TAMBORES > FOTO CLUBE POESIA DO OLHAR
Imagem acima: Fafá Lago
"Já fazia mais de três séculos que os primeiros negros tinham chegado ao Maranhão, ainda com a cidade circunscrita ao seu forte, a algumas ruas tortas, ao casario de palha, a uns poucos sobradinhos de pedra. [...] E tinham sido eles, os pobres pretos esqueléticos, de grandes olhos febris, as pernas bambas e chagadas, que em verdade ergueram a cidade, com seus palácios, seus sobradões de pedra e cal, suas igrejas e sua muralha junto ao mar, sem que nada por isso lhes fosse restituída a liberdade. Em verdade, só eram livres ali, na casa-grande das minas, e enquanto ressoavam os tambores."
Imagem acima de João Maria Bezerra
Como epígrafe, o extrato acima do livro Os tambores de São Luís" ( José Olympio Editora, 1975) do maranhense Josué Montello (1917-2016) já introduz o leitor a potente ressonância visual encontrada no livro Tambores ( Ed. Origem, 2022), dos autores Adalberto Melo, Adriano Almeida, Antonio Coelho, Danielle Filgueiras, Edgar Rocha, Emanuely Luz, Fafá Lago, Fozzie, João Maria Bezerra, Julio Magalhães, Márcio Melo, Mônida Ramos, Ribamar Carvalho, Sérgio Sombra, Suzana Menezes, Svetlana Farias, Talvane Araujo, Tarcísio Araújo e Tavares Jr., a maioria "ludovicenses" ou seja, quem nasce em São Luís, capital do Maranhão, ou radicados na cidade, sócios do Foto Clube Poesia do Olhar, integrante da Confederação Brasileira de Fotografia (Confoto), que congrega dezenas de foto clubes pelo Brasil. A edição vai de duas a três fotografias para boa parte dos autores e chega ao máximo de dezesseis e vinte e uma imagens para dois autores.
Imagem acima de Julio Magalhães
Com uma produção mais conhecida em seu estado, o Fotoclube Poesia do Olhar não deixa a desejar para outras importantes agremiações do gênero como a Sociedade Fluminense de Fotografia, do Rio de Janeiro ou o paulistano Foto Cine Clube Bandeirante, cuja projeção tornou-se nacional e às vezes internacional, caso deste último, e junta-se as demais entidades na publicação de mais um belo livro fotográfico temático, trazendo, entre outros, um texto escrito pelo sergipano Reginaldo de Jesus, professor de língua portuguesa do Instituto Federal de Sergipe (IFS), expert na obra de Montello, a qual dá o norte para a construção dos fotógrafos.
Tambores de São Luiz mostra o empenho de Montello ao resgatar o espírito negro, esquecido no país, a partir de outra ótica que não a do colonizador e opressor, uma análise literária pelo viés histórico, já que, no nível da ficção, os acontecimentos são norteados pela história e assentados no inter-relacionamento do discurso estético e literário. Como explica a professora Ceres Teixeira de Paula: O autor recompôs um enredo em que o negro surge como agente, e em que diversas formas de resistência, desde o banzo, a fuga e a organização em quilombos são relembradas. O próprio Montello conta o surgimento do livro: "Depois de ter escrito o Cais da Sagração, que anda agora a correr o mundo, o que primeiro me aflorou à consciência, inspirando-lhe a germinação misteriosa, foi o ruído dos tambores da Casa das Minas, que ouvi em São Luís, na minha infância e juventude." Uma percussão que, sem dúvida, vem instigando a produção de textos e imagens.
Imagem acima de João Maria Bezerra
Já o livro Tambores é uma publicação que aproxima-se com muita dignidade à obra de profissionais consagrados, como o também maranhense Márcio Vanconcelos com seu Zeladores de Voduns do Benin ao Maranhão ( Editora Pitombas, 2016), com retratos feitos no Maranhão e no Benin, na África Ocidental [ leia aqui review em https://blogdojuanesteves.tumblr.com/post/648453616930308096/imagem-agboce-su-hun-nexo-ouidah-o-antrop%C3%B3logo ] ou outros autores como o mineiro Eustáquio Neves e seu Aberto pela Aduana ( Ed. Origem, 2022) que trabalha a questão da diáspora africana, bem como propõe discussões sobre a posição do negro na arte e na cultura que se consolidam e abrem novas perspectivas buscando o restabelecimento da sua importância, há muito preterida pelo establishment. [ leia aqui review https://blogdojuanesteves.tumblr.com/post/688419475843891200/muito-da-arte-%C3%A9-produto-de-seu-tempo-e ].
Imagem acima Julio Magalhães
Reginaldo de Jesus, inspirado em uma crônica do escritor capixaba Rubem Braga (1913-1990) intitulada "Entrevista com Machado de Assis", parte do seu livro Ai de ti, Copacabana, de 1960, com capa da designer carioca Bea Feitler (1938-1982) e atualmente na 34ª edição, pela Global Editora, imagina uma entrevista com Josué Montello, sobre os tambores de São Luís, segundo o autor, seu romance mais festejado pela crítica, considerado uma obra prima, em um exercício ainda mais imaginativo, acentuando seu lado ficcional onde o mesmo é entrevistado para o jornal A mocidade, que ele mesmo fundou em São Luís, aos 17 anos.
Imagem acima Danielle Filgueiras
Acompanhadas desta "entrevista" e por outros textos estão imagens densas, saturadas, carregadas nos seus contrastes que permeiam as ruas da cidade de São Luis, com personagens negros, vernaculares na essência, entremeados por detalhes da sua arquitetura histórica, a bela azulejaria, casarios e calçamentos de pedras , que ainda resistem bravamente à enorme incompetência do estado em manter a sua conservação. É uma palete barroca, acentuada pelos vermelhos e amarelos em sua maioria, com a ressalva de algumas fotografias em preto e branco, a demonstrar a potência da utilização da cor como forma. Acrescentando-se aqui a edição de imagens e o projeto gráfico que não identifica nas imagens diretamente os seus autores, mostrando certa homogeneidade do grupo e estimulando a narrativa visual.
imagem acima Danielle Filgueiras
Wanda França de Souza, gestora e bibliotecária da Casa de Cultura Josué Montello e curadora do Museu Josué Montello escreve que além dos dados históricos, o romance de Montello é notável pela rica descrição do interior da Casa das Minas, da estrutura colonial de uma São Luís preconceituosa, das ruas e becos, seus mirantes e sobrados de ferro, o que podemos encontrar nas imagens. Infelizmente para o leitor não familiarizado com a cidade, a ausência de identificação dos lugares diminui a estrutura histórica, ainda que as reproduções de jornais estejam descritas no final do livro.
Imagem acima de João Maria Bezerra
Para o antropólogo, professor da Universidade Federal do Maranhão, Sérgio Figueiredo Ferretti (1937-2018), em seu livro Querebentã de Zomadonu: etnografia da Casa das Minas, (EDUFMA, 1996), a "Casa das Minas" é um templo do "Tambor de Minas" localizado no centro histórico de São Luís para para o culto de origem africana que em outras regiões do país recebe denominações como Candomblé, Xangô, Batuque, Macumba entre outros. Em São Luís, a Casa das Minas é uma casa de culto afro-religioso fundada por escravos originários do Benim, falantes da Língua Fon, do grupo linguístico ewe-fon. A Casa também é chamada Querebentã de Zomadonu. Querebentã, em língua Jeje ( falada em Gana, Togo e Benin) quer dizer “casa grande” e Zomadonu, o nome da divindade protetora dos seus fundadores e o dono da Casa.
Imagem acima Adalberto Melo
Em 2002 foi declarado e aprovado, o tombamento da Casa das Minas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, IPHAN, como sendo um dos patrimônios da cultura brasileira. Segundo as pesquisadoras da Universidade Federal do Maranhão, Christiane Falcão Melo e Zuleica de Souza Barros todas as integrantes da Casa, juntamente com suas divindades, tentam manter, o máximo possível, as características do culto ao longo das gerações, preservando-se, assim, sua cultura linguística por meio dos rituais religiosos e toda essa religiosidade praticada refletiu-se, notadamente, nas concepções da língua. Para a sociedade uma possibilidade de expressão das necessidades humanas de comunicação e de integração social. Neste sentido, a língua é um identificador de grupos, pois, além de representar a comunidade falante, reflete as mudanças sociais e as identidades culturais que compõem a sociedade.
Foto da capa acima: Fafá Lago
Língua, texto e imagem, se amalgamam em estruturas semiológicas na construção do nosso imaginário vernacular e de nossas heranças compartilhadas. Assim, Tambores é mais um movimento para que ações efetivas sejam unidas cada vez mais. Como escreve Wanda França de Souza, o escritor Josué Montello mergulhou em nossas raízes históricas, ao escrever um romance não somente sobre a escravidão, narrando não somente a vinda do negro para o Brasil como também da incorporação à realidade deste país, até a redenção, identificado como brasileiro e com a liberdade. É claro que podemos e devemos pensar que, escrito em 1975, talvez o autor não pudesse imaginar que toda esta estrutura materializaria-se em tempos mais contemporâneos, ressignificada em preconceito, discriminação e racismo amparado pelo estado e por parte da sociedade, motivo pelo qual esta publicação do Poesia do Olhar mantém uma consonância com o necessário ativismo por uma sociedade melhor.
Imagem acima de Julio Magalhães
Certamente os registros documentais ou encaminhados pela arte, aqui mencionados, que cuidam da importante presença africana no Brasil vêm também aumentando, seja de um modo amparado pelas suas estruturas hereditárias ou étnicas, como Eustáquio Neves ou o baiano Hugo Martins ou dos fotógrafos dedicados a esta pesquisa como Márcio Vasconcelos entre outros, associados ao grupo dos 19 fotógrafos que produziram a publicação, são de enorme importância no reconhecimento não somente dos influenciados por estas matrizes, mas para toda a cultura brasileira, saudando o pioneirismo do francês Pierre Fatumbi Verger (1902-1996), do piauiense José Medeiros (1921-1990) e do baiano Mario Cravo Neto (1947-2009) entre outros, que pavimentaram a fotografia brasileira.
Imagens © autores. Texto© Juan Esteves
Infos básicas:
Editora Origem
Publisher:Valdemir Cunha
Imagens: Foto Clube Poesia do Olhar
Editora Executiva: Ligia Fernandes
Edição de Imagens e Direção de Arte: Valdemir Cunha
Textos: Joseane Maria de Souza e Souza, Reginaldo de Jesus e Wanda França de Souza.
Impressão: Gráfica e Editora Ipsis
Capa Dura, papel Garda Kiara, tiragem de 1000 exemplares.
Para adquirir a publicação: editoraorigem.com.br
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Cavalleria Rusticana (Mascagni) - Ribeirão Preto/SP, agosto/2023
Ópera completa com legenda em português: link.
Cavalleria Rusticana reflete um conflito intemporal siciliano entre o amor e a honra, com algumas das músicas mais belas já escritas para uma ópera.
Pietro Mascagni conquistou fama súbita quase por acaso: sem ele saber, sua mulher inscreveu a partitura de Cavalleria Rusticana num concurso de óperas em um ato, e venceu. A rápida popularidade internacional da obra levou outros compositores a criar óperas no mesmo estilo verista, mas Mascagni nunca repetiria o sucesso.
Esta ópera descreve com vividez a vida numa aldeia siciliana em que o amor, a traição e a honra se tornam os ingredientes de uma tragédia anunciada. A partitura estabelece o clima com um coro e um hino de Páscoa, mas logo as árias e os duetos passam a conduzir o drama.
Com a regência do maestro Reginaldo Nascimento e a participação dos solistas Marly Montoni, Vinícius Atique, Alan Faria, Cristina Modé e Anita Andreotti, além do pianista e regente assistente Tom Lee.
- Sinopse
- Palestra do ECAI “Para Gostar de Cavalleria Rusticana”
- Palestra do Theatro Municipal de SP
- Palestra “Sobre a ópera Cavalleria Rusticana”
- ária “O Lola”
- Intermezzo
- Cavalleria Rusticana: a Páscoa entre o sagrado e as paixões
- Palestra “Cavalleria Rusticana - História da Ópera”
- Resumo da ópera: Cavalleria Rusticana
- Theatro Pedro II (1930), Ribeirão Preto/SP
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Reginaldo Trindade é homenageado por seus 20 anos de atuação como procurador da República
Homenagem ocorreu durante abertura do Simpósio MPF e Povos Indígenas, nesta terça-feira (16)
O procurador da República Reginaldo Trindade foi homenageado nesta terça-feira (16), durante a abertura do Simpósio MPF e os Povos Indígenas, por seus 20 anos de atuação no Ministério Público Federal. O homenageado recebeu uma placa e foi elogiado pela sua “destacada, corajosa e firme atuação, especialmente na matéria indígena, no combate à corrupção e na Chefia, período no qual demonstrou ser uma referência, um líder e inspiração na busca da excelência”.
A placa de homenagem foi entregue pela procuradora-chefe do MPF em Rondônia, Daniela Lopes de Faria. O procurador Leonardo Caberlon, organizador do Simpósio, disse que o trabalho do procurador Reginaldo Trindade é referência para os novos membros do MPF. O servidor Rogério Domingues relatou que Trindade sempre fez “trabalho de excelência, sendo uma pessoa ímpar e ser humano fantástico e acolhedor”.
Trajetória - Reginaldo Trindade começou a trabalhar no MPF em 15 de março de 2004, sendo lotado diretamente em Porto Velho (RO), onde permanece por opção própria. Ele resume esse período de trabalho como de grande aprendizado. Trindade relembra das sedes do MPF em Porto Velho nas quais trabalhou: no começo, em uma casa na avenida Almirante Barroso; depois em 2007 no prédio da avenida Abunã e desde 2015 no prédio da rua José Camacho.
Assim que ingressou no MPF, foi colocado à frente de um grande desafio: em 7 de abril daquele ano houve a morte de 29 garimpeiros que extraíam ilegalmente diamantes na terra indígena Cinta Larga. Dessa data e até dezembro de 2017 ele trabalhou em prol do povo Cinta Larga, além de exercer outras atribuições. Nessa atuação, ele realizou inúmeras atividades, como a Caravana da Esperança, quando conseguiu levar dezenas de autoridades públicas (incluindo o governador de Rondônia, o presidente da Assembleia Legislativa, vários parlamentares federais, estaduais e municipais, juízes, delegados, secretários etc.) à aldeia Roosevelt para conhecer a realidade e tentar melhorar a situação dos indígenas. Em parcerias obtidas pelo MPF, mais de cem bolsas de estudo em faculdades de todo o Estado foram disponibilizadas aos indígenas Cinta Larga. Alguns indígenas já até conseguiram diploma superior graças a esse trabalho desenvolvido.
De 2010 a 2012, Reginaldo Trindade esteve na chefia do MPF em Rondônia. Durante esse período ocorreram diversas atividades promovidas pelo órgão. O projeto MPF em Diálogo com a Comunidade reuniu setores da sociedade: igrejas, associações de bairro de Porto Velho, imprensa e faculdades. O projeto MPF nas escolas alcançou mais de 15 mil estudantes. No mesmo sentido houve o primeiro concurso de redação sobre o MPF. Internamente, foi feita a primeira ação de valorização dos servidores, com a entrega de placas para os servidores com mais tempo de casa. Na gestão, ocorreram reuniões de gestão, presenciais e quinzenais, com todos os chefes de setores das duas unidades do MPF (Porto Velho e Ji-Paraná).
O combate à improbidade administrativa foi outra atuação muito relevante em sua trajetória. Processou prefeitos, parlamentares estaduais e até federais. Dentre as ações de maior destaque, estão: a Operação Abate, que desmantelou um esquema de fraudes na Superintendência Federal da Agricultura, em que os servidores envolvidos foram demitidos e o caso repercutiu no exterior; as operações Vórtice e Endemias, que foram deflagradas para combater a corrupção em obras administradas pela prefeitura de Porto Velho com verbas federais do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC); e a ação de improbidade administrativa que resultou no afastamento do então governador de Rondônia em 2009 por coagir testemunhas e obstruir investigações da Polícia Federal em um processo de compra de votos nas eleições de 2006 e pela qual o ex-governador, um delegado da polícia civil, agentes de polícias e outros já foram condenados em primeira instância.
“Foi uma época absolutamente abençoada esses vinte anos de MPF. Foram tantos os desafios, tantos os aprendizados, algumas frustrações também, mas, como tudo na vida, isso faz parte igualmente. Do meu maior desencanto com a instituição, havido entre 2016 e 2018, estou até hoje tentando me reinventar, mas hei de conseguir. Move-me um desejo sincero de cumprir, o melhor possível, o sacerdócio que é a Causa da Justiça; até porque sei que, desta forma, estarei contribuindo, e muito, para ajudar as pessoas, sobretudo as mais carentes – e isso, para muito além de qualquer ressentimento, conforta demais o coração, a alma e o espírito”, finalizou Reginaldo Trindade.
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