Be Wayne
Torre Wayne – Old Gotham, Gotham
4ª semana de dezembro
Faça como um Wayne
Como disse uma vez Patrick Wayne, ser Wayne é ter responsabilidade para com a empresa, em primeiro lugar, e para com a família. Ser Wayne é ter um legado cheio de renomes, de glória e respeito.
A família Wayne é uma das famílias fundadoras de Gotham, um dos maiores impérios, maiores riquezas e, posteriormente, cheia de filantropia. Doar, oferecer bem-estar, lutar contra a pobreza, auxiliar os mais necessitados, construir uma boa cidade e limpar as ruas do mal.
Honrar com os compromissos. Honrar suas palavras. Honrar para com seu legado. Isso era ser um Wayne. Um Wayne que Bruce não tomou para si assim como Thomas, seu pai, não havia tomado de início.
Porém havia tantos segredos por trás de toda essa bela fachada. Sim, uma fachada. Segredos. Era disso que um Wayne verdadeiramente vivia.
Thomas e Martha eram envolvidos com a máfia, tinham amigos criminosos e chegavam a ajudá-los. Esconder seus erros e suas escolhas. Esconder que, como médico, fez serviços errôneos e perigosos, experiências, bateu de frente com o pior de seus inimigos e tentou consertar utilizando seus recursos e seu conhecimento. Na verdade, apenas conseguia ver tentativas de fazer o certo pelos caminhos errados. Não gostava de julgar. Todos poderiam cometer erros assim como eles haviam cometido e escondido do mundo.
Bruce saiu da curva e era sempre repreendido por Alfred por ter esse descompromisso com a imagem e com a honra da família Wayne. Sumiu, largou as empresas e foi dado como morto. Depois ressurgiu das cinzas como uma fênix e tentou tomar as rédeas da vida. Foi atrás de se reconstruir em cima de uma vingança a procura do assassino dos pais. Em seguida decidiu lutar contra os males de Gotham e se tornar o Batman. Aprendeu de tudo um pouco e moldou seu destino. Também teve seus tropeços pelos sentimentos certos, mas pelos movimentos errados. Até mesmo um filho com uma criminosa ele teve.
Bruce não deu muita atenção para a empresa. Deixou o comando para o senhor Fox e para Alfred. Ambos administrando da melhor forma possível, mas a presença do último playboy de Gotham, um homem cheio de confusões em seu histórico, que vivia de mulheres, esbanjar luxo e comprar qualquer coisa que lhe desse na telha. Incomodava os diretores e outros parceiros das Empresas Wayne. Com o incômodo, fariam qualquer coisa para tirá-lo do caminho e finalmente se apossarem do grupo por completo e sem ter que realizar contestações sobre suas ações. Removeriam três coelhos em uma só cajadada.
E cá estávamos. Eu e Damian aguardávamos fora da sala de reuniões. O vidro deixava transparecer as discussões que lá estavam acontecendo e faziam com que eu quisesse entrar ali e calar a boca dos acionistas, dos CEOs e dos diretores. Não seria a primeira vez e jamais seria a última. A empresa era tudo que nos restava em nosso legado. A única coisa física que ligava todas as gerações da família além da Mansão Wayne. Conseguia ver a veia do pescoço de papai saltar de tão irado que ele estava. Era péssimo e ele havia perdido um pouco o hábito de estar naquela sala. De estar na frente de pessoas que queriam devorá-lo.
Batcaverna, Mansão Wayne – Bristol, Gotham
Horas antes
- Patrão Bruce, precisamos conversar. – Era Alfred adentrando a batcaverna na esperança de chamar a atenção de seu patrão na tentativa de uma resolução rápida sobre os problemas atuais da empresa.
Bruce estava no primeiro subsolo testando mais uma das armas de pressão que o senhor Fox havia indicado para acionar ganchos quando estivesse escalando e, por motivos adversos, escorregasse e caísse. Rápida, muito mais silenciosa que as anteriores e flexível. A munição poderia variar e, assim como seu visor, tinha múltiplas funcionalidades a escolha do portador e da situação. Ele estava testando quantas paredes aquele gancho poderia perfurar, o que deixava a todos preocupados sobre os próximos planos do Batman.
- Já disse que não vou subir para descansar, Alfred. A arma ainda não está calibrada o suficiente. Preciso fazer mais testes. – A voz ríspida de Bruce demonstrou seu mau humor típico após horas sem dormir.
- Patrão Bruce, é sobre a empresa. – Alfred insiste.
- Victoria cuida disso. O que acha de perfurar dez metros de concreto?
- Patrão Bruce, por favor, poderia prestar atenção por alguns instantes? As coisas não estão boas. É um assunto sério e deveria estar ser importando. O senhor que deve resolver e não Victoria. É a empresa da sua família! Os gastos estão fugindo demais dos que deveriam ser feitos.
- Então diga ao Lucius que não se preocupe com o orçamento. Eu cubro.
- Não é hora de cobrir gastos, patrão Bruce. É hora de ser o caçador. Precisa honrar o legado da família. Assumir seu papel e...
- Não fale comigo como se fosse meu pai. – Vociferou. – Você não é meu pai! Nunca foi! Não é porque me criou que pode se colocar nesse papel! Não faço parte do legado deles. Não sou ele! Estão querendo me tirar de novo? – Perguntou rindo mudando da água para o vinho. Ele nunca se importava com os ataques dos diretores ou de qualquer um que trabalhasse nas empresas.
- Patrão. – Após o chamar, deu um longo suspiro. – Estão investigando. Iniciarão uma auditoria para verificar o que está acontecendo.
- E não irão encontrar nada já que os valores que fogem do orçamento são dedicados aos protótipos e pesquisas de novos produtos.
- Protótipos que nunca saem daquele andar enorme do centro de pesquisas e laboratório. O senhor Fox já disse que teve essa conversa com o senhor. Os diretores não gostam do jeito que dá carta branca ao Lucius e muito menos a maneira que dá recursos ilimitados para coisas que nunca saem do prédio para dar lucro. Os CEOs querem se desmembrar e os diretores querem te desmembrar. Estamos enrascados, patrão. – Bruce ficou encarando Alfred e um grande desconforto surgiu.
- Alfred.
- Tem uma reunião marcada para o horário do almoço. Se ainda se importa com algo, é melhor estar pronto para seguir até lá e mostrar que aquela empresa é sua. – Ele se curvou e deu as costas sem olhar para trás. Um silêncio cortante. – E tem razão, patrão. Você não é ele.
Torre Wayne – Old Gotham, Gotham
Agora
- Até quando temos que ficar aqui? Estou com fome. – Damian resmungava enquanto estava sentado na cadeira do nosso pai. – Não podemos ir para casa?
Eu já havia desistido de esperar do lado de fora da sala de reuniões e arrastei meu irmão sem muito sofrimento para a sala de nosso pai. Já haviam tomado mais de duas horas de conversa e não pareciam nem chegado ao mínimo de civilidade e acordo. Infelizmente as poucas mulheres mal conseguiam acalmar os ânimos da testosterona.
- Não. Temos que esperar até aquilo terminar. É o nosso na reta também.
- Não é mais fácil demitir todos e acabar com todo esse teatro? – Ri. Amava seu mal humor e sua marra.
- Quem dera se fosse fácil assim, Damian. Estão tentando derrubar o papai há muito tempo. Não é a primeira vez. Acredito que tem muito mais do que apenas empresários envolvidos. Não eram para terem passado por cima das ordens do senhor Fox. Fizeram as coisas por baixo dos panos e agora estão querendo culpar o nosso pai por má administração e o obrigar a deixar a empresa.
- A máfia? – Afirmo.
- Vou pedir o seu almoço. Espere aqui e não mexa em nada. Não sabemos o que estão pretendendo.
- Acha que estamos em uma série policial ou que estamos lidando com criminosos que implantam coisas para nos incriminar? – Ele riu. Por mais que parecesse absurdo, eu tinha essa certeza e ele também deveria ter, principalmente pelo fato de ser filho de quem é.
- É. Obrigada pelo estalo. Não aprendeu o suficiente com sua mãe? Você sabe que são capazes disso. Ela e Bane estragaram a vida do papai. O fez sumir por anos. Tentaram dominar Gotham e destruí-la. Hoje sua mãe está envolvida nos negócios do Luthor.
- Mas eles são só empresários. – Mais uma vez gozou da minha ideia.
- Em Gotham não existe isso. São tubarões e capachos da máfia. Sabe aquela empresa que fechamos contrato em Tóquio um tempo atrás? O dono dela é membro do alto escalão da Yakuza, saiu nos jornais. Nosso pai chegou a jogá-lo atrás das grades de Blackgate, mas ele tinha um ótimo advogado e voltou para casa. Claro que fizeram todo o teatro dizendo que ele saiu da empresa e deixou seu cargo à disposição. Se desconectou completamente dos negócios, mas fontes já comprovaram que é ele que continua dando os comandos. Tudo é possível, irmão. Ainda mais aqui em Gotham. Só questão de propina. – Lhe dou as costas e penso sobre o que eu disse. – Melhor. Investigue o escritório. Procure câmeras e escutas. Quer acabar com o teatro? Seja o caçador.
- O que vai fazer? Por que está falando na minha cabeça? Você não pode fazer isso? – Retrucou.
- Estou prevenindo que escutem nossas verdades e usem isso contra nós. Vou pedir sua comida, garoto entediado. Eles me conhecem e me obedecem, não a você. Ainda é a criança da família. – Sorrio. – Se distraia encontrando as escutas e destruindo os áudios enquanto eu peço para prepararem seu almoço. Tenho que descer. É tempo suficiente, não é?
- Tá. – Disse com um bico enorme. Só ele para me fazer sorrir nesses momentos.
- Seja um Wayne, Damian. Entregue a melhor das peças. Seja o caçador sempre.
Ao sair do escritório, a secretária ficou me observando, seguindo meus passos até o elevador. Ela prestava atenção de mais em mim e isso me chamou a atenção. Sentia cheiro de traição no ar. Via energia de traição. Energia da raposa. A encarei dos pés a cabeça quando a vi digitando rapidamente no computador e discando apenas um número no telefone. Falou rápido e sorriu amarelo ao perceber que eu havia visto. Talvez estivesse torcendo para que eu tivesse achado que era uma ação rotineira de sua parte, mas eu não era idiota.
- Algum problema que queira me dizer, senhorita Lawrence?
- Claro que não, senhorita Wayne.
- Posso saber para que ramal ligou? Estou curiosa sobre o que é mais importante nesta torre do que a reunião que está acontecendo. – A jovem ficou branca, amarela e vermelha. Bebeu água tentou sorrir.
- Apenas confirmando meu almoço, senhorita Wayne.
- Sério? Quero ver o ramal. – Agora ela estava roxa. Não tinha como escapar.
- Por favor, senhorita Wayne. Não me demita. Só segui ordens.
- De quem foram as ordens, Elene? – A vi engolir a seco. – Elene?! Quer ser demitida por justa causa?
- Dominic Elijah.
- Obrigada. Conversamos sobre sua demissão mais tarde. Verei com meu pai o que podemos fazer por você.
- Mas senhorita!
- Uma regra que impus na empresa é de não ter traidores. Você deveria saber muito bem que não tolero esse tipo de fidelidade a outros. Esta empresa é majoritariamente da minha família. Se passar mais alguma informação para Elijah ou qualquer diretor e puxa saco dele, juro que terá uma justa causa na sua carteira.
Desci até ao restaurante da torre e cumprimentei a todos que estavam presentes. Sempre saudosos e educados, sorriam e me cumprimentaram de volta. Segui até o chefe e pedi para que aprontasse dois pratos sem salada com o melhor que tinham e que preparasse cookies e milk shake para a sobremesa. Damian amava cookies e milk shake. Indiquei o andar e a sala antes de voltar para o elevador. Na subida dos andares, fui parada por um dos assessores dos diretores. Em específico, o assessor do Elijah.
- Como está sendo seu dia, senhorita Wayne?
- Estaria muito melhor se o seu chefe não tivesse convocado uma reunião para uma hora tão medíocre como esta e tentar se apossar da empresa da minha família.
- Peço perdão pelos últimos acontecimentos, mas são apenas ordens, senhorita Wayne. Tenho certeza de que compreende que devemos cumprir com os nossos deveres para com nossos contratantes. – O vejo acionar o travamento do elevador. A caixa de metal se torna vermelho. – Eu disse ao meu chefe para marcarmos para amanhã, mas ele e seus colegas insistiram para que esse assunto fosse discutido hoje. Logo tudo pode sair nos noticiários.
- E por que está me contando tudo isso? É Davis, certo?
- Sim, senhorita Wayne. Acredito que seja de grande ajuda ter uma mão amiga dentro do campo inimigo. Ofereci os meus serviços a empresa, não a apenas um dos diretores. É meu dever para com vocês.
- Dever. – O encarei e analisei sua postura. Gotas de suor na testa, mãos trêmulas e esbranquiçadas. – Tudo bem. Agradeço por ter me informado, Davis. – Vou para apertar o botão para soltar o elevador, mas ele me impede.
- Não quer saber mais, senhorita Wayne? Não vou poder falar mais nada se soltar o elevador. Estão sempre vigiando. – Sorrio. O relógio digital mostrava um time, as notificações e as mensagens que ele estava recebendo. Estava ali para me segurar e me tomava por tola.
- Sei bem disso. Conheço muito bem os recursos da minha empresa. – Aperto o botão de travamento para destravar e o elevador volta a funcionar. – Irei almoçar com o meu irmão, se não se importa. Dê meus cumprimentos ao seu chefe e a imprensa pela minha família. Estamos ansiosos para divulgar nossa nota. Finja que fez seu trabalho que eu finjo que acredito. Sugiro que envie currículos.
Davis ficou pálido e nem parou no andar que havia acionado para descer. Olhou para mim, afrouxou a gravata e tentou pegar o celular. O encarei e balancei a cabeça em negativo para que ele não fizesse o que pretendia. Ao chegar ao meu andar, sai sem olhar para trás mesmo sabendo que ele ousaria tentar comunicar seus superiores. Elene se levantou para tentar falar comigo, mas ergui minha mão para que ela não ousasse. Ainda tinha que resolver sua situação. Era nova, vacilou, mas não ficaria na Wayne.
Abri a porta da sala de papai e vi tudo revirado. Damian deixou vários fios de pontos e câmeras quebradas em cima da vagarosa mesa de madeira maciça de carvalho do nosso pai, que foi do nosso avô e assim por anterior. Estão sempre vigiando, Davis disse. Sorri satisfeita. Meu irmão havia feito um bom trabalho.
- São wi-fi ou por cartão?
- Wi-fi. Tem um provedor no computador, mas não consigo acessar. Está completamente encriptado.
- Eu resolvo isso. O almoço deve estar subindo. – Digo arrumando algumas pastas que ele jogou no chão. – Você não podia ter sido mais cuidadoso? Olha para essa sala. Parece que passou um furacão.
- Ou me pede para ser rápido ou para ser cuidadoso. Os dois não andam juntos, Victoria.
- Ah sim. Homens. – O provoco. – Esperava mais de você. – Ele esbraveja e vem para cima de mim. Apenas o abraço e beijo sua testa. – Você fez um bom trabalho. Só tem que aprender a ser mais discreto, ok? Isso ajuda a não notarem que mexeram nas coisas deles e suspeitarem de quem teve acesso ao lugar. – Ele assentiu.
- Me desculpe.
- Tudo bem. É meu trabalho pegar no seu pé. Conte até três e tudo vai voltar ao lugar em que estava.
1. 2. 3.
A mágica estava feita
Não demorou para que um dos garçons da cozinha trouxesse nossa comida e nos servisse. O escritório não era o melhor lugar para fazer uma refeição, mas tínhamos que aproveitar todo tempo que tivéssemos para conseguir rastrear quem estava usando as escutas e estava querendo nos tirar de campo.
Almocei durante as pesquisas sobre assinaturas digitais. A partir daí consegui acessar arquivos violados e identificar quem havia feito isso. Haviam conseguido acessar projetos que apenas o senhor Fox poderia. Procurei por cada projeto acessado e notei que eram projetos de armas incrivelmente potentes. Bons projetos que usavam fusão nuclear, hidrogênio e gás carbônico, mas, se usados de maneira errada, tirariam vidas.
Toquei na cpu para conseguir acessar melhor todos os arquivos e servidores. Procurei pelas câmeras para obter as gravações e ter todas as provas possíveis para acabar de uma vez com aquela reunião cansativa e estressante que poderia acabar com alguém no hospital por nocaute. Averiguei sobre onde estariam os protótipos e criei meu dossiê e apresentação. Tudo pautado na lei.
Em seguida liguei para o senhor Fox para averiguar se os protótipos fossem removidos da Wayne, além de um ótimo processo nas costas por apropriação de recursos sem autorização, poderia colocar cargos à disposição. Com a lei de acesso à informação, consegui identificar e rastrear os lotes e quem havia feito a (re)negociação em nome do senhor Fox. As câmeras de segurança das ruas apenas me deram mais recursos para jogar na mesa diretora os fatos e mostrar os verdadeiros culpados. Com a ajuda de Damian, imprimi tudo que havia conseguido, fiz cópias, peguei meu notebook e segui para a sala de reuniões com tudo em mãos.
Claro que limpei o histórico e bloqueei o acesso ao computador ao meu nível para que ninguém ousasse piorar sua situação.
Eles continuavam a bater boca e o sol já estava quase se pondo. Puxei meu irmão para dentro da sala de reuniões e vi olhares exasperados com nossa presença. Estavam furiosos. Dei a eles o melhor dos meus sorrisos e ergui a cabeça. Não precisei dizer muito ao meu irmão sobre isso. Vivia com o nariz em pé.
- Vai ficar tudo bem. – Digo a papai.
- O que pensa que está fazendo, senhorita Wayne? Não tem o direito de estar aqui!
- Não? Não tenho o direito ou o senhor não quer minha presença? São duas coisas completamente diferentes, sabia?
- Como ousa?! Retire-se imediatamente e leve esse pivete junto! – Seguro Damian pelo colarinho para que ele não avance nos diretores. A vontade de voar neles era crescente e não o julgo.
- Eu e o tal pivete, vulgo meu irmão, fazemos parte dessa empresa assim como qualquer outro aqui. Temos ações, sabia? Temos direito de opinar. Além disso, nosso pai ainda é dono da empresa e isso faz com que sejamos herdeiros dela. Não posso deixar de acrescentar que sou emancipada, sou sócia majoritária junto ao meu pai e respondo por ele em sua ausência. Tenho certeza de que seus advogados já o explicaram sobre isso.
- Senhorita Wayne, o que a traz aqui? – O senhor Hills sempre cordial.
- Agradeço a pergunta, senhor Hills. Como sempre, o senhor me trata com extrema cordialidade. Damian, por favor, entregue a todos. – Abro o notebook e compartilho a tela com o projetor. – Como uma boa advogada, trouxe provas de que a auditoria não será necessária porque já encontrei os culpados de nossa empresa estar perdendo lucros absurdos e tendo que recorrer ao fundo de caixa. Acreditam que encontrei escutas e câmeras escondidas na sala do senhor Wayne? Isso se chama invasão de privacidade. Mas dos males, o menor.
- Aonde quer chegar com isso, Victoria? – Elijah questionou.
- Se abrirem as pastas, irão encontrar fotos e assinaturas digitais de alguns de seus colegas de mesa nas docas com os protótipos da Wayne e, ironicamente, o senhor Fox não estava aqui para assinar a autorização de venda e retirada desses materiais que perdemos no período em que supostamente houve a liberação. – Mostro algumas fotos e filmagens. – Tudo está documentado.
- Você pode muito bem ter forjado. – Disse ele soberbo.
- Em seis horas ou um pouco menos? Seria surpreendente até mesmo para mim. Mas como sugeriu isso, também me calcei com algumas coisas. – Aperto o espaço e múltiplas filmagens aparecem no telão mostrando a cara dos diretores e os horários e dias em que eles fizeram as autorizações. – Seu azar é que sou advogada. Não viria bater de frente sem todas as provas plausíveis. Se o senhor Wayne concordar, podemos fazer um acordo.
- Ou levarmos essa palhaçada aos tribunais. Já está tudo nas notícias mesmo. Temos todo o apoio da população. – Ele sorriu ainda mais soberbo se sentindo o rei da encenação. – Não podem fazer muito.
- Quer mesmo fazer isso? Porque eu tenho a prova de que seu assessor confessou que estão com planos contra nós, além de toda essa documentação que terei o prazer de adicionar ao processo. Custaria pouco para nós, mas nada que um processo contra vocês não resolva. Invasão de privacidade é crime e criar provas contra si mesmo é inconstitucional. Vai chegar a esse ponto?
- É a sua palavra contra a dele.
- Será? – Sorrio. – Damian, ligue a televisão, por favor.
E mais uma vez as Empresas Wayne estão no meio de um escândalo multimilionário! Em nota, o diretor geral, Lucius Fox, anunciou que ele e a família Wayne está sendo alvo de uma quadrilha enlaçada a máfia de Gotham. Há imagens que comprovam o envolvimento de diretores e que estão colocadas como prova de que nem ele e nem Bruce Wayne estão envolvidos com as últimas ações da empresa.
Tudo já havia sido previamente não autorizado devido aos riscos eminentes dos protótipos e a Wayne jamais faria tamanho trabalho sujo como esse. Além disso, há informações de há contrabando de armas, lavagem de dinheiro, falsidade ideológica e invasão de privacidade como os principais crimes realizados por esse grupo de diretores das Empresas Wayne.
Fox anunciou que as empresas jamais fariam parte de esquemas contra a vida e contra os direitos constitucionais regidos pela lei, honra e ética.
Para mais notícias, veja a seguir!
- Isso é um ultraje! Não pode deixar que isso continue, senhor Wayne!
- Minha advogada apenas está seguindo os conformes da lei, senhor James. – Papai encostou ao meu lado enquanto Damian tirava o som da televisão. – O que sugere, senhorita Wayne? – Sussurrou.
- Conversei com o senhor Fox e ele me deu duas saídas. Uma é fazer um acordo, anunciar a retirada de todos os envolvidos de seus cargos e acabar com suas ligações com a nossa empresa. A outra opção e entrar com o processo e comprovar ainda mais com a auditoria que o erro de administração não é nosso. Custaria mais tempo e dinheiro, mas também ganharíamos. – Ele assentiu.
- Que tal fazermos um acordo? – Papai anunciou e se direcionou para a cabeceira da mesa um pouco a nossa frente. Havia se recomposto e estava com seu sorriso assassino nos lábios. – As coisas não estão muito boas para o seu lado. Tenho certeza de que os amigos de vocês não irão gostar dessa exposição e será provavelmente levado a fins menos agradáveis que o que podemos dar. Ficaremos bem com uma indenização multibilionária.
- Mas... Senhor Wayne... – Os advogados ao fundo cochichavam freneticamente em sua rodinha fechada. O senhor James e o senhor Elijah já não sabiam mais para quem olhar. Seus companheiros de estrada estavam de cabeça baixa ou a balançando desenfreadamente. Estavam vencidos. Novamente ele olhou para os advogados e eles assentiram. – Tudo bem. Faremos um acordo.
- Ótima escolha. Victoria, apronte a papelada com o senhor Fox e com os demais advogados. Acredito que até o fim da semana tudo estará pronto. – Assenti e sorri. Seja o caçador. Sempre seja o caçador. Vitoriosa, peguei minhas coisas e sai com Damian da sala de reuniões.
- Como isso se chama mesmo? – Meu irmão me questionou com diversão.
- Diplomacia. – Digo sorrindo. – Vou te deixar em casa e vou para o Arkham, ok? Amanhã saborearemos nossa vitória. Estou orgulhosa de você. Não retrucou o diretor quando te chamou de pivete, mas ainda anda com facas escondidas nas roupas. – Digo mostrando a faca que havia tirado mais cedo de sua posse para que não houvesse problemas.
- Mas queria cortar o pescoço dele.
- Damian...
- Tá. Tá. Só em pensamento, mas cortei. – Ele sorriu. – Agora vai conversar com aquele maluco?
- É minha obrigação. Tenho uma intimação a cumprir. Depois vamos dar uma volta na cidade, que tal? Papai não parece bem. É uma boa oportunidade de aproveitarmos.
- Acha que ele vai deixar?
- Papai vai ter que deixar. Contamos pontos com ele. É nossa recompensa. – Sorrio e destravo o carro. Meu celular vibra e vejo a mensagem de Bruce dizendo que ia ficar pela cidade para terminar de resolver as coisas com o senhor Fox e ia passar a noite na mansão. Mostro para Damian que sorri com a notícia. – Viu? Está me devendo macarons dessa vez.
- Victoria! – Ri. – Só se você me levar naquele café que foi com Conner.
- Ele te contou? – Pergunto surpresa e o vejo afirmar com a cabeça. Realmente ele e Conner estavam se aproximando e se dando bem. Não esperaria essa relação tão cedo, mas meu irmão vinha me surpreendendo cada vez mais ao longo do tempo. – Tá. Eu te levo naquele café. – Saindo da garagem penso melhor. – Não quer ficar na torre? Eu consigo pegar a via expressa e chego rápido quando terminar meu turno. Ir até Bristol e voltar é muito rolê.
- Mas não tenho traje aqui. – Ri.
- Claro que tem. Todas as nossas cavernas têm nossos trajes. Fica na torre? – Ele assentiu. – Obrigada. Vou tomar um banho antes de ir para Arkham. Meu corpo está pesando.
- Você está cansada, é diferente.
Ele tinha razão. Fazia tempo que não comia ou dormia.
Asilo Arkham – Ilha Mercey, Gotham
Horas depois
Arkham a noite não era o melhor point. Aqueles que não dormiam, gritavam de maneira surreal a níveis graves ou estridentes. Ecoava por aqueles corredores e ficavam gravados na mente.
Perturbadores
Era noite de medicar os criminosos em contenção, ou seja, criminosos amarrados em camas hospitalares de extrema periculosidade e falta de controle, colocando em risco a vida dele – o que não faria muita falta na opinião da sociedade –, a vida de outros detentos, a vida dos guardas e a vida da equipe de saúde que tratava diariamente da saúde deles.
Mal pisei naquele chão e alarme de contensão soou. Os guardas equipados com coletes, capacetes, escudos e armas corriam pelos corredores.
Explosão
O chão tremeu.
Corri adentro das instalações e vi muita fumaça. As luzes vermelhas de alarme rodando pelos corredores como sirenes em cima de carros de polícia. Não conseguia identificar de onde havia surgido a explosão, mas era muito provável que o propósito era para alguma fuga. Não poderia ser um vazamento de gás ou coisa parecida. Tínhamos manutenções mensais já com a intensão de evitar esse tipo de problemas.
Sinto o cheiro de ferro e me preocupo. Caminho pelos corredores e vejo alguns detentos vindo na minha direção. Eles nem se importavam com o frio e com a neve que adentrava pelas rachaduras que as bombas causaram. Era a ala de criminosos de média periculosidade, mas isso não indicava que não eram assassinos.
Estavam com bisturis, tesouras e facas. Dois, três de cada vez. Desviava dos golpes, os desacordava batendo suas cabeças nas paredes e usando meus poderes. Teria que garantir que não acordassem até a próxima manhã. Recolhendo os utensílios, senti uma lâmina ser enfincada no meu pescoço. Azar do criminoso é que não faz diferença tentar me matar.
Me levantei guardando as armas brancas no bolso e encarei o criminoso enquanto tirava o bisturi de mim. O sangue não demorou para estancar, mas eu teria que dar um jeito de fazer um curativo fajuto. O criminoso veio para cima de mim e eu o soquei no nariz. Vi seu sangue escorrer e ele cambalear. Bati sua cabeça na parede e o fiz apagar.
- Victoria!! Me ajude!! Victoria!!! – Era a voz de Rodrigues. – Victoria!
Atravessei os corredores procurando a origem da voz. Cada vez mais se tornava frio e escuro. Lembrando do sangue e do corte que sofri, rasguei meu jaleco e envolvi meu pescoço para que não percebessem que não havia corte algum ali. Reverti a regeneração por precaução e deixei apenas que o sangue estancasse o suficiente. Deveria ser convincente.
Segui as luzes de uma lanterna em busca da energia de Rodrigues, mas ela parecia cada vez mais fraca. Isso não era nada bom. Minha visão estava fraca e Damian tinha razão, estava cansada. Por sorte, senti algo agarrar meu pé. O perfume único invadiu minhas narinas e fez com que eu o reconhecesse. Olhei para baixo e lá estava o único policial que me guardava naquela espelunca. Estava cheio de sangue e muito machucado.
- Rodrigues! Calma. Eu estou aqui. – Me agacho para o assistir melhor. – Vai ficar tudo bem.
- Aconteceu do nada... eles... – Rodrigues tentava contar, mas tossia demais. O sangue escorria por sua boca o que me deixava cada vez mais preocupada.
- Apenas pare de falar e fique comigo. – Começo a vasculhar seu corpo. Tirando os cortes superficiais, seu nariz estava quebrado, seu rosto desfigurado e havia hemorragia interna. As costelas haviam perfurado o pulmão. Ele tinha que ir para um hospital urgente. – Vou te arrastar até lá fora. Tem uma ambulância na parte da frente. Vou te tirar daqui.
Rodrigues foi o primeiro, mas não o último a ser arrastado por mim do Arkham até uma ambulância. Parecia que a adrenalina fazia com que eu esquecesse tudo em volta e focasse em apenas salvar os funcionários que restavam. Muitos foram machucados e alguns poucos foram mortos. Baixas irreparáveis. Terminamos por volta das onze e meia da noite. Os carros de imprensa estavam lá, helicópteros, bombeiros, polícia e muitas ambulâncias. Era um caos em meio a neve de dezembro.
Uma neve manchada e colorida de vermelho.
Quando voltei para dentro, caminhei por entre as alas até encontrar a cabine de Crane. Sim, deixei os pacientes por último e sei que é irresponsável da minha parte, mas tinha muitos funcionários a frente para resgatar.
Crane estava lá olhando para o vidro da porta como se esperasse que alguém viesse. A ala também estava cheia de fumaça e demorariam para tirar os criminosos mais estimados dali.
Queriam mais que morressem
Dariam menos trabalho e prejuízo
Com a chave em mãos e vendo outros auxiliares tomando a mesma atitude, abri a porta da cela de Crane e deixei as algemas em vista. Ele, sem qualquer hesitação, ergueu os pulsos na minha direção e deixou que eu o algemasse.
- O que fizeram com você, Victoria? – Questionou raivoso e preocupado. – Está cheia de sangue.
- Está tudo bem, Jonathan. Vamos apenas sair daqui. – Segurei seu braço e o fiz caminhar ao meu lado. Ele se recusou a permanecer sobre minha custódia e me encarou contrariado.
- Quem te machucou?! – Agora com seu tom firme, ele me fez o encarar. Estava irado, mas não era comigo e sim com o louco que encostou em mim.
- Não importa. Eu já o apaguei. Não foi nada. Eu estou bem. – O asseguro e ele parece aceitar. – Por favor, Jonathan. – Ele assentiu. – Vai ficar numa outra ala de Arkham até que as coisas se resolvam por aqui. Virei te supervisionar todos os dias.
- Uma princesa com você não teria forças para nocautear um assassino.
- A princesa não é quem você fantasia, Jonathan. Também sei me defender.
Todos ficaram nos encarando enquanto eu caminhava tranquilamente com Crane até a área do pátio e o levava para a outra ala. Já haviam preparado os quartos e enviado a medicação para aquele setor.
O levei até seu novo quarto e trouxe sua medicação nos bolsos. A essa altura já havia me livrado de qualquer coisa que havia resgatado dos pacientes que haviam me atacado. Peguei meu estetoscópio, sentei Crane na cama e escutei seus pulmões. Seus olhos atentos me observavam e me desconcertavam. Era horrível e culposo sentir-me atingida por suas atitudes mesmo que tão simplórias.
- Vou soltá-lo. – O aviso.
- Está quebrando o protocolo, doutora Wayne.
Não o respondi e apenas o desalgemei. Peguei os comprimidos, entreguei em suas mãos e o vi se sentar em sua cadeira gélida. Como sempre, me coloquei atrás dele, entreguei a água e deixei minha mão em seu pescoço. Obediente, fez como todas as outras vezes. Quando segui para frente para o deixar, Crane segurou minha mão e a deixou em seu rosto. O encarei sem entender bem suas intenções. Havia uma paz surreal e até mesmo assustadora sendo emanada dele e de sua energia.
- Até amanhã, Victoria. Fique bem. – Disse e beijou meu rosto em seguida. Seu olhar me causou arrepios enquanto seus lábios tocavam minha pele. Evitei transparecer, mas isso me incomodava.
Por que justamente ele?
O que isso significava?
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