SENTIMENTOS SÃO PARA CULTIVAR
Capítulo II
Inuyasha terminou de ler o relatório que lhe foi apresentado, um trabalho conjunto de sua equipe de corretores, assessores jurídicos e de um investigador particular.
Depois de ter uma porta batida em sua cara, ele não cometeria novamente o mesmo erro. Conheceria cada aspecto da vida da jovem atrevida, localizaria seus pontos fracos e flexibilizaria a oferta de modo que ela não poderia recusar.
Os resultados da investigação revelaram mais que o nome da criatura abusada, Kagome Higurashi. Eles ainda reforçaram sua convicção de que a mulher usava de psicologia reversa para tentar conseguir uma proposta de valor maior.
Afinal, não havia motivo plausível para que ela recusasse uma oferta pela propriedade rural.
De acordo com as informações contidas no relatório, Kagome Higurashi tinha 27 anos de idade. Ensino médio completo, chegou a começar a faculdade de enfermagem, mas trancou o curso seis anos antes, após a morte da mãe e do irmão em um acidente de carro.
Atualmente, cuidava do avô doente, enquanto administrava o imóvel rural da família, que lucrava basicamente com a venda de produtos hortigranjeiros, do leite das poucas vacas que tinha e dos peixes criados na represa da propriedade, que contava com a força laboral de apenas três funcionários, além da própria Kagome.
A vida financeira, aparentemente, seguia aos trancos, já que ela tinha que arcar com tratamentos médicos caros e contratar uma cuidadora para auxiliar com os cuidados do avô, mas não havia débitos absurdos, o que era ruim para ele. Seria muito mais fácil persuadi-la a livrar-se da propriedade, se ela tivesse afogada em dívidas.
O relatório foi além, alcançando a chegada da família Higurashi na propriedade, a fim de buscar esclarecer possível recusa fundamentada em razões sentimentais. De acordo com as informações levantadas, o bisavô de Kagome ocupou a propriedade com esposa e seu único filho, menos de seis meses depois que Inuyasha e sua mãe a abandonaram.
Quinze anos mais tarde, conseguiu legalizar sua propriedade sobre a terra, usucapindo-a, e assim ela foi herdada pelo avô de Kagome.
O pai de Kagome casou-se e continuou morando no imóvel com sua família, mas faleceu um um par de anos após o nascimento do segundo filho. Muitos anos mais tarde, faleceram também a mãe e o irmão de Kagome, o que a tornava a única herdeira das terras. A condição de administradora veio com a saúde mental deteriorada do avô, e apesar das dificuldades enfrentadas, Inuyasha tinha que admitir que ela estava fazendo um bom trabalho em manter a propriedade.
Mas ainda não estava convencido dos motivos que ela tinha para isso. Afinal, era evidente que Kagome não pretendia dedicar-se profissionalmente à fazenda, se havia escolhido cursar enfermagem. Os plantões geralmente cumpridos nessa profissão, conflitavam diretamente com os horários de dedicação que uma pessoa do campo precisaria ter.
Então sim, ele tinha praticamente certeza que a jovem queria apenas tirar vantagem da situação, aproveitando o surgimento de um comprador rico para ganhar o máximo possível com a venda.
Afinal, com o dinheiro, ela poderia terminar a faculdade, custeando a internação do avô com a aposentadoria que ele recebia, sendo que, futuramente, sua renda seria complementada pelo próprio salário de enfermeira. Uma perspectiva de vida muito mais confortável que seguir poupando o máximo de sua renda, para manter a propriedade rural familiar.
Convicto que já tinha compreendido o suficiente da situação, Inuyasha decidiu ceder e aumentar a oferta. Afinal, o que seria para ele dar vinte e cinco ou trinta por cento a mais do que pretendia inicialmente?
Ademais, quando Kagome aceitasse facilmente (como acreditava que aceitaria) vender as terras pelo valor maior, poderia regozijar-se diante dela, jogando em sua cara que, no fim, ela era dissimulada e manipuladora, pois fingia desinteresse na venda e apego à fazenda, a fim de encher os bolsos o máximo que podia.
Claro, ele poderia esperar mais alguns anos ou décadas para tentar comprar a propriedade, mas a ideia de deixar a jovem sem palavras diante de uma proposta gorda, era mais atrativa.
Ele mal podia se aguentar de ansiedade, ao imaginar os lábios em forma de coração abrirem e fecharem, como os de um peixe, diante do choque ao ler o valor do cheque que receberia.
Era mais seguro concentrar-se nisso, do que em todas as outras maneiras que ele já havia fantasiado de calar a boquinha mal-criada de Kagome Higurashi.
…
Kagome não resistiu ao impulso de rolar os olhos quando viu o hanyou descer da caminhonete e caminhar pela propriedade.
Como sempre, ela observou cuidadosamente à entrada do veiculo na fazenda, afinal, tinha que ser cautelosa com os automóveis que não conhecia, já que indicava a chegada de pessoas estranhas. Nunca saía da cabeça de Kagome que ela era uma mulher que administrava uma fazenda, e que por mais que seu gênero não definisse sua competência, ainda era um baita atrativo para pessoas mal intencionadas, que viam a oportunidade em cumprir suas perversões com a pobre jovem que ficava a maior parte do tempo sozinha na propriedade com o avô.
Então sim, ela observou com atenção a entrada da caminhonete, mas surpreendeu-se ao ver descer dela o mesmo Hanyou de cabelos prateados e orelhas caninas que ali estivera cerca de quinze dias antes, já que ele viera em um veículo diferente, da outra vez. Supôs, deveria ter alugado ambos.
Afinal, Inuyasha Takahashi, dono da imensa Takahashi Corps, não fazia o tipo que dirigia veículos rurais a menos que fosse necessário.
Sim, agora Kagome sabia quem ele era.
Após o pequeno espetáculo em que ele acusou-a de tentar extorqui-lo por tê-lo reconhecido, bastou digitar as palavras “hanyou”, “inu-yokai” e “famoso” no Google, para descobrir tudo sobre a brilhante trajetória como CEO de uma empresa de equipamentos informáticos, que tornou-se uma gigante mundial. E também para conseguir algumas fofocas suculentas de tabloides de fama questionáveis.
Confiáveis ou não, o fato é que os escândalos que envolviam o hanyou e sua ex-esposa, serviram para que ele caísse ainda mais no conceito de Kagome, se sua prepotência e arrogância já não fossem o suficiente.
Aparentemente, Inuyasha Takahashi era uma pessoa desprezível.
Mas ainda era o homem mais bonito que vira na vida.
Ela ainda se lembrava de como seu coração falhou uma batida no primeiro momento em que colocou os olhos nele. Naquela ocasião, Kagome não não se importou em olhá-lo dos pés à cabeça, apreciando o corpo musculoso que mal era disfarçado pelos jeans e pela camisa clara de botões, para estacionar nas orelhas caninas fofas que adornavam o topo da cabeça de longos e lindos cabelos prateados.
Ela teve a impressão que, quanto mais se aproximava, mais lindo ele ficava. Os olhos sisudos e dourados; as sobrancelhas negras bem marcadas; os traços retos e fortes; o maxilar quadrado. Inuyasha parecia ter vindo diretamente de uma pintura épica, com sua aparência moldada pelos deuses da guerra.
Infelizmente, o encanto durou apenas até que ele abriu a boca e fez pouco caso dela como administradora da fazenda, por ser uma mulher.
A decepção com o comportamento dele, que só piorou naquele dia, e as notícias infames que lera, deram a Kagome a força necessária para que ela não se encantasse uma segunda vez, enquanto o observava encurtar a distância que havia entre eles.
— O que você quer? — disse, sem um pingo de gentileza, apoiando a mão direita na cintura em uma pose imponente, que com certeza era abalada pelo largo macacão jeans que trajava, pelas tranças gêmeas que dividiam seu cabelo e pelo balde d’água que trazia na mão esquerda.
Bom, não era como se ela precisasse causar boa aparência.
— Pessoas educadas, dizem bom dia — resmungou ele. A mulher não deixou de apreciar como ele sempre parecia chocado quando ela se comportava de maneira rude.
Rico como era, certamente estava acostumado a ter todas as pessoas aos seus pés.
— Pessoas educadas, não aparecem na casa dos outros quando sabem que não são bem vindas — retrucou, vendo, com satisfação, a irritação crescer nas íris douradas.
— Sabe que vim a negócios — o hanyou falou, entredentes.
— Não estamos interessados — dispensou Kagome, dando meia volta para entrar em sua casa.
— Você pode ao menos analisar a proposta? — esbravejou ele, alcançando-a para apresentar-lhe um envelope.
Kagome revirou os olhos, mas apanhou o envelope. Deixando o balde sobre o último degrau que levava à varanda que ocupava a parte dianteira da residência, abriu o envelope e retirou o conteúdo.
Como esperado, seus olhos se arregalaram ao ler o valor e a forma de pagamento.
Inuyasha sorriu, com deboche.
Levou quase um minuto inteiro para que Kagome se recuperasse, e quando o fez, entregou o envelope de volta ao hanyou, que a encarou confuso.
— Não estamos interessados — disse por fim, de maneira atordoada, antes de pegar o balde e subir os degraus.
Inuyasha explodiu.
— Você não pode estar falando sério! — gritou. — Não pode querer que eu ofereça mais que isso! Minha proposta está muito acima do valor de mercado.
A mulher estreitou os olhos castanhos.
— Eu não quero que me ofereça nada! — gritou de volta. — Eu já disse que não estamos interessados na venda. Apenas vá embora com sua proposta e nos deixe em paz! — completou, furiosa.
— Eu não entendo porque se recusa a vender a fazenda! — bradou, transtornado.
— Você não precisa entender! Precisa aceitar! — Kagome gritou de volta. — Não é sua propriedade para que decida o que fazer com ela! Não é porque decidiu comprar, que somos obrigados a vender! — continuou, aos berros. — Cresça e entenda que o mundo não gira ao seu redor! Procure outra propriedade, a nossa não é a única na região. E por favor, nos deixe em paz! — concluiu, apanhando o balde de volta e subindo os degraus de madeira.
— Interesseira! — por fim, o meio-yokai perdeu as estribeiras. — Saiba que sua tática não vai funcionar, e agora, se tiver interesse em vender, não arrancará de mim mais que o valor de mercado — garantiu.
Kagome virou-se para ele.
Lentamente.
Perigosamente.
O hanyou não entendeu porque diabos suas orelhas se achataram automaticamente diante do olhar gelado da mulher. Durante sua vida, ele havia enfrentado inimigos mortais; pessoas hostis; investidores desacreditados e uma esposa histérica.
Mas ele nunca demonstrou fraqueza.
E ali estava a pequena mulher interiorana, fazendo com que se encolhesse como se estivesse levando uma bronca da mãe.
— Não pense que você vai me ofender dentro da minha casa e as coisas ficarão por isso mesmo — finalmente, falou ela.
Antes que Inuyasha pudesse questionar o que ela insinuava, Kagome lançou toda água do balde contra ele que, chocado pela ousadia, não conseguiu valer-se de seus sentidos e velocidade para escapar a tempo, restando encharcado.
O meio-yokai encarou abismado a mulher, que abriu um sorrisinho vitorioso.
— Vadia… — xingou, passando a mão pelo rosto para retirar o excesso de água. — Isso não vai ficar assim — declarou, antes de sacudir-se como um cachorro, espirrando água para todos os lados, ao passo que Kagome gritava, tentando se proteger como podia.
Ele teve um último vislumbre do rosto encharcado e furioso da mulher, antes de dar meia volta e caminhar em direção à caminhonete.
O desconforto da sensação de roupas molhadas contra o banco de couro do veículo, apenas fomentou a raiva que já sentia.
Kagome Higurashi queria ficar em paz?
Bem, paz era a última coisa que daria a ela.
Sorrindo, Inuyasha deu a partida e dirigiu para longe, uma ideia, baseada nas palavras da mulher, ganhando força em sua mente.
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Centro de Atendimento Clínico de Sete Rios atendeu mais de 500 utentes em duas semanas de atividade
Mais de 500 utentes foram atendidos no Centro de Atendimento Clínico de Sete Rios, desde que este abriu há duas semanas, informou esta sexta-feira a Unidade Local de Saúde de Santa Maria (ULSSM), na qual este CAC está integrado.
Dos 551 atendidos, cerca de 50% foram encaminhados pelo Serviço de Urgência Central do Hospital de Santa Maria (11% das pulseiras verdes e azuis, as dos casos menos urgentes) e a outra metade referenciada pela Linha SNS 24, precisa a ULSSM em comunicado.
"Nestas duas semanas, apenas cinco utentes foram transferidos do CAC para o Serviço de Urgência Central - menos de 1% do total de atendimentos -, sendo que nenhum deles teve necessidade de internamento, dado que comprova a segurança do processo de referenciação".
Assinala-se ainda que "após a admissão do utente, a demora para ser visto a primeira vez pelo médico não ultrapassa os 10 minutos".
Os cuidados no CAC são assegurados por equipas multidisciplinares da ULSSM, que também já realizaram perto de 200 atendimentos de enfermagem e 60 exames de diagnóstico, entre análises ao sangue, raio-X e eletrocardiogramas.
"Esta é mais uma resposta que pretende, por um lado, evitar tempos de espera inadequados e, por outro, precaver um desajustado acesso à nossa urgência central, extremamente diferenciada e preparada para emergências e urgências, conforme se exige e se impõe a um hospital universitário", disse o presidente da ULS Santa Maria, Carlos Martins, citado no comunicado.
O CAC funciona sete dias por semana, entre as 08:00 e as 20:00, e tinha previsto contar, por turno, com três médicos, dois enfermeiros, dois técnicos superiores de diagnóstico e terapêutica, um assistente técnico, um secretariado administrativo e um técnico de auxiliar de saúde.
A criação de centros de atendimento clínico (CAC) para atender situações agudas de menor complexidade e urgência, que funcionarão como "coroa de proteção" aos serviços de urgência hospitalares, consta do Plano de Emergência e Transformação na Saúde do Governo.
No final da visita de inauguração deste primeiro CAC, no passado dia 01, a ministra da Saúde, Ana Paula Martins, anunciou que na última semana deste mês abrirá o Centro de Atendimento Clínico do Hospital da Prelada, no Porto, com o mesmo objetivo de libertar as urgências hospitalares dos casos não urgentes.
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