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#ao ler uma crítica sobre o filme assistido...
victor1990hugo · 2 years
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ninaemsaopaulo · 8 months
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A literatura de ficção tem lugar de excelência na minha terapia. Quando chorei pela primeira vez naquela sala, foi depois do terapeuta-gato ler um trecho de As cidades invisíveis, do Calvino. Em outra sessão, ouvir a voz dele lendo esse livro me acalmou de uma crise de pânico. E dessa vez, uma literatura de entretenimento, literatura "ruim", salvou o dia.
Tivemos um bloqueio, um desentendimento no fim da sessão da segunda semana de janeiro. Estávamos conversando enquanto a chuva torrencial da quarta-feira, dia 10, não cessava. Eu sabia que deveria ter aguardado na recepção do prédio, mas ele disse que eu poderia ficar, desde que a porta estivesse aberta, como um sinal de que havíamos terminado. Ele começou a falar de sua própria vida, o que não é, para mim, motivo de crítica por essa conduta. Ele sabe que tenho preferência pelo diálogo, nunca pelo monólogo - e esse formato garante minha presença e frequência. Mas, em um dado momento, se deu conta de que sou paciente, de que ele é o terapeuta, de que há uma hierarquia. Mas foi um corte entre Tramontina afiada e Facas Ginsu que, com a minha reação, de imobilidade e encolhimento, fez com que perguntasse se tinha sido duro demais comigo.
Eu nem mesmo queria voltar ontem. Passei a semana inteira reconstituindo o evento enquanto tentava me distrair com comédias românticas, me entupindo de chocolate, consultando amigos sobre o que aconteceu, até ouvir de um deles que eu precisaria de uma terapia para superar a terapia, risos.
Então compareci, servi o café, fui para a janela e ele estranhou. Depois voltei, sentei na frente da estante de livros. Porque, exatamente um ano antes, eu prenunciava as bodas de papel me impressionando com os títulos que ele coleciona. "Não são meus, são os livros do meu pai", ele disse. "O consultório dele é logo ao lado". No primeiro dia, no meio de tantos clássicos, vencedores de Camões e Nobel, coleções de jornais e revistas, puxei um exemplar de O código da Vinci. Ele riu, constrangido. Então agora, um ano depois, fiz o mesmo, porque ele propôs: "pegue um livro, qualquer um, vou ler um parágrafo para você".
No trecho, Sophie e Robert entregavam ao vilão um criptex - artefato que, no livro, fora criado por Leonardo da Vinci. Trata-se de um cilindro contendo uma folha de papel. Do lado de fora, você precisa encaixar letras, como uma senha, para ler a mensagem. Se errar a senha ou se forçar o criptex, o objeto quebra e o líquido dentro dele apaga a mensagem secreta, que se perde para sempre.
Eu era o cilindro com a mensagem que não conseguia expressar, mas o livro era a senha para quebrar o gelo e retomarmos as conversas como antes. Quando não sabemos o que dizer, os livros falam por nós, apesar das escolhas mais aleatórias. Isso já foi provado antes, em terapia.
Depois, ele afirmou ter assistido, no fim de semana, ao filme da Barbie. "Tive a experiência de ver minha paciente ali". Dessa forma, nas bodas de papel, renovamos os votos de mais vinte anos juntos, possivelmente. Assim espero.
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deumavezporflores · 4 years
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SOBRE ORGULHO E PRECONCEITO 🌻
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disclaimer: o texto a seguir foi escrito num momento de total euforia e animação extrema, o coração da autora estava repleto de sentimentos que podem tornar o texto esquisito, mas ela não liga (brincadeira). Esta não é uma crítica, resenha ou qualquer coisa do tipo, é apenas um breve comentário sobre um filme que assisti pela primeira vez e quis compartilhar as sensações que me causou estas ainda estando bem fresquinhas. Eu posso ter desperdiçado um bom momento para críticas sobre a época e tantas outras coisas e é por isso que deixo avisado que criticar não foi intuito em momento algum, quis apenas me divertir, tenha em mente que minha opinião pode ser duvidosa (ou não) já que eu gostei muito do filme. Sinta-se livre para concordar, discordar ou apenas discutir qualquer coisa sempre, ok? 💛
Orgulho e prenconceito são duas palavras, sentimentos e conceitos terríveis que eu sempre busco evitar, mas evitar é uma palavra que eu não usaria com relação ao filme (especificamente o de 2005), baseado no romance (publicado em 1813), de Jane Austen (1775-1817), um clássico!
Eu não sou muito de assistir nada além de bobagens no Youtube, mas quando a oportunidade aparece (ou melhor, quando alguém assiste algo perto de mim), eu mergulho com tanta profundidade na trama que esqueço do mundo ao redor. Ri como uma boba durante todo o filme, me apaixonei pela estética e prestei muita atenção ao modo de falar dos personagens. Elizabeth Bennet (interpretada por Keira Knightley) é uma personagem incrível, me cativou bastante a sua personalidade e o seu sorriso. Me sinto mal por não ter dado uma chance ao livro, mesmo depois de ter assistido Orgulho e Preconceito e Zumbis, adaptação de 2016, (o qual eu também adorei). Minhas sinceras desculpas à autora, mas pelo menos pude apreciar sua obra de alguma forma (e prometo apreciar melhor num futuro próximo). É uma pena não poder ter uma conversa com alguém sobre o filme agora, me sinto tão animada... Mas, ei! Eu tô escrevendo (e alguém provavelmente vai ler), então acho que isso conta.
 A atuação é tão "no ponto" que é possível notar a diferença das expressões e atitudes de Elizabeth conforme seus sentimentos pelo Senhor Darcy (Matthew Macfadyen) se transformam. Devo confessar que os sentimentos se passam tão bem que os absorvi de modo que me senti dentro do filme, vivendo o romance (ou eu só me deixo levar demais mesmo quando assisto filme), de qualquer forma, foi uma ótima viagem e experiência.
Fico toda boba com romances assim e confesso que adoro a sensação, eu deveria mesmo assistir mais filmes.
Me surpreende eu ter entendido melhor a aptação antiga e ter boiado um pouco (talvez um pouco demais) em Orgulho e Preconceito e Zumbis, eu posso usar isso como uma desculpa para reassistir para então escrever sobre, mas só o tempo dirá.
A única coisa que me incomodou foi o final súbito do filme, eu realmente não esperava que fosse acabar do modo que acabou (eu queria ver pelo menos um beijinho ou um dos casórios 😭), mas, fora isso, ouso repetir que foi ótimo do começo ao fim.
 Eu posso dizer que aprendi 3 coisas com esse filme:
 A primeira impressão que temos de alguém nem sempre condiz com o que a pessoa realmente é, devemos buscar sempre conhecer melhor a pessoa antes de formarmos opiniões e julgamentos sobre ela, pois temos que ter a noção de que podemos estar errados;
Se você ama alguém ardentemente, não esconda esses sentimentos, mesmo que tudo indique que a pessoa não nutre os mesmos por você, seja sincero com esta pessoa e consigo mesmo, assuma seus sentimentos e sinta-se feliz por pelo menos ter tentado. Rejeição dói, mas arrependimento dói muito mais. Nunca iremos saber se não tentarmos;
A lição 2 não vale apenas para sentimentos, mas para tudo na vida. As vezes, arriscar é preciso e pode ser essa saída da zona de conforto que pode enfim te levar ao caminho que busca. Desafiar-se, ignorar as dúvidas e pular de cabeça em algo pode tanto dar errado como dar certo, mas, melhor do que ficar se perguntando se deve agir ou não, ou ficar morrendo de medo de dar errado e se arrepender, é agir e ver com seus próprios olhos o resultado. Nem tudo na vida dá certo, isso é fato, mas nem tudo dá errado.
Talvez essa terceira lição eu não tenha aprendido com o filme, mas escrever esse texto me ajudou a lembrar. Lembro também que "Permita-se" é um dos lemas que eu levo para a vida, permitir-se sair ou ficar em sua zona de conforto pode mudar muita coisa ou deixa-las do mesmo jeito que estão. Cabe sempre a você decidir.
Sabendo disso, você vai se permitir?
💛
REFERÊNCIAS
para acessar, basta apenas clicar
Jane Austen (autora)
Orgulho e Preconceito (filme)
por @meninamarela 🌻
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paomortadela · 4 years
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Meus filmes favoritos de 2020
Eu comecei o ano querendo refazer um projeto que fiz no longínquo ano de 2013 de assistir um filme por dia e escrever um pouquinho sobre ele. Não acho que tenha sido um bom ano pra fazer essa escolha, aconteceu tanta coisa por tanto tempo que foi difícil de me concentrar pra ver filmes quando o mundo parecia acabar umas três vezes por semana, em média.
Mesmo assim, 2020 trouxe um bocado de filme bom. Eu tava comentando com uma amiga esses dias sobre isso. Eu passei os últimos dois ou três anos meio que iludido com cinema, numa espécie de exaustão. Eu via a maioria dos filmes por obrigação e não por curiosidade, como eu costumava assistí-los naqueles anos em que eu assistia filmes demais. Mas esse ano foi diferente. Esse ano teve tantas descobertas e estreias boas, que eu voltei a ficar curioso pra assistir os filmes que me recomendavam ou que eu lia sobre. Foi um péssimo ano pro cinema, mas foi um bom ano de filmes.
Foi, também, um ano complicado para eu resenhar filmes. Eu tenho cada vez mais dificuldade de escrever críticas em si, e muito do que eu tenho a dizer sobre meus filmes favoritos do ano são observações bem mais pessoais. Por alguns meses eu fiquei batalhando essa sensação para encontrar algo que eu pudesse resenhar, mas no fim das contas eu acabei desistindo. Eu acho eu não sou um bom crítico, que consegue ver o lugar de uma obra no contexto em que ela foi criada, mas me acho um bom observador de alguns aspectos da cultura. O que você vai ler aqui são muito mais observações do que fazem esses filmes especiais pra mim, do que avaliações sobre como eles fazem.
Uma última observação, como toda a lista de filmes precisa ter. Essa lista compreende os filmes assistidos em 2020 que a gente pode considerar como “estreias”, então alguns filmes de anos anteriores que só foram lançados em 2020 podem acabar entrando nela. Eu costumo fazer uma segunda lista de descobertas, com filmes lançados em outros anos e que eu descobri agora, lá no Letterboxd.
Retrato de Uma Jovem em Chamas (Céline Sciamma, 2019)
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Eu me apaixonei por Retrato de Uma Jovem em Chamas como eu me apaixonei pelos meus outros filmes favoritos: de supetão, sem perceber.
Eu não tinha ideia do que eu estava prestes a experimentar, e o clássico instantâneo de Céline Sciamma tirou meu chão. Uma história de amor e de idílio, de descoberta e de afirmação, em que três pessoas conseguem criar um lugar onde elas podem estar livres de todo o resto, e descobrir o que é amar — porque era assim que histórias de amor precisavam ser vividas há não muito tempo.
Eu não sei o que eu esperava antes de assistir Retrato de Uma Jovem em Chamas. Eu não esperava ser tão incapaz de falar sobre esse que é o meu filme favorito em anos, o que tirou meu chão e fez meu coração bater mais forte como Estrada da Fúria fez lá em 2015. É um dos meus grandes filmes, e se todo o resto de 2020 não deu muito certo, pelo menos isso — esse encontro desse filme comigo — é perfeito.
First Cow (Kelly Reichardt, 2019)
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First Cow é aquele feito que acontece quando um grande diretor está em total controle daquilo que sabe: é o filme mais acessível de Kelly Reichardt, ao mesmo tempo que é a melhor execução de suas ideias até aqui.
É uma comédia de amigos, um filme de culinária e uma fábula anti-capitalista sobre dois amigos que decidem roubar o leite da primeira vaca à chegar no interior dos Estados Unidos para vender quitutes. Reichardt é uma mestra de pegar ideias simples e estendê-las até revelar uma experiência humana em comum. Em First Cow, ela pega tudo isso para fazer um dos melhores faroestes modernos e observar de onde o coração dos Estados Unidos veio, e quem sabe enxergar onde ele está indo. Como todo o filme de Reichardt, é revelador.
As Mortes de Dick Johnson (Kirsten Johnson, 2020)
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Depois de fazer um dos documentários mais lindos que eu já vi com Cameraperson, a diretora Kirsten Johnson faz algo ainda mais legal: ela impede a morte.
E em As Mortes de Dick Johnson ela faz parecer ser fácil tornar o seu pai, o querido Richard Johnson, em um imortal, mas o documentário é um daqueles filmes que são bons de assistir, mas que escondem uma complexidade estrutural bem na nossa frente. A diretora não impedirá a morte de seu pai — a arte não nos dá esse poder — mas ao olhar ela de frente, ela tem uma daquelas epifanias que a gente acha que só um personagem do filme de Bergman jogando xadrez com a Morte pode ter: ela percebe o que seu pai é ainda quando está vivo. A morte se torna apenas mais uma etapa que Richard Johnson vai enfrentar antes dela.
Tinha tudo para ser um filme triste, mas As Mortes de Dick Johnson olha para a morte tão de frente que o filme acaba se transformando em uma ode à vida de Richard, e como a nossa oportunidade de sermos humanos nesse mundo é tão breve e especial. A forma como Johnson faz a morte de seu pai se transformar em um paradoxo temporal com seu final é um dos maiores feitos que eu já vi em um filme.
Lovers Rock (Steve McQueen, 2020)
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Eu sabia que Steve McQueen sabia filmar a beleza. Por mais sombrios que sejam seus filmes, eles sempre possuem esses breves lampejos de beleza e de felicidade. O que eu não sabia era que Steve McQueen poderia mergulhar nessa beleza e nessa felicidade e fazer um dos filmes mais lindos que eu já vi.
Um filme-protesto escondido dentro de um filme de festa (parecido com o que US Go Home fez, mas ainda mais belo e mais furioso), Lovers Rock é uma noite na vida de uma festa da comunidade de West India em Londres, e como o simples fato de se sentir feliz é um necessário ato de rebeldia, em que cada dança que McQueen captura em seus planos longuíssimos é um ato revolucionário. E ainda tem espaço para o amor que surge em um júbilo desses.
Soul (Pete Docter e Kemp Powers, 2020)
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Cai para Pete Docter a responsabilidade de fazer a Pixar voltar às premissas criativamente ilimitadas, e o resultado é o melhor filme do estúdio desde Divertida Mente — uma jornada belíssima em busca do que move nossas vidas no mundo. Como o filme anterior de Docter, Soul traduz conceitos difíceis em jogos visuais criativos e em um bom humor afiado, mas é na jornada do músico/professor Joe Gardner em entender o que é (e os limites) do propósito e de nossa missão na vida que Soul mostra seu melhor lado. É um dos poucos filmes de 2020 que eu queria que fosse mais longo.
Além disso, é o filme que mais dói assistir em 2020. A Nova York que a Pixar cria aqui é repleta daqueles detalhes que nós observamos no nosso lar quando nos sentimos vivos: a conversa de pessoas estranhas na rua, o farfalhar das árvores, os encontros do acaso… Soul é uma ode aos verdadeiros momentos que definem nossas vidas, e bate forte quando Joe finalmente abre os olhos para toda essa vida ao redor dele.
Uma Vida Oculta (Terrence Malick, 2020)
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Depois de uma década explorando um cinema mais improvisado, Terrence Malick volta ao cinema narrativo tradicional com Uma Vida Oculta, seu filme mais coeso desde Terra de Ninguém, em que retrata a vida e o cárcere do fazendeiro Franz Jägerstätter, que se recusa a expressar seu apoio por Hitler na Áustria em meio à Segunda Guerra.
Mas Uma Vida Oculta não deixa de ser um filme puramente malickiano, que traz a forma mais orgânica dos seus filmes mais recentes e os eleva à beleza de imagem alcançada em seus clássicos como Além da Linha Vermelha e Cinzas do Paraíso. Malick usa essa beleza inquestionável (a natureza parece se curvar à própria beleza em determinados momentos) para ressaltar a brutalidade do mal, aquele visível e invisível, e enxergar as pequenas ações heroicas que precisamos fazer para lutar contra ele.
Demorou quase uma década para Malick encontrar seu ritmo de novo, mas o encontrou em um dos seus melhores filmes, e o mais pungente até aqui.
A Despedida (Lulu Wang, 2019)
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Chegando atrasado por aqui e sendo lançado direto em streaming, A Despedida é um dos melhores filmes que eu vi esse ano e uma das minhas maiores tristezas: Lulu Wang é uma diretora que preza pelos close-ups, mas aqueles close-ups onde cada detalhe do rosto é subitamente interessante e revelador, e não poder assistir esse filme na tela grande que ressalta esses traços é de partir o coração.
A Despedida pega uma história (real) um tanto absurda — a mentira que a família precisa contar para a matriarca, que está com câncer, para ela não precisar se preocupar com a vida — e revela com carinho e fascinação uma dessas realizações difíceis de termos na vida: que fazer parte de uma família é um jogo simples e complexo ao mesmo tempo, que ser parte de uma herança cultural é algo difícil de compreender, mas fácil de ser. E faz tudo isso de uma forma orgânica e emocionalmente honesta.
Undine (Christian Petzold, 2020)
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Christian Petzold é um dos meus diretores em atividade favoritos, e depois das obras-primas Fênix e Em Trânsito ele decidiu fazer um dos experimentos que eu mais gosto: recontar um mito antigo nos dias atuais.
Em Undine, isso não parece acontecer, até que acontece. Undine é uma historiadora nos museus de Berlim, contando do passado da cidade para turistas e estudantes. Mas quando um imprevisto acontece o mito a alcança, e Undine explora como mitos como esse podem funcionar — e até mesmo revelar facetas novas — em um mundo que há muito tempo já se desencantou por eles.
Undine está longe de ser um dos grandes filmes de seu diretor, ao mesmo tempo que é inconfundivelmente um filme de Petzold: não há um plano a mais, uma cena desnecessária, embora o filme nunca pareça estufado ou correndo para dar conta de tudo o que precisa falar. É um filme orgânico, em que um mestre explora um novo gênero para onde ele pode estender suas imagens enigmáticas e seus temas favoritos.
Adoráveis Mulheres (Greta Gerwig, 2019)
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Greta Gerwig comprova que é uma das melhores novas diretoras hoje com sua adaptação corajosa de Adoráveis Mulheres, que reconstrói eventos do livro oferecendo uma nova ênfase.
É um amadurecimento técnico e temático de Lady Bird e Frances Ha, mas que só ressalta o que Gerwig sempre teve: um conhecimento máximo de como fazer todos os personagens em cena importarem, e como levar os pequenos confrontos que compõem a vida deles no filme com a importância necessária. Adoráveis Mulheres comprova o domínio completo de Gerwig sobre seus filmes, e sua herança de Jonathan Demme.
Assim como o diretor de Silêncio dos Inocentes, Gerwig pode desorientar a história, mas nunca o espectador. Adoráveis Mulheres remonta os eventos dos dois livros de Louisa May Alcott para abrir os desejos e frustrações de seus personagens de forma mais dinâmica. O que torna seus sonhos mais bonitos, e suas frustrações mais difíceis.
American Utopia (Spike Lee, 2020)
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David Byrne não tem mais um, mas dois dos filmes concerto mais mágicos do cinema. Com American Utopia, ele se une ao diretor Spike Lee para adaptar seu show-transformado-em-peça-na-Broadway em uma reafirmação de sua carreira. Um espetáculo ao mesmo tempo realista e otimista em relação ao estado das coisas nessa desgraceira de ano, que vê tanto onde falhamos quanto o que podemos fazer para reconstruirmos o que for necessário agora que a era Trump parece acabar.
E, além de tudo isso, é um bocado de música boa. É como passar um tempo bom com seus amigos lembrando de bons momentos. As letras enganosamente simples de Byrne revelam a exaltação que é estar vivo, e se tem um momento em que a gente precisa lembrar como é lindo e estranho poder experimentar a vida, é quando ela parece tão distante como agora.
O Preço da Verdade (Todd Haynes, 2019)
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Duvide de quem achar que O Preço da Verdade é um filme menor de Todd Haynes. Tem seus problemas na forma de “filme baseado em fatos reais”, mas Haynes é um desses diretores que consegue exprimir na tela a decomposição da saúde de seus personagens ao mesmo tempo que revela a podridão da cultura que os cerca.
O Preço da Verdade é também uma continuação dos temas queridos de Haynes, e observa como os tentáculos de mega-corporações regem nossas vidas não através do mero didatismo, mas de como o corpo e a mente de seus personagens definham enquanto o processo legal contra uma empresa química se prolonga por anos. Embora seus eventos sejam bem antes da era Trump, Haynes parece preciso em seu ataque: os efeitos de um governo que afrouxou ainda mais as rédeas de grandes corporações só serão sentidos em muito tempo — e, na grande maioria dos casos, tarde demais.
A Vastidão da Noite (Andrew Patterson, 2019)
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Minha maior surpresa do ano, A Vastidão da Noite é um filme que une tantos elementos do que eu mais gosto que me faz questionar se ele não é, de fato, o resultado de uma dobra espaço-temporal.
É uma apreciação de um momento em que a tecnologia ainda estava envolta em mágica e mistério, e uma vitrine para pessoas contarem histórias. O que começa como uma noite onde eventos estranhos acontecem em uma cidade pequena se torna em um belo filme sobre compartilhar histórias sem saber se elas serão acreditadas ou não. Une-se a isso interferências no rádio, problemas de conexão e distorções de frequência em meio a uma cidade onde pode ou não existir experimentos militares, e você tem uma ficção científica fascinante e atemporal. Esse é um novo favorito cult.
O Ninho (Sean Durkin, 2020)
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Nove longos anos depois do seu filme de estréia, o excelente Martha Marcy May Marlene, Sean Durkin está de volta com um drama sobre uma família às vésperas de uma implosão.
A direção fria e inabalável de Durkin (que com apenas dois filmes na carreira já conseguiu definir traços estéticos) torna a crise doméstica da família em um filme de casa assombrada muito como Andrew Haigh fez em 45 Anos — portas se fecham e se abrem sozinhas, sons ecoam pelos seus corredores…
É a dinâmica entre Jude Law e Carrie Coon, a rainha da nuance, que eleva O Ninho — ele é uma força que não consegue parar, e ela é o alicerce que até então segurou tudo na vida dele. Ao invés de deixar esses traços definirem seus personagens, Durkin permite aos atores espaço o suficiente para eles se transformarem. O Ninho captura perfeitamente a complexidade dessa dinâmica, em que sentimentos não são constantes, e são geralmente contraditórios — a raiva compartilha espaço com o amor, a insegurança compartilha espaço com o carinho.
O Som do Silêncio (Darius Marder, 2019)
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Um poderoso tour-de-force de um baterista de uma banda que começa a perder a audição, O Som do Silêncio é um filme comovente, mas não porque romantiza a surdez ou a aceitação. Darius Marder observa muito mais a jornada interna de Ruben do que das pessoas ao seu redor, e apenas quando ele se abre (em uma performance arrebatadora de Riz Ahmed) que o filme nos permite ver a comunidade que ele atraiu para o seu entorno.
O Som do Silêncio é um daqueles acertos difíceis, emocionalmente maduro para não cair no clichê do “filme de superação”, mas nunca imponente demais para se tornar inacessível. É um filme que mergulha no estado de sensações de seu protagonista — com a ajuda de um design de som excelente — para observar seus anseios e suas dores de perto, e em dramas assim não precisa se dizer nenhuma palavra a mais. A jornada está toda no corpo de Ruben, que nunca escapa o olhar fascinante de seu diretor.
Kajillionaire (Miranda July, 2020)
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Ao mesmo tempo o filme mais acessível de Miranda July, e sua maior conquista como diretora até aqui, Kajillionaire conta a história de uma família de golpistas mega-estranhos em Los Angeles que, ao fazer parceria com uma garota normal, veem a sua estrutura familiar ser fundamentalmente abalada.
Como os filmes anteriores de July, Kajillionaire é tão estranho quanto seus personagens, um filme que mistura comédia com melancolia e com uma forte carga emocional sobre pais e filhos que nunca conseguiram se conectar. É absurdamente bem dirigido e bem atuado, em que cada cena revela um pouco das dinâmicas que mantiveram a família unida até ali, enquanto assistimos essa dinâmica ruir. Ao mesmo tempo, July consegue modular essa estranheza a ponto de ela fazer parte da história e não interrompê-la (como aconteceu com O Futuro), fazendo o clímax do filme bater mais forte, porque a gente não consegue ver de primeira onde bateu.
Boys State (Jesse Moss e Amanda McBaine, 2020)
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Quem diria que um filme da Apple TV+ estaria nessa lista, mas voilà.
Ao final de Boys State, eu estava de queixo caído. O que começa como um documentário sobre uns garotos brincando de serem políticos termina como um triste retrato de como políticos jovens percebem o quão fácil, e como compensa, cair nos vícios de corrupção e mentira que regem aquilo que eles almejam substituir. Isso sem perder o ritmo: o evento se passa em uma semana, e o filme é dinâmico e se transforma em uma bola de neve com facilidade, com pequenas escolhas de seus personagens desembocando em momentos decisivos na corrida final. É um retrato tão inteligente e desolador do ambiente político americano atual que é difícil de não perder o chão.
A Assistente (Kitty Green, 2019)
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O poderoso um dia na vida de uma assistente de um magnata do cinema de Kitty Green, A Assistente é um filme corajoso e poderoso que pode vir a definir os filmes da era do movimento #MeToo.
A forma minimalista com que o filme revela a corrupção e a sujeira do escritório torna a atmosfera de A Assistente em desoladora, e o filme não tira o pé do acelerador até o fim, em um retrato silencioso e destrutivo de como uma jovem é removida de seu poder e de sua capacidade mental de poder evitar que o pior aconteça. É desolador e essencial.
Time (Garrett Bradley, 2020)
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O poderoso documentário sobre uma Sibil Fox Rich, uma mulher que luta por mais de vinte anos pela liberdade do marido, condenado a 60 anos (!) por assalto à mão armada, Time usa sua construção como uma viagem no tempo para passar pelas várias batalhas que Rich enfrenta, suas derrotas e suas vitórias. É um documentário poderoso e imenso em escopo — a própria documentada ofereceu mais de uma década de material filmado por ela mesma para o projeto —, ao mesmo tempo íntima e épica sobre o racismo estrutural nos EUA, o sistema penitenciário como resquício da escravidão e, mais poderoso ainda, o retrato de uma ausência. A ausência do marido e do pai é palpável já no início, mas o vazio que assume uma parte considerável da vida dos filhos é de partir o coração.
Mank (David Fincher, 2020)
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À primeira vista, Mank é muito menos que a soma de suas partes. O drama de David Fincher sobre a escrita do primeiro tratamento de Cidadão Kane simula a estética e a estrutura do clássico de Orson Welles, mas seu impulso narrativo não têm o mesmo fôlego.
Mank funciona melhor, porém, como uma janela para todas as histórias que cruzam com o personagem principal — o filme é um excelente mapa tanto do contexto em que Cidadão Kane foi criado para ser revolucionário, quanto pros eventos que o clássico se inspira. É um filme amargo e cínico sobre a era dos estúdios de Hollywood, o machismo do star system, a corrupção política nos Estados Unidos, e sobre como o trabalho de alguns é ignorado quando cantamos os feitos de uma peça de arte. Não é um filme perfeito, e têm problemas grandes em seu último ato, mas a acumulação histórica que Mank cria, e a queda irremediável do seu personagem principal perante aqueles que ama, tornam esse um filme Fincheriano à altura, não importa o quanto ele tente simular Orson Welles.
Wolfwalkers (Tomm Moore e Ross Stewart, 2020)
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Wolfwalkers une mitologia com aula de história, sentimentos selvagens com relações familiares, e faz tudo sendo acessível o suficiente para crianças. A história da amizade entre uma garota da cidade e uma garota-lobo da floresta que a cidade está destruindo são o que movem a animação belíssima do Cartoon Saloon, em que a selvageria dos sentimentos — algo que nos permitimos sentir quando crianças — é expresso em cores e movimentos belíssimos; enquanto ao fundo a invasão inglesa na Irlanda se desenvolve através do conflito cidade e natureza.
É emocionante e lindo, e aprende as melhores lições com o Estúdio Ghibli em se permitir expressar e sentir emoções grandes demais para personagens tão jovens — elas são fortes o suficiente para conseguir lidar com elas.
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fatimaapsilva · 6 years
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“Baseado em uma história real”
Antes de começar a falar desse filme alemão, preciso deixar um conselho e tanto: Não leia a sinopse! A sinopse não está a altura desse filme maravilhoso. A história de como acabei assistindo esse filme é engraçada. Eu, minha irmã e duas de nossas melhores amigas íamos assistir “Verdade Ou Desafio”, o filme de terror, mas tinha só uma mulher vendendo os ingressos e, mesmo que tivéssemos chegado bem antes do horário do filme, a fila estava tão grande que uns 5 minutos antes de chegar a nossa vez o filme saiu da lista dos que podiam ser vistos ainda naquele dia. Perdemos a chance por causa da mulher lerda que vendia os ingressos, mas não a culpo por estar sozinha. Então decidimos de última hora o filme, após ler a péssima sinopse e não dar nada ao filme. Acaba que todas choramos com o desenrolar de “De Encontro Com a Vida”, o que é um bom sinal.
O filme é baseado em uma história real, como só descobrimos quando tal frase apareceu no início do filme. Isso já mexeu comigo. Por quê? Porque era um filme sobre um cara que tinha acabado de ficar cego. É algo muito intenso para mim, fato que se intensificou conforme a história se desenrolava. Não vou dar spoilers demais, mas preciso dizer que o personagem principal precisa esconder que tem apenas 5% de visão para conseguir um emprego em um Hotel. E ele consegue. É infernal ver por tudo que ele tem que passar sendo praticamente cego, principalmente porque ele apanha da vida diversas vezes e não desiste do seu sonho de trabalhar no Hotel. Lembrando: é baseado em uma história real! Eu entrei em pânico e escondi o rosto para um monte de coisa que ele teve que passar. Foi agoniante! E inspirador. Ele não reclamava, sabe? Só seguia! Isso é admirável!
Usava os outros sentidos para parecer uma pessoa de visão “normal”, tanto é que poucas pessoas perceberam sua deficiência. Ele é um cara super inteligente, aliás. Minha irmã até disse que vai ser a pessoa que ela vai mais admirar em toda sua vida, pois é impensável tudo pelo que ele passou. O homem responsável pela criação do filme e do personagem principal, o qual implica na utilização da frase “baseado em uma história real”, até aparece ao final do filme, junto a um agradecimento a ele. Tudo me faz crer que o ator teve aulas com o próprio Sali (nome do personagem principal e da pessoa real) para agir da maneira que agiu durante o filme.
Agora vou falar só um tiquinho das cenas. Teve um momento feio em que ele caiu de uma escada e eu vou sempre lembrar dele por um motivo que estava fora do filme. Na sala de cinema, que era super pequena, na fileira à minha frente tinha um grupo de crianças, por volta de 12/13 anos. Eles estavam ali pelo mesmo motivo que eu: seu filme não podia mais ser assistido. E pareciam até estar gostando... Isso até essa cena. Quando Sali caiu da escada, uma das meninas riu, muito alto. E a cena não foi nada engraçada! Eu até chorei! E uma mulher do meu lado (a qual estava até com cobertor, o que achei genial) começou a reclamar “Como consegue rir em uma cena dessas? Parece que tem titica na cabeça! Qual o problema dessa menina...” e por aí vai. Ela não disse “titica”, mas um palavrão com m, só que prefiro não repetir, ainda mais porque eu mesma não falo palavrão. Enfim, a garota foi repreendida pelos amigos e acho que todo mundo no cinema a odiou.
Independente disso, o filme foi espetacular. E a palavra que quis usar foi essa mesma! Tinham cenas embaçadas, para simbolizar o quanto Sali enxergava do mundo. Foram cenas agoniantes, mas lindas. Há um romance no meio, aliás, e pela primeira vez eu dei pouca importância a ele. Sali era tão complexo e interessante que eu só conseguia focar nele. O Sali real se tornou uma das pessoas que eu mais admiro no mundo e eu espero muito que tenha convencido vocês a assistirem à essa obra de arte! É uma constante lição de vida!
O que acharam da crítica de hoje? Já assistiram esse filme? Ficaram com vontade de ler? Comentem!
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