AMARGA
Estava no meio do campo, como gostava, depois da chuva, quando o sol começava a secar tudo, além do cheiro de ervas, o da terra molhada, não havia nada comparável para ele.
Viu ao longe um cavalo a galope, não conseguia distinguir quem era, estava só ali, junto a um grande rebanho de vacas pertencentes ao seu avô. Uma das pernas cruzadas em cima da cela.
Esperou pacientemente que o outro cavalo se aproximasse.
Só então se deu conta que era Bob, era como seu pai, ainda cavalgava como um jovem vaqueiro, ninguém lhe conseguia fazer sombra. Tinha sido criado pelo seu avô, eram uma mistura de Navajo, com Cherokee, o tinha aceitado como seu filho, desde o dia que tinha chegado.
Encostou um cavalo ao outro, o abraçou.
Venho trazendo más notícias.
O que aconteceu, tinha voltado no dia anterior da Universidade, aonde tinha feito agronomia, seu grande desejo, estava cheio de planos. Esteve com seus avôs na noite anterior, o velho finalmente o aceitava, viu os dois acabados, eram cinco pessoas nesse jantar, pois estavam também o Bob, Maria, sempre estavam com seus avôs.
O fato de ter-se diplomado cum laude, fez com que o velho ficasse contente, além dele ter estudado algo fundamental para a fazenda.
Dormiram cedo como sempre, ele tinha se levantado as cinco da manhã, ido ao celeiro, preparou a consciência seu cavalo predileto, um negro, com uma crina imensa, que ele tinha criado desde que era potro.
Tua mãe morreu.
Quem morreu, o que passou com Maria?
Estou falando de tua mãe verdadeira, a filha número dois.
Seu avô nunca dizia o nome das filhas, simplesmente dizia número um, número dois, ele era filho da número dois.
Ele era filho desta com o rei de um país, que agora era comunista. Uma larga história. Mas na verdade ele tinha sido criado pelo casal Bob e Maria, os queria realmente como seus pais.
O seu ele nem se lembrava a cara, tinha sido assassinado numa revolta em seu país, ou pelos menos isso diziam.
Sua mãe, era uma beldade, seguiu os passos de sua irmã mais velha, que tinha ido para New York, se casou com um milionário. Ela escapou da fazenda, dizendo que ia fazer universidade na grande maça. Mas qual nada, desde que chegou seguiu os passos da irmã, para caçar um milionário. Nas poucas idas a Universidade, conheceu o então príncipe de um país distante, que a primeira coisa que lhe deu de presente foi um anel de diamante, imenso. Isso no primeiro jantar. Sua irmã lhe aconselhou a melhor maneira de amarrar o mesmo. Acabou se casando com ele, lhe fazia rir, era bonita, diferente das outras, pois não era a típica loira burra, ao contrário, era morena de olhos azuis.
Quando acabou o curso, se casaram nos Estados Unidos, depois seguiram em lua de mel, para Paris, lhe deu um cartão de crédito com valor ilimitado, para ela fazer um enxoval.
Mas quando chegaram, ao seu país de origem, viu que nunca seria aceita, era americana demais, o único jeito era ter logo um filho, o que não estava nos seus planos. Nasceu uma menina, quando dois anos depois, sua sogra queria casar seu filho novamente, no país era permitido mais de uma esposa. Rapidamente ficou gravida outra vez, aí nasci.
Parece um conto de fadas, mas não é. Ela tinha um gênio especial, que fazia com que o meu pai, vivesse louco por ela. Quando se tornou rei, já não tinha um problema, tinha um primogênito.
A coisa se torceu, quando os americanos, encontraram petróleo na região, logo, mandaram uma embaixada. Minha mãe se fez amiga deles todos, era como ter um pedaço de sua terra natal, ali no meio do nada, estepes, areia, grandes palacios, mais nada. Se tornou uma informante de tudo que acontecia no palácio.
Foi avisada com muita antecedência, que poderia acontecer uma revolta, através da mala da embaixada, começou a mandar para fora, todas suas joias, evidentemente tinha muitas, dinheiro para serem trocado por dólares, mas que tudo ficasse por lá.
Minha irmã, eu, fomos criados, por uma mulher que chamávamos de Babate, conosco falava sua língua, tinha criado meu pai antes. Quase não víamos nossa mãe, estava sempre por ai, inventava viagens para todos os lados, aproveitou para fazer seu pé de meia fora do pais, caso acontecesse alguma coisa. Conseguiu que ele lhe desse um apartamento em Paris, pois segundo ela, não gostava dos hotéis.
Se preparou bem, mas a revolução estourou de uma hora para outra. Um adido militar, com quem tinha feito amizade, veio nos buscar em plena noite, ela enquanto meu pai batalhava, ainda teve tempo de abrir um cofre na biblioteca, levando tudo que estava dentro.
Isso atrasou nossa saída, quando ela entrou no carro, os revolucionários, já estavam entrando no palácio. O adido militar, só teve tempo de acelerar, fomos perseguidos, em direção ao aeroporto, aonde estava um avião militar americano nos esperando. Tinha três anos nesta época, estava meio dormido, mas uma cena ficou gravada na minha cabeça. Minha irmã mais velha ia no assento dianteiro, por mais que minha mãe lhe dissesse para ficar abaixada, teimava em tentar olhar para trás. Um tiro atravessou o vidro traseiro, a atingindo no meio da testa, isso ficou gravado a ferro e fogo na minha cabeça.
Numa das paradas para abastecerem, a enterraram num aeroporto perdido, no meio do nada.
Dias depois quando estávamos já em New York, discutia com sua irmã, que não saberia criar um filho. Sua irmã tampouco tinha nenhum, pois a gravidez, atrapalharia seu corpo maravilhoso.
Chegaram à conclusão, que o melhor, mais seguro, essa era a desculpa, pois era herdeiro do trono, foi o argumento que usaram com minha avó. Não acreditou, mas ficou com pena de mim.
Meu avô ao contrário foi irredutível, não queria em sua casa, ninguém que lhe recordasse de suas filhas. Mal viraram as costas, chamou Maria e o Bob, lhes disse, sabiam que queriam ter filhos, mas não tinham. Simplesmente falou, toma chegou o filho de vocês.
Quando me viram, com aquela casa de asiático, cabelos negros, olhos azuis, se apaixonaram, eles foram meus pais de verdade, sempre vivi com eles.
Senti que o Bob falava, mas não estava prestando atenção. Ela era uma bela desconhecida para mim. A única vez que tentou me ver, eu estava levando com o Bob, uma manada de cavalos, para o exército. Quando voltei já tinha ido embora.
Segundo minha avó, tinha passado por ali, pois seu atual marido, justamente o Adido Militar, teria que ver algo, foi ele que lhe chamou atenção que deveria ver seu filho.
Mas a visita acabou mal, meu avô se negou a receber os dois, alegando em voz bem alta, para que ela escutasse, que ele não tinha filhas. Que tampouco voltassem, porque a fazenda nunca seria delas.
A muito tinham adotado o Bob como filho deles.
Comigo falava as vezes quando estávamos no campo, no meio das manadas de cavalos ou de vacas, me chamava sempre dizendo , “ei filho do Bob”, venha aqui.
Fisicamente éramos completamente diferentes, ele era loiro de olhos azuis, realmente eu parecia mais um filho do Bob. Com os anos, dizia a Maria, que por osmose, tinha me transformado em um filho original, era igual a eles, tinha a pele curtida do sol, cabelos negros, olhos oblíquos, podia passar por qualquer índio americano. Na universidade, todo mundo pensava o mesmo.
No dia seguinte que cheguei, na casa deles, me perguntaram meu nome, eu não sabia, como a vi falando Bob todo o tempo, disse Bob, fiquei sendo o Bobby da família. Até hoje me chamam assim.
Depois desse silencio, em que tentei absorver a notícia, não que me importasse, mas sim pela avalancha de lembranças. Imagina uma criança com três anos, é deixada para trás, nunca mais vê sua mãe, sequer sabe como é sua cara hoje em dia. Sabe pelo menos sua história, porque tanto o Bob como a Maria, fizeram questão de contar.
Tudo que verbalizei, foi, quem veio dar a notícia.
O marido dela telefonou, quer saber se vais ao enterro.
Tinha se encontrado com ele por um acaso, num evento em uma feira de cavalos, se aproximou, me perguntou se eu era Frederick.
Na hora ia responder, que me chamava Bobby, mas num relâmpago, me lembrei que meu nome era esse.
Não te lembras de mim, mas fui eu que te salvei da revolução.
Me convidou para comer alguma coisa ali, conseguiu um lugar para falarmos a parte, me contou que vivia todos essas anos com minha mãe, que tinham dois filhos.
Ou seja, eu tinha dois irmãos que não sabia que existiam.
Quando estivemos na fazenda era para te contar isso, mas teu avô nos expulsou.
Ri com a história, mas poderiam ter deixado uma carta pelo menos. Sou honesto de te dizer, que não me lembro sequer da cara dela. Tens que pensar que quando me deixou eu tinha três anos. Nunca mais soube dela, tampouco de minha tia. Quem me criou não foram meus avôs como ela imaginou, mas sim o Bob e Maria. Esses foram meus verdadeiros pais.
Me disse que ela tinha um câncer terminal, se não gostaria de ir vê-la?
Não tenho por que fazer isso. Será como ver uma pessoa que não conheço, morrendo num hospital, mas que não sinto nada.
Ficou horrorizado com o que disse, ainda tentou argumentar que era minha mãe.
E que, nunca mais a vi, não sinto nada por ela.
Era uma verdade absoluta, a única coisa que sempre me lembrava, principalmente quando tinha febre, era a cara de minha irmã, com um tiro no meio da testa.
Uma vez me tinham perguntado, de aonde era, não sabia responder, o país não existia mais, tinha sido absorvido pela Índia, Paquistão, China.
Bob me despertou novamente, creio que deverias ir, sempre rendemos homenagem aos mortos, será uma maneira de enterrares o passado também.
Não podia argumentar, que passado era esse, pois não me lembrava de nada, a não ser ter apreendido a montar a cavalo. Que ele me levasse a escola da vila mais próxima, pois Maria fazia questão que eu tivesse estudos. Me dizia que sempre tinha sonhado com um filho que fosse a Universidade, que ela não tinha podido ir. Por isso estudei.
Adorava estar em cima de um cavalo, aprendi a montar, domar com ele. Gostava dos seus silêncios imensos no campo, é quando falava algo era contundente.
Entendia o que para ele era render homenagem aos antepassados, pois ele o fazia, quis argumentar. Mas nem me deu tempo, vamos, tens que pegar um avião para Washington. Avisar que vais ao enterro, para que te esperem.
Na verdade, ele fez tudo isso, Maria já tinha uma maleta pronta. Meus avôs, simplesmente me abraçaram, a velha que era uma pessoa amorosa, tinha lagrimas nos olhos, disse o mesmo que eu, nem me lembro da cara dela.
A viagem foi complicada, pois tive que trocar duas vezes de avião, afinal Washington estava ao outro lado do país.
Para cumulo, destoava totalmente do pessoal, imagina minha vestimenta, botas de cowboy, calças jean, camisa de quadros, um casaco que nem combinava com tudo, velho ainda por cima.
Mas era minha roupa, não tinha outro tipo de roupa. Na verdade, não me incomodou, pois na universidade era ok mesmo. Apesar de ser uma Universidade em Montana, a maioria usava roupas modernas.
As pessoas me olhavam, quando entrei atrasado na igreja, o marido veio me buscar no fundo, para ficar junto com a família. As pessoas me olhavam de cima a baixo. Tinha por acaso vontade de rir da situação.
O pastor perguntou se eu queria dizer algumas palavras, respondi sinceramente que não, porque poderia ofender a memória da defunta. Não disse mãe, mas sim defunta.
Na saída seu marido, Peter, me pegou pelo braço, me obrigou a ficar do lado dele, do outro estava os que deviam ser meus irmãos, minha tia que parecia uma bruxa de tão esticada que estava.
Peter foi me apresentando como filho mais velho de sua mulher. Vi que isso causava um certo comentário, mas deixei estar.
Minha tia só fez um comentário, esses velhos só te deram esse tipo de roupa.
Lhe respondi, que não tinha sido criado pelos meus avôs, mas sim por Bob e Maria, de quem me orgulhava.
Ficou me olhando, talvez procurando na memória, quem eram esses dois que mencionava.
Peter finalmente me apresentou seus filhos, Anne e Robert. Apertei a mão dos dois, não estava acostumado a dar beijos.
Fomos para sua casa, aonde seria a recepção.
Peter no carro, me disse que teria que ficar mais uns dois dias, pois teria que esperar a abertura do testamento. Minha única pergunta foi que testamento?
Que tinha eu a ver com isso?
Muito simples, tua mãe deixou um testamento, por isso é necessário que fiques.
Mas pensava em voltar hoje mesmo, temos que levar uma manada para o alto da montanha, isso leva dias.
Vi que meus dois irmão riam. Robert soltou, então é por isso que te veste assim, príncipe?
Príncipe eu?
Peter cortou a conversa rapidamente.
Durante a recepção, algumas pessoas falaram comigo, me chamando de sua alteza. Eu pensando, que merda é essa, não sou príncipe coisa nenhuma, esse país nem existe mais, que gente mais idiota.
Disse ao Peter que ia procurar algum hotel. Tentou me convencer que ficar em sua casa, mas declinei, pois não queria estar perto da bruxa da minha tia. Me caia muito mal, as olhadas que me dava.
Sai sem me despedir de ninguém, disse que lhe avisaria o hotel que encontrasse.
No taxi, perguntei ao motorista se conhecia, algum hotel, simples, mas limpo. Me levou um na parte velha da cidade.
Deixei um recado no celular do Peter, dizendo aonde estava.
Minha irritação ia em crescente, telefonei para minha avó, lhe contei o que tinha acontecido
Não estão errados, por mais que o país não exista, teu pai era um Rei. Perguntou pela filha?
Respondi como ela gostava, esticada como uma bruxa, uma roupa muito apertada, como quisesse mostrar seu corpo, disse que as putas que trabalhavam na vila, se vestiam melhor.
Morreu de rir. Voltando a ficar séria, me perguntou se tinha me aproximado do caixão para ver minha mãe.
Não, estava fechado, o pastor me perguntou se queria falar alguma coisa, eu declinei, pois poderia ofender algumas pessoas.
Fizeste muito bem, não deves nada a essa gente. Volte logo, sinto falta de falar contigo. Tínhamos o hábito de no final da noite, sentarmos na cozinha, para conversar.
Nesse momento, me fazia falta justamente isso, sentar-me com alguém e conversar.
Mais tarde Peter me chamou, perguntando se eu queria conversar.
Ele não me caia mal, mas não queria conversar com ele, nem meus irmãos, mais duas incógnitas em minha vida.
Não conseguia entender, se ela tinha já um filho, que não cuidava, porque ainda tivera mais dois.
No dia seguinte, depois de uma noite mal dormida, estava tomando café no bar em frente, quando vi o motorista do Peter me procurando. Minha primeira ideia foi fugir, mas tinha sido educado a enfrentar de frente as situações.
Quando me disse que me esperavam para tomar o café da manhã, lhe pedi, que desse uma volta pela cidade, para me ilustrar, pois tinha acabado de tomar café.
Quando cheguei, estavam todos na biblioteca.
O comentário do Peter, foi, para ti o dia de ontem deve ter sido espantoso.
Não entendi essa baboseira de me chamarem de alteza, de um país, que nem existe mais.
Te enganas, depois de anos, voltou a ser um país outra vez, só que tem um presidente, invés de um rei.
Bah, isso me dá igual, quero resolver isso rapidamente, pois tenho que voltar para a fazenda.
Os velhos te convenceram de que lá a vida é melhor, soltou minha tia.
Bom, colocamos os pontos nos seus devidos lugares. Tu e tua irmã, me largaram lá quando tinha três anos, esperando que os velhos me criassem, mas tal coisa não aconteceu, pois teu pai, só depois que terminei a universidade me aceitou. Fui criado pelo Bob e Maria, que considero meus verdadeiros pais. Aprendi a subir num cavalo, a domar, levar rebanhos, com ele, ela me fez estudar, ir à universidade. Eu nunca mais vi tua cara, nem da senhora que dizia ser minha mãe, que esperas.
Meus dois irmão, olharam para o pai, lhe perguntaram se isso era verdade?
Sim é verdade, a desculpa era que ele poderia ser procurado por alguém de seu pais, para assassina-lo.
Uma boa desculpa verdade?
Não vou discutir as razões Bobby, pois imagino que nada disso importa mais.
É verdade, ela era uma bela desconhecida para mim, nem me lembro da cara dela. Nunca mais pensei nela como minha mãe. Nem minha avó se lembra como é a cara das filhas.
Minha tia, perguntou, ela não vê revista de sociedade?
Não tem tempo para estas besteiras, apesar de sua idade, está ativa, cuida da administração da fazenda com o Bob.
De repente, Peter, olhou o dedo do filho, perguntou de onde ele tinha tirado o anel que usava?
Do cordão que mamãe tinha sempre no pescoço.
Pois não te pertence, sim a ele. Retire de seu dedo, entregue ao teu irmão.
Esse anel, pertencia ao teu pai. Por isso é teu.
O rapaz me entregou o anel meio sem graça, bati em sua mão, dizendo não tem importância, se queres para ti, podes ficar, pois eu nunca uso anéis.
Peter cortou outra vez, esse anel te dá o direito de ser Rei.
Comecei a rir, acorda Peter, só se for Rei dos cavalos, das vacas, pois é isso que eu sou. Para teres uma ideia, esqueci completamente o idioma de lá. Quando era criança, ainda me lembrava de algo, mas depois esqueci.
Tu mesmo disseste que hoje é uma república, então não existe lugar para um Rei, ou será que estou equivocado?
Tens razão, mas existem propriedades que podem ser tuas.
Não irei até lá para tirar propriedade de ninguém, nem preciso delas.
Sugiro que devias comprar uma roupa formal para ires ao advogado, para ler o testamento.
Tive que rir, para que quero uma roupa formal, se nunca irei usar. Olhei para o Robert, gosta de estar de roupa formal, um garoto da tua idade, embora eu não soubesse qual era.
Não, na verdade, foi papai que pediu que me vestisse assim. Uso roupa mais esportes, queres ver?
Claro, isso sim posso usar, mas isso, sinalizei a roupa do Peter, imagina isso em cima de um cavalo.
Saímos da biblioteca, com minha tia dizendo alguma coisa.
Que faz essa bruxa aqui?
Creio que espera que tenha alguma coisa para ela no testamento, mas duvido, no final da vida de mamãe, nunca apareceu por aqui, dizia que ver uma pessoa doente, lhe dava stress.
Segundo nossa avó, uma boa bisca.
Boa bisca, o que é isso?
Uma maneira de falar do interior, mais uma puta.
Ele riu até ela já se casou umas quantas vezes, alguns a conhecem como viúva negra.
Vi que ia gostar do Robert, me mostrou seu quarto, abriu a porta dos armários, se quiseres algo, é só pegar.
Tenho o dinheiro dos meus últimos salários, posso usar cartão de crédito para comprar algo.
Tenho que pensar, que seja útil para usar depois.
Você acha que nossos avós, aceitariam nos receber lá?
Pode ser difícil a princípio, pois eles não sabem que vocês existem.
Não sabem que existimos?
Não, quando tua mãe, Peter estiveram por lá, não comentaram nada. Embora eu não os tenha visto, pois estava no alto da montanha.
Conta me como é isso?
Quando chega a primavera, levamos o gado para as montanhas, porque os pastos estão mais verdes, ficam por lá. Existe uma cabana imensa, aonde ficamos. Vai um cozinheiro para preparar o café, comida. Toda semana um grupo tem direito a descer para ver suas famílias, eu agora posso ficar mais tempo, pois acabei a universidade. Adoro ficar lá em cima, a paisagem é fantástica. Se pode tomar banho num lago que tem por lá. Temos que estar sempre em cima dos cavalos, tomando conta do gado.
Quando chega o outono, descemos, para os pastos de baixo.
É tão grande assim a fazenda?
Sim. Podes andar um dia ou dois a cavalo sem sair dela.
Caramba, então nos tocará de herança?
Creio que não, o velho adotou o Bob a muito tempo, creio que cortou as filhas da história, porque foram embora, nunca mais falaram com eles. Não existe na casa nenhuma foto deles, nunca se fala nelas.
Caramba, que história, minha mãe, tinha sua vida passada, fechada abaixo de sete chaves, nem sabia que tinha um irmão mais velho. Eu, minha irmã fomos criados por babás, ela não gostava de crianças, creio que nos teve, para agradar ao velho. Esse sim, gosta da gente.
Sem que ele perguntasse nada, soltou que ela vivia em festas de embaixadas, tardes de golfe, coquetéis no clube, só a víamos por momentos no final de semana. Mas, quando voltou desse viagem que foi com meu pai, mas não conseguiu te ver, mudou. Passou a ser agradável, escutei meu pai, dizendo que não ia fazer com os filhos dele, o mesmo que tinha feito contigo.
Ela gostava mais da minha irmã, pois falavam de moda essas coisas de mulheres.
Comigo sempre foi fria, como se os homens fossem culpados de algo, que nunca soube. Depois que ficou doente, mudou mais ainda. Quando viu que não tinha cura, deixou de sair de casa, pois ficou careca com o tratamento. Nos últimos meses, nem saia da cama. Meu pai disse que exagerava, não sei se era verdade. Estava sempre deprimida, se olhava muito no espelho.
Venha vou te ensinar o quarto dela. Ou quarto do narciso como dizemos.
Quarto do narciso?
Sim porque só tem fotos dela, nenhuma da gente.
Era verdade, por aonde se olhasse, havia fotos, um quadro imenso, dela vestida com uma roupa diferente. Creio que é um traje do teu país.
Procurou para ver se tinha alguma foto de seu pai, pois não se lembrava da cara dele.
Ele percebeu, não te disse que só tem fotos do narciso.
Voltaram para o salão, sua tia tinha se retirado para descansar.
Peter disse, estou louco para que vá embora. Que mulher mais desagradável.
Peter, existe alguma fotografia de meu pai. Não me lembro nada dele?
Sim tenho no escritório, um dossiê sobre ele. Alguns acreditam que está vivo, nas montanhas.
Mas ninguém sabe se é verdade ou não. Tudo que sabemos é que o resto da família foi toda assassinada. Nunca encontraram o corpo dele. Por isso existe nas montanhas uma vila, de onde a família é originaria, os chineses, não se atreviam a chegar até lá, pois sempre havia atendados rebeldes no meio do caminho. Não existem estradas para esse lugar, impossível chegar de helicóptero, ou qualquer outro meio de transporte.
Quantos anos ele teria agora?
A minha idade, estudamos juntos na universidade, por isso fui designado para ir para a embaixada, ser o enlace com a família real.
Vou te fazer uma pergunta desagradável, aonde está enterrada minha irmã?
Os dois perguntaram, tínhamos uma irmã?
Sim, quem explicou foi o Peter, morreu no momento que fugimos. Na verdade, não sei, paramos num aeroporto já em outro país, era pequeno, só paramos para abastecer, tua mãe deu ordem para enterra-la ali mesmo.
Se via que os garotos estavam chocados.
Quantos anos depois, vocês se juntaram?
Ufa, muitos anos depois, nos encontramos numa festa na casa de tua tia, ela estava chateada, me disse que estava farta dali. Que tua tia queria arrumar sempre algum casamento para ela. Mas claro como não sabia se teu pai estava vivo ou morto, não podia se casar.
Começamos a sair, conseguimos depois de muitos papeis, apesar de não saber, que lhe fosse concedido o divórcio. Então nos casamos. Antes que perguntes, porque mais filhos, isso foi uma imposição minha, eu queria filhos. Fizemos um acordo, eu cuidaria deles com babas, mas ela era livre para viver, se dava fatal com as crianças.
Mas verdade seja dita, eu a adorava. Só brigamos uma vez, que a enganei, a levando para te ver, ficou uma fera, porque teu avô basicamente nos expulsou. Não te vimos, fiquei furioso por ela não ter insistido. Lhe disse que ia pedir o divórcio. Creio que se deu conta, da enorme burrada com os filhos. Depois quando ficou doente, quis te chamar, mas me disse, que vai pensar ele, que venha aqui me cuidar. Foi um momento difícil, pois se deixou vencer pela doença.
Vamos almoçar fora, somente nós, deixamos tua tia aqui. Amanhã cedo vamos ao advogado, assim ela vai embora. Creio que pensa que tua mãe deixou dinheiro para ela. Tem um trem de vida muito caro. Já não lhe aparecem vítimas para limpar o cofre.
Papai, disse a Anne, se te escuta?
Me dá igual, já não tenho que aguenta-la.
Durante o almoço Robert disse que gostaria de ir a fazenda comigo. Posso pai?
Poder pode, mas não sabemos como vai tratar teu avô.
Pai, eles nem sabe que existimos.
Isso é verdade, porque não deixou tua mãe falar nada. Abriu a porta, quando viu quem era, a fechou na cara da gente. Saiu em seguida com uma espingarda, exigindo que fossemos embora.
Avó me contou isso, disse que tentou convence-lo, mas que não houve jeito. Ela sempre saiu perdendo, ele sempre teve um gênio desgraçado. Agora, fala comigo direito, porque fiz Universidade, na área que lhe interessava. Mas fiz por mim. Porque adoro o campo.
Falarei com a avó, pois com ela me comunico bem, de qualquer maneira podem ficar na casa do Bob, que é grande.
Anne disse que não tinha interesse em ir, pois não gostava do campo.
Pior para ti, nunca conheceras nossos avôs, que nem sabem que existimos.
Já tinha visto que tinha saído a minha mãe.
Me deixaram no hotel com Robert, saímos a andar, foi me mostrando uma parte da cidade, era um garoto, agradável. Foi honesto comigo, dizendo que estava perdido com tudo isso.
Imagina, meu pai, nos avisa que vens. Lhe perguntamos quem eras? Solta que era nosso irmão mais velho, que minha mãe tinha abandonado na fazenda de seus pais. Imagina a confusão. Tua tia não queria que avisasse. Dizia que não virias.
Na verdade, foi meu primeiro pensamento. Mas fui educado pelo Bob, ele é uma mistura de índio Navajo com Cherokee, cultua os antepassados. Me convenceu que para ir em frente eu tinha que enfrentar isso. Já não tinha meu pai verdadeiro para honrar, pelo menos tinha minha mãe. Ele sabe toda a história. Acabou me convencendo.
Contei aonde estava no momento que me deu a notícia. Se gostas de paisagem, sobes uma meia hora a montanha, é estas numa altura, vês todo o campo, a casa da fazenda, o infinito que há detrás dela. É meu lugar preferido.
O que queres estudar Robert, já tens decidido?
Nada, não tenho menor ideia. Meu pai quer que estude direito internacional. Mas isso é uma coisa que ele gosta, não eu. Penso em mil coisas, gosto de música, mas sempre diz, como vou viver de música.
Lá em casa, escutamos muito música country, porque Bob adora, eu gosto mesmo é do silencio. Não sei te explicar por quê? Alguma coisa que ficou na minha memória, adoro o ruído do vento no inverno, passando pelos vidros da janela. Mas quando digo isso, todo mundo ri.
Nessa noite jantaram os dois juntos, foram a um lugar, de sanduiches, viram que gostavam da mesmas coisas.
Dormiu melhor essa noite, sonhou de novo com a irmã, como que tentando lembra-se de algo que lhe pudesse assinalar aonde estava enterrada.
No dia seguinte, vestiu uma roupa parecida com a que tinha chegado. Ao chegar ao escritório do advogado com Robert, o comentário de sua tia, era se não tinha outro tipo de roupa. Sequer lhe respondeu.
Sentaram-se, o homem leu algumas coisas relativas à lei, dizendo que eram as últimas vontades de minha mãe. Havia uma carta para cada um dos filhos. Depois começou a ler o testamento, para Peter e os filhos, não deixava nada, pois sabia que Peter tinha dinheiro suficiente para criar os dois. Deixava tudo para mim. Pois tudo que tinha, era justamente o que tinha retirado do país aonde tinha vivido. Tudo estava numa caixa forte num banco. Além do apartamento de Paris, que na verdade já estava no nome dele. Comentava que só tinha descoberto isso, quando quis vende-lo. Seu marido o Rei, lhe tinha dado o apartamento, mas tinha colocado no nome do filho. Então isso ninguém poderia tirar dele.
No mais, só peço desculpas aos meus filhos, ao Peter, por terem me aguentado, perdão pelo abandono. Vocês não mereciam isso.
Sua tia, estava irritada, perguntou ao advogado se ele não estivesse presente, quem herdaria o que estava nos cofres.
Seriam devolvidos ao país de origem. Porque de uma certa maneira, pertence aos possíveis herdeiros que possam existir lá.
Tudo que soltou foi MERDA, se levantou deu um beijo na Anne, abanou a mão para o Peter, se foi.
Ufa graças a Deus, nos livramos da megera. Ela só estava aqui, para saber do que ia acontecer com o que está no banco. Pois deve ter visto isso quando sua mãe chegou aqui.
Nunca permiti que ela usasse desse dinheiro, nem vendesse nada do que está lá.
O advogado, lhe entregou as chaves do apartamento de Paris, bem como da caixa do banco.
Queres ir até lá?
Melhor resolver isso de qualquer maneira, verdade Peter.
Sim, assim ficas livres de seguir teu caminho.
Esse apartamento em Paris?
Nos usamos algumas vezes, ela adorava ir para a Saison.
Que isso de Saison?
É a temporada de Operas, Ballet, tinha assinatura nos Teatros, ia a todos possíveis, dizia que isso lhe aliviava a alma. Mas os meninos nunca foram. Lá tem fotografias do teu pai, ela nunca mudou a decoração que estava.
Foram ao banco, entrou só ele na sala, ainda quis que o Peter participasse, este lhe disse que o primeiro contato devia ser dele só, depois se houvesse algum papel, ele ajudaria.
Era uma caixa grande, dentro caixas, grandes, pequenas, todas com joias, que ele não saberia dar o valor. Algumas tinha uma letra masculina, presentes do meu pai. Outras com joias misturadas, não. Sacos de diamantes, outros de joias preciosas, que ele jamais saberia o valor. Depois na parte baixa papeis. Documentos de propriedades. Em Londres, New York, Paris. Menor ideia se isso existia hoje. Depois um registro de nascimento dele, seu nome verdadeiro, seus títulos, todos seus bens. Pelo visto agora ele era um milionário. Merda, tudo que queria era voltar para a fazenda.
Retirou somente os papeis, pois Peter poderia lhe ajudar. Numa das caixas pequenas, viu um anel, muito parecido com o que ele tinha visto com o Robert. Presente de seu pai para ele. Experimentou, entrava no seu dedo mindinho. Não ia usar isso nunca.
Pediu se o Peter podia entrar para ajudar. Ele na verdade sabia o que existia ali, vim com ela a última vez, quando me disse que tudo pertencia a ti.
Essas propriedades? Existem ou não?
Isso teremos que ver, pode ser que alguém a tenha reclamado.
Sacudindo um dos papeis, caiu uma foto. Era do casamento deles, quando chegaram ao seu país. Ele era parecido com seu pai, tirando claro os olhos azuis.
A roupa era estranha, não saberia dizer de aonde era.
O país na verdade Bobby, ficava num vale, está em eterna disputa, entre Índia, Paquistão, China. Todos querem esse troço, que passa metade do ano, sem possibilidades de acesso. Teu pai, na verdade era um Marajá, que traduzindo seria um rei. Era descendente de Mongóis, Kirguis, que se casavam para manter a rota da seda. Quando acabou tudo isso, ainda eram ricos, mas o povo ficou na miséria, pois a maneira que tinha de ganhar a vida acabou. Amanhã vamos ao meu escritório, verás o que tenho sobre teu pai.
Uma pergunta. Tudo isso entrou legalmente no país.
Vejo que não es tonto. Foram trazido nas malas postais. Quando tua mãe, teu pai, souberam dos problemas que iam ter, começaram a mandar tudo para fora. Principalmente os diamantes, joias. Uma parte que estava nos cofres da suíça, estão em litígio, mas no momento que apareceres como legitimo herdeiro dele, creio que passaram a ti.
Mais do que isso tudo?
Sim, muito mais.
Mas isso aqui deve valer uma fortuna, não imagino em que posso gastar tudo isso.
Francamente Peter estou zonzo. Tens que me ajudar.
Por isso tua tia queria meter a mão, está arruinada, não foi esperta, podia ter te agradado para pedir ajuda, mas foi ela que instigou tua mãe a te deixar com teus avôs. Dizia que com um filho pendurado, nunca poderia fazer um bom casamento. Ela sempre conseguia convencer tua mãe. Quase conseguiu que não se casasse comigo. Lastima que Anne encanta o modo de vida dela. Mal sabe que não passa de uma nuvem passageira.
Hoje ficas lá em casa, assim podemos estudar todos esses documentos, para saber por aonde podemos procurar. Sorte que tenho amigos nesses lugares todos, pois vivia trocando de pais, necessitava de contatos, então fiz bons amigos.
Ficaram até tarde olhando os papeis. Ele volta e meia, olhava a fotografia que tinha encontrado, a semelhança com seu pai, era impressionante.
Se ela soubesse que estavas assim parecido com teu pai, talvez tivesse pensado melhor.
Mas vamos ao que interessa. Existem duas propriedades em Londres, a de Paris é a tua, essa de New York, creio que é o apartamento de tua tia. Por isso ela não pode vender.
Tomei uma decisão rápida, se é esse, quero que ela saia de lá, imediatamente. Não suporto essa mulher.
Primeiro vamos descobrir. Mesmo sendo tarde, começou a fazer contatos, com advogados, passando fotocopias de tudo.
Comeram sanduiches, conversando. Robert, brincando, comentou, então quer dizer que tenho um irmão cowboy que não sabia que era milionário. Vou me dar bem?
Tu vais é estudar, ganhar a tua vida, como teu irmão tem feito até hoje.
Fiquei rindo, ele perguntou por quê?
Imagina se eu fui educado a economizar meu salário da fazenda, agora tenho todo esse dinheiro, ou esbanjo, ou farei uma coisa completamente diferente. Só queria descobrir se meu pai ainda está vivo.
Amanhã, veras o que tenho sobre ele.
No dia seguinte, foi com Peter, não sabia que ele trabalhava no departamento de Estado, todo mundo falava com ele. Avisou sua secretária que não estava para ninguém. Abriu um arquivo com chave. Separei isso, desde que soube que vinhas, tens direito a saber de tudo.
Passou um dossier para ele. Mais ou menos era a história que ele sabia. Que o departamento de estado tinha dado ordem da retirada de sua mãe e filhos por causa da confusão. Pelo que via, seu pai era Marajá, de uma pequena comunidade no Vale de Shaksgam, na zona do Glaciar Siachem. Nem Paquistão, Índia ou China, conseguiam chegar aonde vivia o que tinha sobrado desse povo. Em vermelho, impossível chegar de Helicóptero, única possibilidade somente a cavalo. Zona de Rebeldes estava anotado em vermelho.
Mesmo assim, algumas vezes conseguiam aprisionar um rebelde, este se negavam a dizer como chegar lá em cima, aonde estava a vila, preferiam morrer.
Havia uma foto, feita por um dron, se via um homem olhando para o aparelho. Realmente se seu pai estivesse com mais idade, poderia ser ele.
É o que todo mundo pensa.
Acreditas que poderíamos chegar até lá?
Podia se tentar, mas seria arriscado.
Peter obrigado, vou pensar seriamente no assunto, entro em contato contigo. Gostaria que o Robert viesse comigo para a Fazenda, ele tem direito de conhecer seus avôs. O velho é pesado, mas tenho certeza que ela vai gostar de conhecer. Falar nisso tua filha sabe que tem o nome de sua avó?
Seria, então foi por isso que as duas brigaram horrores, quando tua mãe escolheu esse nome.
Estão de férias, se quiserem ir, posso ir junto, esclareço tudo com eles. O que achas.
Podes ficar na casa do Bob, ele é boa gente.
Avisou sua avó que voltava, que muita água tinha passado embaixo da ponte. Que levava uma surpresa para ela. Não me compre nada, sabes que não necessito.
Só prepare o velho, vamos ter que controla-lo.
Ele ficou muito nervoso depois que partiste, disse que já não voltarias, como elas, eu disse que perderia a aposta. Está velho e doente, creio que qualquer coisa vem bem.
Anne não queria ir, queria passar uns tempos com a tia, mas o pai a convenceu. Disse que tinha que conhecer sua avô, contou que tinha seu nome.
Embarcaram, tiveram que fazer a mesma coisa, dois voos. Bob, estava esperando por eles, num 4X4 grande, ele o tinha avisado. Foi muito agradável. Abraçou seu filho. Sentimos tua falta filho.
Peter viu que realmente esse era seu pai.
Quando chegaram, foram direto a casa grande. Ele entrou, disse a seu avô, então não acreditavas que voltava?
Bom, isso dizia tua avó.
Que velho sem vergonha, agora sou eu não é.
Bom tenho uma surpresa para vocês, da mesma maneira que não sabiam deles, eles tampouco de vocês. Trouxe meus irmãos para conhecerem a família verdadeira.
Ela tinha mais filhos, nunca falou nada?
Avô, está morta, não adianta criar problemas, eles não tem nada a ver com isso. Saiba que quando você os expulsou daqui quem tinha convencido para que ela viesse foi seu marido, foi ele quem nos tirou de onde vivíamos. Estão fora, peço por favor que os receba.
Os meninos, entraram sem graça, Peter estava em guarda, mas Bob o tinha tranquilizado, o velho é fácil de controlar.
Ele olhou os netos, examinou bem, saiu da sala. Não se preocupe, foi chorar um pouco, daqui a pouco volta, a velha abraçou seus netos. Me chamo Anne.
Como eu, disse sua neta.
Tu, perguntou ao Robert? Quando disse seu nome, ela ria, minha filha era uma ingrata, mas colocou os nomes dos filhos como seus pais. Teu avô também se chama Robert.
Ele pensou que o tinham chamado, voltava com os olhos vermelhos. Ela contou calmamente como se chamavam os garotos. Ele riu, apontou para mim, dizendo, vês, este tivemos que chamar de Bobby porque ninguém conseguia dizer seu nome.
Se sentaram todos, ele apontou para o Bob, disse que era seu filho adotivo, ele criou o Bobby, isso todos sabiam, mas ele queria que ficasse claro.
Maria veio da cozinha, correu para seu filho, abraçou chorando.
Clama mãe, estou aqui, não passa nada.
Teu avô ficou dizendo o tempo todo, que eu tinha perdido meu filho.
Peter estava com a boca aberta. Tiveste sorte de teres conseguido os dois para serem teus pais.
Anne disse a Maria, precisamos arrumar quarto para eles, apresentou Peter, os garotos, dizendo que tinham os mesmo nomes deles.
Robert pode ficar no meu quarto, amanhã tenho que ensinar a montar a cavalo.
O jantar foi super agradável, Peter perdeu a má impressão que tinha tido anteriormente. Anne, disse depois conversamos melhor, verás daqui a pouco ele irá dormir. Era uma verdade, ele sempre ia dormir as 10 da noite.
Para surpresa de todos, deu um beijo na cabeça dos garotos, dizendo, não desapareçam, que vou dormir. Como se tivesse medo de despertar no dia seguinte, não encontra-los por ali.
Foram todos para a cozinha, sentaram-se com a matriarca da família, ela foi fazendo as perguntas do que queria saber. Se via que Peter lhe caia bem.
Mas teremos mais dias para conversar, responder tuas perguntas. Ele queria ir para casa e conversar com Maria e Bob.
Melhor deixa para amanhã disse Bob, subimos a nossa montanha, podemos conversar ali em paz.
No dia seguinte, quando se levantaram, os outros ainda dormiam, Bob deu ordem a um garoto da mesma idade do Robert, para lhe ensinar a montar a cavalo.
Os dos prepararam os seus, saíram a galope em direção ao lugar aonde ele o tinha encontrado dias antes.
Como no dia que lhe veio trazer a notícia, contou tudo ao Bob, este no final só pode comentar, grande confusão te hás metido.
Como pensas resolver tudo isso?
Gostaria de encontrar meu pai verdadeiro. Tudo isso na verdade pertence a ele, não a mim. Bob pensa é muito dinheiro, quem sabe o povo desta região não necessita ajuda.
Eu estive todo esse tempo, querendo vir para casa, preocupado se as coisas corriam como tinhas planejado. Ter as rezes novas, mais perto do celeiro, se as éguas tinham todas sido cruzadas com os garanhões. Essa era minha preocupações. Esse dinheiro pode ajudar, mas uma pergunta, necessito dele? Creio que não.
Peter está ajudando, com as propriedades, mas o resto, me parece que tem mais na Suiça, metido numa grande demanda.
Se meu verdadeiro pai esta vivo? Tampouco deve saber que estou vivo.
Bom de qualquer maneira Bobby, irei contigo, não vou te deixar nessa aventura sozinho.
Mas quem vai tomar conta da fazenda?
Boa pergunta?
Quando voltaram, viram que Robert, estava dando volta, em cima de um cavalo bem manso, usado pelos cowboys, mais velhos. Sorria de orelha a orelha.
Já sou quase um cowboy, mal comentou isso, o cavalo parou, não havia maneira de fazê-lo ir em frente. Essa tinha sido uma piada dos outros cowboys, que sabiam que este quando empacava, ninguém o fazia se mover do lugar. Robert teve que rir também.
Mas quando viu o cavalo do irmão, ficou alucinado, como é bonito.
Eu o criei desde que era um potro. Quer ver, desceu do cavalo, foi caminhando, com o mesmo lhe seguindo. Sabe que vou lhe dar uma cenoura, enquanto isso posso lhe fazer me seguir quanto queira.
Estava na hora de almoçar, depois, Peter confirmou, o apartamento que vive tua tia, pertence a herança. Ela nem paga o condomínio a meses.
Diga ao advogado que peça a entrega do mesmo, quero que desocupe imediatamente, minha mãe deve ter-lhe deixado viver lá.
Quanto ao de Londres, está alugado, vai tudo para uma conta que tua mãe tinha, ela criou um fundo com esse dinheiro para os meninos irem a Universidade.
Então fica igual.
Bom Peter, conversei com Bob, resolvi ir até essas montanhas, procurar meu pai, ele quer ir junto, mas é impossível, pois alguém tem que cuidar da fazenda.
Mas porque queres ir até lá?
Imagina que eu penso que ele está morto, ele deve pensar o mesmo de mim. Depois por mais que eu pense, esse dinheiro pode ajudar alguma coisa, lá.
Pense bem, não é justo, esse dinheiro veio desse povo. Foi literalmente roubado pela minha mãe, eu não preciso dele, essa é a verdade. Tenho trabalho aqui, sonhos que realizar pelo que estudei. Claro num primeiro momento, poderia gastar esse dinheiro montando um haras com os melhores cavalos do mundo. Prá que, se gosto dos cavalos selvagens que encontramos soltos por ai as vezes. Sabes montar a cavalo?
Sim, aprendi no deserto.
Pois amanhã vou subir com vocês a montanha, veras os rebanhos de cavalos selvagens que temos soltos em nossas terras, aqui estão protegidos, só capturamos alguns, principalmente quando os garanhões começam a disputar as manadas.
Os olhos de Robert brilhavam, quero ir também. Acreditas que aguentarei?
Ficaras com a bunda vermelha, mas aguentarás.
Amanhã coloquem o relógio para despertar as 4 da manhã, tomar banho, se abriguem, pois, vai estar frio, tomamos café, partimos em seguida.
Anne, disse que ficava com a avó, que não pensava andar a cavalo.
Tiveram que parar algumas vezes, a primeira foi no seu lugar predileto, Robert ficou extasiado, caramba é mais bonito do que a foto que me mostraste.
Quando finalmente chegaram aonde estava a cabana, já era mais de 2 horas da tarde. Peter perguntou se tudo isso pertencia a fazenda.
Sim é muito mais. Foram recebidos pelos trabalhadores, alguns estavam aproveitando para trocar de montaria, um deles o chamou, porque o seu cavalo, estava com um problema na pata. Imediatamente Bob foi dar uma olhada.
Essa é nossa vida, quer coisa melhor que isso.
O cheiro que vinha da cabana era fantástico. Peter ficou abismado, a grande cabana, era como se fosse um loft imenso, com uma cozinha, na frente um salão com uma lareira imensa de pedra, depois era um sem fim de beliches. O senhor que estava cozinhando, disse qual beliche estavam vazios, para o Peter e o Robert.
A única coisa que era fechada, era um banheiro imenso, com chuveiros, uma zona para as necessidades.
Embora, explicava Bob ao Peter, se estas no meio de um trabalho, não voltas para cagar, desces do cavalo, te apanhas.
Iam sair para ver a manada de cavalos, mas se via que Robert estava arrebentado, foram examinar as vacas que estavam por parir, num celeiro grande que ficava ao lado da cabana.
Nasceram dois essa tarde, Robert tinha visto num filme, mas assim ao vivo era diferente.
A noite caia cedo, havia jogos de cartas, alguns escreviam, Robert deliciou a todos, com uma guitarra que encontrou, cantando.
Temos um cowboy novo que canta. Mas tens que apreender música country, disseram todos.
A guitarra era minha, lhe ensinei minha música preferida. O clima era simpático.
No dia seguinte pela manhã, o cheiro do café, do bacon frito, ovos, um senhor café da manhã, afinal alguns não voltavam na hora do almoço.
Um dos rapazes disse aonde tinha visto a manada de cavalos no dia anterior, fiz minhas deduções, os levei comigo. Depois que quase uma hora cavalgando, os vimos na ravina, mais abaixo da montanha. Nos deitamos na parte de cima, ficamos vendo o que faziam. Robert não fechava a boca. Não parava de dizer baixinho, que maravilha.
Vês aquele branco, ele é o chefe da manada, aqueles dois, apontou um baio e outro manchado, são garanhões jovens, querem disputar a manada com ele, veja como provocam.
Esses dois os retiramos, porque o branco continua cobrindo as éguas, depois tem um detalhe, é sangue puro.
Chegaram mais uns quantos vaqueiros, combinou com eles quais deviam apartar. Robert queria ir junto.
Calma, eu levei anos para que Bob permitisse que os acompanhassem, pode ser perigoso.
Eu fico aqui contigo, explicando como fazem. Era impressionante o galope dos cavalos, veja o branco como comanda tudo. Ele já entendeu que não vamos por ele, vai facilitar a coisa, dito e feito, conseguiram capturar os dois cavalos.
Agora vem a parte que também é emocionante, domar os mesmos. Isso veras os rapazes fazendo. No final do dia, era interessante ver o Robert, sentado na cerca aonde estavam os dois cavalos, observando o comportamento deles. Conseguiu que o malhado, viesse comer a cenoura que tinha já a tempo na mão.
Nessa noite perguntou ao pai, se podia ficar suas férias ali trabalhando?
Tens que perguntar ao Bob? Mas se ele diz sim, tem que pensar que vais obedece-lo cegamente.
Fiquei até tarde conversando com o Peter, como poderíamos fazer tudo.
No terceiro dia descemos, havia um carro parado na frente da casa. Peter avisou, me parece tua tia.
Quando eles chegaram ela desceu do carro, avançou ameaçadora, dizendo que o apartamento era dela, por ter aguentado a idiota da irmã. Se via que a porta da casa continuava fechada.
Não tinha entrado para falar com seu pai, nem tampouco com sua mãe.
Cortei direto, tens algum documento que prova isso?
Não, mas minha irmã prometeu que seria meu um dia.
Impossível, porque não estava no nome dela.
Sim, mas se o marido fosse dado como morto, poderia fazê-lo.
Mas não se sabe, depois por herança, seja dela ou dele, é meu. Fui eu quem deu a ordem para isso, porque sei que foste tu que convenceste minha mãe de me abandonar aqui.
Estava furiosa, nessa altura, saiu sua mãe, com uma espingarda de dentro da casa, dizendo, já chamei o xerife, tens cinco minutos para abandonar estas terras.
Sou a filha mais velha, serão minhas um dia.
Sua safada, isso espera tu, nunca nada de nós ira para ti. Perdeste o direito a isso, no dia que fugiste de casa, para ir viver na boa vida. Volte para ela.
Se abaixou toda sua pose. Estou falida, nem tenho casa.
Isso é um problema teu, arrume um emprego é trabalhe, aqui não te queremos.
Nisso chegou o xerife, era tão louca, que denunciou a própria mãe, dizendo que queriam matá-la. O xerife, se dirigiu a ela falando seu nome, aqui sabemos lidar com os da tua laia. Fora daqui melhor, fora da vila também, volte pelo mesmo caminho que vieste.
Não teve outra coisa que fazer, que subir no carro, se mandar.
Antes se virou para mim, dizendo que tudo que estava no cofre, deveria ser para ela. Minha irmã me enganou.
Essa mulher esta louca, disse Anne, não é a filha que criei, não a quero por aqui.
Sentou-se na varanda, sua neta correu para ela, segurando sua mão. Puxa avó, nunca imaginei que ela fosse capaz disso.
Minha filha, ela é capaz de qualquer coisa. Seu avô sempre disse, como pudemos criar uma víbora dentro de casa.
Peter comentou, imagina a quantidade de dinheiro que ganhou, com todos os divórcios que teve, o último, ficou viúva, mas o sujeito era esperto, deixou tudo para seus filhos. Sempre viveu acima do que podia. Por isso está arruinada.
O xerife mandou um carro a acompanhar até o limite da vila, para que ela fosse realmente embora.
Perguntei pelo nosso avô?
Está sentado na sala, diz que nunca teve filhas, teve netos, seu único filho é o Bob.
A velha contou, que seu marido tinha encontrado o Bob, tempos depois que as filhas tinham ido embora, sentado numa calçada da vila, procurando emprego. Tinha creio que 18 anos, veio para cá, ajudou meu marido em tudo que foi possível. Sempre se comportou bem, por isso hoje é o capataz. Quando elas trouxeram o Bobby, sequer pensaram que estávamos velhos demais para criar uma criança. Por isso Maria pediu se podia cria-lo como seu filho.
Veja o resultado, um rapaz brilhante. O avô de vocês pode ser duro, mas sabe que suas filhas não mereciam nada.
Agora Anne estava agarrada com a avô, nunca tinha tido amor real de mãe, nela encontrava agora uma pessoa, que apesar da idade podia falar de tudo.
A avô lhe contou o que sentia também, como podia ter gerado duas filhas, irreconhecíveis para ela. Depois que foram embora, nenhuma carta, nenhuma linha, ou chamada telefônica. Tampouco quando trouxeram o Bobby, o descarregaram na porta como se fosse uma embalagem, um produto que ninguém quer. Menos mal que Maria o queria. Seu avô ficou furioso, queria denunciar as duas por abandono de uma criança. Mas lhe fiz ver, como essa criança ia ser criada por alguém que não a queria.
Peter tinha falado outra vez com o advogado, esse a conhecia bem, tinha mandado trocar as fechaduras do apartamento, pois ela tinha tentado entrar.
Foi um escândalo, com direito a polícia. Fiquem atentos, pois ela pode tentar qualquer coisa.
Meu avô podia ser um velho de fazenda, mas era esperto, não era a toa que tinha tantas terras.
Chamou seu advogado, o juiz do condado era seu amigo. Resolveu com eles, se podia em vida, passar suas propriedades para seus herdeiros. Tinha uma lei que permitia isso. Nos chamou a todos, claro como sempre, para nos prevenirmos, que Beth minha mulher fique tranquila, resolvi fazer um adendo no meu testamento. Meus herdeiros, são o Bob, seu filho Bobby, os meus novos netos. Bob tem cinquenta por cento das terras, Bobby vinte cinco, os novos outros vinte cinco, mas o usufruto é nosso, ninguém pode vender nada enquanto formos vivos.
Todos assinaram de acordo, o advogado deu entrada nos papeis. Justo dias depois apareceu um advogado, reclamando a parte dela. Havia um documento velho, em que dizia que tinha sido deserdada por abandono da família. Não podia fazer nada mais.
Peter voltou a Washington para preparar nossa viagem. Tinha tempo suficiente de trabalho para pedir sua aposentadoria. Foi o que fez. Para sua surpresa, o próprio presidente pediu que continuasse servindo a nação disse que ia pensar. Mas que antes tinha que resolver um fato do passado que tinha ficado mal resolvido. Já prevendo problemas, espero contar com sua ajuda para qualquer emergência.
Para seu pasmo, uns agentes se acercaram a ele, queriam saber sobre as informações que ele tinha sobre o meu pai. Compartiram com ele o que tinham. A tempos atrás, tinham conseguido informações, viviam todos dentro de covas nas montanhas, as poucas casas que existiam tinha sido bombardeadas a tempo pelos chineses. Não sabemos realmente quantas pessoas vivem lá. Acreditamos que alguns guerreiros da tribo, muitas crianças, algumas mulheres. Tampouco sabemos como sobrevivem. Talvez da caça de urso. Antes criavam umas ovelhas de uma raça diferente, que produz uma lã muito larga. Com elas faziam tapetes para vender, mas tudo isso foi coisa do passado. Quanto ao chefe do clã, realmente pode ser o antigo rei, mas não sabemos com certeza.
Falou comigo a respeito.
Pensei muito no assunto, lhe perguntei se seria possível traze-los, poderiam habitar os vinte cinco por cento que eu tinha de terras, que seria muitas para eles. Bob que escutou disse que estava disposto, temos tantas montanhas sem uso, que essa gente poderia viver por lá.
O velho a princípio não gostou, mas quando escutou falar das crianças vivendo em covas, mudou de parecer.
Peter pediu uma audiência com o Presidente, explicou o assunto. Acreditamos que não passem de 200 pessoas, temos dinheiro suficiente para conseguir aviões para traze-los, o problema será como retira-los de lá, sem que seus vizinhos, ataquem.
O mais fácil estudando com os espertos, era usarem as bases de Afeganistão, principalmente a Base militar de Bagran, que seria a menos inconvenientes.
Voltou para a fazenda, conversaram muito todos os maiores, concordaram com ele, se o governo aprovava, mas queria que tudo fosse baixo surdina, para não chamar atenção.
Quando conversaram com o xerife, este disse sem problemas, mesmo os que queiram desenvolver algum comercio na vila, tudo bem, temos vários locais abandonados, se há crianças melhor, podemos ter uma escola aqui.
Fui com Peter para Washington, pois era necessário tirar diamantes do banco, vende-los colocar o dinheiro no banco, para poder alugar aviões. Ele disse que isso sem problemas, o comandante da base era seu conhecido, dariam assistência médica quando lá chegassem.
Quando partiram, foram justamente para essa base, poderiam ir de helicóptero, justamente até a parte baixa do vale. Dali seguiriam a cavalo. Escolheram cavalos resistente, bem como mais duas montarias, com tenda, alimentos, uma bagagem cheia de chocolate para as crianças.
Os soldados estavam treinados para enfiar os cavalos, dentro de um tipo de helicóptero de transportar muitos soldados, seriam desse tipo que usariam para transportar as pessoas que quisessem vir com eles. Um engenheiro militar, estudou a zona, tinham imagens de satélites, qual era a melhor para aplainar, para fazer com que pousasse esse tipo de helicóptero.
O terreno tem que ser firme por causa do peso do mesmo.
Quando os deixaram embaixo no vale, o vento gelado era de penetrar nas roupas especiais que usavam, mas mantiveram primeiro um bom galope, para chegar a vertente que subiria para as montanhas.
Tinha pedido ao Robert, o anel de meu pai, copiei o desenho, numa espécie de bandeira, usava o mesmo para certificarem de quem eu era.
Quando começamos a subir, vimos helicópteros chineses sobrevoando, entramos numa espécie de gruta na encosta, esperamos chegar à noite para seguir, usávamos na cabeça lanternas, para iluminar o caminho, pois era perigoso. Fomos subindo lentamente, até chegar uma parte em que encontramos um caminho mais estreito, se via pisadas ligeiras na neve, fomos seguindo as mesmas, pois eram as únicas indicações que tínhamos.
No terceiro dia, estávamos completamente perdidos. Montamos uma tenda, coloquei no alto dela a bandeira com o símbolo de meu pai. Não podíamos avançar nessa noite, porque caiu uma nevasca fantástica.
Metidos dentro da tenda, estávamos quase gelados, o jeito era escavar a neve, tentar encontrar gravetos. Quando parou a nevasca, sai, procurei algo para fazer fogo. Senti ser observado, como quem não quer nada, tirei as luvas, deixei que meu anel, aparecesse.
Em seguida se levantaram da neve vários homens. Todos armados até os dentes. O que comandava falava um inglês hesitante. Perguntou quem eu era?
Lhe disse meu nome completo, agora finalmente o sabia. Tinha dificuldade de pronunciar as últimas silabas, mas ele me corrigiu.
Deu ordem para desmontar a tenda, os cavalos estavam gelados, mas os levaram conosco, nem bem um quilometro mais acima, entramos numa gruta, que resultou a princípio estreita, mas ao final imensa. Andamos horas por dentro da mesma, tinha a sensação que estávamos subindo a montanha. Era como estar numa espiral imensa.
Chegamos finalmente, a um lugar imenso, cheio de tendas, as crianças se escondiam atrás das mães, os mais velhos olhavam assustados, para estes estrangeiros.
Saiu um homem da tenda maior, com a bandeira na mão, falou em inglês, de quem é essa brincadeira.
Não é uma brincadeira, expliquei que era o mesmo símbolo do anel do meu pai.
Quem é você?
Mais uma vez expliquei, vim em busca do meu pai. Não sei se esta vivo ou morto, mas vim em busca do povo dele.
Teu pai morreu na revolução.
Então quem é o homem que aparece nessas fotografias, mostrou o que Peter tinha mostrado para ele.
Da tenda saiu um segundo homem. Sou eu, teu tio, infelizmente meu irmão morreu logo no início da revolução, o único jeito foi escapar para as montanhas com o que sobrava da nossa família, porque todos que estão aqui, são tua família. Cada vez mais fomos subindo a montanha dos nossos antepassados, este lugar é sagrado, aqui estão enterrados todos nossos antepassados, agora nós estamos aqui, esperando nosso final.
Mas se realmente es filho do meu irmão, temos esperança. Virou-se para os outros falou na língua deles. A profecia se cumpre, nosso Rei, veio nos resgatar.
Todos se ajoelharam, o homem primeiro, pegou minha mão, beijou o anel de meu pai.
O levantei pelos ombros emocionado é o beijei. Não encontrava minha família, mas encontrava os meus.
Estivemos conversando muito tempo, Peter distribuiu entre todos viveres, que tínhamos trazido.
Conversei com meu tio, mostrei num celular, o lugar que eu tinha a oferecer a eles, foram passando de mão em mãos pelos velhos, olhavam aturdido.
Peter mostrou no mapa, o local que teríamos que aplainar para poderem descer os helicópteros.
Creio que muitos não irão querer ir, aqui é a terra dos nossos antepassados.
Me neguei, olha essas crianças, precisam de um futuro, teus homens também, lá não vamos precisar lutar, morrer. Podem viver bem. Essas terras são minhas. Não falou nada do dinheiro que existia.
Mas como vamos chegar lá. Peter com muita paciência explicou.
Meu tio me levou para falar com todas as famílias, agora apareciam mais homens armados, deixamos alguns de vigilância, embora os chineses tenham medo de atacar de noite.
Expliquei tudo outra vez, teríamos que agir rápido, antes que percebessem que iriamos embora. Disse tudo que teriam por lá. Espero que venham viver comigo?
Muitos, principalmente os mais jovens balançavam a cabeça. As mulheres desconfiavam, mas foi uma garota, não saberia precisar sua idade, porque estava desnutrida. Pediu para falar, disse que esperavam a anos o retorno do seu Rei, agora que ele estava ali, para os levarem a uma vida melhor. Tinham dúvidas. Olhem o que temos, nada. Vivemos junto aos mortos, esperando um Rei vivo, se nos oferece isso, temos que ir.
Agora todos balançavam a cabeça.
Disse a eles que teríamos que trabalhar de noite para não chamar a atenção, teríamos quando muito três dias. Dormimos o dia inteiro, de noite, subimos todos os homens que ainda tinham força, ajudados pelos cavalos, começamos a aplainar o local. Primeiro o pior, retirar a neve que estava ali. Quando o dia amanheceu, descemos todos.
Abrimos a segunda alforja do primeiro cavalo, distribuímos, barras de chocolates, que usava o exército, para terem força. Nessa noite, as mulheres subiram também, junto com as crianças maiores, todos participavam. Peter ia pressionando a terra, para ver o quanto podia aguentar, tirou as medidas que os helicópteros necessitavam. Falou pela primeira vez com a base, por celular de satélite, disse quantas pessoas iriam. Nessa noite, as mulheres, pediram se podiam levar suas ovelhas, nos levaram até elas, tinham vivido todo esse tempo do leite delas, não as podiam deixar para trás. As mais velhas queriam levar seus telares, bem como os tapetes que tinham. Peter saiu até a entrada da cova, falou que necessitavam de mais viagens, um avião extra de transporte, não disse para que. Subimos outra vez, desta ele plantou um sistema de sinalização no chão, duas horas depois, apareceu o primeiro helicóptero.
Levou metade das crianças pequenas, suas mães, avôs. Voltariam mais dois helicópteros logo em seguida, tínhamos que sermos rápidos. Ainda faltaria uma viagem, com os últimos homens que subiriam pelo interior da montanha. Ficamos Peter, meu tio, para ajudar a esses homens embarcar ovelhas, os cavalos iriamos soltar, sabia que eles desceriam sozinhos a montanha.
Quando estávamos já na última ovelha, pois era necessário pega-las nos braços, fomos avisados que iriam se aproximando dois pequenos helicópteros chineses de exploração.
No, voo, Peter foi explicando ao meu tio, que os homens deveriam deixar todas as armas para trás, para embarcarem nos aviões. Ele disse que essas armas eram como seus braços. Lhe disse que não se preocupasse , que na fazenda, teriam armas para caçar.
Alguns olhavam desconfiados, mas quando aterrissamos, o comandante esperava Peter, nos levou até aonde estavam todos, sorriam felizes, pois assim que tinham chegado, lhes deram comida quente, os médicos estavam atendendo a todos, dando vacinas nas crianças.
Os aviões já estavam esperando, foi difícil fazer a maioria subir, eu ao lado de meu tio, os ia convencendo, já tinha aprendido as palavras certas. A maioria, fazia questão de beijar minha mão. Não queria, mas meu tio, disse que isso era um costume, que depois, eu resolveria como me tratariam.
Teríamos que parar numa base americana na Alemanha, para reabastecer. As ovelhas deram trabalho para subir, mas conseguimos junto com um exemplar de telar que elas usavam, lá mandaríamos fazer mais.
Na Alemanha, subiram a bordo do transportador de ovelhas, uma quantidade de veterinários, para dar vacinas aos animais.
Paramos em Washington, o Presidente fez questão, apesar de ser de madrugada, vir nos felicitar. Peter me apresentou como sendo o Rei dessa gente, mas americano ao mesmo tempo.
Tudo que me disse, foi, espero que cuides bem desses novos cidadãos americanos.
A Peter, que o estava esperando, quando pudesse.
Quando chegamos ao aeroporto mais próximo da vila, lá estavam uma serie de caminhões esperando pela gente, meu avô tinha mobilizado todos os vizinhos, além de ter alugado alguns.
Robert, Bob, Maria, lá estavam. Num dos hangares, tinham montado um rancho de comida para todos, carnes, batatas, tortas de miúdos, comeram até se fartar.
Alguns estavam preocupados se eram mulçumanos, mas meu tio disse que não, eram católicos Maronitas. Isso pareceu tranquilizar as pessoas da vila.
Quando chegamos a fazenda, viram os cavalos, desceram as ovelhas para um cercado, os veterinários do exército tinham vindo juntos, para evitar qualquer problema. Um deles me disse que essas ovelhas eram especiais, pois aguentava uma vida dura. Se darão bem no alto das montanhas.
Tinham mandado a pedido do Peter, uma serie de tendas militares, com camas, para acomodar o pessoal, bem como um sistema para que pudessem tomar banho. Médicos, para examinarem o pessoal.
As mulheres da redondeza, diziam que parecia quando estavam de feira anual, pois não paravam de fazer comida.
Não sei como meu avô, sempre tão fechado, se sentava com os outros velhos, falavam, cada um em sua língua, pareciam se entender.
Dias depois com tudo acomodado, subimos com meu tio, seus homens, para escolhermos as terras que poderiam viver. No alto da montanha, olhavam tudo maravilhado. De noite na cabana, disse ao meu tio, que podíamos pedir casas de madeira, como as da cabana, que o tinha encantado, pré-fabricadas. Demorou para entender.
O primeiro argumento, foi que não tinha dinheiro. Só então contei o que havia no banco, toda as joias da família, bem como diamantes que eram do meu pai.
Argumento que um rei como eu, tinha que ter dinheiro para mostrar poder.
Tive que ser objetivo. Meu tio, eu não sou rei de nada, passei esses anos todos, na total ignorância da minha família. Nem sabia que vocês existiam. Aqui sou como um a mais, lhe expliquei o que era um Cowboy, ele tinha visto quando jovem no cinema.
Temos cavalos para todos, expliquei o que fazíamos, no verão subíamos os cavalos, todos os animais, para os pastos de cima, se plantava os pastos de baixo para o inverno. Isso Bob que parecia se entender bem com ele, pois era aceito como um deles, os ensinaria.
Quando a poeira se assentou, começaram a chegar as cabanas, os homens ajudavam a instalar as chaminés, que eram à parte. As primeiras famílias começaram a subir. Iriamos fazer uma estrada, para que as crianças pudessem ir a escola. Um motivo urgente, eles aprenderiam inglês mais fácil que os mais velhos. Alguns queriam viver na vila, ter algum comercio.
Encomendei que se fizessem mais telares, logo as mulheres começaram a trabalhar, podia, tirar a lã das ovelhas, lavavam nos córregos da montanha, depois a cardavam, algumas ficavam lá em cima, porque era um hábito as mulheres sempre estarem tecendo. Logo algumas mulheres da vila se interessaram começaram a trabalhar juntas.
O padre da igreja, se ausentou um tempo, ficamos preocupados, mas voltou com um companheiro, um padre maronita, que descobriu sabe se lá aonde, rezavam a missa juntos.
Nos domingos, desciam todos a vila, para a missa. As crianças já falavam inglês. Tínhamos conseguido um médico, fixo agora na vila, atendia o desenvolvimento dessas crianças que tinham chegado desnutridas. Já ganhavam dinheiro.
Bob tinha ensinado aos homens cuidar dos animais. Quando os levei para observarem os cavalos selvagens, sabia que tinha que usar os argumentos que tinha. Eram cavalos do Rei, só podiam ser separados da manada, com minha ordem.
Os tinha proibido de beijar o meu anel, afinal, era um deles. Sempre que estava nas montanhas, ia comer na casa de algum deles. Mas exigia que se comportassem como se eu fosse mais um deles. Meu tio se casou com uma mulher que estava viúva na vila, segundo ele amor a primeira vista. Esta o domesticou, ensinou que tinha que tomar banhos todos os dias, os hábitos de higiene. Ensinou as outras mulheres, era respeitada, porque era mulher de um chefe tribal.
O que gostava meu avô, é que alguns velhos não tinham subido, gostavam da vida ali embaixo, fazia menos frio. Diziam que os ossos eram velhos, que precisavam de calor. Assim ele tinha com quem conversar. Tinha aprendido a língua deles.
Comecei a estudar com o Bob a possibilidade de lhe dar as terras aonde trabalhavam cada família em propriedade. Este concordou, nunca conseguiremos ocupar tudo.
Um dia que estava com os da minha família, vi uma garota linda. Não me lembrava ter visto a mesma nunca.
Meu tio, me disse, essa era a garota que conseguiu convencer a todos. Agora não estava mais subnutrida. Tinha crescido um pouco, já montava a cavalo, como as outras mulheres, cuidava de suas próprias ovelhas. Ele me explicou que isso faziam as mulheres para terem um dote, era um costume antigo, das montanhas.
Alguns anos depois me casei com ela. Foi uma festa incrível. Trouxe uma pequena coroa do banco para que ela usasse no casamento. Agora seria a minha rainha.
Meu avô acabou morrendo com mais de cem anos, minha avó, ficou perdida algum tempo, mas as outras mulheres da sua idade lhe faziam companhia. Tem agora noventa e cinco. Disse que não vai morrer até ter seus bisnetos.
Robert, foi estudar agronomia na mesma universidade. Anne mudou completamente de postura, acabou casando anos depois com um dos homens mais jovens que tinham vindo.
Quando Peter finalmente se livrou dos seus compromissos, juntos, montamos uma fundação, para administrar o dinheiro que tínhamos, para que futuramente esses jovens pudessem ir a uma universidade. Não necessitávamos de coroas, ou joias, precisávamos dar futuro.
Minha mulher, foi a universidade mesmo gravida. Dava aulas as crianças para que não se esquecessem de sua língua de sua raça.
Conseguimos, vender o apartamento de Nova York, Paris, como agora eu era oficialmente o herdeiro, o dinheiro que estava na Suiça. Isso tudo fazia o fundo para o futuro. Todos agora tinham cidadania americana. Em suas casas falavam sua língua, eu mesmo tinha aprendido, só falava com eles nessa língua.
Ah as ovelhas, se multiplicaram, agora são um imenso rebanho, que anda solto pelas montanhas. Vivem sempre na parte mais alta, necessitam do frio para viver.
Na época de serem tosadas, na primavera, no final fazemos uma festa, virou nossa festa popular, a realizamos na vila. As senhoras aproveitam para venderem seus tapetes, oferecerem as comidas típicas que recuperaram das senhoras maiores. Inclusive existia um restaurante.
O padre maronita, se dedicava a atender a todos, junto com seu eterno companheiro. Formavam uma dupla interessante.
Bom de minha tia, só soubemos dela anos depois, através de um escândalo em Washington, era uma madame que controlava garotas de companhia. Foi presa por tentar chantagear um Senador. Em resumo, continuava a mesma.
Eu de não ter família nenhuma, agora tinha uma família imensa, era a minha tribu.
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