Tumgik
#artificialidad
bocadosdefilosofia · 11 months
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«En cambio el estado, que es un organismo artificial, no tiene una medida fija, su grandeza no está definida, puede aumentarla en cualquier caso, se siente débil siempre que hay otros más fuertes. La seguridad del estado y su conservación exigen que llegue a ser más fuerte que todos sus vecinos. Sólo a costa de los demás puede crecer, nutrir y ejercer su fuerza, y aunque no tenga necesidad de asegurarse su subsistencia fuera de sí mismo, busca continuamente nuevos miembros que le den mayor cohesión. La desigualdad de los hombres tiene los límites que la naturaleza le ha puesto, pero la de las sociedades puede aumentar sin trabas hasta que una sola absorba a todas las demás.»
J. J. Rousseau: Escritos sobre la paz y la guerra. Centro de Estudios Constitucionales, pág. 54. Madrid, 1982.
TGO
@bocadosdefilosofia
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obsesseddiary · 3 months
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Espero que sua nova relação seja tão superficial quanto você.
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giseleportesautora · 7 months
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Amigo Imaginário
Amigo Imaginário - Viro a esquina rápido, alguém a me perseguir.   A noite é o refúgio do pior gângster.   Aponto a pistola contra mim mesma, a sombra a rir   na parede, esperando mais sangue beber.   #poema #poesia #artificial #superficial #vazio
Viro a esquina rápido, alguém a me perseguir.  A noite é o refúgio do pior gângster.  Aponto a pistola contra mim mesma, a sombra a rir  na parede, esperando mais sangue beber.   No beco me sento com outros dependentes.  Viajo em busca de meu amigo imaginário.  Alguém que deixe o gelo dessa solidão mais quente.  Uma estrela entre ordinários.   Tentei construir uma vida sólida e segura  dentro…
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heystella · 1 year
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Asteroid City (2023)
Menos carisma do que o diretor costuma entregar e com uma questão ou outra de ritmo aqui e ali, mas ainda impressionante em termos de linguagem e forma.
Acho que no momento não há concorrência no quesito roteiros com estruturas complexas. Wes continua forçando os próprios limites e entregando um cinema desafiador e fascinante. Dessa vez, utilizando as camadas de uma peça teatral e, em outro nível, costurando um documentário sobre os bastidores de tal produção, para extrapolar a artificialidade do cenário, equiparando, mais do que nunca, o aspecto concreto das locações - falsas - à costumeira frieza fingida dos seus personagens.
O resultado é, possivelmente, o filme mais dissimulado da carreira de Wes. Asteroid City entrega uma extravagância estética que, aliada ao script intrincado, o posiciona ao lado de A Crônica Francesa, não apenas enquanto longa subsequente, mas também enquanto marco do que considero uma guinada criativa do cineasta.
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verbrrhage · 11 months
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Finados é um feriado esquisito. Porque é só um dia. É isso que o capital permite: um dia. Um dia armazenar e conter todo o nosso luto. Não apenas luto de morte, mas dor pelas chances perdidas, angústia pela distância entre os corpos, saudade de um tempo enterrado em recordações envelhecidas e nomes agridoces, sabe? Não há espaço para tristeza nesse mundo arredio. É esquisito, porque amanhã a mortalidade (e a velhice, aliás) vai voltar pro seu lugar. Tudo ainda vai ser tratado com indiferença, pavor e nojo; como se fosse um crime, uma vergonha, uma mentira, algo a ser ocultado e escondido e deixado pra trás a fim de ser simplesmente esquecido e encoberto. Enterrado, fim de papo, não se fala mais nisso. A gente trabalha com essas microdoses de tragédias que viram e reviram nosso rebuliço mental. A gente se choca, a gente chora, aqui, de longe, a gente reprime e depois volta pro nosso cubículo e depois volta a agir com total normalidade como se não tivesse acontecendo um desastre e como se o planeta não tivesse morrendo diante dos nossos olhos e aí, pronto, as vinte e quatro horas acabaram e amanhã tem mais. E ninguém quer falar sobre isso. Ninguém consegue de fato parar e pensar sobre tantas grandes e pequenas mortes que a gente tem assistido sofrer ultimamente em cada nível da existência. Da pandemia até a guerra, a gente finge que acabou. Na verdade, a gente finge que nem mesmo aconteceu. E é por isso que a ferida fica ali, purulenta, a céu aberto, mas ignorada. Isso me enlouquece. Como uma criança sem senso de permanência de objeto: se não está no seu campo de visão, na sua vitrine, na sua rede virtual de informação, não existe. Não há mais nada a ser feito. Mas há. Porque eles acham que a tristeza é feia. Que tristeza não é agradável. Tristeza é uma doença que tem que ser erradicada e velada. Não dá pra capitalizar completamente a tristeza. Aí o luto vira incômodo, o luto não é produtivo e a dor não vai embora. O que sobra é a propaganda da vida eterna. É isso que o capital promove: uma religião tecnológica da mídia e da estética, um culto digital da saúde, da juventude, da perfeição, da artificialidade. É isso que transforma tantos de nós nessas coisas frias, calejadas, dormentes e impassíveis. Sempre que enfrentamos uma grande quantidade de sofrimento. Porque a maioria não tem como ou apenas não quer aceitar compartilhar o fardo do outro. Porque já basta o nosso, né?
Mas não vai durar pra sempre. Porque nada dura pra sempre. E eu sei bem que nenhuma instituição, nenhum governo que vive sob uma organização capitalista da economia, vai resolver isso. Mas vai dar tudo certo, porque as coisas melhoram. A gente pode começar pequeno: Meu finados tem continuado desde 2017. Meus caminhos são repletos de rituais fúnebres, são esses velórios diários e essas celebrações de vida cotidiana de tempos passados e injustiças globais e reflexão e ação comunitária e protesto e organização e abertura gradual frente a frente com meus sentimentos porque toda minha infância foi dispendida sob o julgo da repressão de desejos e angústias e da masculinidade e da violência e porque a cada dia que eu consigo chegar na minha cama de noite é um dia completo, um dia concluído. Ainda tento, ainda me descubro, ainda tenho muito pra ser e descobrir e expressar ao invés de internalizar. Ainda estou aqui. O luto é difícil. A morte é difícil. Mas enfrentar e passar por isso tem sua recompensa: de um jeito ou de outro, a gente lembra que está vivo. Aqui, nessa terra verde e azul. Nesse instante mágico, agora. E se não tá tudo bem agora, ok. Nunca é demais enfatizar que vai melhorar. Porque vai melhorar. Eu sei que vai. Vai ficar tudo bem, a gente vai passar por isso. Se o materialismo histórico dialético me ensinou alguma coisa, foi justamente o meu maior mantra: a história é viva, a história não é linear, um modo de produção sustentável é possível, um futuro melhor é possível. Um futuro melhor é alcançável.
Insha'Allah.
#me
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falangesdovento · 1 year
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Pureza é um estado de honestidade e limpeza onde sou o mesmo dentro e fora. É quando não engano a mim nem os outros. Consequentemente, não há espaço para artificialidade. Pureza é o estado da verdade original, onde nenhuma violência é cometida contra os outros ou contra mim. Quando o eu está em sua pureza original, os outros não podem prejudicar ou destruir isso, mesmo se tentarem, porque há uma aura natural de proteção que atua como uma barreira invisível. Alcançar esse nível de pureza é respeitar todas as coisas.
Brahma Kumaris
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joseandrestabarnia · 1 year
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Venetsianov Alexey (1780-1847) BACANTE HACIA 1832 Tamaño - 53,5 x 36,2 Material - lona Técnica - óleo Número de inventario - Inv.4248 Obsequio del Comité para la Protección de Monumentos de Arte y Antigüedad del Consejo de Congresos Cooperativos (anteriormente la colección de E.D. Shchukina). 1918
El modelo desnudo de la pintura representa al compañero mitológico del dios del vino y la diversión, Baco. Está sentada ligeramente arqueada sobre una piel de leopardo, sosteniendo un cuenco de oro reluciente y echando la otra mano detrás de la cabeza, como si demostrara sensualidad y absoluta seducción. Pero la modestia natural de una campesina le da rigidez y torpeza a sus movimientos. A pesar de la fidelidad de la transferencia de su cuerpo joven y la espectacular disposición pictórica en forma de fondo verde con hojas de parra, la imagen creada da la impresión de cierta artificialidad. El artista le dio el carácter de “antigüedad académica” a la pose de la bacante, utilizando un conocido motivo plástico en la composición y trazo lineal de la figura. Así, el "clasicismo" de la interpretación del cuerpo desnudo se combina con la persuasión realista de la transferencia de la naturaleza viva.
Para la primera mitad del siglo XIX, el género desnudo no era típico. El modelo de desnudo femenino no se representó en la Academia Rusa de las Artes, y los fundamentos morales, las normas de la vida privada y pública no permitieron el establecimiento de formas de arte que crean imágenes seductoras, como fue el caso, por ejemplo, en la cultura francesa. Sin embargo, en las décadas de 1820 y 1830 aparecieron obras individuales que glorificaban la belleza corporal de las heroínas bíblicas y mitológicas. Por lo tanto, los lienzos de Venetsianov con un modelo desnudo se incorporaron al círculo de obras sobre este tema en demanda en la sociedad. Sin embargo, el pintor también se guió por una tarea puramente creativa: adaptar las propiedades individuales de la naturaleza a la tipología mitológica.
En la pintura de Venetsianov, la modelo rusa aparece en la versión europea de una criatura mitológica, el artista la mira a través del prisma de la antigüedad, pero la naturaleza casta de la niña hace que esta imagen sea única, ocupando un lugar especial en la pintura rusa.
Información e imagen de la web de la Galería Tretyakov.
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imdionisio · 2 years
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Há um prazer em existir
Uma verdadeira benção
Há quem diga que é monstruoso ou inadequado
Há quem diga que é divino ou ousado
E há quem perceba a beleza do que se é
Sem rótulos, sem mentiras ou artificialidade
Sem julgamentos (por mais que sejam poucos os que não julgam)
O que resta é aceitar quem se é
E se despedir gentilmente de tudo aquilo que não acrescenta
Afinal, somos únicos e temos uma jornada individual nessa vida
Até o momento em que encontramos
Um outro universo
Mais conhecido como amor
Para partilhar uma vida inteira ou um pedacinho dela
E que seja o amor mais ardente que possa existir!
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teceladashistorias · 2 years
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Como escrever bons diálogos
Diálogos são muito importantes. Eles dão vida aos nossos personagens, permitindo o andamento da trama, acelerando algumas cenas da história e estabelecendo uma conexão com os leitores. Talvez seja por conta dessa importância que eles conseguem dar muita dor de cabeça para os autores.
Também não irei mentir para você, para mim é muito mais difícil deixar um diálogo natural por conta das regras gramaticais! Por isso alguns autores utilizam palavras como “cê” e “vamo” como uma tentativa de diminuir a artificialidade. Bem, o nível do diálogo vai depender de você, mas separei algumas dicas para facilitar seu trabalho!
Mantenha-se fiel aos seus personagens
A forma de falar muda para cada pessoa. Isso pode surgir por influências da faixa etária, região, grau de estudo, religião e situação de conversa. Isso tudo deve combinar e vir a tona quando seus personagens estiverem usando a voz para comunicação, por isso é fundamental conhecê-los muito bem e estabelecer seus vícios de linguagens, manias e expressões. Para facilitar seu trabalho eu disponibilizei fichas de personagens na postagem: Criando Personagens.
Também é preciso tomar cuidado com o contexto da conversa, e como ele vai influenciar nas reações do seu personagem. Exemplo: Se você tem um personagem mais fechado e introspectivo os diálogos serão curtos e diretos com pessoas desconhecidas, aumentando um pouco dependendo do nível de intimidade que ele possui com os outros. Mas se o personagem for bastante extrovertido é uma excelente oportunidade de fazê-lo contar a própria vida através de uma conversa com o motorista do Uber que ele acabou de conhecer.
Leia seus diálogos em voz alta
Um diálogo deve ser como uma conversa transcrita para o papel. Uma boa maneira de saber se seu diálogo está natural é lendo os diálogos com a sua própria voz, então acorde sua atriz interior e corra para uma boa interpretação. Se você se sentir estranha, então provavelmente a cena está estranha.
Observe as pessoas conversando
Tente escutar bem as nuances e diferenças de uma pessoa para outra, como elas falam, como é a postura delas quando estão falando? Atente para detalhes que normalmente você não prestava atenção antes, mas cuidado, você pode acabar parecendo uma stalker se encarar demais! Interaja com mais pessoas, observe comportamentos, tudo isso vai aflorar sua capacidade criativa.
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mydearcupofart · 2 years
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São Paulo, 8 de outubro de 2022
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Inquieto. Tenho, há dias, estado inquieto. Poucos e breves são os descansos. Leio uma coisa. Não termino. Leio outra. Desatino. Tomo café. Tomo café rápido demais. Tomo muito café. Me queimo. Me irrito. Jogo o resto fora. Até os cigarros, graças a Deus, perderam o gosto. O cheiro doce da caixa, a dificuldade de tirar um da caixa, o aspecto seco, o barulho intolerável do isqueiro e a artificialidade de tudo me fazem arrepios na primeira tragada. Todos sinais de inquietação.
Não compro mais cigarros.
Eu pego cigarros. Junto um entre os dedos. Indicador e médio. Levo-o à boca. Acendo. Puxo a brasa enquanto puxo o ar. Não sou capaz de acender cigarros sem puxar, enquanto puxo brasa, o ar. É demais para mim.
Depois é tudo do mesmo. Costumo pegar outro depois do primeiro. Depois do primeiro os outros saem fácil. Concluo, pelo menos isso, o que comecei. Às vezes, apago o cigarro aceso. E fica assim. Pela metade. Costumo apagar o segundo. Do primeiro eu dou conta.
Fumo. Mas é ruim, porque fica nos dedos. Fica na roupa também. Fica na casa, mas não me importo. O problema é que fica muito nos dedos e na cara. Me sinto maculado por fora. Mais até do que fui por dentro. Lavo as mãos e, se não tiver maquiagem, lavo também o rosto.
Limpo me sinto mais capaz de seguir com a vida. Eu seguiria com a vida mesmo que sem os cigarros. Cigarros são sintomas de inquietação. Eu poderia não ter lavado a mão. Poderia não ter borrado a maquiagem. Poderia ter ficado sem os cigarros.
Às vezes eu choro enquanto fumo. Mas é sem querer.
Os cigarros acabaram (já era hora).
A inquietação perdura.
Nota: pela manhã, não comprar cigarros.
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ricardocaian · 3 days
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Lanterna dos desolados
Eu não sei ser muito diferente daquilo que de fato sou nos lugares por onde passo, inclusive aqui. Volta e meia sou criticado por me expor demais por gente que condena a artificialidade de outras vidas também expostas, e isso me deixa confuso e inseguro por vezes. Mas essas são características que me acompanham por onde vou, e já que é aqui onde agora estou a me expressar com a crueza da prosa, vou eu contar mais uma história desoladora minha, que está por trás desse meu tributo aos Paralamas que estreio no próximo sábado.
Quem me conhece desde a infância ou me acompanha por aqui já sabe o quanto a minha história se cruza com a dos Paralamas e especialmente, Herbert Vianna. Eu soube o que queria fazer da vida ao ver Herbert no palco em 1999 com 10 anos de idade. Minha primeira apresentação cantando e tocando na vida foi no ano 21 julho do ano 2000, e a música foi “Lanterna dos Afogados”. Em 2003, aos 13 anos entrei num estúdio com mais dois moleques da minha idade pra gravar “Óculos” e “Melô do Marinheiro” na tentativa dos pais do baterista prodígio dessa mini gig de levar a gente pro “Gente Inocente”, história que já contei aqui em outro post, mas foi “Óculos” a primeira música que gravei de maneira profissional na vida.
Pois em julho desse ano, meu grande amigo Pietro me mandou aqui no insta o anúncio de uma seleção de elenco para uma montagem do musical dos Paralamas no Rio de Janeiro, que está acontecendo agora inclusive. Pois eu na hora senti um soco no estômago, pois sabia que eu não poderia não tentar um lugar nessa história, e não pelo fato de que eu toco desde adolescente todos os solos de Herbert, melodias no piano de João Fera ou até linhas de baixo do Bi. Não era pelo fato de eu ter absolutamente tudo já lançado fisicamente pelos Paralamas, vinil, CD’s, VHS’s, DVD’s, livros. Não era por saber toda a história dessa banda, não era por eu ter me aventurado a cantar desde sempre por influência do próprio Herbert que assim como eu é dono de uma voz rouca, com pequena extensão e afinação imprecisa. Não era porque eu antes de ter minha primeira guitarra já imitava a performance de Herbert assistindo o VHS do “Vamo Batê Lata” com meu violãozinho colado na barriga fazendo da cama dos meus pais um palco. Não era porque eu, de tanto que já quis ser Herbert, hoje gosto tanto de ser o compositor, cantor e guitarrista cantor, quanto o próprio Herbert deve adorar ser ele mesmo, e nem pelo fato de que da última vez que estive com ele não trocamos graças de fã e ídolo, mas ficamos falando de guitarra, pois somos colegas de profissão, e a história de quando nos cruzamos em turnê pelo Brasil eu também já contei em outro texto aqui. Pois o meu frio na barriga era porque além disso tudo eu trabalho com música pra teatro e especificamente teatro musical há quase 20 anos. Apesar de ter pouca experiência com atuação para além das peças de escola, ou as montagens de teatro que Gordo Neto, veterano do teatro, convocava a gente a fazer quando criança em sua colônia de férias e de uma oficina ou outra que já fiz, eu não faço ideia de quantas montagens de musical já participei como músico em cena e vez ou outra com um texto pra dar. Eu escolhi ser músico, mas meu fetiche sempre foi ser ator, e toda a minha experiência, tocando em cena, compondo, dirigindo ou assistindo a direção me colocava em posição de absoluto mérito pra honrar uma vaga nesse tal musical do Vital. Pois meu frio na barriga era porque eu sabia que seria convocado para a seleção presencial e que dificilmente haveria alguém tão capacitado profissionalmente, com tantas semelhanças artísticas quanto o Herbert e afetivamente tão envolvido com os Paralamas para essa montagem como eu nesse país. Mas a frustração na vida de um músico é a regra, e a glória é a exceção, e eu sabia que algo que eu não sou capaz de ver até hoje estaria no meu caminho pra conquistar essa vaga. Pois no dia 21 de julho (mesmo dia da minha primeira vez no palco tocando Lanterna 24 anos antes) eu recebo a já esperada convocação pra dali a 10 dias. Fui lá eu pedir pro meu pai me comprar aquela passagem que eu não tinha grana pra comprar, pra mais uma vez investir em mais um sonho meu, só que dessa vez, o mais antigo de todos talvez. Cara, se fosse uma seleção pra cinema eu nem tremia, sou preto demais pra ser Herbert numa telona e de menos até pra ser João Fera, fosse o caso de cor de pele ser a principal semelhança que pode haver entre dois seres. Até porque, a produção do musical dizia que pessoas de todas as cores eram bem vindas e aqueles blá-blá-blás de praxe de toda mega produção regida 100% por pessoas brancas. Mas, se fosse pra fazer um Romário no teatro que desde moleque diziam que eu parecia, eu jamais me arvoraria a entrar em disputa, pois não sou ator, apesar de até bom de bola.
Mas foi tudo muito assustador pra mim, pois eu jamais passei por uma seleção de elenco, pois músicos normalmente são convidados, como dezenas de vezes fui e ainda sou. Inclusive pouco antes disso rolou e desrolou misteriosamente um trampo que eu tava louco pra fazer quem em breve também estreia. Mas depois de “desrolado”, eu meti o famoso “vai ter algo melhor pela frente”, e eu sou zero otimista e místico, mas sei lá porque eu aceitei logo a negativa e olhei pra frente. Porra, aberta essa janela de fazer Paralamas numa super montagem teatral era pra ser a tal da coisa melhor! Tudo fazia sentido, das datas até o que não deu certo antes. Mas que eu tenho zero fé e sou veterano de desilusões artísticas também, parei absolutamente tudo o que eu estava fazendo, convoquei todos os meus amigos atores, diretores, conhecedores do Paralamas e alguns amigos músicos pra me prepararem para a minha primeira audição para músico-guitarrista que atua, como bem claro estava na divulgação da seleção do musical, assim como também no meu e-mail que a vaga para a qual eu concorria era a de Herbert. Pois eu corri atrás na velocidade da luz eu fui CDF num
nível que meus amigos que sabem que eu sou nerd da música ficaram surpresos com minha disciplina. porque dessa vez eu corri atrás de me preparar pra aquilo que eu não tinha porque ter me preparado antes, em incorporar o homem Herbert Vianna. Pois eu não medi esforços, colei o texto que precisava apresentar por toda a casa, da porta da geladeira à do banheiro, raspei o cabelo e a barba em casa, assisti à absolutamente todas as entrevistas de Herbert que existe no YouTube, todos os Faustões que eles estiveram, revi os documentários, vi todas as performances possíveis de Lanterna dos Afogados e Óculos possíveis que eram as músicas que eles pediam pra apresentar, e justamente as duas músicas que marcam minha estreia na música ainda criança como contei lá no começo do texto. Tinha dias que eu já não sabia mais o que fazer, ou como melhorar, e gravei três ensaios para as audições e subi no YouTube num link não listado para minha equipe de artistas envolvidos em me fazerem vencer essa cruzada. Ouvi todas as dicas dos amigos atores veteranos do teatro que vivem entre uma audição e outra das coisas que poderiam acontecer na hora. Cara, se você tá cansado de me ler, imagina o quanto cansado eu não fiquei e ainda tendo que contar com a ajuda de toda a minha equipe médica de saúde mental da Holiste, minha acompanhante terapêutica veio em casa diversas vezes, meu psiquiatra me atendeu de urgência e foram pelo menos três sessões de terapia nesses 10 dias porque eu pra vencer isso tudo, na minha cabeça eu precisa primeiro me vencer, “questão que não me vence”, como diria Black Alien, o maior rapper brasileiro na minha humilde opinião e curiosamente o cara com forte ligação com o Paralamas e Lucy Vianna, o amor da vida do Herbert. Pois era nesse ponto que eu queria chegar, pois é dele que eu parto. Sim, eu sou um dependente químico e luto pela vida dia sim dia também. Já sobrevivi a vários acidentes, de overdoses à batida de polícia na quebrada. Não vejo razão alguma pra esconder isso enquanto pessoa pública. Isso é algo importante da minha vida e eu não sou afeito a entrar no personagem que eu gostaria de ser, até ter me surgido essa oportunidade de me dar sentido a entrar no personagem do meu ídolo do rock, que é viciado na droga do impossível, como o próprio diz em canção, e não em substâncias químicas como eu. Pois eu digo que me venci. Driblei tudo que podia me atrapalhar, comprei passagem para o sábado de manhã, sendo que era no domingo a tarde minha hora de me apresentar, isso pra eu não chegar no Rio numa sexta à noite e escorregar na chegada. Fiquei na casa dum amigo de infância esportista, zero drugs, que me levou inclusive no centro espírita logo na minha chegada, pois Herbert é espírita e eu já não sabia mais o que fazer pra entrar no personagem se não ir atrás das coisas que inspiram a vida daquele ser humano. Eu já tinha visto tanto vídeo de Herbert que passei a ver as performances de Peter Townshed do The Who pois flagrei num vídeo de um workshop do Herbert que muita coisa de sua performance foi arrancada dele. Cara, eu não podia ter feito mais em uma semana praticamente além daquilo que passei a vida fazendo.
Pois chegou a hora da minha audição. Quando eu cheguei pra pegar meu crachá com meu número, outros candidatos deram risada de quão semelhante eu estava ao Herbert, de oclinhos e bonezinho pra trás. Eu achava que numa audição os atores já chegavam meio caracterizados pra trazer à memória daquela pessoa que eles querem biografar no palco. Não tinha um que tivesse feito pelo menos a barba pra concorrer ao papel, tinha gente que sequer levou uma guitarra, tinha gente estudando a linha de baixo do Bi minutos antes e com dificuldade. Teve um parceiro massa que conheci que também concorria ao papel de Herbert e que me apelidou de Herbert da Bahia, chegou a tirar foto comigo e disse ter certeza de que eles não me desperdiçariam, pois além de tudo eu fui também o único a executar o solo de lanterna com perfeição de todo mundo que passou antes e depois. - Agradeço demais por aquela breja cheia de torcida por um concorrente, Adriano, você é foda! - mas horas depois eu recebi um e-mail da produção dizendo que eu sequer tinha passado para a segunda fase que aconteceria no dia seguinte, que eu nem sabia que teria. Foi foda, mas eu engoli o choro pra não dar razão ao meu pai que na tentativa de me preservar da frustração acabou me desmotivando por diversas vezes e a gente acabou quebrando o pau na minha volta e desde então eu não voltei desse dia. Entrei numa depressão avassaladora, não conseguia sair da cama, me vi mais uma vez sendo atravessado por gente menos competente e até hoje me pergunto o que foi que faltou pra eu estar lá? Aquele papel era meu, ainda é na verdade, eles só não me deram, mas era meu, sempre foi, e sempre será. Eu não acredito nisso, eu tenho convicção e provas, e fazer o meu próprio tributo, projeto antigo que eu adiava tanto em fazer, até porque estamos falando de uma banda em sua formação original e em plena atividade mundo afora. Mas esse tributo é pra fazer valer todo o meu suor em nome do que acredito e de quem acredito. E eu acredito em Herbert porque ele sempre acreditou nele mesmo. Eu entrei no personagem e apesar da minha crise, ter sobrevivido a mais essa frustração me faz pensar que sim, tem coisa melhor pela frente. Pode não ser um musical financiado pela lei Rouanet com algum bonitinho instagramável dublando um guitarrista profissional reproduzindo a magia da guitarra de Herbert, pode não ser ainda eu no palco com meus ídolos, pode não ser ainda um feat meu com ele, mas vai ser meu tributo, vai ser a minha prova convicta de que o meu papel é de Caian. Músico, artista (marcial inclusive 🥷), compositor, amigo, irmão, filho e também um dependente químico. É isso tudo que sou e um tanto mais. Quem viver verá, e estarei vivão e sobrevivendo a tudo em nome da música, em nome da arte, em nome do cara me ensinou um monte do que ainda não sei direito, que é o Herbert. Eu sou Herbert porque sou Caian. Lidem com isso. Eu estou tentando, você consegue também.
Obrigado pela leitura até aqui e se você estiver em Salvador, vai lá me ver tocar em homenagem aos Paralamas do Sucesso, comigo e Los Paraguaios!
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jaimendonsa · 9 days
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e-book grátis O QUE É ARTE? Liev Tolstói
Em seu ensaio seminal O QUE É ARTE? (em russo : Что такое искусство? Chto takoye iskusstvo?)  de Tolstói define arte como uma expressão e transmissão da experiência emocional do artista. Ele rejeita a ideia de que o valor da arte reside em sua beleza ou na habilidade do artista, argumentando que a função essencial da arte é a comunicação. Para ele, uma obra de arte é bem-sucedida se for capaz de evocar no público as mesmas emoções que o artista experimentou ao criá-la. Isso cria um vínculo entre o artista e o receptor, transcendendo o indivíduo.
Tolstói critica fortemente as abordagens formalistas e estéticas da arte, que ele via como servindo aos interesses das classes altas. Ele argumenta que o foco na beleza, técnica ou complexidade intelectual afasta as pessoas comuns e torna a arte inacessível à maioria. Em vez de buscar refinamento ou sofisticação, Tolstói argumenta que a verdadeira arte deve ser simples e compreensível.
Para Tolstói, o propósito final da arte não é agradar os sentidos, mas promover a melhoria moral e espiritual. Ele acredita que a arte tem uma profunda responsabilidade de promover a bondade, a empatia e a harmonia social. A arte que eleva a humanidade e transmite emoções universalmente compartilhadas — como amor, alegria ou tristeza — é, em sua opinião, a forma mais elevada de arte. Em contraste, ele condena a arte que reforça o status quo ou atende à elite.
O ensaio de Tolstói inclui uma crítica severa à arte e à cultura de sua época, particularmente em relação ao que ele via como a artificialidade do gosto das classes altas pela arte. Ele achava a arte moderna muito focada em técnica, originalidade e exclusividade, o que, segundo ele, a distanciava das pessoas que deveria servir. Ele também critica formas de arte que não promovem conexão emocional ou compreensão, chamando-as de vazias e egoístas.
Em sua visão, as maiores obras de arte são aquelas que são mais acessíveis e compreensíveis para a mais ampla gama de pessoas. Essa universalidade, ele argumenta, é uma marca registrada da arte que é verdadeiramente valiosa. O conteúdo emocional de uma obra de arte deve ressoar com experiências humanas básicas, atravessando divisões como classe e nacionalidade.
Tolstói usa exemplos de várias formas de arte para ilustrar seu ponto, incluindo arte popular, arte religiosa e obras de escritores como os gregos antigos e a Bíblia, que ele vê como simples e sinceras.
As ideias de Tolstói sobre arte provocaram intenso debate, pois sua insistência na sinceridade moral e emocional colidiu com visões predominantes que enfatizavam a beleza estética e a liberdade criativa do artista. Seu ensaio continua sendo um texto-chave em discussões sobre a função social da arte e suas dimensões éticas, bem como uma crítica ao elitismo no mundo da cultura.
Leia, gratuitamente, O QUE É ARTE? Liev Tolstói: https://tinyurl.com/yc4hfhsf
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leiturasvarias · 10 days
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THE HUMILIATION OF THE WORD, JACQUES ELLUL
Introduction
- “Images today are the daily nutrient of our sensory experience, our thoughts processes, our feelings, and our ideology”. Ellul intencionalmente simplificará o tema à volta da diferença entre ver e ouvir. Sentimos e pensamos em imagens: elas são, de facto, a nossa ideologia. Idealmente, visão e audição devem equilibrar-se mas o problema é o desequilíbrio que já se verifica com o protagonismo da primeira. E o coração da questão é a linguagem falada, muito mais do transmissão de informação (com espaço para o sentido, ambiguidade, variação e interpretação).
Capítulo 1: Seeing and hearing: prolegomena
- O nosso ponto de vista coloca-nos no centro do universo (dá-nos até uma propriedade sobre ele). A nossa acção é permitida e condicionada pelas imagens que se tornam imperativas para nós (daí o medo ancestral do escuro, na perda do nosso domínio). Para podermos interpretar o que vemos precisamos do discurso, que torna polivalente o que vemos (e nos dá espaço para reflexão e mediação).
- “A human being’s sight commits him to technique”. A visão é o órgão da eficiência. Pelos olhos somos colocados na relação mais directa e natural com o ambiente, ao passo que é a palavra que entra no domínio do indefinido. Mas a visão também nos leva a uma artificialidade que causa uma diferença entre sujeito e objecto. A visão pode levar-nos ao horror, ao choque. Já a linguagem livra-nos dessa relação.
- Ao passo que a imagem segue um padrão ordenado, a audição contradizem-se umas às outras e cancelam-se (panorama visual contra incoerência auditiva). O espaço é visual e a audição é temporal. Não há nenhum som, todavia, como a palavra falada: coloca-nos noutra dimensão que nos leva ao relacionamento com as outras pessoas—é a palavra que nos distingue de tudo o resto (e não há nada tão universalizável como ela).
- Pela sua temporalidade, o discurso é fundamentalmente presença e nunca se limita a ser um objecto—coloca-nos num lugar temporal também, de espera. A palavra pede sempre um ouvido que, em último grau, pode ser o de Deus. A linguagem pede uma troca, uma comunicação e a sua ordem não é a da evidência, situa-se entre o esconder e o revelar. Ao mesmo tempo, o diálogo envolve uma certa distância porque como pessoas, somos diferentes. Mas é interessante que Adão, ao ver Eva, celebre a semelhança entre eles com um discurso tão vigoroso. Nessa medida, o discurso completa o espaço entre as pessoas.
- “The blessed uncertainty of language is the source of all its richness”. A incerteza do sentido mantém-me afinado para a interpretação das palavras. Também é isso que nos mantém livres de nos tornarmos reféns uns dos outros através do discurso. É a identificação verbal que autenticamente nos faz entrar no desconhecido, com esperança no encontro significativo entre as pessoas—o mais próximo que temos de uma iluminação.
- A palavra relaciona-se com a verdade ao passo que a imagem se relaciona com a realidade (“the word is the creator, founder, and producer of truth”). Com a palavra há espaço para discussão, paradoxo e mistério (“language is the only nonterrorist form of expression!”). A sua ambiguidade é um espaço de liberdade. Ellul reconhece que exagera a antítese entre ver e ouvir para que o contraste seja claro. Logo, a visão pede espaço e realidade, e a visão pede tempo e verdade. Hoje em dia “there is nothing left beyond reality. Nothing is Other; the Wholly Other no longer exists”. O nosso destino, como pessoas, é o da verdade.
- Afirmar o valor da felicidade como o principal torna-nos apenas consumidores.
- A oposição entre palavra e imagem não é a mesma que entre idealismo e materialismo. Uma imagem nunca nos poderá o que a Igreja é, por exemplo (“this explains in part way all ‘spiritual’ films are failures”). A nossa geração vive sob o predomínio da realidade, e não da verdade (o problema do marxismo, que equaliza realidade com verdade, e daí o seu apelo tão grande). “An image is explosive only if the spectator knows what it represents and if it is taken for what it is: a faithful representation of reality. (…) When the image is understood to speak only of reality, however, it is explosive and terrible”—devemos cultivar uma ambiguidade diante da aparente objectividade da imagem.
- Apenas a palavra pode ser falsa em relação à verdade, nunca a imagem. A imagem não se relaciona nesse plano de verdade mas apenas de realidade. É por isso que a palavra anda humilhada, porque se limita a ser um instrumento da realidade. A realidade, ao querer mandar na palavra, limita-a a uma objectividade empobrecedora (o problema do século XIX e das suas pretensões científicas). Limitar a palavra à sua objectividade é um modo de a manter no terreno do óbvio.
- Não é mau a imagem acompanhar a palavra mas a palavra tem um poder de criticar a imagem, trazendo a capacidade de separação e de discernimento (é daqui que vêm as decisões éticas).
- Kierkegaard critica a obsessão da filosofia ocidental com a visão, desde Platão que colocava a essência das coisas dependendo da percepção, através de ideias e formas, passando por Descartes e a sua ênfase na intuição e até Hegel (e uma posterior fenomenologia fascinada pela aparência).
- Se tivéssemos meios perfeitamente adequados para exprimir a verdade (e não a fragilidade do discurso), “we would be pinned down once and for all in a butterfly museum—everything would be said, closed up, and finished: perfect”. A ligação entre palavra e verdade só pode existir através da linguagem.
- Nas duas linguagens de ouvir e ver, escrever torna a fonética visual, linearizando os símbolos, colocando-os no espaço: dessa fixação do discurso em objecto nasce a abstracção típica do acto de leitura moderno. Nessa medida, a palavra ganha um aspecto abstracto e também objectivo—fica sobretudo escrita. Precisamos de mudar do texto para o discurso, a poesia precisa de ser lida em voz alta, as palavras precisam de voar, e por aí fora. Precisamos de desmumificar a palavra escrita e ver o fôlego regressar a ela.
Capítulo 2: Idols and the word
- A tendência da Bíblia de separar entre ver e ouvir corresponde à separação entre ídolo e a palavra de Deus. “A palavra de Deus é o trabalho dele por excelência”—não há manifestação divina como a sua palavra. “The Bible vigorously opposes mystics of all descriptions, including christians, who ascend to heaven and contemplate God by means of ascetic practices”.
- Porque recebeu a palavra, Adão responde a Deus em diálogo. Não há acção ou poder maior do que a palavra.
- “There is no contradiction in the fact that the word is spoken by God and also incarnate in Jesus, since this word is what reveals God, and God has effectively revealed himself only in the Incarnation of his Son. The incarnate Word is in reality the Word fully given to humankind. (…) If we devalue the Word even a little, we are rejecting all of Christianity and the Incarnation.”
- A importância do nome está relacionada com isto: é o significado mais profundo da pessoa. A integridade de quem somos está em como somos nomeados. A partir do momento que uma pessoa tem um nome, ela existe para mim. Daí não ser estranho que em Babel a revolta é feita contra Deus procurando aquela gente ganhar um nome para si mesma. Eles não querem ser nomeados por Deus, eles querem auto-nomear-se.
- “Creation is an act of separation”. Deus cria coisas diferenciando-as. A diferença estabelece a palavra e resulta dela. Para as pessoas existirem, dependem da palavra que as distingue de tudo o resto—identidade e alteridade vêm daqui.
- A criação através da palavra coloca-nos no tempo: Deus fala e a luz aparece, numa sequência. Deus aceita ser constrangido pelo próprio tempo que criou. Criando pela palavra, Deus entra na história: o auge é a encarnação de Cristo, o verbo feito carne.
- Mas a encarnação, sendo física, não é apreendida pelos nossos olhos. Daí a Escritura falar que Jesus não era visivelmente impressionante. Até os milagres, que são sinais de poder, funcionam enquanto manifestações da palavra. No pentecostes a multiplicidade de sinais converte-se numa mensagem única e perceptível.
- A palavra é um convite à liberdade humana de participar no diálogo. Ao falar, Deus sugere um relacionamento connosco. O pior que pode acontecer à Igreja é, neste sentido, deixar de querer falar para querer agir.
- “When God comes into the world in his Son, there are only two possibilities: either the world will die, or God will die in his Son”. O que isto também significa é que não é possível a fé cristã conviver com os deuses falsos deste mundo. Querer ver Deus é da ordem deste impulso idólatra de precisar dos olhos para confirmar o que é divino—o contrário da fé (e o problema do bezerro de ouro, exemplo desenvolvido por Ellul nesta parte). É o discurso que separa Deus dos falsos deuses e é por isso que ele se revela em lei no Sinai. A nossa própria resposta a Deus envolve o uso das nossas palavras, o retorno humano à iniciativa verbal divina. “The Word of God distinguishes and separates, and because it criticizes, it judges”.
- É com Caim que se desenvolve a técnica, o poder oposto da palavra (Génesis 4:17-22)—o que manda já não é a boca mas as mãos.
- Paul Ricoeur distingue entre proclamação e manifestação: a primeira é um acto discursivo, que depende do tempo e da interpretação; a segunda é mostrar o sagrado, de preferência com poder. Manifestar pede eficácia, proclamar pede sentido. Daí que a religião judaica se constrói à volta de códigos e leis e não de sinais e visualizações (mesmo quando as últimas acontecem, são em função da palavra). “In Israel, a theology of the Name of God opposes the mystery of idols. Listening to the word mas taken the place of looking at signs (Ricoeur)”. “The Speech is necessarily iconoclastic”. Ricoeur fala da dinâmica entre proclamação iconoclástica e manifestação simbólica nos sacramentos e Ellul adiciona a tentação de querer converter coisas demais na última: “only the Incarnation of Jesus shows us the correct equilibrium or synthesis”.
- “In the sphere of truth, everything is related to the word, nothing to sight”. Até as passagens bíblicas que evocam ver Deus evocam também a impossibilidade de Deus ser visto (ouvir é que é o verdadeiro ver, diria São João da Cruz). Quando Deus se revela, é o seu sopro que verdadeiramente o apresenta (Job 37:21): logo, a ausência visual de Deus torna-se um aspecto positivo. O que interessa na sarça ardente é a palavra que é dita. “The is no real teophany in the Bible. The only possible image of God is a human being”. É a palavra que vai determinar a essência de ser humano. Até quando Isaías vê Deus, a presença dele diante do Criador é feita em função de o serafim purificar os seus lábios—a palavra é a condição de convívio com Deus. “The prophet’s vision is an understanding of the meaning of the things of the world. (…) Reality means nothing without this word backing it up”.
- Sem a encarnação de Jesus, a pessoa não vê nada do mundo. “The Word is related to truth, whereas images are related to reality. The Incarnation is the only moment in world history when truth joins reality, when it completely penetrates reality and therefore changes it at its root. The Incarnation is the point where reality ceases being a diversion from truth and where truth ceases being the fatal judgement on reality. At this moment the Word can be seen. Sight can be believed”. Mas isto é temporário ao ponto que, no final do evangelho de João, Tomé é censurado por colocar nos seus olhos o leme da sua fé. Viver por provas é o contrário de seguir Jesus.
- É nesta luxúria dos olhos que as tentações acontecem. A encarnação é a promessa desse mundo novo que aqui ainda é constantemente rejeitado enquanto somos guiados pelo que vemos—o “já e o ainda não”. Também é por isso que o protestantismo rejeita uma visão substancialista, necessária por exemplo na visão eucarística católica. A encarnação não introduziu o olhar como órgão da verdade—só a palavra continua lá. A visão nem sequer foi suficiente para depois da ressurreição reconhecer Jesus. E aqui Ellul rejeita a visão do Jesus histórico como opção aparentemente mais segura, mais visivelmente verificável, típica do liberalismo teológico.
- Os ídolos, mais do que substâncias espirituais concretas, são a manifestação da nossa necessidade de sermos guiados pelos olhos e, nessa medida, são bem reais: realmente conferimos-lhes poder sobre a nossa vida. De certo modo, eles simplificam a nossa existência enquanto símbolos materiais da nossa devoção. [Não é tanto que eles precisem que os adoremos (eles não existem), somos nós que precisamos de os adorar]. Serem chamados de ídolos ou ícones é indiferente. A nossa alienação diante dos ídolos é das coisas mais concretas que existe e confirma totalmente que nos tornamos propriedade deles. Há uma troca da verdade, que existe em função da glória de Deus, pela realidade—e a realidade triste da nossa devoção aos ídolos.
- O núcleo do Templo está vazio, como antídoto à logística atafulhada dos ídolos. Deus, que é verdadeiro, é invisível; e os ídolos, que não existem, são os que parecem mais reais. A proibição da imagem de Deus tem a ver com Deus ser o radicalmente Outro, incapaz de ser representado por nós. “The empty Temple is a critical place, just as the Word is critical and the Empty Tomb is absolutely critical of all our representations of the Resurrection”. “Breaking the images obliges people to discover themselves faced again with the gaping void that challenges them”. Esta é a questão mais importante de todas numa época de extrema visualização: a da recuperação do vazio.
- Na nossa época o iconoclasmo deve derrubar a trindade do dinheiro, do estado e da técnica.
- “Iconoclasm is the first act of the christian life: the breaking down of images through the Word (Gabriel Vahanian)”.
- A queda acontece assim que a visão é considerada independentemente da palavra: nos olhos de Eva o fruto da árvore é bom (Génesis 3:6)—um modo de dominar a realidade. Ao contrário do que diz Descartes, não devemos aceitar a verdade de nada a partir da sua evidência. Para a acção, a visão ajuda mas não para o sentido. É daqui que se alimenta a ciência e a técnica, atraídas mais pela suposta realidade das coisas do que pela verdade delas. Temos a antítese disto em Filipenses 2, quando é dito que Cristo não olhou para a sua igualdade com Deus mas, pelo contrário, humilhou-se.
- Ellul rejeita as sugestões do teólogo ortodoxo Paulo Evdokimov, em que o ícone é um símbolo que deve ser recebido numa contemplação mística que encaminha para o reconhecimento da hipóstase em causa: o corpo celeste, a pessoa, é, graças à encarnação, acessível pela santificação da matéria e da transfiguração da carne. O ícone guia assim o olhar para o altíssimo, simbolizando a presença do mistério em forma da imagem (nesse sentido, é uma espécie de teofania). O ícone passa a funcionar como uma erupção material do transcendente. Mesmo que o divino seja invisível, é reflectido no objecto humano. Ellul não duvida do esquema idólatra desta convicção, deixando a humanidade no Tabor quando o objectivo de Jesus para os seus discípulos era descer desse monte. O pensamento ortodoxo tenta encontrar a deificação humana na humanização de Deus, como se Deus se tornasse humano para a humanidade se tornar divina. A humanidade passa de um microcosmos para um micro-theos.
- “Myth is the living word that soon will become a text”.
- A nossa adesão à palavra de Deus é o que animou Agostinho, Lutero e Kierkegaard a não recearem proclamá-la no risco do ridículo. “Preaching is the most rightful adventure”. A palavra de Deus nunca se torna um objecto passível de ser controlado por nós. “When God chose the Word, he adopted the means of Revelation that forbids and human familiarity or possession”.
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pimpimpirim · 20 days
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02/09/2024
Relações ambivalentes
Eu deveria estar escrevendo agora os resultados e discussões no mei relatório, mas minha irmã chegou de viagem e começamos a conversar, depois minha prima chegou, conversamos mais e tudo e tal. E também, falando das conversas da minha irmã na viagem, conversamos sobre assuntos da nossa própria família. Problemas, especialmente.
As relações familiares são muito importantes para um indivíduo. São (as vezes) uma forte rede de apoio, são (as vezes) base ou fonte da sua socialização, são (as vezes) as primeiras a apresentar esquemas de relacionamento e de modos de ser e viver, que uma pessoa costuma levar consigo para toda a vida ou pelo menos por muito tempo. De forma geral, a família é um núcleo de afetos, forças relacionais muito potentes sobre um sujeito. Positivamente ou negativamente. Ou os dois.
(Só para destacar, a família não tem esse poder imediato e principal por causas naturais, mas por uma série de instituições e determinações socio-culturais, construídas historicamente. Podemos estudar isso com Michel Foucault e Philippe Aries.)
Acontece que as vezes/na maioria das vezes, a família se apresenta no limbo de ser fonte de afetos positivos e negativos ao mesmo tempo (muito disso provavelmente pela sua artificialidade de fundamente e outras instituições que se infiltram nas pessoas em suas outras relações). Então a família ou algo de seus membros se encontra na posição de ambivalencia para o sujeito, que vê nela conforto e segurança e ao mesmo tempo tensão e ameaça. Ao interagimos com uma pessoa amada, nos deparamos também com alguém que nos fez mal (as vezes intencionalmente) e não sabemos como agir. Culturalmente, somos impelidos a amar e aceitar as pessoas de nossa família de braços abertos, especialmente se estamos em posição "inferior" nessa pirâmide não assumida. Qualquer afeto negativo cultivado nessa relação não tem espaço e deve ser descartado.
Mas as pessoas não funcionam assim, não podemos simplesmente jogar fora um afeto ruim em relação a alguém, especialmente alguém com contato frequente, diário. Então essa relação com o parente torna-se ambígua, passa por memórias verdadeiramente felizes e outras verdadeiramente tristes ou aguniantes. O amor e o ódio fluem de modo quase natural e são vãs qualquer intenção de um dominar o outro. Ambos os sentimentos têm fundamento e fazem sentido com a realidade da pessoa, mesmo que lhe faltem explicações.
E esse afeto polar, que não cabe nos modelos idealizados de relacionamento familiar, são mantidos ali no fundo do coração das pessoas, como uma sombra, sempre presente, nem sempre ativa. É sempre silenciosa, mas as vezes, quando a luz baixa, é um afeto que cresce e se borra com o ambiente, perde seus limites com a realidade e ocupa um espaço dominante não só no sujeito mas em tudo a sua volta.
Falei de tudo isso mas o que importa no final é: o que podemos fazer com isso?
Sinceramente eu não. Não consigo lidar com as minhas ambivalências em relacionamentos familiares. Elas se manifestam em cada pensamento com aquela pessoa, mas não consigo abraçar completamente uma enquanto esqueço a outra. Tudo anda junto (inclusive a desconfiança durante os bons momentos).
Acho que vai precisar de muita terapia e planejamento familiar e de futuro para algumas figuras tenham uma ambivalência não tão profunda no futuro.
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javiselerrante · 27 days
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Artificialidad
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falangesdovento · 1 year
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A razão pela qual o mundo está um caos é porque as coisas estão sendo amadas e pessoas estão sendo usadas.
Verdade! Cada dia percebo isso mais e mais, é só olhar nas ruas, nos olhos dos mendigos, o preenchimento vazio das pessoas e das cidades, a artificialidade imatura do amor e das relações, a frieza discriminada das atitudes e das idéias. O mundo chipado e conectado ao ego, transformando mãos, prazeres e corações em duro plástico reciclável...
Lucas Lima
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