 50 years of the Carnation Revolution that took place in Portugal on the 25th of April of 1974, and the woman, Celeste Caeiro, who gave the revolution its name with a simple gesture :)
25 de Abril sempre! Fascismo nunca mais! ✊
Art Prints: inprnt & Redbubble
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ariadneauxyeuxmarrons · 5 months
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25 de Abril 1974 - 25 de Abril 2024
Comemoramos os 50 anos da Revolução dos Cravos. Viva a Liberdade! 25 April 1974 - 25 April 2024
We celebrate the 50th anniversary of the Carnation Revolution. Long live freedom!
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garadinervi · 5 months
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Portugal, 25 de Abril de 1974 / 2024 — 50
25 de Abril 1974 by Sophia de Mello Breyner Andresen Esta é a madrugada que eu esperava O dia inicial inteiro e limpo Onde emergimos da noite e do silêncio E livres habitamos a substância do tempo – [from 'O nome das coisas', 1977]
25th April 1974 by Sophia de Mello Breyner This is the dawn I was waiting for The first day whole and pure When we emerged from night and silence Alive into substance of time – Sophia de Mello Breyner Andresen, (1977), 25th April 1974, in Marine Rose. Selected Poems, Translated by Ruth Fainlight, Black Swan Books, Redding Ridge, CT, 1988, p. 56
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leiturasqueer · 7 months
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As Três Marias: Maria Teresa Horta (1937), Maria Isabel Barreno (1939-2016) e Maria Velho da Costa (1938-2020)
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Maria Teresa Horta, Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa  (1972)
“Minhas irmãs: Mas o que pode a literatura? Ou antes: o que podem as palavras? (…) Que tempo? O nosso tempo. E que arma, que arma utilizamos ou desprezamos nós? Em que refúgio nos abrigamos ou que luta é a nossa enquanto apenas no domínio das palavras?"
Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta, Maria Velho da Costa (Novas Cartas Portuguesas, 1980)
No Dia Internacional da Mulher, no ano das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril de 1974, evocamos Novas Cartas Portuguesas, obra que celebra cinquenta e dois anos e que demonstra o poder e ousadia das palavras na luta feminista e antifascista no país.
Um livro escrito por três mulheres que, por ousarem denunciar o silêncio, a exploração e violência que a identidade feminina era sujeita neste país, foram alvo de perseguição e censura política. Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa mostravam ser rostos da clandestinidade e emancipação feminina na época. Hoje, cinco décadas após a queda de um regime fascista com quase a mesma duração, celebramos a ousadia destas mulheres sem esquecer todas aquelas que permanecem emersas numa clandestinidade e precariedade que a norma obriga.
Resgatamos o poder da palavra como palco do empoderamento e alteridade feminina. São oito livros que escolhemos para assinalar este dia mas, também, este mês que é destinado a assinalar a história das Mulheres.
Jornalista Fialho Gouveia entrevista as escritoras Maria Teresa Horta, Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa sobre o caso "Três Marias", centrado no julgamento de que foram alvo após a publicação do seu livro "Novas Cartas Portuguesas" em 1972.
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momo-de-avis · 5 months
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Existem 3 livros sobre o 25 de abril nos açores que recomendo, até estão online grátis: 1974 Democracia… O 25 de Abril nos Açores; 1975: Independência? "verão quente" nos Açores; 1976 Autonomia! O Governo Próprio dos Açores - trilogia de José Andrade. Devo dizer um pouco simples na escrita mas até explica bem
OH NOICE MUITO OBRIGADA VOU APONTAR!!!!
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Por Abril, sempre!
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morgana-lefay · 5 months
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Today we celebrate Freedom Day in Portugal (25 de Abril). It’s been 50 years since a military movement overthrew a very long dictartorship period in our country with what we called Revolução dos Cravos (Carnation Revolution). [switching to Portuguese]
Neste momento estou na Croácia, mas não poderia deixar de assinalar este dia. Felizmente, já nasci em Democracia, mas o meu pai ainda esteve na Guerra do Ultramar. Uma guerra criada contra um inimigo que não existia, por ganância de quem nos governava e oprimia na altura. O 25 de Abril de 1974 foi não só um dia de Liberdade para nós, mas também para as “antigas colónias”, “colónias” essas obrigadas a servir o poder do Estado Novo.
Celebramos os 50 anos do dia que nos trouxe o fim da censura, do controlo da liberdade de expressão e de opinião e por isso ergo alto o meu punho, pel@s que vieram antes de mim que fizeram com que possa estar noutro país sem autorização de um marido ou outro homem da minha vida, que fizeram com que pudesse ter estudado até ao grau de ensino que me apeteceu, sem ter que escolher uma profissão “de mulher”, que fizeram com possa votar e fazer valer a minha opinião!
Mas ergo o meu punho também pelo aqui e agora! Pela Revolução que é preciso continuar a fazer todos os dias, não só enquanto povo de uma jovem Democracia, mas dentro de cada um@ de nós. Não podemos permitir que os valores reclamados pela Revolução de Abril desapareçam. Não podemos deixar o ódio vencer.
25 de Abril sempre! Fascismo nunca mais! ✊🏻
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filmloversociety · 6 months
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Capitães de Abril (2000), dir. by Maria de Medeiros
In 1974, the army led by two young captains pulls a coup against the Portuguese dictatorship that ruled the country for 40 years.
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